Meus pedaços por Bastiat
Labirinto
Helena
Acordei com vários toques da campainha. Minha cabeça parece que vai explodir.
- Já vai, merd*!
Seja quem for, vou matar por me fazer acordar tão cedo.
Abri os olhos com dificuldade e olhei para o relógio.
15:35? Por quanto tempo eu dormi?
A campainha continuou tocando insistentemente.
Levantei-me cambaleando pelo quarto. Parei para focar em como se anda. Respirei fundo, um enjoo forte me atingiu e abri a porta do meu quarto. Desci as escadas segurando firme no corrimão. Eu ainda estou morrendo de sono.
Para não ser anunciado, só pode ser alguém que conheço bem. Descartei a hipótese de ser a Isabel pois essa não deve estar querendo me ver nem pintada de ouro.
- Já vai, caralh*! - Disse quando a campainha tocou mais uma vez.
Liberei a passagem do portão e esperei quem fosse na porta da sala.
- Quer me deixar louca tocando a campainha assim, Natália? Alguém morreu por acaso?
- Aparentemente você, não é?! Não atende o celular. Tive que vir aqui.
- Nem sei onde está meu celular. Deve ter descarregado lá no quarto. Anda, entra.
Minha amiga atendeu o meu pedido, fez carinho na minha bola de pelos quando pisou na sala e eu fechei a porta.
Bocejei enquanto caminhava até o sofá. Sentei-me e o Chico ficou ao meu lado.
- Você está bem? Fiquei preocupada. Elisa me disse que você saiu com a colombiana ontem. Hoje te liguei e nada. Já estava pensando em ir nas delegacias.
- Eu estou bem, Nat. Apenas inventei de tomar um remédio para dormir e apaguei.
Natália sentou-se perto de mim. Fechei os olhos.
- Não estou entendo. A noite não foi boa?
- Foi péssima. Não pela colombiana, ela foi um amor de pessoa. Mas eu não estava no clima. Acho que, literalmente, a deixei na mão.
Natália deu risada.
- Hum... deixe-me adivinhar. Você ficou com ela pensando na Isabel? O maior comentário da noite foi a gringa lembrar muito a sua ex.
- Pode ser. Isa não saía da minha cabeça mesmo. Quando a beijei foi assim, tentando trans*r também. Sempre imaginando que eu estava com a minha espanhola.
- É uma pena, Helena. Eu ainda tinha esperança de te ver feliz com outra.
Abri os olhos e encarei a mais nova.
- Você não prometeu parar de implicar com o minha relação com a Isabel?
- Mas eu não estou implicando, amiga. Só desejo que você seja feliz. Como eu posso falar para você ser feliz com a espanhola se ela não te quer? Acho que se tivesse que rolar alguma coisa, já teria acontecido. Faz quantos meses que vocês estão convivendo e até agora nada?
Arrumei a minha postura, pensei se falava ou não. Decidi-me acreditar na minha intuição de que a Natália realmente se arrependeu e lhe dar um voto de confiança.
- Na verdade, estava rolando algo entre mim e a Isabel. Desde a festa da Gi que estávamos... como os adolescentes dizem? Dando uns pegas? É isso? Estávamos nos encontrando as escondidas.
- Helena? É mentira isso, não é? - Neguei com a cabeça. - Espera, você disse ‘estávamos'? Não estou entendo nada.
- Depois da festa da Gi nós conversamos e acabamos na cama. Não vou negar que por mim já teríamos voltado e dado uma festa para anunciar, mas a Isabel não conseguiu lidar com o nosso novo envolvimento. Ela pediu um tempo, eu aceitei com a condição desde que nos encontrássemos. Eu sabia que não ia dar certo, Rô até tentou me avisar. Nunca conseguimos conversar, era só sex*. Um erro.
Natália bateu nas coxas dela de leve, peguei o Chico, o coloquei na minha barriga e me deitei no sofá com a minha cabeça nas pernas dela. Senti o carinho nos meus cabelos. Olho no olho, um sorriso tentando me tranquilizar.
- Elisa me disse que você não parecia bem ontem, achei que era bobagem. O que espanhola te fez?
Algumas coisas nunca mudarão, como a implicância da Natália com a Isa.
- Eu fiz. Depois da casa da Elisa, eu fui me encontrar com a Isabel no Comer & Beber. Era para ser um jantar especial, mas eu estraguei tudo. Para evitar que ela soubesse onde eu estava, que no caso era com você, eu falei que estava com o Rodrigo. Eu menti e ela descobriu porque quem estava com o Rô era justamente ela.
