CAPÍTULO 03 - Vamos superar essa...

- Olá Rafaella, pode entrar claro, ainda mais que agora descobri que somos praticamente da mesma família...entre prima, você já é de casa!.

       Ela me olhou irritada, jurei que fosse dar meia volta e ir embora, mas, não foi o que fez, pelo contrário, apenas cruzou os braços e entrou decidida e com passos firmes.

- Escuta aqui, eu e Carol não somos namoradas, apenas ficamos e nem é sempre, quando saímos da casa dos seus pais, sabe o que ela me disse quando perguntei o motivo da mentira e da palhaçada?, "desculpa, não queria ficar por baixo, namorei Sophia e vê-la ali como uma namorada tão bonita não foi fácil". Quer dizer, além de ter a prima como ex, me parece que você é casada e pelo visto bem casada, e ó, vou te dizer, sua namorada é um mulherão, está de parabéns, viu?.

       Dessa vez eu quem me irritei com o seu deboche, não acreditei quando vi que batia palmas e tinha um risinho irônico em seu rosto.

- Não fale o que não sabe, tenho um relacionamento que beira a uma relação tóxica e abusiva, e você vem me dizer que Cris é um mulherão e que sou casada?, eu e Cristina namoramos sim, porque sou covarde e não consigo terminar essa relação, está satisfeita, Rafaella?, eu não sou feliz. Se já acabou sua fala irônica, com licença que preciso de um banho.

       Rafa não disse nada, apenas me puxou pela nuca e me beijou, sua língua suave forçava o caminho pelos meus dentes e não tive o que fazer a não ser ceder, apertei seu corpo cheio de curvas, aconchegando-o ao meu e nem sei dizer quanto tempo me perdi dentro de sua boca e dos seus carinhos, quando finalmente nos afastamos nossos olhares cruzaram e a única coisa que ela conseguiu dizer foi.

- Fudeu, desculpa, não deveria ter feito isso Sophia, eu...eu...simplesmente não resisti, você estava tão perto, e nossa discussão...enfim...me perdoa, mesmo.

- Não precisa se desculpar, eu também quis, quis muito até, mas, acho que não devemos, não podemos, vamos fugir uma da outra ou a gente não vai mais conseguir finalizar essa história mais tarde, temos muito a perder, se me beijar de novo, não respondo por mim.

- Você tem razão, vamos dar um tempo...

       Ela nem terminou de falar e praticamente correu, bati a porta e passei a chave, encostando minha testa na madeira e me xingando por dentro "burra, burra...vai até lá", mas, me faltou coragem, não podia fazer isso, tinha a Cris, e de alguma forma, tinha a Carol, que saco, por fim escutei Ana Carolina cantando "Nua" vindo do apartamento ao lado e cada pedacinho que escutava doía em minha alma. Que sentimento louco foi esse que me acometeu?, nem conhecia a menina direito. Balancei a cabeça tentando em vão esquece-la, mas, a música já estava tocando pela segunda vez.

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Eu vou contar pra todo mundo

Eu vou pichar sua rua

Vou bater na sua porta de noite

Completamente nua

Quem sabe, então assim

Você repara em mim.

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         Ao ouvir essa música me deu um ímpeto imenso de correr até o apartamento ao lado, e era o que havia decidido fazer, prendi os cabelos e quando peguei a chave...

         - Cris??.

         - Oi amor, é impressão minha ou ia sair sem mim?.

         - Não, eu tive a sensação que alguém estava passando a chave na porta e fiquei com medo, mesmo assim tentei arriscar e vim ver o que era.

         - Bobinha, quem mais poderia ser?, você fica assistindo filme de suspense e depois fica ai, cheia de medo e toda bugada. Meu, você é muito café com leite, água com açúcar, nunca vi uma pessoa mais medrosa, agora vai se arrumar que hoje tem balada, fora que antes de sair quero comer um bang!.

         - Quer o que, Cris?.

         - Um bang, quero comer qualquer coisa, estou com fome, aliás, você podia preparar alguma coisa pra mim, quem sabe um Waffle com cream cheese e um capuccino.

         - Nem sempre eu entendo essas suas gírias.

         - Sou paulistana, o que importa é que deveria ao menos entender o contexto, mas, nem isso, vai lá gata, estou com fome, mesmo.

         Cris falou e deitou no sofá pegando um livro qualquer para ler.

         - Não se preocupe que não vou levar e nem te pedir emprestado, é só para ler enquanto você faz meu lanche.

         - Não provoca Cris, ou não vou mais para o barzinho.

         - Se não for, eu vou sozinha, sabe que não me importo, hoje tem uma cantora nova e não vou perder por nada.

