Capitulo 12
A Última Rosa -- Capítulo 12
Mesmo depois de já estar na cama há muito tempo, com o corpo completamente exausto, Michelle não conseguia dormir.
Inquieta e sem sono, ela foi até a cozinha tomar um chá. Ela estava pegando a xícara no armário quando ouviu a porta sendo aberta. Ao virar-se, viu que Pepe vinha em sua direção.
-- Não venha me encher o saco -- pediu ela, em voz baixa.
Ele inspirou profundamente, exalou e disse:
-- Você é uma moça muito estressada. Nunca relaxa? -- Pepe pegou uma cadeira e sentou.
-- Quem fala! -- ela entregou-lhe uma caneca e sentou na outra ponta da mesa -- Chá?
Ele hesitou, depois aceitou.
-- Acho que vou querer, sim -- o olhar analítico de Pepe percorreu Michelle de cima a baixo -- Deixe seu cabelo solto.
-- O que? -- Michelle o fitou sem entender.
-- O seu cabelo é tão lindo. É natural? A cor, eu digo.
Ela apanhou uma mecha e enrolou no dedo.
-- Não. A cor natural é castanho escuro.
Ele olhou para o cabelo dela de novo e fez um sinal afirmativo com a cabeça.
-- Escolheu muito bem a cor, Michelle.
O tom suave que usou para falar, não parecia em nada o Pepe de horas atrás.
-- Obrigada -- agradeceu de maneira educada.
-- Sensual e poderosa -- segurando a caneca entre as mãos para aquecê-las, Pepe virou o rosto na direção da janela de vidro -- O que uma mulher tão cheia de atrativos faz nesse fim de mundo?
Michelle fez uma pausa, hesitante.
-- Primeiro, não acho Hills o fim do mundo. Segundo, não me acho tão cheia de atrativos como você está dizendo -- ao terminar de falar, Michelle afastou-se para ir buscar a lata de biscoitos.
-- Então, tá. Só quis ser simpático -- respirando fundo, Pepe tomou mais um gole de chá, enquanto observava a moça parada boquiaberta à sua frente.
-- Quer dizer que tudo o que você falou era só para ser simpático? Seu babaca!
"Babaca". Pepe fez uma careta bem humorada. A secretária parecia o seu pai falando.
-- Se eu falasse que te acho uma bruxa você não iria gostar -- ele, instintivamente, tapou a própria boca com a mão -- Pronto falei.
-- Uso shampoo de babosa, dizem que faz bem para os cabelos.
-- Babosa não faz milagre. Para o seu cabelo tem uma planta ótima, vai deixar o seu cabelo divino.
-- Qual?
-- Cacto.
Michelle encolheu os ombros e deu um suspiro exagerado. Sentiu vontade de meter a mão na cara dele, mas estava cansada demais para brigar.
-- Quer biscoitos?
-- Quero -- ele enfiou a mão no pote e pegou dois biscoitos -- Eu estava brincando quando chamei você de bruxa. Imagina! Se você prender os cabelos no alto da cabeça, vai se parecer com uma deusa grega. Afrodite, a deusa do amor, da beleza e do sex*.
-- Fala sério -- ela riu -- Sou apenas uma mulher comum, Pepe. Mas, posso garantir a você que sou feliz do jeito que sou, e não me deixo controlar pela opinião que outros têm de mim.
O rapaz baixou a cabeça.
-- Sei. Pois eu não. A opinião dos outros influencia demais na minha vida. O preconceito destrói. Segundo a sociedade, gay não deveria existir.
-- Não diga isso. As pessoas são maldosas, a sociedade é maldosa e adoram nos julgar. Não dê importância a elas. O que importa mesmo, são aquelas pessoas que nos amam: Nossos pais, nossos amigos.
-- Engano seu. O preconceito vai além das ruas e entra em casa e no ambiente de trabalho. Todo mundo que é LGBT sabe disso. Por isso, tendemos a se excluir e a se isolar -- ele balançou a cabeça com tristeza -- Meus pais foram os primeiros a me julgar, condenar e abandonar. Eles acham que ser gay é uma ofensa a Deus, uma vergonha, uma aberração.
-- Você já tentou convencê-los do contrário?
-- Neste nível de ignorância eu acredito que seja inútil tentar convencê-los.
Michelle não conseguia olhar para ele sem uma ponta de compaixão.
-- Sinto muito -- disse com sinceridade -- Os pais deveriam ser os primeiros a entender os filhos, aceitar as diferenças, apoiar, enfim, amar! -- ela deu mais uma mordida no biscoito.
-- Meu pai me contou que quando eu nasci era tão feio que nem a Cuca quis me pegar.
-- Seu pai é um desagradável. Você tem namorado? -- perguntou a Pepe, tentando mudar de assunto.
-- Sou tipo padeiro. Amasso, amasso, pra outro comer -- De repente ele se levantou batendo palmas todo animado -- Chega de baixo astral. Está escrito: Levanta-te e anda-te pelos prados e campinas verdejantes, praias e afins. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma te azucrinará, nem o sol te torrará. Tiago 7
-- Ai Pepe, você não existe -- ela empurrou a cadeira e se levantou, sorrindo -- Bem, vou dormir, amanhã quero levantar cedo.
-- Dizem que acordar cedo deixa você mais disposto. Só se for disposto a dar uma voadora em algumas pessoas.
-- Verdade -- ela concordou.
-- Tenho medo de ficar velho e começar a acordar cedo pra varrer a calçada.
Os dois riram.
-- Você não folga aos sábados? -- ele perguntou.
-- Sim. Sábado e domingo são os meus dias de folga. Mas, quero acordar cedo para ir à praia.
