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A Cortesã e a Baronesa por Nanda Cristina e JuliaSoares

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Palavras: 4753
Acessos: 921   |  Postado em: 08/01/2021

Orquídea

 

Isabel

Meu noivado com Héloïse foi assunto em todo o Império, sei disso pois tenho amigos na capital que fizeram questão de me enviar os jornais com a notícia estampada em suas páginas. Tive que rir de algumas e outras me deixaram um pouco irada, mas não perderia meu tempo com fofocas maldosas.

Uma semana tinha se passado desde o jantar de noivado. Lucília passava horas conversando com Héloïse sobre enxovais de casamento e me perturbava com a ideia de que tudo deveria vir da França.

Revirava os olhos toda vez que me esgotavam a paciência com isso. Eu sinceramente não me importava de onde viriam os lençóis, jogos de toalha e bordados, mas Lucília e Héloïse falavam disso como se fosse algo essencial.

Eu me afastava de qualquer assunto que envolvia casamento, eu achei que depois do jantar de noivado e com o passar do tempo me empolgaria mais. Não aconteceu ainda. Disfarçava quando Héloïse empolgada me contava algo ou fazia planos, ela não tinha culpa, era uma boa mulher.

Estava no escritório trabalhando, faziam algumas horas que estava focada nos documentos a minha frente quando ouvi batidas na porta.

– Entre. – Voltei meus olhos para o papel e escutei sua voz doce em seguida.

– Isabel... – Héloïse entrou tímida.

– Desculpe atrapalhar, querida.

– Não me atrapalha nunca. Precisa de alguma coisa? – Ela se aproximou da mesa e sorriu.

– Queria conversar, tu tens andado um pouco distante esses dias. – Seu olhar estava triste e me culpei de novo.

– Venha até aqui... – Chamei Héloïse para mais perto da cadeira. Ela se aproximou e escorou na beirada da mesa. – Me perdoe por estar distante, mas a fazenda anda me consumindo muito. – Menti.

– Não está feliz? – Perguntou direta. Forcei um sorriso.

– Claro que estou, minha querida. – Não era totalmente mentira. O casamento não me alegrava de fato, mas a presença de Héloïse era agradável, muitas vezes tornava tudo mais leve.

Ela desviou o olhar, sabia que não tinha engolido minha resposta. Puxei sua mão e beijei. A francesa sorriu e se inclinou deixando um beijo delicado em minha boca, depois outros mais intensos, até que sem notar ela estava no meu colo agarrada em meu pescoço.

– Héloïse, melhor a gente parar... – Ela não me deixou continuar, continuou com seus beijos.

– Je ne veux pas m'arrêter (Não quero parar) – Falou baixo em meu ouvido me deixando arrepiada.

Ela podia ainda ser uma moça inocente, mas estava aprendendo muito rápido a arte de me seduzir.

Ela se levantou e subiu o vestido até os joelhos me deixando ansiosa pelo que viria a seguir. Com um impulso sentou na mesa e me puxou pela mão até o meio das suas pernas. Quando me aproximei ela logo agarrou meu pescoço e enlaçou suas pernas na minha cintura me prendendo ao seu corpo. Não contive o gemido quando senti seus beijos pelo meu pescoço e suas palavras ousadas ditas em francês no meu ouvido. Meus lábios desceram pelo seu pescoço e o seu discreto decote. Estava passando dos limites eu sei, mas parar não sei se conseguiria a essa altura.

– Está brincando com fogo, menina... – Disse no seu ouvido.

Ela sorriu, pegou uma das minhas mãos e levou para debaixo do seu vestido.

– Héloïse... – Disse em um gemido.

– Je te veux, Isabel (Te quero, Isabel) - Foi o que precisava para acabar com a minha sanidade.

Afastei sua roupa de baixo e a senti em meus dedos, quente e molhada. Beijei seus lábios com uma certa brutalidade e pareceu agradá-la. Não a tomei de imediato, apenas me permitir sentir e deixá-la louca.

Meu pensamento voou para uma outra época, um momento em específico quando Carmen entrava em meu escritório para perturbar meu juízo. Fechei os olhos e me deixei consumir por aquela lembrança.