Não sabia se chorava ou se dava risada. Olhei para a minha sócia, caímos na gargalhada.
- Desculpa rir, amiga. Mas é impressionante como tudo dá errado com vocês. Primeiro o Maurício entra no beijo que poderia ser de reconciliação. Depois eu acho que estou te defendendo e estrago tudo. Pelo menos agora a culpa é só sua, não tinha necessidade de mentir.
- Não joga na cara assim, vai. Eu ia contar que estava com você, mas só hoje. Ontem eu queria aproveitar o jantar.
- Eu sei, amiga. Você não teria como adivinhar que ela estava com o marido do Eduardo. Puta que pariu, inacreditável.
- Pior é que provavelmente o Rô conversou com a Isabel para justamente tentar ajudar nós duas. O jantar poderia ser a nossa oportunidade para conversar.
- Por que você não a procura? Eu posso confirmar que estava contigo no apê da Elisa. Me disponho a conversar com ela mesmo achando que ela não queira ver.
Beijei uma mão da Natália e a segurei.
- Obrigada, amiga. Não é necessário porque a Isa acreditou em mim. O problema para ela é ter mentido mesmo, não o conteúdo da mentira.
- Ah, entendi. Mesmo assim, se precisar, conte comigo. Um dia terei que me encontrar com ela para pedir desculpa pela forma que falei...
A voz da minha sócia foi desaparecendo, os meus pensamentos voaram longe.
"Soltei-me do Gustavo, o empurrei e olhei para o lado. Um vulto e uma sombra alta chamaram a minha atenção.
- O que foi? - Ele perguntou olhando para a mesma direção.
- Era a Isabel. Acho que a minha mulher nos viu.
- Não deve ser. Acha que ela iria embora sem querer tirar satisfação?
- Você não conhece a Isa.
Passei a mão no meu rosto, preocupei-me com a possibilidade de ser ela.
- Você não deveria ter feito isso, Gustavo. Mesmo se não for a Isabel, pode ser alguém que conte a ela.
- É só negar, meu amor.
- Não me chame assim! E se alguém escuta?
Gustavo deu de ombros, não me importa com o meu desespero.
- De qualquer maneira, seu casamento do jeito que vai não deve durar mais do que alguns meses, talvez dias.
Olhei revoltada para o provável futuro campeão do Atuando.
- Você armou tudo isso?
- Claro que não, Helena. Eu estava tão feliz e você tão perto, não resisti. Já disse e repito: eu te amo.
- Eu também digo e repito: eu amo a Isabel. Nós nunca ficaremos juntos pois nunca vou me separar dela.
- E o que eu faço com esse amor que sinto?
- Enfia no... - parei, senti pena. - Esqueça-me, Gustavo. Não me procure mais.
Saí a passos rápidos da cozinha improvisada para a gravação. Olhei para os lados e não vi sinal da minha espanhola.
Apoiei-me em uma árvore e passei a mão nos meus lábios. Culpa. Se a Isabel viu ou ficar sabendo, jamais me perdoará.
Fiquei parada, sem saber o que fazer. Vi de longe o pessoal da equipe chegar para desmontar e imaginei ser tarde.
Caminhei até o camarim que divido com a minha mulher. Parei na porta, coloquei a mão na maçaneta e entrei. Tropecei no degrau, achei graça da minha atrapalhada.
Isabel me encarou através do espelho.
- Oi, amor - sorri.
- Olá, cariño - apenas levantou os lábios em um sorriso simples como de costume.
Acho que não era a Isabel a cozinha. Ela me parece normal, apenas um semblante cansado pelas horas de gravação.
- Helena... donde estabas?
A pergunta foi feita de repente, eu não estou preparada.
- Conversando com o pessoal sobre a final - menti.
Isabel ainda continuou me encarando, mas não havia expressão de cobrança ou que estivesse alguma coisa errada. Continuei na troca de roupa.
- Você não ia para casa? - Perguntei.
- Sí... sim... só que eu lembrei que viemos juntas, fiquei preocupada em como você voltaria.
Andei até onde ela está sentada, parei atrás dela.
- Ah, não se preocupe, ainda preciso passar... - hesitei e tremi pelo seu olhar profundo - passar... passar na ‘Escola de Roteiristas' para assinar uns papeis que a Nat está me cobrando.
- Certo - foi monossilábica.
