Meus pedaços por Bastiat
Sem alívio
Isabel
Detesto a minha falta de atenção para abrir as mensagens enviadas de última hora. Graças ao meu desleixo, cheguei duas horas e meia antes do combinado para início da gravação da grande final. Eu só precisava chegar uma hora antes para me arrumar. Pior de tudo é que não poderei me adiantar porque nem as meninas da maquiagem e cabelo chegaram.
Helena podia não ter lido a mensagem da Miriam também, assim eu teria a sua companhia. Joguei-me sofá do meu camarim com uma maçã na mão. Peguei o meu celular e enviei uma mensagem para ela:
Isabel: já estou com saudade, cariño. Quando chegar, vem me ver, quero um beijo de boa tarde (11:35).
Mordi a maçã e passei a mastigar um pedaço. Verifiquei se não tinha nenhum problema no Arte, respondi mensagens profissionais e verifiquei o andamento das peças em cartaz. Depois de ver revirado todos os meus assuntos, o tédio bateu.
Peguei uma revista e comecei a folhear. Por coincidência é uma revista de viagens. Minha esposa amaria ver essas paisagens lindas de praia. Não contive o sorriso ao notar o brilho da aliança no meu dedo. Segunda-feira embarcamos para Porto Seguro. Helena já fez o roteiro de 6 dias, vamos passar por Trancoso também e outro lugar que não me recordo o nome, mas que tem Ajuda no meio. Nós duas, a areia e o mar.
- Tá sonhando acordada, Isabel?
- Ai que susto, carajo!
- Eu bati na porta e você não respondeu, abri para conferir se estava aqui mesmo – disse gargalhando.
- Estava distraída. Entra, Maurício.
O meu amigo adentrou meu camarim e sentou-se em uma das cadeiras.
- Também não leu a mensagem da diretora antes de vir? – Perguntou-me.
- Pelo menos no fui a única e ahora tenho uma companhia.
- Está feliz, não é?! Já estou sabendo que você e a Heleninha se acertaram. O burburinho começou depois que ela não apareceu no jantaf e nem atendeu o celular. Começamos a juntar as peças e se encaixou quando o Rô disse que deixaram vocês sozinhas. Espero que tenham se acertado de verdade.
Segurei a risada com o desespero do meu amigo. Durante a semana passada, o procurei para contar sobre a minha burrice. Eu sabia que não seria julgada, Maurício apenas balançou a cabeça, me consolou e por fim deu risada da minha confusão.
- Dessa vez, conversamos. Finalmente tivemos uma conversa mais franca. Falamos sobre o que aconteceu. Eu entendi a Lena, ela me entendeu. Confessei meus medos, concordei com meus erros. No fim, restou-me pedir perdão. Para a minha sorte, fui perdoada.
- Fico feliz por você, Isa. É bom te ver sorrindo e com essa sua cara de boba apaixonada – compartilhou um sorriso sincero comigo. – Agora é para valer mesmo?
Levantei a mão esquerda para responder as suas perguntas.
- Mas já? Não perde tempo mesmo, hein espanhola?!
- Acredita que a Helena fez o pedido como se me pedisse em casamento de novo? Foi tão lindo. Só de me lembrar já fico toda emocionada – olhei para cima, evitando encher os meus olhos de lágrimas felizes. – Você tienes razão, estou uma boba apaixonada. Na verdad, estou me permitindo, sabe? Passei tanto tempo reprimindo-me, quase uma tentativa de matar esse amor aqui dentro, já que arrancar estava impossível. Então, quero aproveitar todas as emoções. No me importo de ser uma boba se ser isso vai me faz bem.
Mau levantou-se da cadeira e se acomodou no sofá. Próximo a mim, abri os meus braços na sua direção. O abraço que tantas foi de consolo, dessa vez foi amigável, um compartilhamento de alívio de quem acompanhou meus tantos momentos de loucura.
- Essa é a Isabel que conheço. Uma mulher feliz, apaixonada, leve. Parabéns pelo seu novo casamento, boa sorte com essa nova fase.
Separamo-nos emocionados. Maurício tem uma cara amarrada, mas por dentro é uma manteiga derretida. Comecei a contar para ele os detalhes do jantar, sobre a felicidade da Giovanna, das novas promessas feitas. Confessei um pouco dos meus receios, ele me aconselhou. Disse sobre a tal da Kátia que ele confirmou que ela realmente esteve no seu restaurante, porém foi embora já imaginando que Helena estava comigo. Terminei contando como foi a nossa conversa de reconciliação.
- E como foi a reação quando você contou sobre a Elisa?
- Sobre a Elisa? – Olhei para ele sem graça.
Permaneci em silêncio. Eu entrei em negação sobre o assunto, medo de estragar tudo. Não esperava ser logo pedida em casamento. Errei.
- Está se fazendo de sonsa ou é problema de memória mesmo. Você foi para a cama com a Elisa, esqueceu? Lisa, uma loira bonitona, a melhor amiga da Helena, madrinha da sua filha... Você não contou? NÃO CONTOU QUE PARA A SUA MULHER QUE TRANSOU COM A MELHOR AMIGA DELA?
- Fala baixo, carajo! Estás volviendo loco? E se alguém escuta? E se a Helena escuta?
- Você não precisava estar toda preocupada se tivesse contado. O que era certo. Você é louca, Isabel? Você não disse que teve uma conversa franca com a Heleninha?
- Maurício, eu no pensei... eu...
O famoso ator brasileiro me encarava com uma certa revolta. Eu o entendia.
- Como não contou algo que pode te atrapalhar no futuro? – Perguntou-me balançando a cabeça em negação.
Olhei para a aliança no meu dedo. Eu dei o passo mais importante da nossa reconciliação sem realmente ter o direito de fazê-lo.
Fechei meus olhos, minha cabeça começava a pesar só de pensar no assunto.
– Não fico me lembrando dessa história com a Elisa. Na verdade, apenas quando ela aparece na minha frente que me lembro do que aconteceu aquela noite. Foi sem importância, carência. Ela sabe disso, fui bem clara.
- Eu sei que não significou nada para você. Mas, o fato de não ser importante para você, não significa que não seja importante para a Helena.