– Carmen... – Disse baixo e a mulher me afastou no mesmo instante. – Me desculpe, querida! – Ela já tinha me empurrado e saído da mesa. – Héloïse, espere! – Ela parou antes de abrir a porta e me olhou em um misto de raiva e tristeza, seus olhos estavam marejados e meu peito apertou.

– Não diga nada, Isabel... Eu que não deveria ter insistido nisso. – Falou e saiu do escritório batendo a porta.

Levei as mãos à cabeça e me sentei novamente.

– Sou uma mula! – Disse com raiva. – Por que não me deixa em paz?! – Fechei os olhos e vi Carmen na minha frente. – Vai embora, não a quero mais na minha cabeça! – Disse com raiva e já chorava a essa altura.

Mesmo depois de alguns dias, Héloïse ainda andava triste pelos cantos e passou a limitar nossos beijos selar de lábios discretos. Ela também não comentou mais sobre o que aconteceu e quando eu tentava me explicar ou desculpar, ela dizia que não queria falar sobre o ocorrido e que a culpa era somente dela que não soube respeitar o meu tempo. Claro que a culpa não era dela. Por mais, que ela tentasse me dizer que tudo estava bem, eu via em seu olhar que ainda estava chateada. Eu podia ter tato com as mulheres na cama, mas definitivamente não sabia lidar quando uma delas chorava em minha frente.

Pela manhã passei pelo seu quarto e a porta estava entreaberta, parei por um momento quando escutei um choro baixo vindo lá de dentro. Entraria, mas escutei a voz de Lucília:

– Não chore, querida... – Olhei pela fresta e vi a mulher mais velha acariciando os cabelos da francesa que chorava deitada em seu colo.

Fiquei com o coração partido, nunca foi minha intenção magoar Héloïse.

– Vou falar com Isabel! – Lucília disse brava.

Héloïse rapidamente levantou do seu colo.

– Não, por favor, a culpa não é dela! Fui eu que entrei em seu escritório e a provoquei....

– Minha querida, conheço Isabel. – Lucília disse se levantando e pegando Héloïse pela mão.

– Mas é verdade, eu fui atrás de Isabel em seu quarto e depois em seu escritório... Eu não queria parecer oferecida, eu juro. – Disse chorosa. – Mas é difícil competir com Carmen e sua lembrança. Sei que Isabel não a esqueceu, na verdade agora tenho certeza. – Héloïse disse um pouco irritada. Lucília bufou.

– Carmen era uma mulher da vida! Tu és uma moça de família, não se compare a uma pessoa de tão baixo escalão. – Falou com desdém.

– Elas já tinham uma vida de casal... Como Isabel gostará de mim se não for para cama com ela?! Carmen exalava desejo, era uma mulher diferente das demais, eu sou comum! Não posso competir com ela! – Disse chorando e Lucília a abraçou.

– Chegará o momento em que tu fará esse papel, serás a mulher de Isabel e ocupará seu lado na cama, não se preocupe com isso, Querida. A Baronesa sabe que a senhorita é uma moça de família. – Lucília nunca me chamava pelo meu título, só quando estava brava comigo, sabia que levaria uma bronca. Deixou um beijo na testa de Héloïse e se despediu. Eu corri para o cômodo mais próximo. Me tranquei no escritório e segundos depois bateram à porta.

– Que merd*! – Cerrei os punhos, eu sabia que era Lucila. Tentei fingir que não estava ali e novamente bateram à porta.

– Abra, Isabel! Eu sei que está aí dentro! – Disse batendo.

Revirei os olhos e abri a porta. Lucília entrou como um furacão e me encarou séria.

– Sei que estava ouvindo atrás da porta, Isabel. Então já sabe o porquê estou aqui!

– Mas como... – Ela não me deixou continuar.

– Te conheço desde que era um bebê, conheço teu cheiro e principalmente reconheço teu passo firme, pode enganar Héloïse, mas não a mim!

Bufei.

– O que quer, Lucília?! – Disse impaciente.

Ela me pegou pela orelha, como fazia comigo quando era criança.

