Capitulo 11
A Última Rosa -- Capítulo 11
-- Vem!
Antes que Valquíria tivesse qualquer tipo de reação, Michelle a pegou pelo braço e a puxou para dentro da loja.
-- Espere. Para onde estamos indo? -- perguntou ela, percebendo que a amiga estava prestes a ter um ataque de pânico -- Jesus, mulher. O que está acontecendo?
Michelle olhou para fora aflita, e avistou os policiais olhando a vitrine.
-- Vou comprar o biquíni -- disse ela, colocando um dos braços ao redor dos ombros de Valquíria.
Valquíria coçou a testa desconfiada.
-- Você acabou de dizer que não tem coragem de usar um biquíni tão pequeno.
Michelle olhou para os policiais que continuavam parados do lado de fora da loja. Depois, fez um gesto com a mão chamando a vendedora.
-- Pois, mudei de opinião. Acho que vou ficar linda nesse biquíni.
Jessica estacionou o carro em frente a entrada da casa, saiu do veículo e subiu a escada que dava para a porta da frente, de dois em dois degraus.
-- Eieee...
Ela parou em um dos degraus e virou-se para ver quem era o dono da voz tão delicada.
-- Quem é você? -- perguntou, franzindo a testa, o tom de surpresa presente na voz.
-- Pepe -- ele falou baixinho.
-- Quem? -- ela insistiu.
-- Você me ouviu muito bem. Não vou repetir.
Com o semblante intrigado, Jessica desceu os degraus e parou diante dele.
-- Vou repetir a pergunta -- ela disse, irritada -- Quem é você?
-- Pepe. E, antes que me pergunte, é isso mesmo. Pepe, de Pepe Legal -- ele cruzou os braços no peito, quase como que desafiando Jessica.
Com um suspiro de impaciência, Jessica encostou-se no carro.
-- Tá, Pepe Legal. O que você está fazendo aqui?
-- Acabei de ser contratado para trabalhar na sua casa. Serei o mordomo de luxo. Sabia que falo três idiomas?
Jessica olhou para ele, incrédula.
-- Espera aí. Eu ainda não contratei ninguém.
-- A tia Inês me contratou.
-- Tia Inês?
-- Sim. A tia Inês é uma mulher muito sábia. Praticamente uma profética chamada por Deus para ser sua representante na Terra. Está escrito: Antes de ter sido formado no ventre da sua mãe eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei para servir a essa casa.
-- Escrito onde? -- Jessica sacudiu a cabeça e deu uns passos em direção à ele.
-- Jeremias 1:4
Jessica bufou e revirou os olhos.
-- Como eu disse à tia Inês, primeiro vou conversar com a minha esposa. Geralmente é ela quem trata desses assuntos -- comentou Jessica, subindo os degraus em direção a porta da frente, pegou a chave do bolso e abriu-a silenciosamente. Jessica estava cansada e uma dorzinha de cabeça, começava a ficar mais forte. Tudo o que queria era tomar um banho e ir para a cama, não ficar ali discutindo com um doido -- Não se preocupe, quando eu tiver a resposta comunico a ela e ela à você.
Uma pequeníssima pausa antes de Pepe concordar.
-- Tá bom, "magnânima''. Esperarei sofregamente. Mas, não deixa a invocação do mal a dominar.
Jessica franziu a testa e fitou-o sem entender.
-- Quem é a invocação do mal?
-- Até parece que não sabe né chefe.
-- Chefe? Ei...
Devagar, Pepe se virou e saiu andando calmamente.
-- Que cara folgado! -- depois que o rapaz se foi, Jessica sentou-se no degrau da escada, tentando ignorar o cansaço que sentia. Foi um dia cansativo, mas ela torcia para que cedo estivesse livre para dormir. Um pouco mais feliz por pensar nisso, Jessica se levantou para que pudesse reclinar-se sobre o corrimão da escada. Num momento de reflexão, coisa que ela geralmente não se permitia, pensou na tia. Na dívida de gratidão que acumulou ao longo do tempo que foi amparada pela jovem senhora. Com certeza, por mais que fizesse a ela, nunca conseguiria pagar.
Seus pais tinham morrido há muitos anos, mas Jessica ainda se lembrava deles com carinho, foram pessoas especiais, bondosas e honestas. Foi um golpe duro. Porém, conseguiria seguir o seu caminho em sua cidade natal se sua vida não fosse feita em pedaços pela segunda vez. Jessica, ficou sufocada, invadida pelas lembranças que tentava afastar para sempre. Recordar era como odiar a si mesma. Sofrer por alguém que não nos ama é o sofrimento mais burro que existe.
Ela permaneceu imóvel por mais alguns segundos. Depois, entrou, sentindo-se doente.
Depois de quase ter provado todo o estoque de biquíni, Michelle enfim, saiu da loja.
-- Eu não acredito que você me fez ficar todo esse tempo dentro dessa loja -- Valquíria reclamou muito irritada.