- Você vai direto para casa? - Tentei continuar a interação.
- Sim, estou muito cansada. Maurício te ofereceu uma carona, a Escola fica próxima do bairro que ele mora, não é?!
- Fica, fica sim... mas eu já combinei com um taxista e ele já está chegando, não precisa se preocupar.
- Claro - mordeu o seu lábio inferior de nervoso e nos encaramos de novo.
- Ei, não faz essa cara. Aproveita para descansar, tomar um bom banho e me esperar cheirosinha.
Sorri com malícia e coloquei as mãos em seus ombros, pensei em fazer uma massagem. Não resisti ao ver seu decote aberto e deslizei minhas mãos até os seus seios. Os apertei por cima do sutiã.
Sem a sua recusa aos meus toques, cheguei a uma conclusão: Isabel não viu o beijo. O que Isabel não viu, Isabel não precisa saber. Vibrei por saber que a madrilenha me quer em casa mais cedo.
- Parece que temos um plano perfeito: Giovanna se divertindo na festa do pijama e um momento só nosso - disse.
Subi a minha mão direita, coloquei seu cabelo de lado e beijei o seu pescoço. No fundo eu estava aliviada por ela não ter visto o beijo. Beijei sua orelha e disse perto de seu ouvido:
- Eu sinto a sua falta, meu amor. Sinto falta do seu corpo e das suas mãos em mim. Sinto falta de nós.
- Helena...
Percebendo que pareceu uma cobrança, evitei o começo de uma discussão voltando a beijar o seu pescoço.
- Não diga nada. Sei que também tenho a minha parcela de culpa pela correria.
Senti o seu corpo se arrepiar e sua pele quente. Ela está correspondendo ao meu toque.
- Isso foi apenas um aperitivo para a nossa noite. Prepare-se para ser amada na cozinha, na sala e no quarto... Hoje a casa é só nossa, baby."
- Helena? Está me ouvido?
Natália me chacoalhou e os meus pensamentos dissiparam.
- Desculpa, Nat. Minha cabeça viajou em lembranças, nem te ouvi.
- Eu percebi. O que foi?
Chico saiu do meu colo e subiu as escadas. Deve estar sentindo falta da Gi. Levantei-me do colo da minha amiga, coloquei meus pés no sofá e ainda peguei na sua mão como se estivesse tentando me agarrar a alguma coisa para me confortar.
- Cansei do jogo da Isabel. Ela sempre tem a oportunidade de me ouvir, mas prefere me julgar. Achei que nunca cansaria, mas cheguei ao meu limite. Se ontem eu não queria desistir, hoje já não sei. Eu não reconheço mais a mulher pela qual me apaixonei. Talvez esteja na hora de assumir que nunca conseguiremos nos resolver.
- Eu já ouvi essa história antes.
- É difícil esquecer alguém - comentei e sem querer acabei trazendo o assunto paixão pela Elisa à tona.
- Nem tentando se envolver com a outra pessoa - Natália começou a divagar... - Conseguimos até trans*r, mas em meia hora vem a pessoa que gostamos em nossos pensamentos e tudo parece ficar sem sentido.
- Exato.
- Pelo menos você tem uma história amorosa com a Isabel. Eu tenho apenas lembranças de viagens e recordações de uma linda amizade com a Elisa.
- Somos péssimas de diálogo ou amamos pessoas que são. Lisa realmente não percebe que você gosta dela, Nat.
Natália remexeu-se incomodada.
- Por falar na Lisa, preciso avisá-la que você está bem - disse levantando-se.
- Não pode ser por telefone?
- E eu perco alguma oportunidade de estar com ela? Combinamos de nos ver. Quer ir comigo?
- Não, preciso descansar mais um pouco e mais tarde eu vou na casa do Rô, só que dessa vez de verdade - tentei rir, mas doeu. - Aproveite que vocês estarão sozinhas e beija a loira.
- Cala a boca, Helena - negou com a cabeça.
Levantei-me e a acompanhei até a porta.
- Qualquer coisa me liga que eu venho correndo - falou me abraçando.
- Pode deixar. Manda um beijo para a Lisa.
Nos separamos e só voltei para a sala quando a vi atravessar o portão principal.
Chico desceu as escadas com um dos ursos da Giovanna na boca.
Agachei-me e o peguei no colo.
- Eu sei, Chico. Eu te disse que em breve a Gi voltaria a morar comigo e que você teria mais uma dona, a Isa, mas as coisas saíram do controle. Gi só virá na segunda e depois vamos ficar sem ela mais uma semana. Infelizmente a vida é assim, bebê.
