A Última Rosa -- Capítulo 14

Jessica entrou na mansão praticamente correndo e foi direto para o quarto, entrou no banheiro, batendo as coisas com uma fúria cega.

A imagem de Maya não lhe saía da cabeça. Como uma sombra triste do passado, insistia em rondar suas lembranças. Ela sentia-se impotente, pois sabia que nada podia fazer para livrar-se dela. Amava-a tanto e por mais que o tempo passasse, ainda era o seu grande amor.

Ligou o chuveiro, deixou a água banhar seu corpo, cair sobre sua cabeça. Além do corpo, queria lavar a alma. Permaneceu ali por um bom tempo e quando retornou ao quarto encontrou Marcela sentada em sua cadeira de rodas.

-- Demorou -- ela disse, desviando o olhar da toalha enrolada no corpo para o rosto abatido de Jéssica.

-- No banho ou no passeio? -- Jessica perguntou, nervosamente. Diz o ditado: "Quem não deve, não teme". Porém, a lógica inversa desta frase, naquele momento, fazia mais sentido: quem deve, teme. Tanto que se virou para o closet, incapaz de encará-la.

-- No banho -- ela respondeu, guiando a cadeira para próximo da cama.

-- O banho estava tão gostoso, que demorei mais do que pretendia -- comentou, enquanto se vestia.

Marcela ergueu uma sobrancelha, desconfiada, e olhou para a esposa.

-- Algum problema?

-- Estou com uma dorzinha de cabeça chata -- Jessica apertou os olhos com os dedos.

-- Vou chamar a Augusta -- disse Marcela, preocupada.

-- Ora, deixe de besteiras, Marcela -- ela sorriu -- Eu só estou um pouco resfriada, e isso não vai me matar!

-- Pois eu não acho que seja só um resfriado, Jessi. Você está com uma aparência horrível!

-- É só um resfriado mesmo -- comentou Jessica, sentando-se na cama em frente a ela -- Um chá e um analgésico vai me deixar novinha em folha. 

-- Bem, já que não adianta tentar convencê-la a consultar com a Augusta, vou pedir para a Vitória trazer o chá e o comprimido. 

Marcela resolveu não insistir mais. Assim, girou a cadeira e saiu.

 

 

Michelle entrou na cozinha de cabeça baixa.

-- Meu Deus Michelle, Que susto -- Valquíria colocou a mão sobre o peito.

A secretária levantou a cabeça, revelando um rosto molhado de lágrimas. Então a encarou, o rosto pálido e os olhos inchados.

-- Desculpa, eu não pretendia assustá-la.

 -- Você está bem? -- a amiga perguntou, desligando o fogão.

A moça virou o rosto, secando as lágrimas.

-- Não -- ela sentou-se -- Não estou bem.

Valquíria puxou uma cadeira e sentou-se perto da amiga. Se os olhos inchados fossem alguma indicação, Michelle estava chorando há horas.

-- Me conta o que aconteceu. A dona Marcela te magoou, é? Eu vou quebrar a cara daquela bruxa. Mentalmente lógico.

Sem olhá-la, Michelle balançou a cabeça.

-- Não, não é a dona Marcela.

Valquíria olhou para ela. 

-- Então o que foi mulher? Está me deixando nervosa.

Michelle comprimiu os lábios.

-- Assim que eu puder eu conto -- ela passou a mão pelo rosto -- Agora, eu não consigo.

-- Vai ter de me contar, mais cedo ou mais tarde.

Michelle levantou-se da cadeira, foi até a porta e virou-se para Valquíria, antes de sair.

-- Onde está a Vitória?

-- Foi levar um chá para a esposa da dona Marcela. Acho que ela está doente.

Michelle deu um passo em direção a ela.

-- A Jessi está doente?

Valquíria levantou uma sobrancelha e olhou para Michelle admirada.

-- Jessi? Que intimidades são essas?

Michelle foi salva pela entrada barulhenta de Pepe.

-- Vou contar uma parábola para vocês: 

Na manhã de seu aniversário, uma mulher disse ao marido:

-- Sonhei que você me dava um colar de diamantes. O que acha que isso significa?

-- Talvez você descubra hoje à noite -- respondeu ele.

Naquela noite, o homem chegou em casa com um pequeno pacote e o entregou à mulher. Ela rasgou o papel de embrulho, ansiosa, e encontrou um livro: O significado dos sonhos.

-- Qual a mensagem que está querendo nos transmitir? --  perguntou Valquíria.

