Recomeço – Capítulo 100

            Uma hora antes do casamento

            O zíper do vestido subiu devagar, Raquel sentia algo apertar o seu corpo, porém isso não a incomodava. Estava muito feliz, nada mais poderia estragar aquele momento em que estava vivendo. Encarou a sua imagem no espelho e deparou-se com um sorriso que não se desfazia mais em seus lábios.

            — Olha, amiga, acho que você precisa casar mais vezes, pois vestidos de noiva combinam perfeitamente com você — Norma comentou, enquanto observava como sua amiga estava linda.

            — Norma, sinto te dizer, mas não me casarei novamente. Talvez renovar os votos daqui alguns anos, casar não. Encontrei a mulher certa para mim, eu não vou deixar ela sair de minha vida. Farei de tudo para ela desejar sempre ficar comigo. — Olhou para Norma que sorria toda encantada. Parecia que a amiga também iria se casar naquele dia. — Não quer aproveitar a oportunidade e se casar com Laura? — perguntou ao virar o seu corpo e viu a amiga ficar toda sem jeito.

            — Bom, vontade eu tenho, mas quero esperar mais um pouco. Não é porque você está se casando hoje que eu terei que fazer o mesmo.

            — Ah, Norma, conte outra, você se empolgou também e já quer se casar daqui uns três meses. Você ama a Laura. Deseja oficializar isso — Raquel comentou.

            — Você tem razão, mas, agora, vamos aproveitar o seu momento. — Aproximou-se de Raquel e colocou as suas mãos nos ombros da engenheira. — Estou feliz por você. Finalmente você está vivendo o que sempre mereceu, a felicidade. Me orgulho muito da pessoa que você se tornou. Ficou mais decidida nos últimos meses. Além do mais, fico feliz por não ter desistido do amor que você sente por Sófia. Sei o quanto foi difícil para vocês chegarem até aqui — disse e notou os olhos da amiga começando a lacrimejar. — Por favor, não chore, senão vai borrar a maquiagem.

            — Se você não queria que eu chorasse, por que me fez ficar emocionada? Eu te amo tanto, Norma. Você não imagina o quanto você é importante para mim. Você não é somente uma amiga, mas também uma irmã para mim. Você faz parte de minha família. — Abraçou a advogada um pouco forte.

            — Você também é a minha família, Raquel. Te amo muito. — Devolveu o abraço.

            As duas ficaram um tempo naquele tempo até que foram interrompidas por Laura que surgiu na porta.

            — Eu sei que estou atrapalhando o momento de vocês, mas tem uma pessoa querendo falar com você, Raquel — Laura disse um pouco sem jeito ao se aproximar das duas amigas. Não estava assim por conta da cena que acabara de ver, mas sim, por causa de quem estava querendo conversar com a engenheira.

            — Quem, Laura? — Raquel ficou um pouco confusa, pois não esperava ver ninguém antes do casamento. — Não me diga que vão deixar Sófia me ver? — perguntou fazendo graça.

            Laura olhou para Norma e a advogada entendeu perfeitamente o que a amada iria dizer a engenheira.

            — Não é a Sófia... é sua mãe, Raquel — disse ao observar o quanto o olhar da engenheira ficar surpreso.

            Raquel ficou um tempo sem ação, pois não achava que a mãe iria querer uma aproximação antes do casamento.

            — Vocês podem pedir para ela entrar, já que ela deseja falar comigo — anunciou.

            — Vamos deixar vocês sozinhas para conversarem mais à vontade — Norma falou ao segurar uma das mãos de Laura.

            Raquel assentiu com a cabeça e voltou a virar o seu corpo em direção ao espelho. O seu coração começou a bater mais forte. Sua mãe havia se aproximado muito nas últimas semanas, no entanto, causava uma ansiedade em seu ser quando a senhora se aproximava. Pois nunca sabia exatamente como seria a relação de mãe e filha, tudo ainda era novo para Raquel, não estava acostumada com tanta atenção da senhora.

            — Você está linda! — Uma voz tomou conta do ambiente fazendo Raquel virar o seu corpo em direção a porta.

            Rita usava um vestido branco solto e os cabelos estavam muito bem arrumados. Em sua face carregava um semblante ansioso e nas mãos uma caixa, onde havia uma joia.

            — Muito obrigada! — Raquel agradeceu e observou a senhora se aproximando devagar.

            — Precisava te ver antes da cerimônia. Sinto por não ter participado de toda a sua produção, mas entendo que você ainda está se acostumando com minha presença, algo que com certeza você sentiu falta em muitos momentos de sua vida. — Abaixou o seu campo de visão e olhou para a caixa em suas mãos.

            — Sim, mãe, eu senti, mas você está aqui agora, né? — Sorriu tentando deixar o clima no quarto mais leve.

            — Sim, estou. Porém, nem sempre, a minha presença será o suficiente, minha filha. Eu sinto muito por tudo. — Apertou a caixa em suas mãos com força. — Eu deveria ter sido melhor para você. Eu deveria ter sido a mãe que você merecia — disse sentindo olhos arderem.