– Como pode ser tão indelicada com Héloïse?! Além de tratá-la como uma puta aqui nessa mesa... – Disse me virando para a mesa, ainda puxando minha orelha. – Tem o disparate de chamá-la de Carmen! Onde estava com a cabeça, Isabel?! Isso é um insulto para qualquer mulher!

– Lucília, pare com isso! Não sou uma criança! Aí, isso doeu! – Disse reclamando e a mulher me soltou. Levei uma das mãos a orelha e cobri o local dolorido. – Eu nunca quis tratar Héloïse assim, mas aconteceu! Quando vi já tinha falado! – Falei jogando as mãos para o alto.

Lucília riu alto e balançou a cabeça em sinal de negação.

– Estou vendo Jorge aqui na frente! Tu és uma cópia do teu pai até nas safadezas, Isabel! – Disse irritada. E me passou pela cabeça que um dia meu pai possa ter feito o mesmo com Lucília, isso explicaria o porque estava tão afetada com a situação.

– Já pedi desculpas a Héloïse, mas não posso fazer mais do que isso, ainda não sei voltar no tempo! – Disse irritada.

Lucília me olhou ainda brava.

– Isabel, ela é uma moça de família, não pode tratá-la como uma qualquer, precisa ter cuidado e respeito.

– Agora vai me ensinar a como lidar com uma mulher?! – Revirei os olhos. – Eu a trato com respeito, não irei mais passar dos limites com Héloïse, prometo!

– Assim espero, Isabel! Por tudo que essa moça tem feito por ti e principalmente pelo teu filho, tenha mais consideração com ela! – Lucília se aproximou e diferente de antes acariciou meu rosto e seu olhar por um momento ficou distante.

– Tens os olhos de teu pai! – Disse sorrindo. – Vejo Jorge todos os dias nessa casa, gravado em cada gesto teu... Mas não repita seus erros, por favor. – Ela deixou um beijo em meu rosto e saiu me deixando curiosa.

Meu pai amou Margot sua vida toda. Era óbvio que não era apaixonado pela minha mãe, que morreu tão cedo e Lucília era a terceira parte da confusa vida amorosa do antigo Barão de Vassouras. Sai do escritório e já na sala parei em frente ao seu quadro. Sempre imponente. Era um homem muito bonito, normal fazer sucesso com as mulheres.

– Pelo jeito o senhor não era fácil, Barão de Vassouras – Disse rindo.

Reparei que o quadro de minha mãe não estava ao seu lado, como ficava na antiga casa.

– Marta! – disse alto.

A mulher alguns segundos depois apareceu correndo na sala.

– Baronesa! – Falou com a cara assustada e tive que rir.

– Me perdoe, Marta! – ela me olhou curiosa e riu depois. – Preciso parar de chamá-la como se a casa tivesse pegando fogo! – Ela riu alto. - Poderia pedir a José para amanhã logo cedo ir até a outra casa pegar o retrato de minha mãe? - Ela concordou.

– Claro, Baronesa.

– Muito obrigada, Marta!

Continuei parada em frente ao seu retrato e Marta ficou ao meu lado.

– Seu pai era muito bonito. - Disse admirando sua pintura.

– Sim... Papai era incrível! Queria que ainda estivesse aqui, adoraria Rafael, imagino os mimos que faria ao neto. - Rimos juntas.

– Eu me lembro do Barão... - A olhei curiosa.

– Conheceu meu pai?

– Nunca falei com ele, mas o vi muitas vezes aqui nessa casa, quando o antigo Barão de Águas Claras ainda era vivo.

– Meu pai era amigo do velho Barão... - lembrei de quando vinha acompanhá-lo algumas vezes e como adorava a varanda de sua casa, sempre dizia ao meu pai que na nossa deveria ter uma dessa. Nem me passava pela cabeça que um dia seria dona de Águas Claras.

– Sim... Às vezes passavam a noite conversando na varanda. Seu pai era um bom homem, Isabel! - Me disse sorrindo. - Mas andava sempre com o semblante triste. - E eu sabia exatamente o que o deixava assim.

– A vida não foi muito justa com ele no que se refere ao amor e parece que sua sina me acompanhou. - Disse triste ainda olhando para o seu quadro.

Ela acariciou o meu rosto.

– Menina... - Me deixou um beijo e se afastou rindo.