         Após o lanche, troquei de roupa rapidamente, estava sem saco de ir, mas, sabia que se não fosse ia dar confusão, então me resignei e coloquei a primeira coisa que vi, uma saia indiana em tons de verde e uma camiseta canelada branca, nos pés pus uma rasteirinha, prendi os cabelos, e, estava pronta. Chegamos rapidamente ao "Martelada", um barzinho com música ao vivo escondido no coração do Batel, quando chegamos infelizmente já estava cheio, se estava difícil transitar, imagine arrumar uma mesa?, Cris já ia reclamar, pois já tinha começado a resmungar quando ouvimos a voz de Beatriz, a insuportável melhor amiga de trabalho da minha namorada, uma perita criminal de São Paulo, elas se conheciam desde a época da faculdade e ficavam insuportáveis quando estavam juntas, o pior que Lexa e Caio eram do mesmo lugar e sempre davam um jeito de depreciar a minha Curitiba.

         - Fala Cris, vamos tomar uma breja?.

         - Opa Bia, vamos sim, cervejinha hoje é de lei. Mano do céu, que bom que você colou aqui, deixa te perguntar, você pegou uma mesa?.

         - Peguei sim, Lexa reservou pra gente, vamos lá, está pertinho do palco, só pedir duas cadeiras. Estou com a Lexa, Caio e uma amiga do Caio que estou afim de pegar, a Mel, uma gata pernambucana espetacular que está de férias aqui.

         - Que bom, porque se dependesse da Sophia íamos ficar em pé, ela como sempre esqueceu de reservar nosso lugar.

         Achei que nem valia a pena discutir, apenas seguimos até onde os amigos nos aguardavam, respirei fundo e não liguei quando Cris soltou minha mão e sentou para conversar animadamente com as amigas, as conversas eram insuportáveis, ou falavam dos casos da delegacia, ou das belezas de Sampa, se não gostavam de Curitiba o que vieram fazer aqui?, sempre tive vontade de perguntar, mas, como sempre me faltava coragem.

         - Cris, vamos brincar de "eu nunca?".

         - Vamos Bia, essa brincadeira é muito engraçada, só não pode dar o migué, hein?, nada de mentira pessoal.

         Levantei os olhos de tamanho tédio e falei que preferia não participar, parece que nem se incomodaram, pois logo se aproximaram e a bobeira começou.

         - Eu nunca fiz sex* a três!.

         Ninguém levantou a mão e riram parecendo umas hienas, coloquei a mão no queixo e cruzei os braços quando a Cris falou.

         - Agora é a minha vez de perguntar...eu nunca tive um sonho "picante" com alguém que está aqui.

         Somente Caio não levantou a mão, estava tão cansada de ouvir besteira, que pedi licença e me levantei, em seguida avisei disse que ia tomar um refrigerante e depois iria ao banheiro, Cris soltou um "tá" e continuou rindo com os amigos.

         - Ai Cris, o que ela tem?.

         - Ah Caio, como sempre Sophia fica moscando conosco, ela sempre está por fora quando a turma está junta, deixa ela pra lá, depois ela volta.

         Ainda consegui ouvir esse pequeno diálogo, depois fui até o bar e pedi uma água de coco, em seguida dei uma volta e sentei em uma mesinha na borda da piscina, ainda estava cheia de copos e resto de comida, mas, logo uma atendente chegou e rapidamente tirou o que ali estava, se desculpando no mesmo instante, apenas agradeci e cruzei minhas pernas querendo descansar um pouco dos meus pensamentos.

         - Olá, com licença?.

         Levantei os olhos e na minha frente estava uma negra belíssima, ela vestia uma bata colorida e um turbante da mesma cor e seus cachinhos balançaram quando inclinou a cabeça, sorri e respondi.

         - Oi?.

         - Posso sentar com você?, as outras mesas estão todas ocupadas e gostaria de ficar um tempinho perto da piscina.

         - Claro, fique à vontade...prazer, Sophia.

Falei e entreguei minha mão em um rápido comprimento, ela segurou firme, mas, ao mesmo tempo delicado, também sorriu e falou em seguida.

         - Me chamo Renée...engraçado, juro que não é uma daquelas cantadas baratas, tenho impressão que te conheço.

         - Pode ser de tantos lugares...em resumo sou professora, leciono Direito Criminal e Penal na UniCuritiba.

         - Claro, já cruzei contigo na faculdade, sou professora do curso de Jornalismo, mas, hoje estou aqui por uma outra motivação...vou cantar, tem alguma música que queira ouvir em especial?.

         - Você conhece "Nua" da Ana Carolina?.

         - Claro!, tem algum motivo especial?.

         - É uma longa história, quem sabe um dia te conto...

         - É, quem sabe?, posso dedicar a você?.

         - Não, por favor, vai me dar uma dor de cabeça tão grande com minha namorada, você nem imagina.

         - Calma, não fique tão aflita, mas, se está nesse pavor todo...será que não seria o momento de rever essa história?, desculpa falar, mas, estou vendo em seus olhos que não está feliz.

         - Renée, nem te conto...mas, eu vou resolver, prometo!.

         - Prometa para si, você merece ser feliz Sophia, vamos fazer o seguinte, segunda te procuro e vamos tomar um café para conversarmos melhor, pode ser?, anota meu contato no celular.

         A conversa flui como se nos conhecêssemos a anos, mas, o tempo passou, estava na hora do show, e a mim restou voltar para a companhia de Cris e seus amigos, felizmente quando voltei eles haviam terminado a brincadeira desagradável.