-- Nunca crie expectativas. Você vai se decepcionar!

-- O que foi dessa vez, Pepe? 

-- Os homens não prestam, Val. Nunca esqueça disso.

-- Não esquecerei -- Valquíria olhou séria para ele e balançou a cabeça -- Onde você estava? A Vitória teve que deixar o que estava fazendo para levar um chá para a... Jessi -- ironizou, olhando de lado para Michelle -- Isso não é trabalho do mordomo?

-- Meu Deus! A soberana precisou de mim e eu não estava presente? Que falha, que ato irresponsável e imperdoável. Que... Você falou Jessi?

Michelle fechou os olhos.

-- Não estou me sentindo bem, Valquíria. Vou dormir um pouco.

-- Tudo bem -- estranho, pensou a chef, franzindo a testa. Alguma coisa estava acontecendo, mas o quê? -- Desça para o almoço, vou preparar Bisteca Fiorentina.

-- Sim, com certeza -- Michelle sorriu de leve.

-- Você está tão acabadinha, amiga -- comentou Pepe.

Michelle saiu sem dizer nada. 

-- Dizer a verdade e ofender, são duas coisas bem diferentes, sabia? -- Valquíria deu de dedo nele -- Ela não está bem.

-- Hum. Tenho culpa se hoje ela está parecendo o Rocky Balboa após uma luta?

 

A porta do quarto foi aberta. Vitória entrou, carregando uma bandeja. 

-- Com licença dona Jessica. Vim trazer o seu chá e o comprimido.

-- Ah, claro Vitória. Pode entrar.

Jessica ficou observando-a enquanto a moça colocava o chá na xícara. 

-- Vitória -- A governanta levantou a cabeça e olhou para ela -- Me fala um pouco sobre as novas funcionárias.

-- Eu ainda não sei muita coisa sobre elas -- respondeu a moça, entregando-lhe a xícara.

-- Me conta o que sabe.

-- A Valquíria  foi indicação da irmã da dona Marcela e a Michelle...

-- Espera um segundo -- disse Jessica, levantando a mão -- Quem é Michelle?

-- Michelle é a moça que chegou na mansão com a Valquíria e a dona Marcela a contratou como secretária. 

Jessica sacudiu a cabeça, atônita, pois não estava entendendo nada. 

-- Tem certeza que ela se chama Michelle?

-- Claro que tenho, dona Jessica -- respondeu Vitória, quase rindo -- Não vou saber o nome de uma  pessoa que está trabalhando há dias com a gente? Parece louca!

Jessica fez um trejeito com a boca.

-- Sabe Vitória, vou te apresentar um amigo meu.

-- Quem, dona Jessica? -- ela perguntou animada.

-- O limite --  respondeu, já começando a ficar irritada -- Pode ir. Obrigada pelo chá.

A governanta saiu do quarto, deixando-a pensativa.

-- Porque ela mentiu o nome? Qual será o motivo? -- ela segurou a xícara com ambas as mãos, esperando que o seu calor derretesse de alguma maneira o frio que a consumia. Mas não adiantou nada. Nada adiantaria, e ela sabia disso. Ela carregaria aquela solidão gelada para o resto de sua vida. Tudo por causa de um amor não correspondido, de uma mulher falsa e egoísta que não teve a decência de falar a verdade, de ser honesta com a pessoa que ofereceu a ela todo o amor do mundo. A tristeza e a raiva eram muito profundas, mas não pareciam suficientes para enterrar o amor.

 

-- Michelle -- Valquíria chamou por uma fresta na porta -- Está acordada?

A secretária levantou a cabeça. Os seus olhos estavam cheios de cansaço, de desânimo, e de desespero. 

-- Estou -- ela respondeu.

-- Trouxe um chá para você -- colocou a bandeja em cima de uma mesinha que estava próxima -- Pensa que é só a madame que tem direito a mimos?

-- Obrigada, Valquíria! -- ela sentou-se na cama, encostada em travesseiros -- Não precisava.

A amiga deu de ombros, servindo o chá quente.

-- Meu Deus, Michelle, seu rosto está todo vermelho! Quanto tempo você ficou exposta ao sol?

-- Exagerei um pouco, mas já passei um creme e estou bem agora. Não se preocupe -- Jogando a cabeça para trás, bebeu todo o chá e entregou a xícara para Valquíria -- A Vitória comentou se a dona Jessica está melhor?