- Eu estava solteira, Maurício...
Já não raciocinava mais direito. Tentei achar justificativa para o meu erro, nada que faça sentido.
- Você saber que esse negócio de solteira não cola, não é? Ficar com a Elisa é totalmente diferente do que ficar com qualquer outra mulher.
Concordei abrindo os olhos e o encarando. Segurei a minha aliança no dedo. Um medo de ter que retirá-la e perder a Helena se apossou de mim, coloquei força no local em uma tentativa idiota de acalmar o meu coração.
- É muito pior do que isso, Maurício. Estamos falando da Elisa, a melhor amiga de anos da minha mulher. Eu poderia sair daqui e contar tudo à Helena, mas no puedo. Eu e a Lisa concordamos em guardar segredo. Ela me pediu isso. Até achei melhor na época. Talvez seja por isso que ignoro o assunto, eu prefiro esquecer. Pero, não existe nada tão bem encoberto que não possa ser descoberto.
- Ainda bem que você sabe disso. Vai contar agora?
- Acha que a Helena vai me perdoar?
- Sei lá, Isabel. Pensando pelo lado positivo, já que você fez merd* mesmo, talvez com as duas nesse clima de romance, fique mais fácil para a Heleninha compreender. Vocês já tinham questões pesadas demais para serem discutidas, jogar essa no meio poderia fazê-la recuar. O que não pode acontecer é deixar passar muito tempo ou a Elisa contar. Você precisa fazer isso.
- No vou contar sem antes falar com a Elisa. Ela vai ser prejudicada com essa história também. Não quero prejudicá-la. Nunca quis. Eu poderia ter evitado, ter dito ‘não’ quando me dei conta da sua intenção. Sinto-me culpada por não notar que ela era apaixonada por mim.
- Era? Na festa da Giovanna, Elisa te comia com os olhos, Isa. Nem na festa da melhor amiga no sábado ela conseguia disfarçar. Quando você se levantou da cadeira, a primeira coisa que ela fez foi correr atrás. Não sei como ninguém notou antes...
- Você só percebeu porque eu te contei a história, Mau o interrompi. - Elisa nunca deu em cima de mim enquanto eu era casada com a Helena. Tanto que foi uma surpresa para mim quando se declarou.
- A pose de melhor amiga era um bom disfarce para ela.
- No fale assim. Elisa adora a Lena, sempre foi uma das melhores amigas junto com a Natália. Ter uma queda por mim foi uma cilada do destino. Eu não queria estar na pele dela.
- É por isso que você foi para cama com ela. Muito besta. Se tivesse raciocinado a verdadeira intenção dela desde o começo, não precisaria passar por tudo isso. Pode defendê-la o quanto quiser, eu vou continuar achando-a uma filha da puta. Nunca se leva para cama a pessoa que a amiga ama. Ela é nojenta.
- Então eu também sou.
- Também, mas pelo menos pode fazer o certo. Elisa não vai contar. Ela tem muito mais a perder nessa história: a amizade com a Helena e o afastamento de você. Agora a escolha é sua.
- Eu vou contar, Maurício. Isso é óbvio. Vou procurar a Elisa hoje mesmo para conversar e perguntar se ela quer revelar comigo.
O meu amigo bateu com a mão na testa. Sua visão é de que meu plano vai dar errado. Mas não vai.
- Ela tem o direito de se defender para a amiga, Mau.
- Faça como você achar que deve, Isa. Só não a deixe te manipular para esconder isso da Heleninha.
Concordei com ele acenando positivamente com a cabeça. Recebi um beijo no rosto e o vi levantar-se do sofá.
- Eu vou dar uma passeada por aí, te deixar com os seus pensamentos. Pensa direito no que vai fazer, hein?
- E você também, amigo. Vê se não vai dar em cima de alguma mulher por aí, respeite o seu casamento.
Ele entendeu a minha referência e saiu do camarim segurando o riso e jogando um beijo para mim.
Como Maurício disse, fiquei com os meus pensamentos. Deitei-me no sofá, fechei os olhos e coloquei o meu braço direito por cima deles. Eu estou no escuro, perdida. Não consigo encontrar uma luz, apenas me apego a teoria do meu amigo. Estamos bem, pode ser que eu seja perdoada.
Elisa se mostrou tão amiga depois da separação. No começo eu fiquei receosa com a sua aproximação, me perguntava o que uma das melhores amigas da Helena queria comigo. Era para ela estar ao lado da amiga e não forçando visitas na minha casa. Das primeiras vezes que conversamos, eu era apenas gentil. Diferente da Natália, eu tinha algum nível de amizade com a madrinha da minha filha. Então, após aparecer na minha casa com a desculpa de visitar a Giovanna, deixei que ela se aproximasse de mim. A cineasta loira dizia que não queria se meter na nossa separação, eu acreditei. Se eu pudesse voltar atrás...
“Mais uma vez caímos no silêncio. Meus olhos foram capturados pela Elisa que olhava para mim de maneira doce como tantas e tantas vezes nos últimos meses.
- Obrigada por me resgatar do Arte, por me fazer companhia nessa primeira noite que a Gi foi ficar com a Helena. Se não fosse por você, estaria bêbada e dormindo naquele sofá duro do meu escritório. Gracias por me ouvir mais uma vez, deve estar de saco cheio, nem eu me aguento mais.
- Não precisa me agradecer, Isa. Te resgatarei de qualquer lugar quantas vezes for preciso – sorriu e bebeu o resto da sua taça de vinho. – Se ficar bêbada, ao invés de beber apenas essa única taça, pode beber a garrafa. Prometo que cuido muito bem de você.
Dei risada da sua sugestão. Elisa tem um jeito engraçado de falar, pensei.
- Eu acredito que sim. Mas eu no quero beber, obrigada. Imagina se toda vez que Gi for dormir fora de casa, eu fico bêbada? Nada disso.
- Tem razão, nada de ficar triste e bêbada. Podemos fazer melhor nas outras vezes. O que acha de sair para dançar? Conheço lugares ótimos. Eu sei que você gosta de samba, já foi em uma quadra? Tenho certeza de que vai adorar e se divertir muito.