         - Oi Sophia, demorou, hein?.

         - Desculpa Cris, queria pegar um ar na beira da piscina, não estava respirando muito bem.

         - Ah, tá...

         Era mentira, mas, poderia ser verdade, não é?, o fato foi que Cris nem se dignou a saber se tinha acontecido alguma coisa, apenas cutucou Bia para dizer.

         - Dizem que a cantora é uma gata, uma verdadeira pérola negra...não faz o meu tipo, mas, se ela é bonita vamos curtir.

         Olhei seriamente e ela fingiu não perceber, Cris ficava ainda mais desagradável quando bebia pois perdia o freio social, fiquei chateada quando vi que ela tinha mudado da cerveja para uma batida de coco com vodka.

         - Cris, você sabe que não é muito bom misturar tipos diferentes de bebida alcoólica.

         - Não enche Sophia, vamos curtir, fica quietinha vai!.

        Fechei o rosto e só sorri quando Renée se posicionou na entrada no palco e discretamente piscou para mim. Sua voz era firme, límpida e extremamente afinada, pensei que tivesse esquecido a música que pedi, mas, de repente ela fez uma rápida dedicatória e tive a certeza que cantaria "Nua".

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- Eu queria dedicar essa música a uma pessoa muito especial que conheci a pouco tempo, mas, que me cativou. Querida acorda, o mundo é cheio de possibilidades e você merece o ser feliz. Seja firme e quando a felicidade bater em sua porta agarre-a com toda força...entrega, amor e respeito não espere nada menos do que isso de alguém.

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Olho a cidade ao redor

E nada me interessa

Eu finjo ter calma

A solidão me apressa...

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        Uma lágrima desceu discreta em meu rosto ao lembrar de Rafaella, tudo poderia ter sido tão diferente entre nós, estava com as mãos no rosto quando senti que alguém tapava meus olhos, de repente meu coração acelerou, será que era Rafaella?, no mundo das coincidências tudo era possível, imediatamente soltei as mãos que escondiam minha visão e me virei para ver quem era, infelizmente tive uma decepção.

- Oi prima, tudo bom?.

- Olá Carol, veio sozinha?, onde está a namorada?.

- Não estou mais com Rafa, não tínhamos nada a ver, deixei que ela ficasse com seus livros e filmes estranhos, eu gosto é de balada, posso sentar aqui com vocês?.

       Cris sorriu e respondeu por mim.

- Senta ai priminha, é de casa.

      Carol sentou e começou uma conversa animada com a gata pernambucana, motivo de sua vinda até a nossa mesa, não demorou nada e as duas foram dar uma voltinha atrás de uma bebida. Cris bateu palmas e falou baixinho para Bia.

- Amiga, se deu mal nessa, a novinha gamou na Carol.

      Lexa riu seguida pelos demais, fiz uma cara feia e falei.

- Gente, vocês estão rindo alto, quero assistir ao show.

       Fiquei aninada em saber que Rafa não estava mais com Carol, no entanto, logo em seguida meu sorriso morreu, do que adiantava ela estar solteira se ainda tinha Cris?, precisava ter forças e finalizar esse relacionamento. Em falar em Cris, ela gritou "gostosa" bem alto para a cantora, que percebeu e apenas balançou a cabeça em desaprovação.

       Ficamos até o fim, Carol voltou com a pernambucana que tinha as faces rosadas e as roupas bem amassadas, cutuquei a Cris por baixo da mesa e falei baixinho "não diga nada, por favor", do jeito que ela era se não tivesse alertado com certeza faria algum comentário infeliz, mas, parece que consegui e ela não disse nada.

- Cris, me passa a chave do carro que vou dirigindo.

- Claro gata, fique à vontade.

      Entramos no carro e ajeitei o cinto de segurança em Cris, apesar dos seus resmungos, de jeito nenhum que ia deixa-la dirigir nesse estado.

- Vou te deixar em casa, está bêbada demais para dirigir, de lá eu pego um Uber.

- Peraêeeeeeeeeee, não estou bêbada, estou apenas animada.

      Estacionei na garagem e tive bastante trabalho de levar Cris até seu apartamento, a todo instante ela tentava me agarrar no elevador.

- Por favor Cris, colabora vai...

- Você nunca reclamou!.

Quando chegamos vi que só um banho resolveria, ela tinha misturado muito.

- Vamos Cris, você precisa de um banho.

- Entra comigo vai, estou com tanta saudades de fazer amor com você no chuveiro.

      Mesmo sem vontade alguma, tirei nossas roupas e entrei, empurrei Cris na parede e a beijei com vontade, parece que meu beijo a despertou pois ela melhorou rapidamente do porre e começou a explorar o meu corpo molhado, fechei os olhos e me deixei levar...Rafaella...era sua boca que sentia deslizando por minhas curvas, o mais estranho de tudo, foi que na hora do orgasmo um outro rosto apareceu na minha imaginação...Renée!.

Fim do capítulo