Capitulo 4 - Eu te amo
Você já tinha me pedido em namoro, foi assim, meio sem graça, estávamos no sofá e você perguntou se eu queria namorar com você. Eu aceitei, óbvio. Acredito que tanto quanto eu estava apaixonada por você, você estava apaixonada por mim.
Aceitei, no fundo, esperava algo mais simbólico. Fui para casa encucada com aquilo, pensando que podíamos substituir um pedido muxoxo por alguma outra lembrança. Hoje em dia percebo que teria sido mais justo comigo e contigo, eu não ter aceitado aquele pedido e dito que só aceitaria sob um pedido mais elaborado.
Mas, bem capaz, que apaixonada do jeito que eu estava, que iria pôr defeito em qualquer coisa que você fizesse. Tudo, absolutamente tudo, eu adorava.
Enfim, em casa, eu pensava sobre quando e como eu te diria que eu, na verdade, te amava. Eu já sabia que te amava, desde aquele dia que me entreguei em sua cama, dormi ao seu lado, senti o seu cheiro. Eu sabia.
Eu ainda não tinha tido coragem de falar e, também, queria que fosse um momento especial, algo para que pudessemos lembrar. Eu gosto destes gestos, gosto de fazer, gosto de planejar. Decidi que faria então uma cena pra dizer que te amava.
Primeiro, antes de tudo, encontrei na internet os brincos de girassol que combinavam contigo, pequenos, dourados, discretos. Antes, tentei encontrar fisicamente eles, no centro da cidade, caminhei quase seis quilômetros (meu contador de passos que acusou), mas nenhuma loja tinha um do jeito que eu queria. Eram todos grandes, ou muito teatrais, ou apenas entalhados, sem o desenho do girassol, sempre faltava algum detalhe.
Quando finalmente chegaram, marcamos de sair em um restaurante perto da casa dos meus pais, onde eu morava, combinei horário e dia, disse pra ti que amarias o restaurante. Ele é lindo, tem varanda grande, coberta, toda iluminada por festão de lâmpadas redondas amareladas, acabamento das mesas, pisos e paredes em madeira. Tem esse ar de casa colonial, com um toque de juventude.
Você confirmou que queria ir, então eu puxei meus papéis, minha aquarela, preparei um papel de carta feito à mão, com flores amarelas e fundo azul. Pensei em escrever uma poesia, mas não estava com nenhuma na ponta da língua, fiquei pensando em todas as músicas que diziam "eu te amo", pensei na Cássia, sempre vem a Cássia...
Embora eu arrepiasse ouvindo "meu mundo ficaria completo, com você", pensando em algum futuro juntas, li a letra e não tinha toda a poesia que eu queria, já Cazuza, tinha um toque de loucura que não era o tom que eu queria dar... Lembrei então daquela, aquela que fala dos olhos, logo os olhos, esses teus olhos castanhos que me hipnotizam.
"Ponho os meus olhos em você, se você está..." e ali estava a frase que eu precisava dizer, no finalzinho, com aquele convite de entrega que eu queria tanto de fazer, copiei os últimos versos em caneta preta. Coloquei no envelope.
No dia seguinte, no serviço, liguei para a Floricultura, só para garantir que ela estaria aberta até o horário de eu sair e poder comprar o buquê que fizesse jus. Perguntei se eles tinham girassóis. Sim, tinham.
O dia se arrastou, finalmente, deu a hora. Na Floricultura separei os girassóis, gérberas vermelhas, margaridas e alguns verdes de enchimento. Pedi para embrulhar em um papel pardo, coloquei o cartão no meio, junto com os brincos, inclusive, tinha customizado a caixinha, ficou dentro da harmonia cromática de todos os ítens.
Levei o buquê com o presente para o restaurante e falei com a atendente, expliquei que iria chegar ali mais tarde com você, perguntei se eu poderia guardar ali. Ela ficou empolgadíssima, disse que sim.
Neste ínterim, você confirmou que já tinha descido do ônibus e estava me aguardando no lugar que tínhamos combinado de buscar você. Lá fui eu, dei uma desculpa esfarrapada pelo leve atraso.
Ainda era cedo demais, disse para irmos dar uma volta na beira da praia, só para passar uns minutos. Meu estômago dava reviravoltas de nervosismo. No fundo, eu tinha um pequeno medo de você não me amar. Eu ficaria sem graça, de fazer tudo isso e você se assustar e se afastar... Mas estava decidida a correr este risco.
Eis que fomos para o restaurante, a atendente piscou para mim quando entramos. Escolhi uma boa mesa e fomos comendo. Estava tudo ótimo! A comida lá é sempre garantida, tivemos um pequeno imprevisto com seu suco, que veio adoçado, eles trocaram por um outro sem cobrar nada.
Chegou a hora que eu não podia mais adiar, disse que ia ao banheiro. Peguei o buquê com a moça do caixa e voltei.
Você paralisou, não entendeu o que estava acontecendo. Várias cabeças das mesas vizinhas encaravam as duas sapatonas ali, naquela cena. Eu sentei, te entreguei o buquê, te beijei e disse "Isso aqui é para você, porque desde que eu te encontrei, não paro de pensar em você. Eu te amo!"
Eu estava tão nervosa, que deixei uma lágrima escorrer. Te beijei. Você estava tremendo um pouco, mas estava bem rija, nervosa. Leu o cartão:
“E eu vou guiando
Eu te espero, vem
Siga aonde vão meus pés
Porque eu te sigo também
Eu te amo
Eu te peço, vem
Diga que você me quer
Porque eu te
Quero também”
Você colocou os brincos em seguida, ficou tão linda! Radiante! Eles brilhavam em você, davam um toque de doçura na sua feição assertiva. Você me perguntou como que eu tinha feito aquilo, como que o buquê estava ali, quando eu tinha feito, como que não tinhas notado nada, enfim, me abraçou, me beijou e disse que também me amava. Eu arrepiei toda, cada célula minha te amava de volta.
Te deixei em casa, fizemos um amor gostoso, regado a carinho enquanto as flores, já no vaso na mesa da sala, perfumavam a cozinha.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]