-- Que inveja!
Michelle lavou a xícara, secou e guardou no armário.
-- Boa noite, Pepe. Não vá deitar muito tarde, ouviu?
-- Boa noite! Pode deixar. Já estou indo.
Michelle saiu da cozinha sorrindo. Estava passando pelo corredor em direção à escada quando ouviu o som de alguém digitando no teclado, vindo do escritório. Caminhou até lá e verificou que a porta estava ligeiramente aberta. Deu uma espiadinha para dentro e viu uma mulher de cabelos loiros, de costas sentada diante do computador. Parecia estar muito ocupada, pois, nem percebeu a sua presença. Com certeza é a esposa da dona Marcela, pensou Michelle. Com cuidado, ela se afastou andando na ponta dos pés para não ser notada.
Naquela manhã, Jessica levantou-se bem mais cedo que de costume. Tomou o café da manhã na cozinha, depois, retornou ao quarto, vestiu uma bermuda jeans e uma camiseta por cima do biquíni e colocou um boné de beisebol.
Sim, era realmente uma felicidade morar numa cidade litorânea, como aquela, com uma praia particular onde podia passar as manhãs de sábado e domingo, tomando sol em seu iate, deitada preguiçosamente, embalada pelas ondas, a brisa acariciando seus cabelos, os pássaros voando ao redor do barco. Sim, aquilo era um paraíso para qualquer pessoa.
Ajoelhou-se sobre a cama, ao lado de Marcela. Afastou-lhe o cabelo do rosto e beijou-a nos olhos, nas bochechas, na testa e por último na boca.
-- Hum, já vai? -- perguntou Marcela, olhando preguiçosamente para a esposa.
-- Quanto mais cedo melhor -- ela deu outro beijo em Marcela antes de pegar a sua mochila e ajeitar nas costas -- Nesse horário o sol está mais brando.
-- Você tem razão, Jessi. Quem vai com você?
-- A tripulação de sempre, Márcio e o Adalberto -- Jessica jogou beijos antes de desaparecer completamente atrás da porta.
Michelle acordou às sete, feliz por ter conseguido dormir com tanta facilidade após ter tomado o chá de camomila.
Vestiu o biquíni que havia comprado no dia anterior e se olhou no espelho.
-- Caramba! A Valquíria tinha razão -- os dois pedacinhos de pano mais revelavam do que cobriam -- Será que vou assim mesmo? -- Deteve-se em frente ao espelho, contemplando-se por mais alguns momentos examinando-se com cuidado -- Sabe de uma coisa, como diz o ditado... o que é bonito tem que ser mostrado -- vestiu uma saída-de-banho sobre o biquíni e munida de óculos escuros e outros itens básicos na mochila, Michelle partiu para conhecer a praia recomendada por Vitória.
Passou pelo cais e foi em direção à praia. Vitória estava certa. A praia era deserta e linda, um presente e tanto poder pisar naquela areia. Michelle olhou em total encantamento para a praia onde o mar variava do verde-esmeralda até o azul-celeste. Logo tratou de tirar a saída de banho, passou filtro solar por todo o corpo e acomodou-se sobre a toalha.
Jessica estava imóvel, no convés do enorme iate ancorado em plena baía. A paisagem era sem dúvida maravilhosa, mas a curiosidade de Adalberto e Marcio aumentava a cada instante. Mesmo porque todos conheciam Jessica muito bem. Ela raramente ficava parada num mesmo lugar por mais de meia hora e o iate encontrava-se ancorado ali, por quase duas horas.
-- Algum problema chefe? -- perguntou Adalberto.
Com o olhar fixo naquela distante praia, Jessica protegia os olhos do reflexo matinal na água.
-- Tem uma mulher seminua tomando banho de sol na minha praia particular.
Com um suspiro profundo, Adalberto apanhou o binóculo e entregou à patroa.
-- Talvez seja alguém conhecido.
-- Veremos -- Agora, através do binóculo, podia examinar melhor a solitária figura. A moça parecia tão próxima que poderia estar ali, bem defronte dela, mas estava deitada de bruços e não conseguia ver o rosto -- Não conheço nenhuma ruiva -- praguejou frustrada -- Tirou o binóculo dos olhos e devolveu à Adalberto -- Vamos voltar para o cais. Esses turistas são uns abusados. Eles não entendem que as tartarugas se assustam com a presença deles e voltam para o mar?
-- Talvez a moça não saiba que é época de desova -- Adalberto sabia o quanto a patroa protege as tartarugas durante o tempo da desova -- Quer que eu pegue um bote e vá até lá?
-- Não, deixe comigo. Faço questão de mostrar para a metida, as placas de aviso que mandei colocar por toda a praia.
Aquela hora da manhã, o oceano estava azul cristalino e a brisa soprava de maneira delicada. Michelle olhava distraidamente para o mar quando viu um animal enorme saindo da água. Ela quase teve um ataque de pânico, mas logo percebeu que era apenas uma enorme, bela e inofensiva tartaruga.
-- Que linda! -- ela se levantou e deu alguns passos em direção à ela, porém, a tartaruga não queria companhia. Assustada, o réptil simplesmente voltou para a água -- Que pena. Queria tanto tirar uma selfie com você.
Fim do capítulo
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NovaAqui
Em: 21/12/2020
Parece que o primeiro encontro não será muito amistoso.
Será que elas irão se reconhecer? Acho que sim.... Se mulher feia a gente reconhece depois de anos sem ver, imagina mulher bonita! Kkkk
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Enfim o encontro. Me diz aí o que achou?
Abraços fraternos.
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