Capítulo 11 - Hasta la vista Baby

      O tempo voou, mais um ano chegou e com ele veio a comemoração do nosso casamento, eu e Renée optamos por dividi-lo em dois momentos, primeiro convidamos Ana Paula, uma querida amiga, juíza de paz que gentilmente celebrou a cerimônia civil com sua fala belíssima e elegante, entrei ao som da música "Eu sei que vou te amar" cantada por Renée, e depois comemoramos com um jantar para 50 convidados, entre familiares e amigos selamos nossa união. Em duas mesas diferentes optamos pela comida baiana e italiana como forma de agradar diversos paladares e ao mesmo tempo lembrar de nossas origens. A noite terminou com uma DJ enquanto nos esbaldávamos na pista e nos coquetéis coloridos, foi uma noite inesquecível. Para lua de mel escolhemos Paris, e foi lá que passamos os dias mais felizes da nossa vida.

      A volta para casa e para a nossa rotina não foi fácil, tivemos que nos adaptar a mudança de casa e da convivência em comum, vendemos nossos apartamentos e compramos uma casa em um elegante condomínio, as vezes Renée falava em aumentar a família, mas, ainda não estava pronta para ser mãe, queria curtir minha mulher só para mim, e ela entendeu, tudo ao seu tempo.

      Era um dia de domingo, o interfone tocou insistente vindo direto da portaria do condomínio de casas que estávamos morando, Renée brincava com nossas gatinhas e fui até a cozinha ver quem poderia ser.

- Bom dia dona Sophia, aqui está a senhora...como é o nome da senhora mesmo?. - Ouvi e já reconheci a voz.

- Ana Beatriz, diga que sou amiga da Cris.

     Seu César continuou a fala.

- Então, é a Dona Beatriz, amiga da Cris.

- Obrigada Seu César, pode indicar a casa.

- Dona Beatriz é o terceiro sobrado da portaria para lá.

     Não demorou e Bia estava na porta.

- Bom dia Bia, que surpresa. - Falei e a abracei, senti sua musculatura contrair, não sei porque.

- Bom dia Sophia, desculpe vir sem avisar, mas, queria ter uma conversa contigo.

      Ela entrou e vi que trazia nas mãos uma série de exames, Renée a cumprimentou e fez menção de entrar, mas, não havia motivos para isso, com certeza não tinha nada que meu amor não pudesse ouvir.

- Como te disse, desculpe por ter vindo, mas, não tenho ninguém mais para conversar, Lexa e Caio simplesmente viraram as costas para Cris, e ficaria louca se não dividisse o que eu tenho em mãos com alguém.

- Então, mas, o que são esses exames e documentos?.

- Eu descobri no consultório de Cris, estava bem escondidinho atrás de um quadro enorme que enfeitava sua sala, como o quadro tem uma iluminação, vi que estava formando uma sombra estranha saindo de dentro dele e fui olhar. Sabe, esse monte de papeis e de exames?, entre outras coisas é o diagnóstico dela, Cris tem a doença de Alzheimer.

- Eu lamento muito por isso...mas, não estou entendendo aonde está querendo chegar, Bia...

- Então, você entende sobre essa doença?.

- Na verdade quase não tenho conhecimento algum, a não ser o do senso comum.

- A doença de Alzheimer é o tipo de demência, em termos gerais essa nomenclatura é usada para descrever algumas condições que ocorrem quando o cérebro não mais consegue funcionar corretamente. É uma doença horrorosa Sophia, a pessoa vai esquecendo de si, das pessoas, de tudo...coitada da Cris...

- Bia, acorda, eu lamento que tenha adquirido essa doença, mas, a Cris é uma Serial Killer, ela matou várias mulheres e continuaria matando se não tivesse sido presa, você tem consciência até onde ela pode ir para homenagear Helena, a Pierrô?.

- Pode ser da doença, é ai que quero chegar...o Alzheimer causa problemas na memória, pensamento e comportamento. Nos estágios iniciais, os sintomas de demência podem ser mínimos, mas pioram conforme a doença causa mais danos ao cérebro, quem sabe a Cris teve uma mudança de comportamento radical exatamente por conta disso?.

- Bia, você está se iludindo, acorda querida, você é médica, inteligente, sabe que uma coisa não tem nada a ver com a outra, eu sei que você a ama, sempre soube, mas, aproveite e tenta recomeçar a sua vida...

