Partida
Carmen
Fechei a porta do quarto devagar. Meu coração estava disparado. Eu podia sentir o seu cheiro. Invadiu o cômodo e a mim...
Isabel ainda estava de costas e se virou devagar. A cartola descansava em cima da poltrona. Ela me olhou e avançou sobre mim, acho que meu coração tão triste, sorriu um pouco quando senti seu beijo. Era o que eu queria: sorrir para ela, mas não agora. Nesse momento eu só queria beijar sua boca a noite inteira.
Enlacei meus braços em seu pescoço e puxei seu corpo para mais perto do meu. Talvez a saudade não fosse só minha.
– Isabel... – Sussurrei entre um beijo e outro. Ela gem*u e eu também. Passeou a mão por todo o meu corpo e senti que explodiria de desejo. Eu queria matar aquela falta que ela em fazia. Queria estar em seus braços como quando nos amávamos na fazenda. – Senti tanta saudade...
E foi nesse momento que ela travou. Saiu de perto de mim e me empurrou quase com... asco. Eu olhei-a confusa. Isabel me beijou há pouco e eu senti toda a saudade que ela também estava, mas agora ela me olhava outra vez com o mesmo desprezo que fizera mais cedo e... E eu acho que entendi o que ela estava fazendo ali.
Me beijou novamente e eu retribuí mas sabia, pelo olhar, que não a encontraria naquele beijo, mesmo assim, eu tentei. Procurei por ela em cada toque, mas Isabel não estava ali. Pelo menos, não a minha Isabel. Talvez aquela ali fosse a mulher que conheci a um tempo atrás, talvez fosse a jovem galanteadora que ela me contava ter sido um dia, talvez aquela Isabel não fosse de mais ninguém ou fosse da mulher que estava com ela à tarde. Eu não sei. Mas não tinha mais nada da minha Baronesa ali. E senti, em seus toques, que também já não era sua. Eu passei a viver com a sombra de uma esperança de ainda viver em seu coração, mas não estava mais lá.
– Pare, Isabel... – Pedi quando senti seu toque me machucar.
Ela não me ouviu. Me olhou com nojo e beijou minha boca a força. Tentei me esquivar e, aos poucos, um medo do que ela faria comigo passou a tomar conta de mim. Imediatamente meus olhos marejarem. Eu sentia o desejo dela, mas eu estava assustada demais para sentir qualquer coisa.
Eu arfei quando ela rasgou meu vestido, mas não foi divertido como das outras vezes. Eu me senti exposta, vulnerável e... E ficar nua para ela me causou um calafrio, mas não foi de prazer. Sua boca quente em meu seio me fez engolir seco, mas não com a expectativa de sempre, dessa vez me fez sentir nojo de mim, nojo da mulher que EU era e que sempre fui. Nojo porque eu sabia que ela estava ali para isso. Para me ter naquela noite, se deitar comigo e ir embora assim que estivesse satisfeita. Isabel queria uma cortesã e isso eu já não era mais.
– Pare! – Gritei e empurrei seu corpo, mas ela agarrou minha cintura. Bati em seus ombros e tentei sair. Eu estava sem forças e o que me restou foi chorar. – Isabel, por favor...
Eu desejei tanto tê-la outra vez e agora eu sentia nojo do meu corpo, do que ela estava fazendo comigo. Chorei alto e descontrolada e ela me soltou finalmente. Tentei me cobrir, mas o vestido estava em pedaços. Eu me sentia exposta e estava com medo da única pessoa que eu nunca pensei que fosse sentir.
– Não foi por isso que largou o teu filho?! Não foi por essa vida que me deixou, Carmen!? – Ela gritava e senti seu ódio.
Mas não foi por vingança que a Baronesa veio aqui. Acreditei que ela era diferente, mas não. Isabel só queria satisfazer os seus próprios prazeres, não estava aqui por mim. Nem por vingança, muito menos por amor...
Continuamos discutindo e ela segurou meu rosto com força, estava brava e eu apavorada, mas aos poucos a mágoa e decepção também tomavam conta de mim.
Me soltei dela e acertei um tapa forte em seu rosto. Ela não tinha o direito de fazer isso comigo.
– ¡No soy una puta, Isabel! ¡No soy! – Gritei.
A Baronesa levou a mão ao rosto e me arrependi de machucá-la. Pediria desculpas, mas ela me empurrou com força. O vestido rasgado me fez desequilibrar e eu caí sentada no canto do quarto.
Minha respiração falhou, meu corpo inteiro doeu com o impacto. Eu, naquele pequeno segundo, pensei em todas as vezes que senti medo na minha miserável vida e nunca me senti tão destruída. Era ela ali. A mulher que me fazia sentir tão segura em seus braços. Agora eu me estava sozinha, eu sentia nojo de mim, eu sentia medo e não tinha mais a lembrança de seu abraço seguro e protetor.
– Vá embora daqui! – Ela deu um passo em minha direção e me encolhi mais. – VAI EMBORA!