- No acho que seria uma boa, Elisa.
A loira fez uma cara de tristeza, fiquei sem graça. Ela sempre tentando me animar, eu sempre a puxando para baixo.
- Quem sabe mais para frente? Sei lá, daqui um mês mais ou menos.
- Não consegue nem mentir direito, Isa – disse dando risada. - Promete que ao menos vai pensar? Eu sei o quanto está triste ainda, mas uma hora você vai precisar sair dessa espécie de luto da separação.
Engoli seco, pensei na Helena.
- Ela já saiu do “luto”?
- A Helena? Não vou mentir para você, ela está como você. Talvez esteja feliz hoje porque está com a Giovanna.
E se a Lisa não quer me machucar e mentiu para me agradar? Melhor mudar de assunto. Ainda que a loira esteja aqui me fazendo companhia, ela ainda é amiga da minha ex.
Bocejei, o sono alertou-me para o adiantar da hora. Olhei para o meu celular, quase duas horas da manhã. Elisa deve ter percebido o meu susto, pois em seguida comentou:
- As horas passaram e eu nem percebi. Desculpa, você deve estar cansada, trabalhou o dia inteiro e eu aqui te atrapalhando. Estou indo.
- Está tarde para você pegar um táxi ou andar na rua... – ponderei. - Fica no quarto de hóspede, comprei uma cama por causa da Nina que às vezes dorme aqui – disse como gentileza.
- Dorme? Isabel, você e ela – fez um gesto juntando os dedos.
- No! Claro que no! Nina é a babá da minha filha e uma criança. O que pensa que eu sou?
- Calma, Isa. Desculpa, é claro que você jamais se envolveria com a babá da Gi.
- Tudo bién, Elisa. Deixa esse assunto para lá – respirei fundo. - Enfim, dorme aí, como disse, está tarde e é perigoso.
- Eu vou aceitar sim, obrigada.
Levantei-me dizendo que pegaria uma toalha para ela tomar banho e emprestar alguma roupa para dormir. Caminhei até o meu quarto, peguei o que precisava e quando saí dei de cara com a Elisa quase na porta. Entreguei as coisas e disse que há escova de dentes nova no armário. O caminho do banheiro ela já conhece.
Fui até o quarto de hóspedes, comecei a arrumar a cama para ela dormir. Faz frio em São Paulo, coloquei um cobertor a mais. Quando terminei de ajeitar tudo, ouvi a porta sendo aberta.
Elisa entrou apenas de toalha e com as roupas na mão.
- Não coube? Posso ver uma menor – ofereci me dando conta da nossa diferença de altura.
- Eu ainda não vesti – sorriu de lado. – Gosto de me enxugar bem antes de colocar qualquer roupa.
- Ah sí. Precisa de outra toalha? Lembrei agora e acho que tem uma aqui.
Caminhei até o pequeno guarda-roupa e peguei uma nova que tinha guardado recentemente no quarto.
Quando voltei, a cineasta já estava perto da cama. Estendi a toalha e ela pegou para em seguida colocar na mesa próxima à cama. Sem que eu percebesse, a loira ficou na minha frente.
A toalha branca que cobria o seu corpo foi solta por ela. Olhei assustada para o seu rosto, evitando de olhar para sua nudez.
- O que voc...
Fui interrompida por um beijo forçado. Em um primeiro momento, afastei-me. Embora já sentisse o meu corpo corresponder quando seus seios me tocaram.
- No... que pasá, Elisa? Por que... o que deu em você, mulher?
A mulher pegou-me pela cintura e olhou em meus olhos. Seus olhos verdes ficaram escuros, seus lábios ficaram próximos aos meus, podia sentir o seu hálito de menta.
- Você está precisando de carinho, Isa. Eu te amo como nunca amei ninguém na minha vida. Não precisamos discutir isso agora. Quero apenas te dar prazer. Permita-se. Você é tão gostosa.
Mais uma vez, Elisa beijou-me. Sua língua pediu passagem e por impulso aceitei. Enquanto nos beijávamos, uma travei uma luta interna. O beijo é quente, bom, me faz relembrar o que é ser desejada por outra pessoa. Meu corpo foi correspondendo aos seus toques. Suas mãos se atreveram a tocar um dos meus seios.
Ao mesmo tempo, algo em pedia para parar. Em momentos de racionalidade, minhas mãos que tocavam a sua pele, fazia uma tentativa de pará-la. “É a Elisa”, minha cabeça dizia. “Quero apenas te dar prazer. Permita-se” sua voz me recordava.
A loira caiu na cama e me puxou junto. Como se soubesse do meu ponto fraco, beijou o meu pescoço próximo a orelha. Gemi. Ela venceu...”
- Idiota, Isabel. Você é uma idiota e estragou tudo.
“Com a minha respiração voltando ao normal. O tesão do momento foi esfriando. Elisa colocou a mão na minha cintura e foi como se eu levasse um choque de realidade. Eu transei com a melhor amiga da Helena.
Levantei-me e peguei o cobertor extra que estava no chão. Cobri o meu corpo nu morrendo de vergonha.
- Onde você vai? – Lisa perguntou.
- Desculpa, isso no... eu preciso pensar.
- Quer que eu vá embora?
Quero, respondi apenas para mim. Se eu pudesse nunca mais a veria.
- Eu vou para o meu quarto. Se você quiser ficar, tudo bem. Só peço para não me procurar... depués conversamos.
Não esperei por mais alguma frase. Escutei ela dizendo o meu nome, mas só parei de andar quando cheguei no meu quarto e tranquei a porta.”
A merd* já estava feita. Entreguei-me à Elisa sem pensar nas consequências. Não imaginei que voltaria com a Helena e muito menos que a loira era apaixonada por mim.
“A loira demorou a sair do quarto. Preparei um café da manhã, mas não consegui comer nada, não descia. Flashes da madrugada entravam e saiam da minha cabeça com frequência. Não entendi a atitude da Elisa, precisava de respostas.
- Bom dia – sua voz saiu baixa.
Ela não olhava na minha direção. Observei seu nervosismo ao esconder suas mãos no bolsa da calça pantacourt vermelha.