-- Não tenho culpa se todos ficaram lindos em mim. Fiquei em dúvida de qual comprar, oras! -- Michelle pegou o cartão e guardou na carteira.
-- Eles tem as marcas: Agent Provocateur, Missoni, La Perla, Bondi Born e você ficou com um do balaio. Que vergonha!
-- Fale baixo. Desse jeito você vai magoar o meu biquíni -- ela brincou -- Na verdade não me importo se o biquini é de balaio. Gostei dele e ponto!
-- Sua perereca vai ficar de fora -- Valquíria franziu a testa, depois balançou firmemente a cabeça -- Me avise quando for à praia com esse biquíni. Quero ficar bem longe -- ela disse, começando a caminhar mais rápido -- Agora, por favor, vamos embora. Esse mormaço está me sufocando.
Elas alcançaram o calçadão, e logo pegaram um atalho que dava na praça onde o motorista as esperava.
Jessica tomou um banho bem demorado, vestiu bermuda jeans e camiseta. Depois, saiu à procura de Marcela.
Descia vagarosa e despreocupada as escadas quando deu de cara com Vitória. A governanta parou com um sorriso formal no rosto, esperando que a patroa passasse. Em vez disso Jessica parou e ficou observando-a com aquele seu olhar sério.
-- Onde está a Marcela?
-- Ah, dona Marcela está no escritório -- respondeu calmante.
Jessica deu uma risadinha e balançou a cabeça negativamente.
-- Está trabalhando até tarde outra vez? Essa mulher não tem jeito -- comentou.
-- Ela está conversando com um rapaz.
Jessica estranhou.
-- Com um rapaz? Você sabe quem é?
-- Ele disse que foi a senhora quem mandou ele vir -- informou a governanta. Depois continuou o seu caminho.
Jessica pisou no degrau seguinte e se virou para Vitória com surpresa.
-- Eu que mandei?
Antes de subir o próximo degrau, Vitória parou por um momento e, então, virou-se para a patroa, respondendo séria:
-- Sim. Foi o que ele me disse, por isso o deixei entrar.
O cérebro de Jessica levou algum tempo até processar esta informação, e então arregalou os olhos verdes cristalinos. Ela parecia ranger os dentes quando desceu a escada correndo.
-- Eu não acredito que aquele Tamagotchi se atreveu a me desobedecer.
Jessica abriu a porta do escritório com violência e fechou-a com força. Ela parou diante de Marcela e do rapaz, tentando acalmar sua respiração, antes de falar.
-- O que está fazendo aqui? Eu não disse para você esperar?
-- Eu esperei, mas a "soberana" demorou demais -- ignorando a irritação de Jessica, Pepe se virou para Marcela -- A dona Jessica me contratou para trabalhar como mordomo. Posso antecipar que falo três línguas -- disse ele categoricamente, ajeitando os cabelos macios e brilhantes.
Jessica fuzilou-o com os olhos.
Marcela fitou Jessica com uma expressão irônica no olhar.
-- Você, contratando empregado? Quem diria -- ela balançou a cabeça e fez um trejeito com a boca -- Você nunca me falou que desejava ter um mordomo.
Jessica pensou na tia, em seu pedido e em sua decepção, caso não ajudasse o rapaz.
-- Bem, acho que vai ser muito bom termos aqui na mansão um profissional de tão alto nível. Um triglota. Eu admiro pessoas que dominam outros idiomas.
Os elogios fizeram-no inchar de vaidade.
-- Obrigado, "benignosa". Está escrito: "Em todos os momentos, dia ou noite, sempre servirei à minha mestre com todo o meu coração. Um sapo preso em um poço, não entende o mar".
As duas mulheres se entreolharam, sem entender.
-- Então, tá -- Marcela deu de ombro. Apesar de achar um pouco antiquado e uma profissão em desuso, sabia que pelo menos, com um gay, não teria com o que se preocupar -- Tal possibilidade nunca passou pela minha cabeça, mas se você o contratou, por mim, tudo bem.
A verdade nua e crua era que desde o acidente Marcela estava achando muito melhor ficar completamente sozinha. Os profissionais não permaneciam no emprego por mais de um mês. Na maioria das vezes eram demitidos ou pediam demissão por não suportarem o mau humor da patroa. Marcela sempre afastava as outras pessoas de seu convívio.
-- Bem, agora o quadro de funcionários está completo -- Jessica olhou de esguelha para Pepe como se dissesse: "Mais tarde conversamos".
-- Só por curiosidade -- disse, Marcela -- Que tipo de pai coloca o nome do filho de Pepe Legal?
-- O meu -- ele respondeu, sem pestanejar.
-- O seu pai deve odiá-lo! -- As sobrancelhas de Marcela arquearam-se, uma linha formou-se na testa.
-- Inclusive, até tentou me matar -- novamente ele respondeu sem hesitar -- Meu pai nunca me chamou de presente de Deus. Ele sempre disse que eu sou só uma lembrancinha.
Marcela olhou para ele horrorizada.