Tentei cobrir meu corpo, me arrastei mais para o canto e abaixei minha cabeça, como se eu pudesse ficar invisível.
Isabel saiu rápido do quarto e bateu a porta. Talvez com raiva por não ter tido o que queria como costumava ficar ou para procurar outra que a satisfizesse. Eu não sei e tentei mentir para mim mesma que não me importava com isso.
Agarrei meus joelhos com força. Eu me sentia suja. Eu quis morrer, como antigamente e chorei alto, como uma criança.
A porta do quarto se abriu novamente e senti meu corpo gelar. Me encolhi mais, nem tive coragem de ver quem era, mas não fazia mais diferença nenhuma. Qualquer pessoa me machucaria, era o que eu merecia e Isabel me fez entender isso. Reconheci o cheiro e senti mais medo ainda.
– Não farei te mal... Eu prometo. – Disse calma perto de mim, eu a olhei, mas não consegui encarar seus olhos. – Me deixa ajudá-la.
Eu estava com medo, mas sabia que a Baronesa voltou ali porque não sobreviveria com a culpa de deixar uma mulher como me deixou. Eu também a conhecia bem o suficiente para saber que era cortês demais para ignorar isso. Quando permiti que me tocasse, quando Isabel me pegou em seus braços delicadamente e seu cheiro forte me invadiu. A verdade é que nessa hora eu me senti inútil, mal por não ser, outra vez, a mulher que ela queria. Eu não servia para ser sua esposa, nem mãe do seu filho e agora, nem sua puta.
– Me perdoe por isso, Carmen... – Isabel disse chorando. – Eu não queria machucá-la.
Deitei minha cabeça em seu ombro e escondi meu choro em seu pescoço. Foi bom ouvir aquilo, mas é que já nem fazia mais diferença. Mesmo não querendo, ela me machucou e de uma maneira que eu sabia que nunca mais conseguiria me curar.
– Eu sinto muito. – Sussurrou e me levou para a cama.
Me cobriu com um lençol quando me encolhi envergonhada do meu corpo exposto e forcei um sorriso triste e grato pelo gesto. Pensei que sairia do quarto, mas ela se ajoelhou na beira da cama, eu não conseguia olhar em seus olhos. Mexeu no meu cabelo, ela gostava tanto dele.
– Eu não queria machucá-la... Nunca deveria ter vindo aqui, Carmen. – Eu queria dizer que ela tinha razão. Mas não consegui formular uma frase. Só me calei e encarei seus lábios enquanto falava. – Eu sinto a tua falta.
Isabel se aproximou e deixou um beijo delicado em meus lábios que eu não correspondi. Queria dizer que o que ela acabou de falar era mentira, mas me pareceu tão verdade.
– Eu te amo. – Sussurrou antes de levantar.
Finalmente consegui superar o aperto em minha garganta e formular uma única frase antes que ela saísse do quarto:
– Baronesa, eu a amarei por la eternidad y más allá de la eternidad...
Ela já estava próxima à porta. Eu podia ter ficado calada, mas senti que era uma despedida. Não sei se daquela noite, daquela ida à Capital ou daquela vida. Mas alguma coisa se acabou ali. Desconfiei que tenha sido o nosso amor e ele foi tão lindo.
Isabel me olhou uma última vez e foi embora me deixando para trás. Talvez tenha sido por isso que veio até aqui também. Para me deixar de vez para trás.
Eu me encolhi em meu próprio corpo e chorei pela minha vida, pelo meu amor por Isabel, pela decepção que machucava meu peito e pela saudade de uma criança que saiu de mim, mas que nunca seria minha. Pelo menos, nunca mais.
Eu senti medo depois de algum tempo, olhei para a cadeira em frente à penteadeira, sua camisa estava lá, mas não adiantaria me cobrir com ela. Agora eu me sentia completamente sozinha. Eu quis tanto tê-la outra vez, mas, depois de tudo, eu só queria apagar da minha memória o que ela me fez sentir.
Eu chorei por toda a noite e toda a manhã. Eu não queria mais viver. Pensei em acabar com a minha vida, talvez fosse para o inferno, mas não fazia a mínima diferença. Eu era uma puta. Era o meu destino de qualquer forma e sinceramente, eu já me sentia lá.
Próximo ao meio dia eu me levantei e mandei que preparassem o almoço de Margot, mesmo não querendo levantar da cama, eu me forcei a levar sua refeição. Suspirei quando a vi sentada na poltrona em frente à janela com o olhar tristonho. Sabia o quanto era difícil para ela. Quis contar da noite passada, mas não queria que se preocupasse com como eu estava e sabia que se começasse a falar, choraria outra vez. Não me demorei muito ali, porque Margot me desvendava de uma forma extraordinariamente irritante e eu não queria isso.
Me despedi dela e saí dali. Caminhei até a porta do meu quarto. Eu estava exausta, mas meu cansaço ia muito além do físico.
A menina que carregava a bandeja do almoço, caminhava um pouco à minha frente.