- Buenos días.
- Eu... quero te agradecer por ter me deixado dormir aqui depois de... bem, você sabe. Eu preciso ir, tenho uma entrevista marcada com uma revista.
A cineasta começava a caminhar na direção da porta.
- No, espera – caminhei até ela. – Eu quero te pedir desculpa. Não deveria ter acontecido, no sé o que se pasó...
- Não peça desculpa, por favor. Foi a melhor noite da minha vida, apesar de você não ter ficado.
- O que você quer dizer com isso? Eu ainda não estou entendendo o que te levou a tirar a toalha.
- Eu sou e sempre fui completamente apaixonada por você. Me encantei por você desde que segurei o elevador quando te percebi que desejava entrar. Eu não sabia que iríamos para o mesmo apartamento. Nunca imaginei, a mulher que a Heleninha iria me apresentar era você. No dia fiquei sem graça pois tinha acabado de te passar uma cantada. Você nem percebeu.
- Não mesmo... – tentava puxar a cena na minha memória.
- Óbvio que desencanei na hora, mas depois fui te conhecendo mais e mais, o amor foi crescendo. Quanto mais tempo passava com as duas, mais sofria por amar a mulher da minha melhor amiga.
- Chega! No quero saber. Eu achei que você era minha amiga. Mas agora percebo que estava, no fundo, planejando me levar para a cama como fez.
- Não vou negar que vi uma grande oportunidade de te conquistar. Porém, eu realmente estava aqui como sua amiga, não planejei porr* nenhuma. Eu te ouvia, tentava te aconselhar a voltar com a Lena. Se a Giovanna está com ela agora, é porque eu me aproximei de você para fazer a ponte. Não me acuse dessas bobagens.
- Eu... eu... não sei, estou confusa.
- Isabel, eu consegui esconder esse amor por anos, mas ontem à noite não resisti e você também se entregou. Não me ofenda com um pedido de desculpa. Pense o quanto quiser, depois conversamos.”
Eu pensei que conseguiria seguir em frente com a amizade dela. Imaginei que a Elisa cairia em si. Mas uma semana depois, dei-me conta que o amor que ela sentia por mim não era bobagem.
“- Você está falando de amor, Elisa? Não percebe que jamais acontecerá nada entre nós?
- Sim, Isabel, eu estou falando sobre amor. Eu estou finalmente confessando o quanto te amo, o quanto te desejo, o quanto você é especial para mim. E foda-se, eu estou feliz por finalmente poder falar. Me matava ter que esconder.
- Antes de ir para cama comigo, eu tinha o direito de saber dos seus sentimentos. Para mim era apenas desejo, um clima do momento, sex*.
Elisa passou os dedos pelos meus lábios, desviei.
- Você provou de mim, não foi indiferente. Para de lutar contra isso. Do que tem medo? Eu enfrentaria o mundo para te ter.
- Cállate, Elisa! No percebe o erro que comentemos? Nunca te dei abertura, nunca fiz nada para despertar esse amo em você.
- Já aconteceu. Eu me apaixonei por você! O que você quer que eu faça, Isabel?
- Me esqueça! – Respondi nervosa. - No es certo, Elisa. Aquela noite foi carência!
- Eu sei, droga! Mas foi a noite mais bonita que eu tive na minha vida – repetiu a frase já dita na manhã seguinte do sex*.
- No, por favor. No fale así.
- Falo porque é verdade. Eu neguei por anos quando esse sentimento surgiu, achei que era admiração. Mas eu não aguento mais esconder que eu te amo. Dei-me uma, apenas uma chance.
- Elisa! Isso nunca vai acontecer. Por favor, vá embora da minha casa. Esquece o que aconteceu entre nós.
- Você ainda ama a Lena – afirmou.
- No tiene nada a ver com a Helena. É errado sim me envolver com uma das melhores amigas da minha ex, mas a verdade é que eu no te amo.
- Não precisa me amar, eu aceito o que você tem no momento. Sua carência.
Abri a porta da minha casa e indiquei o caminho para ela.
- Nunca mais vai acontecer nada entre nós, Elisa. No venha mais ao meu apartamento, por favor. Esqueça que eu existo.
- Não me peça o impossível, Isabel.
- Saia, Elisa.
- Eu saio, mas antes você precisa me prometer que a Helena nunca saberá o que aconteceu. Seu amor eu nunca tive mesmo, posso conviver com isso, mas a amizade dela é importante para mim.
- Não vou contar.
Elisa saiu com lágrimas nos olhos. Eu não fiquei indiferente a sua dor. Senti-me duplamente culpada: por permitir ela se aproximar sem perceber sua paixão e ter acabado na cama com ela.”
- Amor?
Retirei o braço dos meus olhos e pisquei os olhos várias vezes para poder enxergar com nitidez.
- Ei, vida. Estava dormindo? – Helena sorria.
Levei a minha mão até o seu braço e deslizei com carinho.
- Acho que cochilei um pouco, cariño.
O pequeno corpo inclinou-se na minha direção. Seu lábios se encaixaram nos meus. Sua língua pediu passagem, aprofundei-me deixando me levar pelo seu doce sabor.
- O beijo de boa tarde que você pediu – disse ainda com a boca sobre a minha.
Levei a minha mão direita na sua nuca e ela se entregou ao beijo urgente que exigi. Mulher caliente, minha perdição, meu único desejo de amar.
Desacelerei o ritmo ao imaginar a sua reação com a conversa que teremos. Deixei um último beijo antes de ela se afastar.
- Pena ser o último programa e eu ter que já sair para me arrumar.
Voltando a se inclinar, mas na direção do meu ouvido, Helena sussurrou:
- Eu adoraria te fazer minha nesse sofá e te ver contendo os gemidos para não sermos descoberta.
Antes de se afastar, Heleninha passou a língua e deixou um beijo na área mais sensível do pescoço.
Em um outro momento, sem o meu dilema, eu não deixaria essa mulher sair dessa camarim sem se sentar na minha boca de jeito nenhum. Mas hoje é diferente. Meus erros ainda vão me destruir por completo.