Continuei ali parada tentando enxergar as semelhanças que todos falavam que tinha com meu pai. Reparei nos olhos negros, no cabelo castanho e alinhado, suas mãos grandes. Olhei imediatamente para as minhas, tínhamos mãos parecidas.

– Não sei o que fazer, papai. - Falei encarando seu retrato. - Tomara que não tenha tomado a decisão errada... - Disse fechando os olhos.

Suspirei triste. Decisão certa ou errada, isso só saberia com o passar do tempo. O que poderia fazer agora era me redimir com Héloïse.

***

Era manhã de sábado e como sempre levei Rafael e Héloïse para um passeio. Era geralmente o dia em que não me dedicava inteiramente a fazenda. Somente passava o dia com meu filho e Carmen, agora Héloïse.

Acordei cedo e fui até seu quarto. Bati à porta duas vezes e aguardei. Ela logo apareceu na porta com cara de sono e enrolada em seu robe.

– Isabel, está tudo bem? - disse preocupada.

– Sim. Não se preocupe, só queria convidá-la para andar a cavalo...

– Achei que fossemos esperar Rafael acordar...

– Somente eu e tu hoje, o que achas? - Ela sorriu largo.

– Claro que sim! Te encontro em alguns minutos. - Concordei e ela fechou a porta sorrindo.

Tomei meu café sentada na varanda aguardando a francesa aparecer. Pedi para José selar meu cavalo. Hoje não iriamos de carroça.

Meia hora depois Héloïse apareceu pronta. Estava linda como sempre.

– Vamos? - Perguntei lhe estendendo a mão. Ela enlaçou seus dedos nos meus e seguimos até o estábulo onde o cavalo já estava pronto.

– Bom passeio, Baronesa. - José disse me entregando o animal. - Tenha um bom dia, senhorita Héloïse.

– Bom dia para ti também, José! -

Respondeu educada. Héloïse era assim como todos os empregados e isso me alegrava muito, tratava bem todas as pessoas, era sempre meiga e gentil.

Ajudei a francesa a subir no cavalo e fiz o mesmo em seguida. Ela segurava em minha cintura apertado.

– Tem medo? - Disse rindo e andando devagar com o animal.

– Sim... - Falou tímida. - Fui criada na cidade, Isabel. Não estou muito acostumada a andar de cavalo, mas gosto da sensação.

– Pode me segurar com força, não tem problema. - Ela riu e agradeceu. - Agora vamos andar mais rápido, tudo bem?!

– Isabel... - Disse com medo.

– Feche os olhos e aproveite! - Disparei com o cavalo e Héloïse deu um gritinho de medo adorável. Ri alto e continuei a correr. - Só sinta o vento em teu rosto, Querida! Não se preocupe não te deixarei cair! - Ela se apertou mais ao meu corpo e aos poucos a senti relaxar.

– Tens razão Isabel, a sensação é muito boa! - Falou rindo.

Estávamos longe de casa e não tinha ideia de onde levá-la. O plano era esse, não ter planos, faríamos o que ela quisesse.

– Para onde estamos indo? - falou curiosa.

– Na verdade não sei... - Disse rindo. - Achei melhor te deixar decidir o que fazer!

– Não conheço nada por aqui, Querida. - Disse insegura.

Estávamos perto da figueira e Héloïse apontou para a árvore.

– Por que não paramos e sentamos um pouco embaixo daquela árvore bonita?

O cavalo chegou a trotar para trás com o susto que levei.

– Ali não é agradável... Muitas formigas! - Continuamos a andar.

– Que pena, parecia um ótimo lugar para um descanso. - falou decepcionada.

– Conheço uma cachoeira muito bonita perto daqui, gostaria de ir até lá?

– Sabe como gosto de nadar! - Falou animada.

"Nadar. Sério?!"

Isso implicaria tirar roupa e eu prometi não passar dos limites com Héloïse novamente.

– Estamos em época de seca, acho que a cachoeira não está boa para o banho... - Sorri amarelo e Héloïse encolheu os ombros novamente. - Por que não vamos até a Vila de Vassouras? - Ela pareceu se animar. - Ainda não conheces e creio que esteja faminta!