– Puta! – Era só isso que eu conseguia ouvir dos meus pensamentos desde que Isabel foi embora daqui. – Meretriz!
– A senhora deseja alguma coisa, Madame?
- Puta!
– Oi? – Perguntei a menina.
– A senhora deseja alguma coisa?
– Não, Querida... – Respondi me virando para a porta do quarto. – Pode ir.
A mulher obedeceu e me deixou sozinha.
– Entre logo. Abra essa porta e veja o que sempre foste e nunca deixará de ser. Entre nesse quarto e veja o que és de verdade: uma cortesã!
Senti meus olhos se encheram de lágrimas e recuei a mão. Eu não conseguia entrar no meu próprio quarto. Não depois de ontem.
– Puta. É o que Isabel pensa de ti. É como ela te trata agora.
Dei alguns passos para trás e senti a parede em minhas costas. Sentei no chão e me encolhi abraçando os joelhos. Eu já estava chorando e nem senti.
– Para quê continuar? Sabe que é a única coisa honrosa que fará na vida é acabar com ela.
– Pare... – Sussurrei e tampei os ouvidos com as mãos, mas não adiantava. Sabia que aquilo estava dentro de mim, não dava para fugir dos meus próprios pensamentos.
– Ah, Carmen... esses vestidos comportados que usa ultimamente não te fazem menos prostituta. A tua cara de acabada, esse corpo horrível e magro não te fazem menos puta.
– Carmen? – Ouvi uma voz distante me chamando, mas eu estava tão dentro de mim que simplesmente não conseguia emergir.
– Ande logo e acabe de vez com isso. Sabe que Isabel só veio até aqui porque é cortês demais para desvirginar uma moça como Héloïse. Veio atrás de uma puta, não de ti. Poderia ser qualquer uma, mas parece que tu foste a primeira mulher que apareceu em sua frente.
– Carmen... está tudo bem?
– E Rafael, não esqueça de Rafael. Um menino que já tem outra mãe. Já desgraçou a tua vida, faça um favor a ti mesma e termine de vez com ela.
– Carmen! – Olhei para Sofia assustada enquanto ela me sacudia levemente pelos ombros. – O que está acontecendo?
– Nada... – Respondi distante.
– Venha para o quarto. – Me ajudou a levantar.
– Dispense-a e termine logo com isso.
– Me deixe sozinha. – Falei ríspida.
– Não! Entre logo nesse quarto. – Disse com um misto de preocupação e braveza.
– Saia daqui, garota! – Gritei.
– Quando precisei, tu me ajudou e farei o mesmo por ti agora. – Me encarou séria e vi o quanto Sofia cresceu nesses meses. – Vamos...
Engoli seco e concordei levemente. Dei dois passos, mas travei na porta outra vez. Fechei os olhos e nem me dei conta de que tremia.
– A morte é a única solução para essa dor.
– Veja, não tem ninguém aqui... – Ela entrou no quarto e eu continuei parada na porta. – A Baronesa te machucou?
– Como...? – Olhei confusa e irritada.
– Eu vi quando subiram. – Sofia pegou de cima da cama o vestido rasgado e eu dei um passo para trás amedrontada com as lembranças que me invadiram.
"Esse é o retrato da minha ruína." – Pensei. E era.
A menina me analisou da cabeça aos pés. Um olhar preocupado e observador. Talvez procurando hematomas.
– No, ella no lastimó mi cuerpo... – Respondi baixo.
– Carmen... Tu... ama a Baronesa. – A menina me encarou com os olhos arregalados com a constatação que fizera. - Meu Deus, logo tu que sempre debochou das meninas que se apaixonavam...
Pensei em negar, mas desisti em seguida. Sorri triste para ela e tentei enxugar as lágrimas. Tomei coragem e entrei no quarto.
– Eu desejo que nunca sintas isso, menina. - Sussurrei com toda a sinceridade do meu coração.
– Carmen... – Ela não sabia o que dizer.
– Dói... – Chorei. Eu não me importava se ela contasse para todo mundo, tampouco me preocupava as petulâncias ou se usaria isso contra mim depois. Talvez eu só precisasse falar. – Sofia, dói mais do que se pode imaginar. Usted me perguntou se Isabel me lastimó: ela me destruiu...
Suspirei controlando os soluços que escapavam de mim e sentei na cama, exausta.
– Eu achei que a melhor coisa que poderia acontecer aqui era vê-la. Todas as vezes que senti medo, eu pensei nela, vestia sua camisa e me agarrava a esperança de que uma parte de mim ainda vivia dentro dela também. Mas isso é uma ilusão... – Olhei para a menina e ela sentou ao meu lado.
– Carmen... - Me olhou com pena.
– Ela não voltará mais aqui. – Disse mais para mim do que para a menina. – Acabou. Para sempre.
– Eu sinto muito... – Pegou minhas mãos e sussurrou as palavras verdadeiramente.
– Yo también...