-- Você está dispensado, Pepe -- Jessica o empurrou até a porta -- Procure por Vitória. Ela é a governanta e deve estar na cozinha. Siga pelo corredor e vire à sua esquerda -- Quando o mordomo se foi, prontamente, virou-se para encontrar o agora perplexo olhar de Marcela -- Ele fala três línguas.
Na cozinha, Michelle, Valquíria e Vitória conversavam animadamente, tão íntimas entre elas como se fossem amigas por toda a vida.
-- Essa receita eu aprendi na faculdade -- Valquíria colocou um prato cheio de biscoitos na frente das amigas -- Você não viveu até que tenha provado os biscoitos portugueses.
Michelle se debruçou na mesa e inspirou um pouco do vapor que saia dos biscoitos.
-- Não sou boa cozinheira. Minha maior criação na cozinha foi uma omelete de forno com tomate, abobrinha e cenoura.
-- Parece delicioso -- Valquíria riu -- Talvez possa fazê-lo para nós algum dia.
--Talvez -- Michelle disse sem muito ânimo.
A porta foi aberta bruscamente e elas olharam para ver quem entrava.
-- Eu as assustei? -- Pepe perguntou, entrando na cozinha.
As moças o fitaram sem entender o que estava acontecendo.
-- Quem é você? -- Valquíria recuou, assustada.
-- A governanta não contou? Foi ela quem me recebeu -- Pepe deu um pequeno sorriso -- Me chamo Pepe. Fui contratado pela blonde queen para ser o mordomo mor.
Vitória não retribuiu o sorriso, observando-o com ar desconfiado.
-- Para que um mordomo? Quanta frescura.
Um olhar de esguelha foi a única resposta. Sob o olhar atento e surpreso das três moças, Pepe sentou-se à mesa.
-- Magro é assim: fica um dia sem comer, já perde dois quilos -- ele encheu um copo com suco e colocou duas panquecas em seu prato -- Ao contrário de vocês né. Porque não entram no Projeto Verão?
-- Que Projeto Verão? -- perguntou Valquíria, curiosa.
-- Ve...rão que estão gordas -- ele respondeu gargalhando.
Valquíria arregalou os olhos, chocada.
-- Você nos chamou de gordas?
-- Você é cego? Seu babaca! -- Vitória berrou -- Estamos super em forma.
-- Só se for em forma de pão de batata -- Pepe deu uma mordida na panqueca e tomou um gole do suco antes de continuar: -- Sua bunda é tão grande que se mudar o celular de bolso, muda o DDD.
Vitória deu um passo à frente, numa atitude ameaçadora.
-- Quem você pensa que é? -- A governanta exigiu satisfações -- Como se atreve a falar assim com a gente?
Michelle empurrou sua cadeira para trás e levantou-se.
-- Vou para o meu quarto -- anunciou -- Não sou obrigada a ficar ouvindo essas besteiras. E vou avisando, se ouvir mais uma gracinha desse tipo, meto um processo.
-- Pobre não processa, faz macumba -- Ignorando a revolta das mulheres, Pepe continuou a falar tranquilamente: -- Aposto que vocês três passam o dia inteiro aqui na cozinha. Fofocando e comendo besteiras -- ele pegou o guardanapo e deu batidinhas suaves sobre a boca -- Mas isso vai acabar.
Michelle, que já se dirigia para a porta, virou-se para ele.
-- O que você disse? -- a moça parou diante dele, o rosto vermelho de raiva.
-- Você ouviu muito bem. As coisas vão mudar por aqui. A dignifica patroa me contratou especialmente para coordenar os demais empregados. Ela precisava de um profissional altamente qualificado para ajudá-las a conduzir a mansão.
Michelle estava de pé em frente à porta da enorme cozinha não acreditando no que estava ouvindo. As moças se olharam e caíram na gargalhada.
A boca de Pepe endureceu e ele disse, já sem traço algum de divertimento:
-- Estão rindo de que? Suas...suas... Bruxas de Salem! -- dito isso, ele deu a volta e saiu da cozinha, batendo a porta.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 19/12/2020
Oi Vandinha
Ri horrores com o Pepe, ele tem medo de não se apanhar das três kkk
Marcela acha que esse novos funcionários logo vao pedir demissão mais creio que eles irá mudar a vida dela.
Bjus e até o próximo capítulo, um ótimo final de semana
Resposta do autor:
Olá Mille
Acho que os novos funcionários é que vão infernizar a vida dela.
Beijoa.
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HelOliveira
Em: 19/12/2020
Isso que chama de forçar uma contratação, mas perece que Pepe na conquistou as mulheres ainda.
Bjos
Resposta do autor:
Olá Hel
Pepe é o tipico cara chato, mas querido.
Beijos.
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NovaAqui
Em: 19/12/2020
Pepe parece uma boa pessoa, mas fala demais kkkkk e ainda chamou as três de gordas? Vai apanhar aindaa
Acho que ele vai mudar o ar pesado da mansão
Abraços fraternos procês aí
Resposta do autor:
Olá
Ele está louco pra perder a lingua.
Abraços.
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