- Isa? Amor? Está com a cabeça longe?
Olhei para ela, tentei sorrir.
- Estou nervosa com a final. Sempre fico, você sabe.
- Está com medo da sua queridinha perder? – Sorriu com deboche.
- Helena? Já disse que no estou torcendo e nem tenho um favorito. Márcio é muito bom, assim como a Philipa. Vai ser uma disputa acirrada.
- Tudo bem, amor. Vou fingir que não acredito que você queira vê-la campeã.
Eu revirei os meus olhos. A última coisa que quero é brigar, ainda mais hoje.
- Não tem nada a ver, Helena..
- O que me incomoda mesmo é a abertura que você dá a ela.
Apenas olhei com seriedade para a minha mulher. Já conversamos sobre isso. Preferi o silêncio. Ela entendeu.
- Isa... – me chamou dengosa.
- Hum?
- Eu te contei da Kátia, te contei da Maria. Além da Phlipa, você transou com outra?
“(...) antes você precisa me prometer que a Helena nunca saberá o que aconteceu. Seu amor eu nunca tive mesmo, posso conviver com isso, mas a amizade dela é importante para mim.”
Desviei o olhar. Essa pergunta justo agora? Não posso falar sem conversar com a Elisa. Fiz um esforço e voltei a minha atenção à apresentadora.
- Nunca transei com a Philipa. O máximo que aconteceu foram beijos e um dia que tentamos... avançar.
O rosto da pequena ganhou um sorriso largo. Torci para ela ignorar a minha resposta dada pela metade.
- Fico feliz com essa informação, pelo menos o bom gosto você manteve – de repente seu rosto tornou-se sério. - Mas você teve outra?
- Helena... – hesitei.
- Teve ou não, Isa? Eu te contei tudo.
- Tive, Helena. Eu tive outra pessoa enquanto estávamos separadas. Satisfeita?
- Uma só?
- Sí – bufei.
- Quem?
Senti-me sufocada. Lena olhava em meus olhos, esperava ansiosa pela resposta.
- Você no estava atrasada para se arrumar? Em casa nós conversamos.
- É alguém que eu conheço? Quem? Agora eu preciso saber.
- Después, Helena. Después nós conversamos direito, aqui não é lugar. Eu também preciso me arrumar.
A paulistana levantou-se irritada. Sentei-me no sofá, nossos olhos passaram a se estudar.
- É alguém que eu conheço... – pensou. – É o Maurício?
Meus olhos quase saltaram do rosto. Eu e o Mau? Segurei-me para não rir para não deixá-la mais nervosa.
- Nunca! De onde você tirou isso? Eu sou lésbica, Helena. Você sabe muito bem disso.
- Você disse ‘pessoa’. A única pessoa próxima de você durante a separação era ele.
Levantei-me e me aproximei dela. A apresentadora não mostrou resistência quando a abracei e beijei seu rosto.
- Después, cariño. Aqui não é o lugar e nem o momento.
Com um selinho, nós nos entendemos por hora. Procurei acalmá-la com o abraço. Sei que ela vai ficar desconfiada, mas é preciso agir com cautela no momento.
Nos separamos. Helena foi se arrumar no seu camarim e eu aguardei as meninas da maquiagem no meu.
Por ser a gravação da final, vesti-me com um vestido de noite. É tudo muito rico e espalhafatoso.
Em uma hora fui liberada pelas meninas e decidi caminhar pela emissora até dar o horário da gravação. Entrei na sala do café, um dos meu lugares favoritos pela comida e o silêncio.
- Isabel!
Ouvi um sotaque forte pronunciando o meu nome com delicadeza.
- Hola, Philipa. Tudo bem?
A portuguesa passou por uma das mesas da sala e aproximou-se.
- Nervosa. Fazer três atos estás a me deixar mais pressionada.
- É só atuar como sempre fez. Suas atuações estiveram entre os melhores por diversas veces, sabe que tem talento.
Levei a xícara de café a minha boca. Quando ela olhou para a minha mão, notei que utilizei a esquerda e o anel se destacou.
- Então o que estão a falar pelos corredores é verdade? Voltaste com a Helena Carvalho?
Recriminei-me por ter essa conversa antes da prova.
- Philipa, o que estava acontecendo entre a gente foi bom, pero no tinha futuro. Nunca te prometi nada.
- Não me deste uma chance, Isabel. Preferes realmente voltar com a sua ex ou invés de investir em uma nova relação? Eu te faria muito feliz.
- Nunca faria porque só uma pessoa me faz. Helena é o amor da minha vida, é com ela que quero dormir e acordar pelo resto da minha vida. Você vai encontrar alguém que te ame, assim como eu e a Lena nos amamos.
- Te faço esquecer-se dela em um segundo.
PHilipa me puxou pelo pescoço com a mão. Em um movimento rápido, coloquei a mão na sua boca.
- No, Philipa. Não é assim que se resolve as coisas. Eu não te quero.
- Não escutou o que a Isabel disse?
Virei-me para o lado. Helena apareceu de vestido curto preto e branco, com um salto que a deixava com a postura mais elegante e maquiada.
Afastei-me rapidamente da portuguesa. Temi o seu olhar duro, acusatório.
- Helena, eu... nós...
Ignorando-me, a paulistana se dirigiu apenas à portuguesa:
- Isabel disse ‘não’, não sabe respeitar isso? Claro que não consegue, se faz de sonsa para ver se ela cai na sua rede. Aceita que você perder, Philipa.
- Helena, no... – tentei interrompê-la ao notar seu tom afiado.
- Se você não conseguiu nada com ela solteira, casada comigo é que não vai. Contenta-se com um ou dois beijinhos que ganhou. Leve pelo resto de sua vida a sensação de um dia ter sonhado que podia ter Isabel Casañas na sua cama. Hoje e para sempre ela só vai frequentar a que eu estiver. Agora saia, vá se concentrar para atuar longe de nós.
A competidora saiu com pressa, não olhou para mim quando tentei chamá-la.
- Vai correr atrás dela agora?
- Eu deveria! Se ela no conseguir atuar bem, vou me sentir culpada. Você não deveria ter falado daquele jeito com ela.