– Fique aqui em cima hoje. Lázaro tem cuidado bem de nós. - Sorri para ela e segurei sua mão.
– Usted cresceu tanto. Eu tenho orgulho de ti, Sofia. – Ela sorriu como uma criança que ganha um doce e acariciei sua mão. – Ficarei aqui, mas, por favor. Me avise se algo sair do controle.
– Avisarei!
– Tome conta de tudo por mim. – Sorri triste para ela e a menina saiu sorridente.
Não desci naquela noite, mas na seguinte estava lá e durante um longo mês eu passei as madrugadas observando a grande porta de entrada.
Depois desse tempo, eu parei de esperar que ela voltasse, parei de imaginar seu pedido de desculpas pelo que fez, parei de desejar seu beijo apaixonado, parei de me sentir quente quando desejava seu corpo. Depois daquela noite também não escrevi mais quando estava com medo. Parei de pensar em qualquer coisa que não fosse a dor que eu sentia dentro de mim e a vontade incontrolável de pôr um fim nisso tudo.
Passei semanas evitando conversas longas com Margot. Nessa manhã, finalmente fui até seu quarto e tomei o café com ela. Novamente a senhora delirou na maior parte do tempo, me falou de uma vida no campo com o filho e o marido que nunca existiram e me perguntei se minha velhice seria assim também, presa a um desejo. Escrava de lembranças de uma vida que nem minha era. A resposta seria sim, se algo dentro de mim não me dissesse que eu nem chegaria até lá.
Passei parte do dia em seu colo. Chorava em silêncio às vezes, ouvia suas histórias de quando nova, ajudava-a em suas crises de tosse que a cada dia aumentavam e passava o tempo com a mulher que me criou. Ela se despedia de mim aos poucos, eu sentia isso. Senti em cada dia desses longos meses.
– Eu te amo, minha menina. – Sussurrou em meu ouvido quando a abracei antes de sair para me arrumar para a noite.
– ¡Yo también te quiero, Margot! – Sorri para ela, mas meu coração doeu. Eu não conseguia pensar na possibilidade de ser completamente sozinha outra vez.
Desci ao salão como nos outros dias e permaneci bebendo em frente ao bar por quase toda a noite, mas, por volta das 3 da manhã eu avistei o Coronel Antônio e resolvi que era hora de subir, antes que ele me visse.
Senti medo de saber de sua presença no andar debaixo, mas dessa vez não me agarrei às lembranças do abraço quente e seguro de Isabel. Sua camisa que costumava ficar próxima a mim, agora estava jogada dentro do roupeiro e eu passei a dormir agarrada somente a manta de Rafael. Mentiria se dissesse que não a amo mais. Ainda era o único sentimento bom em mim, mas sempre que pensava nela eu sentia medo e decepção. Acho que nosso amor se transformou nisso: mágoa e dor. Sobrou apenas a linda lembrança e Rafael, sem dúvidas o que tinha de mais puro e nosso no mundo. Mesmo ele, que nasceu de mim, já não era meu.
Eu tenho bebido além da conta e fumado demais. Deixava a minha alimentação cada dia mais para lá e por vezes me pegava vomitando e só assim me recordava que fazia um dia inteiro, ou mais, que não havia comido absolutamente nada. E era exatamente assim que estava agora. Com os olhos marejados e sentindo, novamente, o ácido machucar a minha garganta. Senti meus olhos pesarem e levantei devagar com a mão ao estômago, suspirei tentando conter a náusea e tontura, quando consegui controlar, bebi mais uma dose de uísque e me sentei na janela com meu maço de cigarros e a garrafa de bebida.
Escorei minha cabeça no batente da janela e fechei os olhos com força, podia jurar que o cheiro de Rafael estava ali, mas sabia que era só uma lembrança dolorosa. Fazem quase quatro meses que saí da fazenda. Ainda não sei porque contei os dias, talvez para me torturar um pouco mais.
Meus pensamentos estavam cada vez mais descontrolados e eu não pensava em mais nada a não ser em como seria gratificante morrer agora e como a dor física não se comparava em nada com a dor que eu sentia dentro de mim.
Meus olhos pesaram depois de ter bebido meia garrafa de uísque. Há tanto tempo que não sei o que é dormir uma noite inteira decentemente...
– Mamãe... - Uma vozinha infantil gritou.
– Rafael... - Procurei assustada, olhei para os lados, mas tudo estava claro demais.
– MAMÃE! - Gritou e eu senti que ele estava com medo. – Mamãeee!
– Rafael... Tranquilo, mi Cariño... - Disse alto. - ¡Mamá está aquí!
Caminhei seguindo sua voz, era ele, eu sabia que sim. Aos poucos a luz diminuía e eu estava outra vez na fazenda. Olhei para os lados a procura do meu menino.
– Mamãe! - Gritou outra vez e o encontrei caído no chão um tanto distante de mim, corri até ele, mas parei e sorri quando o vi virar a cabeça para o lado e ensaiar um choro dramático. Já estava grande, com uns dois, talvez três anos e como era lindo. Tão parecido comigo, mas seu choro manhoso era tão igual ao da outra mãe. Sorri e tentei caminhar até ele, mas uma voz interrompeu meus passos.