– J'ai vraiment faim. (Estou realmente com fome.) - Falou rindo.

– Então está decidido, Vila de Vassouras! Acho melhor a senhorita segurar firme. - Disparei com o cavalo e Héloïse novamente gritou.

– ISABEL!

***

A Vila de Vassouras como sempre era encantadora. Paramos para tomar café em uma padaria muito charmosa na cidade.

Héloïse adorou cada canto da vila. Foi a botica, a costureira, as lojas de roupas, acho que cada estabelecimento daquele lugar foi visitado por minha noiva.

Saiu da loja de tecidos com várias bolsas que eram carregadas pelo burro de carga, vulgo Baronesa. Encomendou alguns vestidos na costureira e roupas para Rafael, como se o menino já não tivesse roupas até a adolescência. No meio da tarde paramos para almoçar e empolgada, pela primeira vez depois da cena no escritório, falou para mim sobre o casamento e seus planos.

– Poderíamos passar a lua de mel em um dos castelos do meu tio! - Disse sorridente. Engoli em seco, não estava nos meus planos atravessar o oceano para me enfiar em uma casa de pedra.

– Castelo? - Disse receosa.

– Sim, o Duque de Rohan, pai de Louis, tinha alguns castelos pelo interior da França. Um deles foi deixado como herança para minha mãe, que era sua irmã mais nova.

O Duque de Rohan, me lembrava bem do francês metido e asqueroso. Meu pai parecia se dar muito bem com ele, estudaram juntos na Europa, apesar do pai de Louis ser um pouco mais velho que o meu. Ele por vezes virava o nariz para o filho, pois Louis tinha um jeito... particular desde criança e meu amigo sofreu muito por isso durante a primeira parte de sua vida.

– Por que não passamos a lua de mel em Paris? Poderíamos ficar alguns meses.... - Ela disse esperançosa.

– Não posso deixar meu filho por tanto tempo, Héloïse... Me desculpe.

– Eu não cogitei a ideia de deixar Rafael, vamos levá-lo com certeza! - Disse animada.

Atravessar o oceano com uma criança pequena, no meio de um tratamento importante estava fora de cogitação.

– Não posso deixá-lo tanto tempo longe de seu tratamento...

– A França tem ótimos médicos, Isabel! - Eu torci um pouco o nariz e Héloïse reparou. - Ou podemos então ficar pelo Brasil, deixamos a França para mais tarde.... - Disse segurando em minha mão.

Sorri em agradecimento, Héloïse tinha a sensibilidade de entender quando algo não me agradava.

– A família da minha mãe é do Sul do país... Tem a estância que herdei dela. – Ela me olhou curiosa.

– O que seria uma estância? – Falou rindo.

– Nada mais do que uma fazenda, porém lá criamos gado...

Ela se empolgou.

– Adoraria conhecer a outra parte da tua família, Querida!

– Meu tio é um tanto rabugento, ele que administra minha parte, pois já tenho muito trabalho com as fazendas daqui. Faz tempo que não vou até o Sul, gostaria de ir?

– J'adorerais, mon cher! (Adoraria, querida) – Héloïse se aproximou e beijou meu rosto. – Fico feliz de fazer planos contigo!

Andamos de mãos dadas pela vila, que agora já era uma cidade próspera. Parei em frente a uma placa na rua e Héloïse me olhou curiosa.

– O que foi, Isabel?

– Essa rua tem o nome do meu avô... Ando pouco por aqui, na época pediram permissão ao meu pai para batizar a rua principal com o nome do velho Barão.

– Barão Heitor Augusto Albuquerque de Castro. – Héloïse repetiu o que estava escrito na placa. – Será que um dia alguma rua dessas terá o seu nome?

– Acho que não... As pessoas me aturam porque sou uma Albuquerque de Castro, mas ando bem distante do que a sociedade diz ser o certo. Talvez não veja meu nome por aqui, mas quem sabe o de Rafael... – Disse orgulhosa e Héloïse sorriu me dando o braço.

Ela estava feliz, passou o dia sorrindo e falando sem parar. Fiquei contente em ver que consegui apagar um pouco da sua tristeza. Chegamos em casa no final da tarde e cheia de sacolas.