- Sophia, se ela morrer...queira Deus que isso não aconteça, mas, se acontecer, veja esse documento...Cris deixou tudo para você, menos o consultório e coisas de Medicina que ela deixou para mim, eu fiquei tão emocionada, temos uma importância para ela não está vendo?.

      Por essa eu não esperava...

- Se isso um dia isso acontecer faço questão de dividir tudo o que ganhar, a metade vai para a família das vítimas e o restante vai para uma ONG que ajuda vítimas de violência.

      Renée me abraçou forte e orgulhosa, mas, parece que Bia achou um absurdo que pensasse assim.

- Você não pode fazer isso com o dinheiro dela...

- Se vier para mim, posso....posso sim, e vou, mas é Cris pelo que sei está viva, bem viva e presa, você poderia aproveitar e tentar esquecer essa história.

- Não se esquece um grande amor assim!, você não sofreria se acontecesse algo com Renée?.

- Claro que sim, mas, isso não seria motivo para matar outra pessoa, e vendo como está, posso te dar um conselho?, está tão obsessiva quanto Helena ou mesmo Cris...Bia, você tem bom coração, é uma boa pessoa, procure uma terapia, é sério.

      Bia abraçou os papeis, colocando todos em uma pasta e saiu, foi embora levando suas esperanças e tristezas, eu não tive como ajuda-la.

- Amor, será que a Bia vai virar outra obsessiva maluca?.

- Soph, vamos esperar que não, na verdade a única coisa que vejo nela é muito sofrimento desperdiçado, creio que você cortou o último fio de esperança que a mantinha ligada a Cris, ou é isso que estou querendo acreditar...

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POV Bia

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      Bia entrou no carro, acomodou a pasta no banco do carona, deixou que esvaziasse o peito com suas lágrimas e seguiu direto para o seu apartamento, depois vasculhou por cada cantinho lembranças de sua relação com Cris, colocando tudo o que encontrava em cima do sofá, primeiro recolheu tudo o que havia encontrado dentro do quadro e picou, deixando de fora apenas o testamento, depois saiu em uma nova caça, procurando tudo o que restasse de Cris, quando percebeu o sofá estava cheio, entre fotos da época da faculdade, fotos atuais, lembranças de pequenas viagens, postais, canecas, cartinhas, livros, diários e tudo mais que parecesse importante estava ali, não se permitiu olhar mais nada, quebrou ou rasgou tudo em mil pedaços, deixando de fora apenas um velho ursinho vestido de médico que havia sido presenteado por ela em sua formatura, tinha se afeiçoado a pelúcia como um velho amigo, ele com certeza não iria ter coragem de se desfazer. Como atitude final, colocou juntou tudo em uma enorme panela e tocou fogo. Esse capítulo estava encerrado em sua vida.

- Acabou Cris, acabou...

      Em seguida, resoluta, pegou o livrinho do plano de saúde e entre vários nomes encontrou um que realmente poderia ajuda-la, respirou fundo e ligou para o número do celular que constava na lista.

- Bom dia Rose, aqui é a Bia...

- Nossa Bia, há quanto tempo a gente não se fala...

- Pois é, então, eu estou precisando de um psiquiatra urgente, sei que domingo não tem como atender, mas, é muito importante...se puder dar um jeito.

- Calma Bia, eu sei que jamais ligaria a toa, quem é o paciente?, dou um jeito de atender mais tarde quem sabe?.

- Na verdade Rose, a paciente sou eu, estou precisando demais, me sinto em um buraco negro sem solução...

- Bia, eu não posso te atender, você sabe, minha condição de ex namorada não me permitiria, mas, eu conheço uma psiquiatra excelente, ela é de Santa Catarina e te indico sem medo de errar, me dá cinco minutos que te ligo de volta.

- Obrigada...

- Parabéns pela iniciativa Bia, quando estiver preparada e quiser sair para tomar um café, saiba que será um prazer. Bom, te ligo em breve, fica calma.

- Pode deixar e até logo!.

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POV Cris

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      Eu desfilava pelo presídio me sentindo a primeira dama do lugar, Léo havia largado de todas ficantes e virei a namorada oficial, por conta disso todas estavam me bajulando, ganhei muitos presentes inclusive, enfeites para cabelo, balas, chocolates, shampoo, condicionador, vinho e até um perfume de uma marca famosa. Como assumimos nossa união tínhamos o direito de ficarmos juntas nas celas e uma vez por mês podíamos utilizar o quarto das visitas íntimas, nada melhor, me sentia poderosa.