...
"- Mamãe, eu ajudei a mamá na peça e dei uma opinião que nem ela faz na TV."
Cheguei no meu carro e abri a porta. Lembrei-me que o deixei no estacionamento da balada quando cheguei na garagem para dirigir até a casa do Rodrigo.
- É mesmo, meu amor? E sobre o que era a peça?
"- Era ensaio então estava meio bagunçado. Tinha uma moça, aquele moços... os cangaceiros. Nina, qual o nome da peça?"
Ouvi a Nina dizer algo ao fundo e logo voltou para dizer o nome da peça já conhecida por mim:
- A beata Maria do Egito, mamãe.
- Ah sim, meu amor. Fico muito feliz que tenha se divertido com a sua mamá. Vocês já estão em casa?
- Não, estamos no Arte. Mamá está trancada no escritório e já tem hooooooras.
Giovanna está aqui do lado. Eu estou morrendo de saudade da minha pequena. Na loucura, tomei uma decisão.
- Gi, espera dois minutinhos na porta da Campanhia.
Mesmo sem entender, minha filha concordou.
Corri para o local combinado e quando apareci, a pequena correu na minha direção.
- Mamãeeeee!
A peguei no colo e enchi seu rosto de beijo.
- Estava aqui perto, meu amor. Gostou da surpresa?
- Sim! Eu estava com saudade.
- Eu também, princesa - A apertei ainda mais em meus braços. - Você está cada dia maior, Gi.
As mesmas covinhas da Isa apareceram no sorriso largo da minha filha.
- Eu vou ficar grandona que nem a mamá.
Concordei com ela chegando à conclusão de que a pequena ficará muito mais parecida que só o tamanho. Sem que eu percebesse, Nina chegava perto de nós.
- Boa noite, Helena.
- Boa noite, Nina. Estava aqui do lado e não resisti em dar uma passada para ver a pequena.
- Não quer entrar? Gi estava comendo um Tiramisù.
- Acho melhor não...
- Isabel está trancada no escritório, vai demorar um pouco.
- Vamos, mamãe. Eu divido o meu pedaço - Giovanna pediu.
Não resisti ao convite e entrei com as duas no restaurante. Gi voltou a contar como foi acompanhar o ensaio de uma peça com a Isa, o quanto ela estava feliz por isso. A espanhola não deve estar diferente, lembro dos seus planos de ensinar tudo desde nova para a nossa filha.
Enquanto escutava com atenção e roubava um pouco da sobremesa, fiquei olhando na direção do escritório. Imaginei a reação da atriz ao me ver aqui.
- Vá falar com ela - a babá sussurrou no meu ouvido.
Questionei-a com o olhar.
- Já é outro dia, ela está mais calma, você já deve ter refletido bastante. Quanto mais problema acumulado, pior.
Tirei a franja do olho da Giovanna e ela olhou para mim.
- Eu vou falar com a sua mamá e já volto.
Saí da mesa e fiz o caminho do escritório da espanhola. Ontem ela não abriu a porta, pensei em recuar. Mas por impulso, cheguei na porta e não bati, apenas a abri. Destrancada.
Concentrada no seu computador, não notou a minha presença.
- Boa noite, Isabel.
Surpresa, a madrilenha me encarou.
- Helena? O que está fazendo aqui?
Cruzei os braços e andei na sua direção. Segurei a minha vontade de aproximar-me mais.
- Deixei o meu carro no estacionamento ontem, vim buscar - comecei a explicar. - Gi acabou de me ligar com o celular da Nina e por coincidência eu estava do lado. Passei para deixar um beijo na nossa filha e... saber como você está.
Vi a Isabel se mexer e dirigir o seu corpo na minha direção, mas não ganhei os seus olhos, ela não permitiu.
- Eu estou bem... y usted?
Mentira. Ela não me parece bem, seus olhos perderam o brilho.
- Bem como você - ironizei sorrindo de lado. - É claro que não estamos bem. Ainda carregamos a carga de ontem. Continua com a mesma opinião? Acabou mesmo?
O olhar perdido da Isa não me pareceu ser parar pensar. Notei o seu nervosismo. Não sabia o que responder. Eu só queria que ela acendesse a luz e iluminasse o nosso caminho. É difícil não saber o que se passa na cabeça dela.
- Acabou, Helena - disse.