– Calme-toi, fils... prêt, c'est fini. (Calma, filho... pronto, já passou). - Héloïse pegou o menino nos braços e deixou um beijo em seu joelho ralado. - Garçon sournois. (Menino manhoso)
Ele fez um bico igual ao de Isabel e escondeu o rosto no peito da mulher. Ela riu alto e fez cócegas nele. Rafael já nem se recordava mais da dor e agora ria e jogava a cabecinha para trás cedendo as brincadeiras.
– Nous allons! Ta maman arrive bientôt et tu es toujours tout sale. (Vamos! Tua mãe logo chega e tu ainda está todo sujo.) - Deu um beijo na bochecha dele e Rafael se agarrou ao pescoço dela.
– Je t'aime, mamãe. (Eu te amo, mamãe)
– Je t'aime aussi, mon amour. (Eu também te amo, meu amor)
Ela o abraçou como se aquilo fosse rotineiro, deixou um beijo nos cabelos do menino e saiu do meu campo de visão.
Eu continuei ali, observando a figueira onde o menino a pouco estava caído e só então me dei conta de que era àquela árvore, a nossa. Eu só sentia um vazio em meu peito, uma dor dilacerante. Meu rosto já estava coberto de lágrimas. Caminhei até o tronco e nossas iniciais já não estava mais ali, mas eu acho que imaginava isso. O I.C.B deixou de ser imortal e já não existia mais, mas eu ainda podia ver as marcas, mesmo que cobertas por cicatrizes feitas com o mesmo canivete que as criou.
Senti alguém segurar minha cintura com brutalidade e me virei assustada, era Isabel, mas acho que eu também já sabia disso. Tentei me esquivar dela, mas a mulher me prensou contra o tronco da árvore, seu olhar era assustador.
– No hagas eso conmigo... - Pedi de olhos fechados.
– Fazer o quê? Eu te pago para isso, Carmen!
– No...
– Sí! – Debochou.
– Mi hijo...
– Não os viu? Sei que sim! Rafael não é teu filho, é meu e de Héloïse. - Disse ríspida. - Ela nunca fez mal a ele e nem o abandonou. Ela é a mãe que ele merece. Tu é só a puta que o pariu.
– Por quê? - Perguntei triste. - Por quê está fazendo isso comigo?
– Eu não estou fazendo nada contigo.
– ¿No? - Perguntei secando as minhas lágrimas e tentando me desvencilhar de seus braços. - ¿Por qué está ella aquí? ¿Por qué Rafael la llama madre?
– Porque é o que ela é. Héloïse é tudo o que deixou para trás. Mãe de Rafael, senhora desta casa e de todas as outras, Baronesa de Vassouras e Águas Claras na minha ausência e o mais importante, a mulher que dorme ao meu lado todos os dias: Minha esposa.
Olhei em seus olhos, mas, de novo, não era uma surpresa.
– Ela cuida bem dele? - Chorei desesperadamente.
– Me digas tu. Olhe...
Me virou sem delicadeza alguma e vi os dois correndo pelo gramado. Pus a mão em meu peito tentando aliviar a dor. Rafael parou de correr e colheu uma pequena flor do chão, levou até ela e Héloïse sorriu orgulhosa e encantada. Encheu o menino de beijos e o ajudou a colocar a pequena florzinha em seu cabelo.
– Foi eu que o ensinei a fazer isso. - Isabel disse com um sorriso de orelha a orelha.
Eles estavam tão felizes. Via nos olhos dela a felicidade e Rafael, nem preciso dizer o quão radiante era. Sorri triste para ela. A vida dos dois estava bem melhor sem mim, era inegável.
– Yo...
– CARMEN! - Ouvi batidas desesperadas na porta, era Lázaro. - MADAME!
Vesti um robe e abri a porta assustada.
– ¿Qué sucedió? - Ele me olhou confuso. - O que aconteceu?
– Madame... - Me olhou medindo às palavras.
– DIGA LOGO! - Gritei impaciente.
– Madame Margot... - Gelei e eu tenho certeza de que empalideci.
Nem deixei que terminasse, empurrei-o para que saísse do caminho e corri até seu quarto. Ela estava deitada na cama, o rosto coberto de suor, mas tremia. Gemia alto e não respirava direito.
– Margot... - Corri para ela e sentei ao seu lado, ela estava queimando em febre. - Menina, pegue todas as toalhas que encontrar e traga para mim e tu, encha a tina com uma água quase fria. AGORA!
Ordenei e elas saíram correndo.
– Senhora... o que posso fazer? - Lázaro tocou meu ombro delicadamente e sorriu gentil.
– Cuide das meninas para mim. - Pedi.
– A noite já acabou, Madame. O sol já está nascendo.