- Era só o que me faltava! A garota quase te beija na minha frente e eu tenho que ficar preocupada se ela vai ganhar ou não o troféu?
- O assunto já estava quase resolvido.
- Então corre atrás dela e enrole a portuguesa mais um pouco. Depois nós duas conversamos em casa.
Helena deu-me as costas. Vi os seus músculos expostos pelo vestido de frente única tensionarem. Corri até ela e me coloquei na sua frente.
- No vou deixar você sair daqui sem ter uma boa conversa.
- Então só você tem o direito de empurrar as coisas para depois? Me poupe, Casañas.
Passei minhas mãos pelo cabelo, mas parei de tocá-lo ao notar que atrapalharia o penteado já feito.
- No vamos misturar as coisas, por favor. O que eu no quiero é que você saia daqui nervosa. Vamos conversar, eu não tive culpa, tentei falar com ela, disse que te amava.
- Eu ouvi, Isa – mostrou-se mais calma. – Eu cheguei quando ela perguntou se você tinha voltado comigo. Não estou chateada ou imaginando que vocês se beijaram. Será que você não percebe que com esse seu jeito de tentar não a machucar só faz com que ela criasse mais esperança?
- Desculpa, cariño. Você tem toda razão, nem vou discutir. Eu só não queria prejudicá-la. Eu tenho que julgar as atuações e se ela atuar mal terei que dar a nota que merece. Porém, não quero sentir-me culpada.
- Eu sei, mas é sempre melhor a verdade. Sempre. Eu confio em você, se quiser conversar com ela, tudo bem.
- No creo que ela queira me ver por agora. Eu já fui sincera com ela, tenho que colocar na minha cabeça que a responsabilidade de uma boa atuação é dela.
- É exatamente este o ponto, meu amor.
- Está mais calma? – Perguntei tocando o seu rosto de leve. – Você ficou linda.
- Preciso de um beijinho para ficar mais calma. Merda, eu deveria ter feito como você, batom apenas na hora que chegarmos no estúdio.
Beijei seus lábios de leve para não tirar o seu batom. Abracei a sua cintura e a girei no ar.
Helena deu um gritinho pelo sustos e deu sua gargalhada mais gostosa quando a coloquei no chão.
- Eu te amo, cariño.
- Eu também te amo, amor.
De mãos dadas, saímos na direção do estúdio principal. Pelos corredores, ganhamos alguns olhares surpresos e felicitações. De vez em quando, nos olhávamos apaixonadas. Como senti falta dessa rotina.
Parecia que andava em nuvens, chegamos aos local juntas. Miriam nos parabenizou e ganhamos abraços do Maurício e Eduardo. O marido do Rô fez uma festa em particular. Nossa felicidade é a dele. Só paramos de comemorar quando anunciaram que começaria em dois minutos.
A maquiadora chegou perto para conferir, passei o batom vermelho. Helena olhou para os meus lábios pintados e passou a língua pelos lábios em uma provocação barata.
Nos segundos finais, nós quatros nos abraçamos e agradecemos a temporada. Que temporada! A emissora já tinha feito a proposta de estender o meu contrato, vou aceitar. Agora que estou com a Lena, nada me impede.
- Boa sorte, amigos – Helena disse.
- Boa sorte, cariño.
- Boa sorte, cariño – Mau mitou a minha voz.
- Boa sorte, cariño – Edu fez o mesmo que o amigo.
Helena e eu batemos de leve no braço de cada um.
Procuramos nossos postos nos palcos, as luzes ficaram mais fortes e meu amor começou a falar o roteiro.
Eu fiquei do meu lugar admirando cada palavra sair da sua boca. Não prestei atenção quando os finalistas entraram. Quando me dei conta, a apresentadora se dirigia a mim, me pedia para eu falar da trajetória dos dois. Foi a primeira vez que olhei para Philipa, ela sorria. É um sinal de que está tudo bem.
Falei um pouco dos dois, foquei mais no profissional, destaquei as atuações que mais gostei e por fim olhei para Helena que também sorria para mim. Em seguida, anunciou a entrada dos outros participantes da temporada e depois seus familiares.
Quando a pequena anunciou o começo da prova, fiquei com frio na barriga. Olhei para as peças escolhidas pela portuguesa e soube que era trabalharia na sua especialidade: clássicos.
Durante as atuações, notei a portuguesa contente, não havia nenhuma insegurança. Se ela não vencer, tenho certeza de que a culpa não será minha. Seu concorrente também está atuando com felicidade. Que vença o melhor.
A última cena decidiu. Emocionante. Digno de dois jovens e grandes atores.
Saímos da sala para finalizar a gravação. Daqui dois meses Helena anunciará o vencedor. Pela primeira vez, não faço a mínima ideia de quem levará o troféu e os prêmios.
- E então, foi tudo bem? – Lena perguntou colocando suas mãos em minha cintura.
- Tudo ótimo, cariño. Você estava linda durante toda gravação.
- Olha lá, Edu, as duas não se desgrudam mais – Maurício brincou com o amigo.
- O casal mais bonito depois de mim e do Rô.
- Ah, mas não são mesmo...
Helena começou a discutir com o amigo e eu a acolhi em meus braços. Cheirei o seu cabelo quando colocou a cabeça no meu peito. Meu amor.
[...]
Elisa abriu a porta do seu apartamento com um sorriso discreto nos lábios.
- Quando o porteiro te anunciou, achei que era uma pegadinha. Quer mesmo falar comigo. Entra – pediu dando espaço para que eu entrasse no local.
- Eu no vou me demorar muito. Na verdade, eu vim apenas para...
- Sente-se, Isabel. Eu não mordo e não vou te atacar.
Percebi o quanto estava nervosa quando minha boca secou. Resolvi sentar-me no sofá, será uma conversa difícil.
- Aceita alguma coisa? Suco? Água?
- No, gracias.
A loira e olhava de maneira questionadora. Tentou tocar a minha mão, mas evitei a tempo. O sorriso amigável foi substituído pela preocupação.
- Está nervosa... Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
- Você já deve saber que voltei com a Helena, cierto?