Lucília correu ao encontro de Héloïse assim que a moça disse que trouxe bordados e tecidos novos da cidade. Rafael foi a segunda cobaia das mulheres, o coitado passou parte da noite colocando todas as roupas que Héloïse trouxe para ele.

Olhei para o retrato de meu pai e sorri largo quando vi o quadro de minha mãe ao seu lado. Ela era uma mulher belíssima. Olhando para os dois consegui compreender o que Lucília e Margot diziam sobre minha semelhança com meu pai, eu quase não tinha traços da minha mãe. Seus cabelos loiros e olhos verdes penetrantes, era tão jovem quando morreu. Passei parte da minha infância me culpando pela sua morte. Queria ter tido a chance de conhecê-la, de escutar suas broncas e conselhos. Meu pai sempre fazia questão de me contar como ela era, como me amava e estava ansiosa pela minha chegada.

Daria a Rafael tudo que quis ter de minha mãe.

Suspirei triste ao lembrar de Carmen. Ao contrário dela minha mãe não teve escolha, minha grande mágoa foi ela ter escolhido uma vida que não poderíamos fazer parte. Rafael cresceria sem saber disso, para ele Carmen não existiria, era a solução que tinha encontrado para não fazê-lo sofrer. Se alguém precisava sentir a dor da falta dela e sofrer com isso que fosse eu, nunca meu filho.

***

Na segunda-feira Doutor Raul chegou cedo para a consulta de Rafael. Ficou boa parte da manhã com o bebê, examinando e testando seus reflexos. Quando a consulta acabou veio até a sala nos contar sobre os possíveis progressos. Marta sempre estava com Rafael nas consultas e por vezes, Lucília. Raul achava melhor que eu e Héloïse ficássemos de fora para a criança não ter distrações ou choros de manha.

– Baronesa, tenho boas notícias! - Levantamos assim que o doutor apareceu na sala. - O menino está respondendo muito bem aos estímulos!

Héloïse sorriu e apertou a mão do doutor em agradecimento.

– Merci beaucoup, docteur! (Muito obrigada, Doutor)

– Imagina, senhorita! O mérito é todo de vocês que o estimulam sempre e do menino, é claro!

Saiu um peso do coração ao saber que meu filho estava evoluindo, tudo que queria era ver Rafael bem.

– Que notícia maravilhosa, Doutor Raul! - O abracei e o homem sorriu surpreso. - Não sei como agradecê-lo!

– Continuem a incentivar a criança e qualquer problema não exite em me procurar, Baronesa! Deixei algumas instruções novas com a babá e Lucília. Acho que é isso por hoje, senhoras! - Beijou a mão de Héloïse que o agradeceu novamente e depois sumiu pela casa indo atrás de Rafael.

Levei Doutor Raul até a saída da casa.

– Tens uma bela casa, Baronesa!

– Obrigada! Venha sempre que quiser, é nosso convidado! - Ele sorriu.

– Aceitarei o teu convite, as vezes é bom fugir da confusão capital!

– Mas me conte, como andam as coisas na cidade? - Fazia algum tempo que não aparecia pelo Rio.

– As mesmas coisas de sempre, Baronesa! - Disse descendo as escadas. - Muitos franceses, muitos brasileiros se achando franceses e muitos bailes. - Disse nos fazendo rir.

Antes de entrar na carruagem Doutor Raul parou e me olhou.

– Ah, uma mulher muito conhecida na capital faleceu há poucos dias... - Senti um arrepio. - Acho que o nome dela era... Madame Margot! Era dona daquela famosa pensão de luxo no centro da cidade! Creio que a conhecia, não? - Disse gentil. Eu levei um soco no estômago com aquela notícia. - Baronesa, a senhora está bem? - Raul voltou e me pegou pela mão. - Está pálida! Venha sente-se um pouco.... - Me ajudou a sentar no degrau da escada e pegou em meu pulso sentindo meus batimentos.

– Tem certeza que era esse o nome da mulher? - Falei devagar.

– Sim... O enterro foi há uma semana, quase toda capital compareceu ao velório! - Senti o mundo girar e meu coração disparar. - Vamos vou ajudá-la a entrar... - Me pegou pelo braço e voltou comigo até a casa.

