Parte 39

Lívia Ferreira

O final daquela terça-feira no trabalho estava sendo tranquila. Havia feito todo o meu trabalho para aquele dia, isso me deixava muito tranquila e feliz. Nunca passara por minha cabeça que trabalhar naquele local seria tão bom para mim quando iniciei, pois, às vezes, dava a sensação de que a qualquer momento eu seria demitida. Não, o doutor Álvares era muito bom para mim. O que complicava mesmo era minha insegurança com relação a minha aparência, pois, não era comum, mas, às vezes, apareciam pessoas que me olhavam com estranheza e, mesmo sem querer, eu escutava comentários desagradáveis.

Mesmo com alguns momentos ruins, eu tinha sorte por o doutor Álvares sempre estar do meu lado, falar sobre o quanto eu era uma boa funcionária e que não daria ouvidos para comentários preconceituosos.

— Por que está assim tão pensativa? — uma voz conhecida começou a tomar conta do ambiente, isso fez o meu coração bater mais forte. Sabia muito bem quem era a dona daquela linda voz.

— Helen? — Estava muito surpresa com a presença dela naquele lugar, pois não era muito comum.

— Bom... como preciso dizer algo ao doutor Álvares, aproveitei para te ver também. — Ela sorriu de uma forma encantadora. Senti todo meu corpo começar a reagir. Passei a ansiar estar nos braços dela. — Você me espera para eu te levar em casa?

— Espero sim! — respondi. Levantei e comecei a andar em direção a porta. Como Helen me seguiu, eu senti todo o meu corpo tremer só por ter a sensação da respiração dela batendo em minhas costas. — Doutor Álvares, Helen está aqui e gostaria de falar com o senhor — falei após ser autorizada a entrar.

— Muito obrigada, Lívia! Deixe-a entrar. Estava precisando falar com ela mesmo.

Sai da sala e deixei os dois a sós. Fiquei um pouco inquieta enquanto aguardava, Helen. Não estava pensando no assunto que ela iria falar com o doutor Álvares, mas sim, no quanto Helen mexia comigo só por estar perto.

Meu coração estava ansioso por tê-la perto. Parecia que eu sentia a necessidade de estar junto a Helen quando nos encontrávamos. O meu corpo implorava pelo dela.

Não demorou muito para Helen sair da sala com um sorriso radiante no rosto. Ela era uma mulher muito linda. A beleza dela poderia ser notada até com os olhos fechados.

— Já podemos ir, doutor Álvares disse que você já pode ir e também nos parabenizou. — Ela riu da última parte.

— Ele nos viu quando chegamos hoje — comentei enquanto saíamos da clínica.

— Bom... não estranhe ele comentar. Ele é assim. Acredita que ele queria muito que eu namorasse. — Rimos. — Ele não faz isso com todos os funcionários, isso é porque temos uma amizade já. O doutor Álvares já me ajudou muito e criamos este laço de amizade ao longo dos anos.

— Eu noto que ele tem um apreço muito grande por você — disse quando já estávamos na rua.

Helen riu.

— E eu por ele. Doutor Álvares sempre leva em consideração a minha opinião.

— Você deve ser alguém importante para ele.

— Acredito que você também esteja se tornando importante, pois ele comentou que você é uma boa moça. Disse para eu não te machucar e que ficaria de olho em mim. — Rimos e Helen segurou uma de minhas mãos antes que pudéssemos entrar no carro. Senti o meu coração quentinho com a sensação do toque da mão de Helen na minha.

— E o que você disse a ele? — perguntei com a voz um pouco falha.

— Que a última coisa que eu quero nesta vida é te magoar.

Encostei o meu corpo no carro de Helen e a olhei com intensidade. A minha vontade era de me jogar nos braços daquela mulher, porém eu me contive por conta do local onde estávamos.

Não demoramos muito para chegar em casa. Durante o caminho, falamos sobre diversas coisas aleatórias. Mesmo nos conhecendo a pouco tempo Helen e eu já sabíamos muito sobre a outra.

Como encontramos a minha mãe no portão de casa, não teve como Helen não entrar para tomar um café com a gente.

Minha mãe gostava muito de Helen. Acho que a minha namorada tinha o poder de conquistar todas as pessoas ao seu redor.

— Helen, qual é sua comida preferida? — Dona Carmen perguntou quando estávamos sentadas à mesa tomando um café com um bolo de cenoura.

— Lasanha! — Helen falou e achei graça do sorriso radiante de minha mãe.

— Ah... você tem sorte. Amanhã, eu farei uma lasanha deliciosa de legumes. Acho que você vai adorar. — Quando o assunto era comida, a minha mãe era muito convencida, mas ela tinha razão a comida dela era maravilhosa. Nunca ninguém reclamou.

— Tenho certeza que sim, dona Carmen — Helen falou e sorriu para mim.

— Mãe, será que posso levar Helen em meu quarto ou a senhora ainda vai paparicar mais um pouco? — perguntei após termos tomado o café.

Helen e minha mãe riram de minha pergunta.

— Pode sim, filha, já acabei.

Segurando pela mão de Helen, eu a levei até o meu quarto. Chegando lá, percebi que ela estava me olhando confusa, tentando entender o que eu estava querendo fazer naquele momento.

Sem dizer nenhuma palavra, encostei o corpo de Helen na porta do quarto e comecei a beijá-la com urgência.

Fim do capítulo