      Em termos de trabalho, fiz com Léo uma dupla imbatível, nossos negócios iam de vento em popa, e a partir de testes com as usuárias da cadeia, conseguimos melhorar e muito o produto, em tempo recorde aumentamos o potencial da droga, no entanto, diminuímos o percentual de mortes rápidas, a butterfly matava, de certo que matava, no entanto, a morte era lenta e praticamente indolor, o coração um dia cansado simplesmente parava, mais top impossível.

      Estávamos tomando nosso banho de sol, as duas recostadas nas cadeiras e vez por outra uma "escrava" como chamávamos as nossas serviçais vinham nos trazer alguma coisa, água, suco com vodka, um biscoito, algumas se revezavam nas massagens e outras serviam de seguranças. Eu fui a primeira a perceber que íamos receber visitas, pois de longe avistei e de imediato cutuquei Léo apontando Samantha, a antropóloga, que vinha com Christine, delegada da Denarc, a famosa delegacia de narcotráfico, a delegada era uma loirinha bonitinha e aposto que estavam pegando a antropóloga pelo jeito que a olhava. Sua fala foi simples, dura e direta.

- Leonarda e Cristina, precisamos fazer umas perguntas, nos acompanhem, antes coloquem as blusas, não faço interrogatório com detenta nenhuma sem que estejam vestidas com a roupa devida.

      Sorri olhando debaixo, depois fixei bem nos olhos azuis da delegada que lembrava imensamente Lauren German, intérprete da Detetive Chloe Decker na série Lúcifer, e ao transferir o meu olhar para antropóloga percebi que Samantha era morena e daria uma vítima excelente, sorri feliz, havia encontrado uma outra vítima em potencial e bastante interessante. Como não havia percebido isso antes?.

- Pois não Doutora!. Léo...vamos meu amor, não vamos deixar as doutoras esperando, quer dizer ao menos uma delas é doutora de fato, não é mesmo?, Dra. Samantha?.

     Mas a antropóloga não respondeu o meu gracejo e foi o caminho até a sala de interrogatório no mais completo e absoluto silêncio. Seguimos de mãos dadas, e mal entramos na sala e a Delegada pediu que nos sentássemos, colocando as mão espalmadas em cima da mesa. Léo piscou os olhos e entendi que não deveria me pronunciar, esse era um dos nossos códigos.

- Eu sei que estão envolvidas no tráfico de butterfly até o pescoço, cinco detentas morreram de overdose em menos de três meses e muitas pessoas seguem morrendo e se viciando nessa porcaria, então, o que proponho é simples, entreguem todo o esquema de entrega da droga e vou ajuda-las a continuar tranquilamente a vida de casadas nesse presídio, não sei se sabem, mas, aqui é considerado quase um SPA perto de muitos outros.

- E se a gente não colaborar com você, Dra. Christine?.

- Bom, se não colaborarem podem esperar, faço questão de mover os céus Leonarda, mas, não vão ficar juntas, te mando para os confins do mundo, e vou acabar com essa palhaçada de escravas e seu reinado pode ter um fim bem infeliz.

     Vi quando Léo coçou o queixo anguloso e passou a mão em forma de garfo na enorme franja.

- Tenho prazo para aceitar sua proposta?.

- Não faço tratos com bandidas, é agora, pegar ou largar.

     Pisquei três vezes e nossa resposta foi taxativa, era um "não", tínhamos planejado minunciosamente nossa fuga, portanto não havia motivo algum de fazer acordo com a delegada.

     Passei a noite fazendo amor com Léo, ela estava insaciável, no dia seguinte acordamos pontualmente, fizemos nossos exercícios na cela e seguimos para tomar o café da manhã, foi quando avistei uma investigadora se aproximando, Léo falou baixinho "me desculpe", fiquei sem entender, mas, essa falta de compreensão durou apenas segundos.

-  Cristina Soares de Alencastro, você será transferida para outra penitenciária, saiba que além de responder por assassinato, responderá por tráfico de drogas, pois a detenta Leonarda da Silva Francisco denunciou todo o esquema da Butterfly. Vamos?.

- Sua filha da puta...

- Lamento, era o seu pescoço ou o meu...e nunca, nunca será o meu, querida...adios, hasta la vista baby!.

Fim do capítulo