Héloïse e Lucília assim que me viram correram até onde estávamos.

– Isabel! - Lucília pegou em minha mão. - Está gelada, o que houve com ela? - Perguntou a Raul.

– Não sei... Estava contando sobre o falecimento de uma senhora conhecida na capital e depois disso Isabel ficou pálida!

– Minha querida, respire devagar! - Héloïse estava ao meu lado e acariciava meu rosto.

– Margot?! - Lucília nem precisou perguntar quem era, pela minha reação acho que desconfiou.

– Isso mesmo, Madame Margot! Imaginei que a conheciam por isso a Baronesa passou mal. Mas não se preocupem foi somente uma queda de pressão. - Raul ainda sentia meu pulso. - Me perdoe, Isabel! Não tinha ideia de que eram amigas ou nunca teria lhe dado a notícia dessa forma. - Raul estava constrangido.

– Não se preocupe, não tinha como o senhor saber... - Falei já me recuperando.

Raul ficou mais alguns minutos e depois que melhorei se despediu e partiu da fazenda. Lucília ainda estava calada no canto da sala e por vezes olhava para o quadro do meu pai. Héloïse ficou ao meu lado até que decidi me retirar para meu quarto.

Não dormi naquela noite. Chorei por Margot e por Carmen que devia estar sem chão. Sei o quanto a mulher significava para ela. Decidi que iria até a capital no dia seguinte, precisava me despedir e prestar a última homenagem para Madame Margot. Meu pai gostaria disso.

Logo que amanheceu sai de cavalo até o orquidário. Estava lindo como sempre e o cheiro das orquídeas mais presente no ar. Escolhi as mais bonitas, levaria uma de cada cor para ela. Meu pai passou tanto tempo nesse lugar cuidando dessas flores como se fossem a própria Margot. O que aquecia meu coração era pensar que a essa hora os dois estavam finalmente juntos e felizes.

Voltei para casa e chamei o cocheiro sairia em seguida.

– Me deixe ir contigo, Isabel?! - Héloïse andava atrás de mim pela casa.

– Não precisa, Querida! Farei uma viagem rápida, amanhã mesmo estarei de volta! - Ela não se conformou. Peguei a pequena mala em cima da cama e fui em direção a saída da casa.

– Não queria deixá-la sozinha nesse momento... - Héloïse se aproximou e me beijou.

– Me perdoe, Héloïse, mas isso preciso fazer sozinha! - Ela sorriu triste. - Cuide de Rafael enquanto estou fora, por favor.

– Fique tranquila, Isabel! - A beijei e sai rumo a capital.

***

Chegamos quase no final da tarde e logo descobri onde Margot foi enterrada. Pedi para o cocheiro me levar direto para o cemitério, iria para casa depois.

Desci com as flores na minha mão e fui até sua lápide. Haviam algumas flores e uma delas era uma linda orquídea. Eu podia imaginar quem a tinha colocado ali.

– Me desculpe, demorar tanto tempo para me despedir... Não tive tempo de lhe dizer o quanto era uma mulher extraordinária. - Suspirei triste. - Trouxe as orquídeas que meu pai sempre cuidou pensando em ti, espero que estejam juntos agora e que possam enfim se amar como mereciam. - Deixei as orquídeas com cuidado ao lado da outra que depositaram há pouco tempo. - Fique em paz, Margot. - Enxuguei as lágrimas que desciam e sai sem olhar para trás.

Pedi ao cocheiro para seguir para Botafogo e no caminho passei pela sua casa.

– Pare! - Bati na janela. - Espere um minuto, por favor. - Desci e fiquei parada na calçada em frente a casa.

A noite ainda não tinha começado, a casa estava vazia, sem música alta ou risadas, como estava na primeira vez que pisei aqui. Lembrei de seu sorriso amigável quando me recebeu, Margot amava esse lugar não o abandonou nem quando estava doente. Pensei em entrar, Carmen devia estar destruída, mas da última vez que pisei aqui perdi o controle e não podia fazer isso com ela outra vez.

Virei as costas e voltei para a carruagem, olhei uma última vez para a casa que parecendo ter sentimentos, se mostrava triste e sem vida.


Fim do capítulo


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