– Então vá chamar o médico. - Ele concordou, mas antes de sair apertou levemente meus ombros, Lázaro sabia que eu a amava. Todos sabiam.
– Carmen... - Margot me chamou assim que ficamos a sós. Sua voz saiu fraca e baixinha, mas ela sorriu. - Onde está Rafael? Traga-o aqui, deixe-me ver o meu neto.
Engoli seco, nem tive tempo para pensar no meu sonho, corri para cá assim que abri os olhos, mas era como se ela soubesse de tudo. Mesmo assim, sentia que ela já não sabia de mais nada.
– Pedirei que Isabel traga-o aqui. Não se preocupe. - A empregada me alcançou uma toalha úmida e levantei sua cabeça, deixando o pano em sua nuca, em seguida, passei a secar seu rosto com outra.
Margot tinha um olhar sereno e inocente, sorriu largo quando ouviu o nome de Isabel.
– Vai ficar tudo bem... - Beijei sua testa e sussurrei mais para mim do que para ela. - ¡Te prometo!
Me afastei e enxuguei uma lágrima teimosa que escapou dos meus olhos. Ela tossiu e de repente, não conseguia mais respirar. As tosses incessantes não deixavam. Eu estava desesperada. Margot era uma mulher loira, mesmo agora, alguns fios dourados como o sol se misturavam aos brancos. Sua pele era clara como as orquídeas brancas, suas favoritas. Mas neste momento, estava vermelha, uma vermelhidão agoniante. Seja pela febre, ou pela falta de ar. Quando a tosse finalmente passou, ela deitou novamente na cama, agora, exausta. O olhar tranquilo, deu espaço aos seus olhos azuis melancólicos e quando encontraram os meus eu sabia que ela estava lúcida. Havia culpa em seu olhar.
– Carmen... - Eu sabia tudo que ela me diria sobre estar ali.
– Não, Margot. Yo no quiero ouvir.
– Eu sei que ela esteve aqui. - Disse de uma vez e arregalei os olhos.
– ¿Como sabes eso?
– Essa casa ainda é minha, Carmen. - Sorriu cansada. - Eu sei quem entra e quem saí daqui todas as noites. E tu és minha filha. Percebo teu olhar triste e vazio, mesmo quando tenta me enganar. O que aconteceu?
– Nada... - Disfarcei.
– Por que não me contou? Há semanas que sei...
– Margot... – Minha voz saiu embargada por me recordar daquela noite.
– Venha cá. Deixe-me pegá-la em meu colo como quando era uma menina. – Sorri triste e cedi. Deitei em seu abraço materno e Margot acariciou meus cabelos. Eu não disse nada e ela também não. Não era preciso.
O medo de perdê-la me consumia.
As meninas terminaram de encher a tina, morna, como ordenei. Quando terminei de banhá-la, Lázaro já havia retornado com Paulo, que aguardava em uma pequena sala que tínhamos no andar de cima.
– Me perdoe os trajes, Doutor... - Pedi antes mesmo de cumprimentá-lo. Eu estava com os cabelos desgrenhados, um coque mal feito, o robe cobrindo meu corpo todo molhado pelo banho que acabara de dar na senhora. - Buen día.
– Bom dia, Carmen. Como tu estás? – Apertou minha mão.
– Preocupada. - Me limitei a dizer. - Yo voy...
Passei as mãos nos cabelos e suspirei, eu nem sabia o que eu tinha que fazer.
– Vá se trocar, Madame. - Lázaro disse gentilmente. - Eu fico com o doutor enquanto ele examina a Madame Margot.
– Gracias, Querido. – Ele balançou a cabeça e seguiram para o quarto e eu para o meu.
Entrei e não pensei em nada. Apenas vesti qualquer vestido e ajeitei os cabelos como pude. Voltei correndo para o quarto de Margot e Dr. Paulo fazia algumas anotações em um caderninho. Eu podia ver sua preocupação atrás dos pequenos óculos.
– Doutor...
– Vamos deixá-la descansar... – Margot dormia tranquila e parecia temporariamente sem febre, saímos novamente para a pequena salinha. – A fraqueza evoluiu para uma moléstia pulmonar grave, Carmen. Uma pneumonia.
Levei a mão à boca. Uma pneumonia na idade de Margot era... Eu nem queria pensar.
– Ela está sem febre, o banho frio ajudou a baixar sua temperatura temporariamente. Receitei alguém remédios e chás. – Concordei e ele se levantou para partir em seguida. – Se posso te dar um conselho de amigo, menina, é: Fique ao lado dela. Se precisar, sabe onde me encontrar.
Apertei sua mão e um dos empregados o levou até a porta. Eu continuei na sala e voltei a sentar na poltrona, estava desnorteada. Eu nem sei quanto tempo fiquei imóvel ali. Estava dormente e minha mente me espantava. Eu sentia medo das coisas que pensava em fazer comigo mesma.
– Carmen... – Sofia me chamou e eu olhei imediatamente para ela, como se estivesse esperando por isso. – Te trouxe algo para comer.