- Acabei de receber uma foto que a enviou no grupo das nossas amigas – disse pegando o seu celular e procurando algo.
Estendendo a tela na minha direção, na foto eu beijava o rosto da minha mulher com os olhos fechado. O sorriso da pequena ganhava destaque de tão lindo. A paulistana escreveu: estou feliz, amigas. Eu amo essa mulher, olha como ela é linda.
A cara da cineasta não estava das melhores. Deve ser difícil receber algo assim e ter que engolir.
- Elisa, nós precisamos conversar.
Desviei os meus olhos do seu celular e ela o guardou.
- Estou curiosa, Isa.
- Eu quero contar para a Helena sobre a nossa noite – disse de uma vez.
- Não! Nem pensar! Você não pode fazer isso, Isabel.
Eu sabia que seria difícil, mas tinha esperança de ela ter mudado de ideia.
- No quero mais segredo com a Helena. Ela tem o direito de saber, hoje mesmo me perguntou se eu estive com alguém.
- Inventa alguma coisa. Não tem como a Heleninha saber! Eu não vou contar e nem você. Alguém mais sabe?
- Maurício, mas sei que ele no vai contar.
- Então pronto. Tira essa ideia absurda da sua cabeça.
- Não é essa a questão. Eu quero contar para a Lena porque ela merece saber. Ela contou-me tudo, estamos nos acertando e eu não quero esconder nada.
A loira levantou nervosa. Encarou-me irritada, seus lábios pareciam uma linha.
- Não conta, por favor. Eu já te perdi, não quero perder a minha amiga. Acredite ou não, ela é importante para mim.
- Se ela é tão importante assim, conte comigo. Ela vai entender, vai perdoar. Vai ser muito melhor.
- Como eu vou contar para ela que sou apaixonada por você desde que te conheci? Como ela vai reagir ao saber que passei esses anos todos ao lado de vocês sentindo esse amor?
- Helena é compreensiva, Elisa. Perdoou a Natália, me perdoou também.
- Natália não é apaixonada pela mulher dela e você é o amor da vida dela. É óbvio que nunca vai me perdoar por ter trans*do com você.
Essa conversa não vai chegar a lugar nenhum. Respirei fundo e levantei-me pegando a minha bolsa.
- Venha conversar com a Helena comigo. Eu estarei ao seu lado Elisa, podemos dar força uma para outra. Se apaixonar não é algo que se controla, ela vai entender. E bem, no meu caso pode ser até pior, mas depois eu me viro com ela. O importante é nós duas sermos transparentes com ela. Isso vai contar na hora do seu julgamento.
- Para você é fácil. É óbvio que ela vai te perdoar. Eu que tenho muito a perder. Não poderei frequentar sua casa como antes, nada vai ser como antes. Sou madrinha da Giovanna, perderei esse vínculo. Você vai destruir a minha vida.
Mordi o meu lábio inferior pelo nervosismo que me atingiu. Dúvidas. Fiquei parada refletindo. A mulher aproximou-se tocando o meu braço.
- Vai contar? – Perguntou subindo a mão para o meu rosto.
- Eu sinto muito, Elisa.
Peguei a sua mão e retirei da minha bochecha.
- Por favor, Isa. Eu estou te implorando. Não conta.
Dei as costas para ela e comecei os primeiros passos para sair do seu apartamento.
- Isabel, espera!
Parei, mas não me virei.
- Dei-me um tempo. Eu preciso pensar, conversar com a Helena, entender como ela reagiria.
Sem caminhar de volta para perto dela, disse:
- Hoje, Lisa. Não vai fazer diferença nenhuma, o choque será o mesmo.
- Não subestime a raiva que ela pode ter. Você não me beijou, eu não sou só apaixonada por você, nós nos deitamos em uma cama. É como uma traição, minha e sua.
Cruzei os meus braços, a palavra traição soou dolorosa. Por mais que eu diga que estava solteira, faz sentido. Eu fui para a cama com a melhor amiga. Escondi isso nos nossos acertos, mesmo que sem pensar.
- Isabel, escuta-me. Dói para mim desistir de você de novo. Eu estou sofrendo. Mas as duas se amam, não posso lutar contra isso. Te amo tanto que abro mão da minha felicidade por você. Helena te merece, te ama e te faz feliz. Vocês duas precisam estar mais unidas para ter uma conversa tão pesada. Sei que vão viajar, isso vai fazer muito bem. É importante para ela. Quer estragar a sua viagem? Se você esperar, eu sento com você para contarmos juntas.
Sim, Helena planejou toda viagem tão empolgada, está tão feliz. Estragar tudo agora ou seguir o que a Elisa disse? Pelo menos agora a loira está disposta a contar, apesar de sentir medo.
- Eu vou viajar segunda que vem e volto no sábado. Te espero no domingo em casa.
A loira apontou um acordo com a cabeça.
Uma vez mais caminhei na direção da porta. Abri a porta, olhei para ela que tinha lágrimas nos olhos e me despedi com um aceno da mão esquerda.
Deixei a porta do apartamento bater atrás de mim. Pensei se fiz o certo. Desejei resolver tudo hoje, consegui a promessa de acabar com esse pesadelo em 15 dias. Respirei fundo, andei até o elevador e apertei o botão. Decisão tomada.
Fim do capítulo
Por hoje é issl :).
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Rain
Em: 19/02/2021
Tá! Eu entendo que você se apaixonar pela pessoa errada é algo extremamente doloroso. Ainda mais, se aquela pessoa faz parte do convívio pessoal e você tem que vê-la todo dia, mas não pode tê-la. Eu entendo isso. Entendo a Elisa nessa parte. Sentimentos não são algo a se brincar, porém quando você se deparar com uma situação igual a dela, para não acabar exatamente como vemos aqui, o melhor é buscar soluções certo?