-- Era apenas uma dor de cabeça. Frescura de gente rica -- Valquíria serviu-lhe outra xícara de chá. De repente a amiga passou a se interessar demais pela esposa da patroa. O que diabos estava acontecendo! A chef pareceu desconfiada. Não comentou nada, ficou apenas olhando Michelle beber o chá devagar.

Michelle franziu a testa. Certamente Valquiria queria saber o que estava acontecendo, porque ela voltou para casa daquela forma transtornada. Porém, não estava disposta a conversar sobre nada e, menos ainda, sobre ela e Jessica. 

-- Vou ficar bem -- garantiu ela, sem abrir os olhos -- Vou descer assim que eu estiver melhor -- prometeu, perguntando-se quando seria chamada por Marcela. Provavelmente, aquele seria o seu último dia na mansão. Quando terminou o chá, deitou a cabeça no travesseiro. Fechou os olhos com um longo suspiro. Pensaria nisso quando estivesse descansada. Precisava de alguns minutos, ao menos, para se recuperar do encontro desastroso.

Valquíria percebeu que Michelle estava dormindo, mais uma vez, perguntou-se o que teria acontecido. Suspirou. Tinha de descer e preparar o almoço.

Assim que entrou na cozinha sacudiu a cabeça ante a bagunça deixada por Pepe. Deu uma ajeitada rápida e preparou-se para começar o trabalho.

Nesse instante surgiu uma mulher na porta, alta, belo porte, longas pernas. Estava usando jeans, tênis e camiseta branca. Trazia um boné na cabeça, e óculos escuros escondiam a parte superior de seu rosto.

-- Bom dia. Sou a Jessica -- ela disse, afinal.

Olhava nos olhos dela. Nunca tinha visto uma mulher tão encantadora, com seus cabelos dourados, a pele clara e perfeita, o rosto levemente corado.

Nunca lhe passara pela cabeça a imagem de Jessica Parker entrando assim de repente em sua cozinha. 

O olhar de Jessica alertava o quanto ela era poderosa, o modo de andar: graciosa e ágil como uma gata. Qualquer um podia criar fantasias interessantes com base em uma mulher assim. Sem contar que, provavelmente, as fantasias eram a única maneira de se envolver com ela.

-- Meu nome é Valquíria -- murmurou, quase sem conseguir respirar -- Eu sou a nova cozinheira.

-- Prazer Valquíria. Está feliz em seu novo trabalho?

-- Sim. . . Sim, muito feliz. É um momento especial para mim -- Valquíria não conseguia desprender os olhos daquela mulher -- Café? -- perguntou, com voz ligeiramente trêmula.

-- Não, obrigada. Vou dar uma volta pela propriedade, volto para o almoço -- Jessica finalmente, virou-se e saiu da cozinha.

Levou algum tempo para Valquíria se estabilizar. 

-- Minha Nossa! Tá explicado por que a dona Marcela tem tanto ciúme da esposa. 

Michelle afofou os travesseiros, colocou-os de volta na cama e estava ajeitando o lençol no lugar quando um punho forte e insistente bateu na porta do quarto. Michelle colocou a mão contra o peito, tentando acalmar as batidas fortes do coração. Forçando um sorriso, abriu a porta.

-- Só podia ser você -- disse, num fio de voz -- Quase derrubou a porta.

-- Desculpe. É que estou um pouco descontrolado -- Pepe entrou depressa, o olhar luminoso expressando ansiedade. Fechou a porta e a fitou demoradamente.

-- O que foi? Estou de folga hoje.

-- Eu sei, mas a dona Marcela pediu que a chamasse com urgência.

Michelle ergueu o queixo:

-- Eu já esperava por isso.

Feliz Ano Novo!

 

Mais uma etapa concluída, mais um ano que passou que você tenha conseguido aproveitar tudo de bom que Deus lhe ofereceu. Desejo na paz de Deus que você possa sempre encontrar o seu caminho e que este caminho seja trilhado com muita fé, para que cada vez mais você possa acreditar nesse sentimento capaz de transpor obstáculos e ser feliz. 

 

Coragem para assumir e enfrentar as dificuldades, perseverança para que jamais desista ou desanime dos seus sonhos, esperança para que a cada novo dia possa a ver novos horizontes. Que as mãos de Deus guiem sua vida para que essa transporte em paz, harmonia, saúde e alegria é tudo que lhe desejo neste ano que está começando.

 

Você é especial! Feliz Ano Novo!

Vandinha

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo