Capitulo pra quem acredita em sinais que vão além deste plano!
Capitulo 5 - O cachorro
Os dias passaram tão rápido, logo já era perto de fim de ano. Eu comecei a procurar casa, já que estar com minha mãe não funcionava mais. Nunca funcionou, por certo, mas agora, eu cheguei ao limite. Depois de sofrer homofobia em pleno café-da-manhã, decidi partir. Conversei com você e a sua situação também estava ruim, começamos a procurar uma casa, encontramos e deixamos reservada para mudar no início do ano.
Viajamos no recesso, fomos até a Argentina de carro com um casal de amigos meus. Passamos por diversas cidades. Eu e você desenvolvemos uma química única, enquanto eu arrumava as coisas, você ajeitava as comidas, sempre pensávamos alguns passos a frente e da maneira mais econômica. Eu estava completamente apaixonada! Compramos o verde do bom e aproveitamos a viagem assim, chapando, bebendo, fotografando e amando.
Levamos de lembrança um violão de qualidade, pequeno de criança e uma caixinha de madeira amarelo e vermelha de uma das cidades. Tenho os dois até hoje, me trazem boas lembranças.
Cheguei de viagem e falei para minha mãe que tinha encontrado a companheira para minha vida, que viajar contigo era uma delícia, que eu pude dividir todas as responsabilidades.
Janeiro estava à porta e juntamos nossos trapos para morarmos juntas. Compramos algumas coisas essenciais, como geladeira, pia e guarda-roupas. Não tínhamos sofá, nem mesa, nem cadeiras, mas tínhamos um lar para chamarmos de nosso. Levei minha gatinha e peguei meu cachorro com meu pai. Minha família estava completa, com você.
Ali, na primeira semana de nova casa, chegou um sinal enorme do universo para nós, um sinal informando que havia algo de muito errado naquele lugar, mas nós duas ignoramos e seguimos, que erro!
Quando chegamos naquela casa, você logo falou para o dono da casa que sentia um cheiro de carniça na cozinha. Ele falou que era um gambá ou um rato que estava morto no quintal vizinho, que você não deveria se preocupar, que logo já iria sumir o cheiro.
Porém, depois de uma semana lá, mal podíamos abrir as janelas de casa que o fedor impregnava em tudo. Eu tinha ânsia e a situação estava ruim, naquele calor de janeiro e nós com toda a casa trancada por causa do cheiro.
Eu já tinha voltado a trabalhar, por isso no domingo acordei bem cedo e disse pra ti para irmos atrás do gambá e enterrar ele. O terreno do vizinho era um enorme lote baldio. O que separava as casas era uma cerca alta, nada além disso. Você disse que sim, para irmos, mas que acreditava que não encontraríamos um gambá, disse que sentia cheiro de carniça de cachorro. Eu pensava que tomara Deus fosse qualquer coisa, menos um ser humano morto.
Colocamos os trajes de mato, botas, luvas, chapéu, calças longas e jaqueta. Pegamos as ferramentas, pá e enxada. Não tinha passagem para o terreno do vizinho, pulamos a cerca enorme, você com facilidade e eu o inverso. Você já tinha avistado uma sacola no meio do mato e fomos diretamente para lá.
Um saco preto enrolado com umas sacolas plasticas, do tamanho de uma mala de mão, estava largado ali por cima. O cheiro era tão forte que eu estava a beira de vomitar, tinha poucos buracos no saco e quando tocamos as larvas começaram a sair dalí. Abrimos o saco e tinha um cachorro lindo, amarelo, morto com um talho no pescoço.
Eu comecei a chorar e pensava quem teria tanta maldade a ponto de largar um cachorro daquele sem sequer enterrar. Passamos mais de duas horas cavando a sepultura do animalzinho sem vida, minhas mãos estavam cheias de bolhas e as suas também, enterramos e eu fiz uma prece baixinha para que qualquer maldade que tenha sido feita, que fosse transformada em algo bom.
Voltamos para casa, limpamos todas as roupas e adereços, as sacolas que tinham colocado o cachorro fediam demais, colocamos dentro de mais três sacos de lixo e colocamos do lado de fora, para o lixeiro levar.
O mal cheiro foi embora, mas ficou aquele peso. Aquela dúvida, seria aquilo um sinal de que havia algo de errado com aquele lugar? Devíamos ter ido embora? Em pouco tempo descobriríamos que sim, mas na hora, decidimos continuar porque, a principio, tinhamos resolvido o que quer que fosse.
Fim do capítulo
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