Quando se apaixonar por alguém "proibido" que sabe que nunca vai ter, por que não procura fazer o diferente? Elisa amou a Isabel por anos, mas na minha visão parece que ela nunca tentou esquece-la. Assim como o Maurício disse, parecia que ela estava esperando a hora de dar o bote. Se ela se importasse mesmo com a Helena e a Gi, ela durante todos esse anos teria buscado outro jeito de esquece aquilo que nunca teve, mas não, ela preferiria se machucar e ficar rondando a Isa esperando o momento certo. Tá legal, que foi a Helena que pediu para ela ficar mais próxima da Isa, mas ela deveria ter pensado ' vou me aproximar o suficiente só para saber se ela vai estar bem. Ficar próxima da Isabel não vai me ajudar em nada" Ela não pensou isso ao meu ver. Ela parecia estar esperando exatamente que a Isabel estivesse vulnerável o suficiente para dar em cima dela.
Ela sabia que Helena não cometeu nenhuma traição carnal com Isa, ela não podia contar eu sei. Mas, ela sabia que a amiga foi de certa forma "injustiçada" pela as acusações da Isabel, sabia que em algum momento elas podria se sentar e se entender. Afinal, amor ainda existia e muito entre Helena e Isabel. Elisa não estava carente, ela aproveitou o momento e deu o bote, provavelmente na cabeça dela ' é minha chance". Se ela se importasse mesmo com a Helena teria pensado melhor em "dar prazer" a alguém que jamais lhe daria uma chance. Claro, que a culpa não é só dela é óbvio. Não acredito nesse negócio de "carne é fraca" conversa fiada para mim isso.
Bom, eu acho que é isso. Talvez eu esteja muito errada, afinal eu nunca me apaixonei, nem amei ninguém. Mas, se tivesse no lugar de Elisa, faria totalmente o contrário dela. Mesmo que doesse em mim, juntaria as duas pessoas que se amam. Bem minha cara isso.
Enfim, concordo com o Maurício.
E tá certo a Isa querer comunicar a Elisa que vai contar a Helena. Nessa parte concordo. Mas, como a Isabel pode pensar que contar isso a Helena, mas a Elisa vai ser menos pior? Vai ser é mais doloroso ainda. Isa deveria contar logo a Helena e sozinha, ia ser doloroso de todo jeito, mas ela podria ter mais chance de ter uma conversa melhor com a Helena do que ter a outra traíra ali presente. Então...
Eu fiz um textão. Desculpe, autora.
Resposta do autor:
Olá! Não se preocupe com textão, eu adooooooro ler textão. Gosto dessa expressão toda que, saber o que pensa em cada capítulo, como sente as personagens.
Eu agradeço o comentário seja o tamanho que for. Muito obrigada!
Abs!
LeticiaFed
Em: 23/01/2021
Ai, ai, ai, Isabel! Tá difícil de mudar velhos hábitos, hein? No meu entender a Elisa que foi muito fdp nessa história toda, se aproveitou da carência da Isa (apaixonada, até dou um descontinho rsrs) e depois vem com papinho de não poder perder a amizade da Helena. Nada de esperar uma semana, conta logo e pronto. E também fiquei desconfiada que a Helena teria ouvido, acharia até bom. Aguardemos ;) Beijo, bom final de semana!
Resposta do autor:
Ih... esse medo é difícil de largar. Ainda mais agora que parece tudo bem.
Elisa é um problema, dá desconto não hahaahahaha.
Beijo, bom final de semana para você também.
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GabiVasco
Em: 22/01/2021
Autora!!! Essa Elisa vai estragar tudo? Para mim ela é um enigma porque nâo sei se ela é do mau ou do bem. Ela foi baixa com amiga e com a Isabel e se aproveitou da situação porque sabia de tudo. Sabia da carencia da Isabel como sabia que a Helena não perdoaria a mulher. Eu até estava com dó porque ela parece que gosta da Isabel e é horrível não podermos controlar por quem vamos nos apaixonar mas podemos ter caráter e ela não teve. Concordo com o que o Mauricio disse que é nojenta. Ela passou todos esses anos calada sem tentar nada? Ou tem algum misterio?
Pode ser que vai da merda essa espera da Isabel mas eu achei a atitude dela de procurar a Elisa para dizer que vai contar e dar a oportunidade de ser juntas aceitável. É a minha cara pensar no outro e querer fazer da melhor forma possível.
Isabel se sente culpada, espero que contar seja o suficiente para a Helena perdoar. Não quero uma separação, elas parecem felizes demais juntas.
Quero te dar os parabéns por ainda dar fôlego para a história, parece que o ápice ainda não chegou ou tem mais de dois o que é fantástico. Parabéns!!!
Resposta do autor:
Vai fazer um estraguinho sim.
Sim, ela passou esses anos calada. Tinha atitudes estranhas, mas nada que pudesse fazer o casal principal suspeitar.
Sua visão sobre ela é boa, mas ninguém é tão bom ou tão ruim. Ela apenas toma atitudes em busca da sua felicidade ao mesmo tempo que tem receio disso pois gosta da amiga.
Obrigada :D.
Abs!!!
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Baiana
Em: 21/01/2021
Que massa,elas vão viajar para a minha terra,tenho certeza que vão amar Trancoso e arraial Dajuda.
Essa Elisa...sei não viu, tô com o pé atrás em relação a ela,e também estou com uma leve desconfiança de que a Helena ouviu a conversa da Isabel com o amigo,ou posso está enganada. E quando chegar a hora da verdade, só espero que a Helena se lembre que a Isabel estava solteira,e que a Elisa meio que criou toda a situação,que culminou com as duas na cama,mas a Isabel também não fez nada forçado,se deixou levar pela carência e se arrependeu no segundo seguinte.
Essa fala da Elisa: "eu abro mão da minha felicidade por você" nada a ver isso aí, a Isabel nunca foi e nem nunca seria a razão da felicidade dela,pois mesmo que não estivesse voltado para a Helena,ela nunca teria nada com a Elisa,mais fácil ela ter um relacionamento com a portuguesa.
Resposta do autor:
Terra boa!
Está enganada. Não ouviu. Jamais Helena ouviria e se manteria quieta depois do que aconteceu com ela.
Ih... vamos ver se a Helena vai levar em conta. Não sei, viu?!
Sim, concordo. Mas, é que na cabeça da Elisa as coisas não funcionam assim. Ela sabe que ama sozinha, mas ainda acha que poderia fazer a Isabel feliz.
Abs!
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