Antes eu tentaria argumentar que não. Porém, hoje, não vou me submeter a isso. Só preciso escutar com ela olhando em meus olhos.
- Olhando para mim, Isabel. Me encara e diz que acabou, diz que vai me mandar o divórcio de novo.
- Helena, por favor. Ya es difícil... - parou de falar de repente.
Não estranhei a sua atitude. Nos últimos dias sinto que ela quer dizer alguma coisa, mas nunca consegue. Nossos olhos se encontraram.
- Por que o seu carro está no estacionamento?
Pergunta estranha. Pensei no que responder, lembrei da confusão de ontem e optei pela verdade.
- Depois da nossa briga, decidi ir na noite das meninas. Precisava distrair a minha cabeça.
- E... foi divertido?
Isabel Casañas e seus jogos. Não dessa vez.
- Você me chamou de mentirosa ontem, não foi? Pois vou te dizer a verdade. Saí com as meninas de sempre e foi divertido. Conheci uma mulher e fui para um hotel com ela.
- Helena, no... - tentou me interromper.
- Eu tentei, Isabel. Tentei ter algo com ela. Mas você não saía da minha cabeça. Eu procurava o seu beijo nela, seu toque e até o seu cheiro. Não consegui fazer nada, pois não parava de pensar na nossa última noite. Eu queria que você estivesse ali, não aquela mulher que queria uma noite de prazer. Sabe o que é pior? Eu estou me sentindo culpada até agora porque parece que te traí.
A dona de uma beleza que sempre mexeu comigo me encarava sem dizer nada. Desabafei:
- Eu fiquei até agora pensando se ainda te amo. Eu amo. Amo aquela mulher que você foi. Não te reconheço mais. Eu amei a Isabel decidida, a mulher que me fazia surpresas, que cozinhava para mim ou comigo, que me dizia me amar, que queria construir uma família e passar o resto da vida comigo. Amo ou amei as suas qualidades e defeitos. Mas não amo essa mulher que você se tornou. Amarga, confusa e covarde. Se um dia aquela Isabel voltar e se eu ainda estiver esperando-a, avisa-me.
Não esperei por sua resposta. Virei-me e saí do escritório. O recado foi dado, não consigo ser mais clara.
- Filha, tenho que ir - disse assim que cheguei na mesa que ela e a Nina ocupam.
- Não... quero jantar com você e a mamá.
- Outro dia combinamos isso, meu amor. Agora me dá um abraço e um beijo.
Contrariada, Giovanna relutou a se levantar, mas por fim decidiu me abraçar.
Nina ainda tentou saber o que tinha acontecido e eu disfarcei. Despedi-me das duas prometendo à Gi que iria buscá-la na escola segunda-feira.
[...]
- ... está me dizendo que eu fui conversar com a Isa, a convenci de te dar uma chance para se explicar e você estragou tudo?
Rodrigo irritou-se quando contei tudo o que aconteceu na noite de ontem.
- Eu já sei que deveria ter falado e verdade e todo blá blá blá, não preciso que me diga isso, já estou me culpando o suficiente.
- Ainda bem que você sabe, pois eu não estou aqui para repetir. Pela primeira vez nesses quase um ano e meio, eu entendo a Isabel. Não sei o que faria se o Eduardo começasse a mentir para mim desse jeito.
- Eu - não - menti.
Rô saiu da bancada da sua cozinha e apoiou-se na mesa. Eu estava sentada na cadeira bebendo um café preparado por ele.
- Você já mentiu para a Isabel antes?
- Ah não, Rô! Você está desconfiando de mim? Não, né?
- Responda-me, Helena.
- Depende do que for considerado mentira. Eu menti ontem? Sim. Mas foi para não ter um jantar em paz.
- Puta que pariu, Helena. Você não me esconderia nada, não é? Se... sei lá... você, por acaso, tivesse... como posso dizer... caído na tentação... não sei. Merda, você já traiu a Isabel?
- Não! - Neguei de primeira.
- Por que a Isa parece ter tanta certeza? Você tem uma explicação para isso?
Meu amigo não está acreditando em mim.
- Eu vou embora.
Ameacei me levantar da cadeira, mas sua voz autoritária me fez recuar.
- Se você sair dessa cozinha, dará a entender como uma confissão de algo que talvez você não tenha feito. Ou melhor, eu prefiro acreditar que não.
- Não estou acreditando que uma pessoa que considero meu irmão não esteja acreditando em mim. Se eu perguntasse se você já traiu o Edu, como se sentiria?