Uma menina deixou a bandeja na mesa de centro com algumas broas e um chá.
– Gracias... – Respondi automática.
– Já está tarde. Logo anoitecerá, como tu estás?
Meu Deus, o tempo correu. Há instantes eram três da manhã, agora, o relógio no canto da sala me mostrava que já passava das cinco da tarde e eu nem vi como as horas se passaram.
– Bien...
– Acabei de vir do quarto de Margot, ela perguntou por ti. – Havia um pouco de ciúme em sua voz, mas nenhuma piada ou petulância.
Quando foi que ela se tornou uma mulher?
Peguei a xícara de chá e bebi. Me lembrei de Marta, seu chá me acalmava na gravidez e desejei voltar no tempo e congelar lá, uns 8 meses atrás.
– Ela precisa de ti. Coma. – Sofia tinha razão e por Margot, eu me forcei a comer algumas broas. Estavam deliciosas. – Vou me arrumar.
– Cuide de tudo outra vez, ficarei com ela. – Disse baixo.
Sorriu para mim, ela era uma criança quando gostava de algo e, talvez depois de me tornar mãe, eu passei a entender como lidar com ela. Não foi só Sofia que cresceu, eu também.
Depois daquele dia eu não desci mais, praticamente me mudei para a poltrona ao lado da cama de Margot e passei os dias ali ao seu lado, aguardando sua melhora. Uma semana depois, Dr. Paulo voltou ao bordel para saber como ela estava.
Como sempre, fiquei aguardando na sala no andar de cima. Eu costumava passar o tempo aqui bebendo chá com ela antes da noite começar, Margot adorava esse lugar. Suas orquídeas sempre bem cuidadas descansavam próximas à janela, onde a luz do sol da manhã alimentava-as, mas pela tarde, não machucaria com o calor. Naquela mesma parede, descansava um enorme quadro de uma Margot jovem. Ela era uma mulher lindíssima e me recordei do dia que me contou a história do quadro.
"– Essa pintura é lindíssima! - Perguntei admirando a pintura, eu já era uma mulher, mas nunca me lembrei de questioná-la sobre. - Me recordo quando o colocou na parede, mas não sei quem o fez...
– Um amigo. - Sorriu enigmática e eu entendi o que quis dizer.
– Amigo?
– Sim! Um milanês que sabia admirar as belas artes. - Rimos alto e ela bebericou o chá admirando a peça, nostálgica. - Tu não fazes ideia do quanto esse quadro me custou...
– Muito caro? - Não entendi o que ela quis dizer, mas parecia divertida.
– Caríssimo, Carmensita. - Acendeu um cigarro e riu sozinha. - Talvez um dia eu te conte...
E contou. Anos depois ela me disse a crise de ciúmes que Jorge teve ao admirar a pintura quando voltou a frequentar a casa."
– Carmen, preciso ser sincero contigo. – Dr. Paulo entrou na sala ajeitando os pequenos óculos, mandei que preparassem um café e nos sentamos para bebê-lo. – Margot não respondeu aos tratamentos. Suas febres estão piorando, o que significa que o quadro de infecção também. Seus delírios estão frequentes e receio não ter mais o que fazer.
– Como assim? – Levantei brava. – Não me diga que não tem o que hacer. ¿Tu no eres un doctor?
– Sou. Um doutor. Exerço a medicina, Querida. – Respondeu calmo. – Nem ela foi capaz de ajudá-la. Receio que talvez... talvez um milagre e isso eu não sei fazer. - Caminhou até mim e segurou meu ombro amigavelmente. - Até mais, Carmen.
O homem saiu me deixando desnorteada outra vez. Chorei forte e alto. Nem me importava com mais nada. Eu estava desesperada. Não podia perdê-la. Ela era a única coisa que eu tinha. Isabel se foi, Rafael também... Eu... eu não podia perder a única pessoa que me sobrou.
As coisas ficaram mais complicadas depois disso. Margot passava a maior parte do tempo sob efeito dos remédios. Já não conseguia segurar as necessidades físicas e eu precisava constantemente da ajuda de Lázaro ou do menino do bar para levá-la a tina e tirá-la de lá. Acordava pouco, quase não comia porque a falta de ar era insuportável e reclamava muito de dores nas costas, Paulo disse que é faz parte da pneumonia, que devo continuar dando os remédios a ela e rezar. O problema é que eu não sei fazer isso. Mesmo assim, tentei. Em uma das madrugadas frias e longas, uma daquelas que Margot não conseguia sequer respirar, me ajoelhei ao lado de sua cama, segurei forte sua mão e pedi a Deus que ela melhorasse. Implorei para que fizesse esse sofrimento passar. O meu e o dela.
Foi em vão, como imaginei que seria e quando o dia clareou, eu ordenei que chamassem o médico. Ela estava ardendo em febre. Nem os remédios ou o banho ajudaram dessa vez. Margot se remexia e revirava os olhos. Eu estava desesperada outra vez, agora, porque eu tinha certeza de que era o fim.