            Raquel segurou uma das mãos da senhora e respirou fundo.

            — Tente não pensar no que houve.

            — Você tenta não pensar?

            — Eu...

            — Sei que não. — Encarou os olhos da filha. — Sei que não há como apagar nada que houve, mas desejo que nosso futuro seja diferente. Eu farei de tudo para ser diferente. — Desviou o olhar para a caixa em suas mãos. — Trouxe isso para você. — Abriu a caixa e notou que o olhar de Raquel ficou surpreso.

            — O colar de minha avó. — Raquel tocou com a ponta dos dedos na joia exposta.

            — Sim... Quando me casei com seu pai, a minha mãe me deu no dia do meu casamento e me disse para passar para a minha filha se caso tivesse uma — disse emocionada. — Queria te dar isso.

            Raquel observou com atenção a joia. Sabia o quanto aquela peça era importante para sua família.

            — Você usaria hoje? — Rita perguntou deixando claro que estava ansiosa para receber a resposta da filha.

            — Claro! — Virou o seu corpo para que a senhora colocasse a joia. Pelo espelho pode observar a senhora que se movimentava de forma contida atrás de si. No fundo reconhecia que mesmo sendo mãe e filha, as duas começaram a se conhecer realmente nas últimas semanas.

            Quando sentiu a peça cheia de brilhantes tocar a sua pele, Raquel respirou profundamente. Olhou-se no espelho e ficou observando a face emocionada da mãe.

            — Sempre desejei isto — confessou.

            — O que, filha?

            — Você comigo desta forma. Eu sempre desejei... mas sempre achei que nunca era merecedora de seus carinhos.

            — Você sabe qual é a verdade: eu que nunca te mereci.

            — Talvez seja realmente isso, mas não quero mais falar sobre. — Virou o seu corpo para encarar a mãe de frente.

            — Melhor mesmo, pois, hoje, é seu casamento. Não sei se acredita, mas eu estou muito feliz por você — disse sincera.

            Raquel segurou as duas mãos da senhora, surpreendendo-a.

            — Eu acredito em você. Obrigada por estar aqui. — Soltou as mãos de Rita e abraçou o corpo menor.

            Rita deslizou as suas mãos pelas costas de Raquel. Depois começou a chorar, pois sabia que havia perdido muito por passar muito tempo sendo arrogante e só pensando nela mesma.

_*_

Passava das dezessete horas. No local onde era realizado o casamento o clima agradável tomava conta. O mar se movimentava de uma forma tranquila. Parecia que tudo conspirava para aquele momento ser perfeito.

A felicidade estampada nos rostos dos convidados, mostrava o quanto aquela união era desejada por todos.

A primeira passar pelas pétalas de rosas jogadas sobre a areia que levava até o altar foi Raquel ao lado de seu pai, Rogério. Como não conseguia conter a sua felicidade, ela sorria sem parar e sentia uma leve ardência tomando conta de seus olhos. Estava emocionada por o que ela mais sonhava estar acontecendo, iria se casar com a mulher que amava e desejava dividir todos os seus próximos dias.

Sem conseguir conter a emoção do momento, o seu coração começou a bater mais forte que o som da música que tomava conta do ambiente por conta de sua entrada.

Estava prestes a iniciar uma nova etapa com a mulher que amava.

Após ser deixada no altar pelo seu pai, Raquel começou a olhar de forma ansiosa para onde Sófia iria entrar.

Brevemente, olhou para Norma que estava ao lado de Laura. O casal de amigas parecia estar muito contente por vê-la prestes a realizar o seu sonho.

— Ela não vai te deixar na mão. – Escutou Laura dizendo baixinho.

Raquel sorriu sentindo um leve tremor em seus lábios. Achava que não iria acontecer isto, mas estava nervosa.

Apertou com força o buquê em suas mãos. Encarou as pessoas presentes. Todos lhe olhavam encantados, admirando a sua beleza.

De repente, Raquel passou a pensar em tudo. Em como havia superado obstáculos para chegar ali.

Sófia havia sido a melhor coisa que havia surgido em sua vida após ter retornado ao Brasil. Foi difícil ignorar o fato dela ser namorada do irmão no início, contudo, mesmo a relação não tendo começado da melhor forma, as duas eram felizes e faziam bem a outra.

Sofreu ao estar longe de Sófia, pois, mesmo parecendo clichê, era a loira que a completava. Não conseguia imaginar outra pessoa com ela que não fosse Sófia.

Um som delicado começou a tomar conta do ambiente e Raquel notou todos os convidados se levantando dos bancos. Sem conseguir se controlar, o seu coração passou a bater mais forte. Não era mais nervosismo, mas sim, porque toda vez que ficava perto daquela mulher, o seu coração reagia.

Sentiu o ar faltar em seus pulmões, pois a bela imagem que via havia a feito se esquecer totalmente de respirar.