- Eu responderia que não e se você tivesse alguma dúvida, esclareceria.
- Então você tem dúvida? - Perguntei nervosa.
- Você está me fazendo duvidar ficando tão nervosa assim. Talvez seja só por isso que a Isabel desconfie tanto, é difícil conversar com uma pessoa que escorrega como sabão. Eu espero que seja só por isso, Helena.
Os questionamentos do Rodrigo pesavam na minha cabeça. Nunca gostei de ser colocada contra a parede, assim como nunca gostei de fazer isso com ninguém. As minhas piores brigas com o meu ex-marido sempre foram acusações que me faziam querer fugir para bem longe.
- Nesses anos todos em que você está com o Eduardo, ninguém nunca te olhou com mais desejo que o próprio?
Meu amigo me olhou de forma estranha. Talvez eu não tenha escolhido as melhores palavras.
- Que merd* de pergunta é essa He...
A campainha tocou. Trocamos olhares. Ele me desafiava e me acuava cada vez mais.
- Você não sai dessa cozinha até terminar a nossa conversa. Deve ser o jantar que o Edu mandou entregar, ele sempre tem dessas surpresas.
Não o respondi. Apenas fiquei olhando-o sair da cozinha.
Coloquei o meu rosto entre minhas mãos, respirei profundamente. Não preciso ter receio do Rô. Ele, mais do que ninguém, sempre esteve ao meu lado.
- Rodrigo...
Ouvi uma voz conhecida vindo da sala. Não pode ser. Será?
Provavelmente ainda estão na porta.
Saí da cadeira, caminhei para fora da cozinha e sem fazer barulho, cheguei em um ponto para conseguir vê-los, mas não fui notada.
Isabel e Rô se abraçam.
- Isabel, acalma-se.
A espanhola chorava de soluçar nos braços do meu amigo. Voltei para a cozinha sem fazer barulho e apenas ouvi quando eles entraram na casa e o Rodrigo pedindo calma de novo.
Fim do capítulo
Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora...
Últimas apostas para o "se traiu ou não". No próximo vem. Até lá.
Comentar este capítulo:
LeticiaFed
Em: 22/12/2020
Ai,ai,ai...O que o safado mandou no vídeo? Duas versões possíveis para o choro da Isabel, espero que seja porque ele contou a verdade e se deu conta que foi injusta nas acusações de infidelidade. Massss...Concordo com o que foi dito acima, não acredito que Helena tenha traído no âmbito sexual, no entanto existem outras formas de traição. Desde o episódio do "acho que ela nao viu o beijo, então nao precisa contar", que foi a primeira mentira, não aprendeu nada, dona Helena? Resolveu ser sincera só agora... um pouco tarde. Sigo torcendo por elas mas tá osso rsrsrs
Ah, e falta a explicação da camisinha entre outras, sigo desconfiada das duas amigas... "mui amigas" ;)
Boa semana, bj!
Resposta do autor:
Calma, ainda dá para torcer. Sei que é difícil, mas dá.
Beijo!
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Rain
Em: 18/12/2020
Cara, como todos esses pedaços tá um bagunça!
Eu venho lendo tudo calmamente para não deixar passar nada e ir juntando tudo para achar um resposta, e fica tudo mais bagunçado ainda. Essas duas são difíceis de lhe dar.
A minha resposta é: não. Não acho que Helena tenha traido a Isa envolvendo outras pessoas. No sentido sexual, mas ela traiu a Isa em outros sentidos, sim. Tomará que esteja certa. Porque, sinceramente eu não entendo com uma pessoa que já foi traída com a Helena e ainda diz amar a Isabel do jeito que ela ama seja capaz de tria-la. Vou acreditar que Helena é só lerda, mas não burra a um nível alto... Ai já é demais.
Sobre a pulga da Elisa... Tava certa em certo ponto. Porém, ainda to tentando achar se teve alguém tentando sabotar o relacionamento delas. Ainda não me esqueci da camisinha na bolsa da Helena... Aquilo tem que ter uma boa explicação.
Então, pra mais que esteja com vontade de bater na Helena. Não acho que ela tenha traido a Isabel envolvendo outra pessoa.
Vai ser duro segurar a ansiedade até o próximo... Não demore volta.
Resposta do autor:
Demorei um pouquinho por causa do feriado, mas postei.
"Não trair encolvendo outras pessoas" é interessante...
Para tudo tem uma explicação sim :).
Abs!
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