O médico demorou uma eternidade para chegar e os deixei a sós quando finalmente apareceu. Ela acordou antes que eu deixasse o quarto, gemia incessantemente e o som chiado que saía de seu peito podia-se ouvir mesmo com a porta fechada. Sua respiração ofegante era ouvida da outra sala onde me direcionei para esperar o que o homem me diria.
– Querida... - Doutor Paulo voltou para me chamar, eu estava sozinha admirando a paisagem com lágrimas nos olhos, sabia o que viria a seguir. - Eu... Carmen, eu acho melhor se despedir.
Escondi o rosto nas mãos e chorei em silêncio. Delicadamente ele tocou meu ombro.
– Eu sinto muito. - Sequei as lágrimas que insistiam em cair e olhei para o senhor agradecida.
Fui em direção ao seu quarto. Fechei os olhos contendo meu choro antes de entrar, precisava ser forte para ela, estar ao seu lado, como prometi.
Margot estava deitada, o rosto cansado, a respiração curta, a expressão denunciava as dores que ela, sempre tão forte, escondia a existência. Há dias ela tem estado delirante, mas não agora. Está lúcida, acho que ela tentou de todas as maneiras ser forte para se despedir.
– Minha menina... - Seu rosto cansado se iluminou um pouco quando me ajoelhei ao lado da cama e segurei suas mãos com firmeza.
– Mamá... - Foi a primeira vez que a chamei assim e ela sorriu largo. Me dei conta de que deveria tê-lo feito anos atrás.
O choro contido antes de entrar no cômodo escapou dee escondi meu rosto em sua mão logo depois de deixar um beijo demorado ali.
– Filha. - Senti o sorriso em sua voz, mas logo um gemido baixo escapou e eu solucei, sabia que ela estava sofrendo. - Está tudo bem... - Balancei a cabeça negativamente e com dificuldade ela acariciou meu rosto. - Está tudo bem!
– ¡No podré vivir sin ti, Margot! - Chorei deitando meu rosto em seu carinho.
– Não diga bobagens, menina. - Sussurrou.
– No nací de ti, pero... pero fuiste tú quien me dio la vida. Igual que Isabel à Rafael. - Chorei mais ao lembrar deles. - No quiero estar solo...
– Jamais estará, Carmen. Eu estarei contigo para sempre e te levarei comigo onde for. - Me dei conta de que não ouviria mais o acalento dela me dizendo sempre que, mesmo na escuridão, havia luz se eu olhasse dentro de mim. - Estou tão cansada...
Um suspiro pesado saiu dela.
– ¡Lo siento mucho! - Beijei novamente sua mão trêmula.
– Jorge veio até aqui na noite passada.
Olhei-a intrigada, não sabia se aquilo era mais um de seus delírios causados pelas dores e febre, ou se era um sonho... ou, quem sabe, verdade.
– Veio me buscar. - Ela sorriu sonhadora. - Eu pedi que esperasse. Não podia ir sem me despedir de ti, minha filha. Não podia ir sem ter a certeza de que também está pronta.
Segurei sua mão forte, eu não estava, não queria estar. Mas eu não podia ser egoísta. Não com Margot. Ela estava sofrendo tanto há dias e eu já não aguentava mais vê-la assim.
Entre uma respiração curta e outra, ela teve uma crise de tosse e me partiu o coração, ajudei-a a sentar-se e me acomodei atrás de seu corpo dando sustentação ao dela que já estava tão frágil. A mulher suspirou cansada quando suas tosses cessaram e senti ela relaxar em meus braços.
– Minha filha... - Seus olhos pesados se abriram devagar para encarar os meus. - Se ainda não estiver pronta, eu lutarei mais, mas... se me disser que ficará bem, eu descansarei finalmente.
Apertei seu corpo mais contra o meu e chorei desesperadamente, eu precisava ter meu pranto cessado por ela uma última vez e, Margot, que me conhecia tão bem, entendeu. Acariciou com dificuldade meu braço que cercava seu corpo e lhe dava apoio e deitou a cabeça em meu peito.
– Não tema, menina...
– Te quiero mucho, mamá... - Sussurrei. - Eu... yo... - Queria dizer que ela podia descansar, mas não conseguia. - Eu te amo muito! Amarei para sempre!
– Eu também te amo, minha filha. Em todas as línguas que conheço e para além do tempo! - Ela entendeu.
Beijei seus cabelos e deitei minha cabeça na sua, chorando. Ficamos mais um pouco em silêncio, eu sentia ela se despedir na pequena carícia que deixava em meu braço e então, Margot suspirou mais uma vez, um suspiro leve e sereno e relaxou em meus braços e sua mão que com dificuldade se mantinha erguida, caiu em seu colo. Fechei os olhos com força e apertei seu corpo sem vida contra o meu uma última vez enquanto meu choro invadia o quarto silencioso.
– Adiós, mamá. - Sussurrei.
Fim do capítulo
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