Sófia estava linda. Sorridente e com um azul intenso nos olhos. Não tinha como ficar abobalhada com a visão de sua futura esposa.

Enquanto a loira caminhava sobre a areia, Raquel parecia ver tudo em câmera lenta. Reparava em cada detalhe e se esquecia totalmente de tudo a sua volta.

Quando Sófia parou ao lado, Raquel respirou profundamente tentando recuperar o ar que havia saído de seus pulmões com a visão de Sófia.

— Você está linda – confidenciou ao encarar aqueles olhos que iluminavam os seus dias.

Sófia passou a sorrir de uma forma encantadora.

— Você também está linda, meu amor – falou e por alguns segundos, as duas ignoraram a presença de todos ao redor.

Como programado, o cerimonialista começou a cerimônia. As duas, a todo momento, trocavam sorrisos e olhares apaixonados. Estavam mais do que certo que desejavam ficar ao lado da outra até o restante de suas vidas.

Antes da troca de alianças, Nino e Nina surgiram chamando a atenção de todos com uma cestinha na boca. Os convidados ficaram encantados com o jeito dos dois peludos, já as duas mamães ficaram orgulhosas.

— Sabia que Nino iria amar se aparecer – Raquel disse ao reparar que Nino estava todo confortável sendo observado por todos.

Quando Nino e Nina se aproximaram com a cestinha, os convidados começaram a bater palmas.

As noivas se abaixaram e acariciaram os seus filhotes que pareciam estar muito felizes.

— Bom... acho que agora é a hora de dizer a todos o quanto te amo – Raquel disse após Laura levar as dois peludos para onde Norma estava.

Sófia sorriu sentindo uma leve ardência em seus olhos. A emoção passou a lhe dominar.

— Sófia, eu me sinto a mulher mais feliz deste mundo por tê-la ao meu lado. Você surgiu em minha vida quando eu já não conseguia mais acreditar no amor – começou a dizer. – Agradeço todos os dias por ter uma mulher como você em minha vida, pois você não desistiu de mim. Sempre esteve comigo. Independente do dia estar chuvoso ou ensolarado. Além do mais, com você estou podendo construir uma família, a nossa família. – Segurou uma das mãos da loira e sentiu como estava molhada. – Eu te amo e a maior certeza que tenho é que quero ter uma vida ao seu lado. – Entrelaçou os seus dedos aos de Sófia, pois o que ela queria era isto, estar unida àquela mulher para sempre. — Eu quero poder enfrentar tudo contigo, pois sei que nosso amor é maior do que qualquer coisa.

Raquel terminou de falar e começou a ouvir várias palmas. Todos ali sabiam o quanto havia sido difícil a caminhada das duas até ali.

— Sou muito feliz por ter você e nossos peludos – disse por fim e sentiu o corpo que tanto amava abraçando o seu.

As duas foram presenteadas por mais palmas e momentos cheios de emoções.

Após a cerimônia, todos foram para o local da festa. Todos estavam animados, já que não havia mais motivos para tristeza.

— Queremos algo assim também – Laura avisou ao se aproximar das recém-casadas. Norma caminhava ao lado da médica com um sorriso encantador nos lábios.

Sófia e Raquel estavam dando uma atenção especial a Nino e Nina que não puderam ficar à vontade com a presença dos convidados. E as duas tinham medo deles acabarem comendo alguma besteira.

— Marquem logo então, pois aí teremos mais uma festa para ir – Sófia enlaçou a sua mão a de Raquel e apoiou a cabeça no ombro da esposa. Sentia vontade de não largar nunca mais aquela mulher.

— Quem sabe! Mas agora estamos muito felizes por vocês – Norma disse sincera. – Vamos curtir o momento de vocês e quando passar, pensamos no nosso. – Segurou na cintura da médica. Estava muito feliz com aquela mulher. Às vezes nem conseguia acreditar que havia encontrado o amor.

— Não vamos demorar para pensar, mas tentem aproveitar agora o momento e peguem um dos buquês. – Raquel deixou Nino e Nina com Geraldo e começou a acompanhar o casal de amigas para onde já havia várias pessoas as aguardando.

Enquanto caminhava, Raquel olhou para os seus pais e para Ricardo que estava observando Paola no meio da multidão.

Sentia-se feliz por no fim tudo ter dado certo. Agora não havia mais ressentimentos e medo do que a família pudesse pensar.

Um dos braços de Sófia envolveu a sua cintura. Raquel olhou para o lado e sorriu, pois era Sófia um dos motivos para a sua felicidade.

— Te amo, vida! – Sófia disse baixinho. – Não é só você que é sortuda, eu também sou, pois tenho você e Nino em minha vida. Hoje, um dos nossos vários sonhos se realizou. Espero que tenhamos mais momentos felizes como este. – Os lábios de Sófia tocaram os de Raquel levemente. – Hoje, podemos dizer que se inicia um novo começo, pois estamos livres de qualquer trauma do passado.

Fim do capítulo