Boa leitura!
Capitulo 25 - Eu tenho nojo de você.
Alice
Acordei atrasada naquela manhã nublada. Demorei um pouco mais pra me levantar porque estava sonhando com a minha deusa Helena.
Quando desci pra encontrar minha mãe e meu irmão, notei a cozinha vazia. Chamei por eles, mas ninguém respondeu. Encontrei um bilhete da minha mãe colado na geladeira. Ela disse que não pôde me esperar porque tinha uma reunião urgente no trabalho. Não entendo ela. Ás vezes obriga o Pedro a praticamente me arrancar da cama. Outras vezes me grita feito louca, me dando um sermão enorme sobre sempre demorar pra me arrumar e agora me vem com essa, simplesmente sai e me deixa sozinha em casa. Balancei a cabeça desacreditada, olhava o bilhete e sentia as lágrimas nascendo em meus olhos. Foi uma sensação bem ruim, me senti substituível, descartável.
- Não era pra estar no colégio?
Coloquei a mão no peito devido ao susto que aquela voz assombrosa causou em mim. Meu pai apareceu de repente. Havia me esquecido completamente que ele tinha chegado de viagem noite passada.
- Não se preocupe, já estou indo. - peguei minha mochila e fui até a sala, atrás da agenda onde minha mãe guardava alguns números de telefone.
- Vai pedir um táxi?
- Me deixa em paz ! - ignorei sua presença ali.
Assim que abri a tal agenda, senti ela ser puxada com rispidez de minhas mãos.
- Você tá louco? O que foi isso? - Sentia a raiva crescendo em mim.
- Não pecisa pedir um táxi. Papai está em casa princesinha, eu te levo. - apertou de leve minha bochecha.
- Obrigada, mas eu passo - dei um sorriso debochado e passei por ele. Antes que eu pudesse abrir a porta, senti o aperto de sua mão em meu braço.
- Eu te levo. Não foi um pedido - sua voz saiu autoritária.
Bufei e o segui a contra gosto. Entrei no carro num misto de raiva e medo. Eu tinha pavor em ficar sozinha com ele, por isso evitava ao máximo esse tipo de situação. Depois de afivelar meu cinto, procurei em minha bolsa meu fone de ouvido, mas não o encontrei.
- Droga - resmunguei me encostando no banco. Além de ter que aguentar a presença do meu pai o caminho todo, ainda teria que aguentar sua voz irritante.
- Você fica tão bonita quando está bravinha assim - tocou meus cabelos. Me afastei do seu toque e o encarei no mesmo instante que um sorriso de canto nasceu em seus lábios nojentos.
- Sabe Alice, se você fosse mais calma, mas receptiva, talvez as coisas pudessem se tornar melhores pra você.
- Jamais serei receptiva com você. Prefiro a morte.
Ele gargalhou
- Cuidado com o que deseja princesa. Certos pedidos se tornam reais.
Olhei pra ele assustada e me encolhi ainda mais no banco.
- Estou brincando - gargalhou - Você não acha que eu seria capaz de te machucar não é?
Fiquei em silêncio.
- Agora me diz Alicinha, por que gosta de pintar seus olhos com esses lápis preto? Você é tão linda, mas essas coisas que você passa na cara e essas roupas pretas que usa, sei lá, te deixam com um ar meio zumbi.
- Fico feliz que não goste. É exatamente esse o objetivo.
- Você é muito arisca menina.
- E você é um mala. Pode parar aqui, eu termino de chegar a pé - coloquei a mão na porta na intenção de abrí -la, mas ele foi mais rápido e a travou.
- Me deixa sair - respirava com rapidez - por favor.
O vidro do seu carro era fumê, se algo acontecesse comigo, ninguém veria, ninguém poderia me ajudar.
- Eu disse que vou te levar na escola. - seu semblante era sério e carregado.
- Eu não quero mais ficar perto de você. Me deixa sair.
- Escuta aqui menina - ela estacionou em uma rua qualquer - Eu já te mandei parar de falar comigo desse jeito. Está pensando o que heim? - segurou meu braço com força e praticamente cuspiu as palavras em meu rosto.
- Eu vou contar pra minha mãe.
Novamente o som da sua risada invadiu o carro.
- Vai mesmo? E o que vai dizer? Que eu te levei pra escola e te repreendi pelo jeito que falou comigo?
- Me deixa ir embora. - minha voz saía trêmula.
- Por que a pressa? - olhou em meus lábios - Você é tão... - passou os dedos em meu rosto e desceu pela minha boca. Se aproximou e inalou o cheiro do meu pescoço. - Como você cresceu Alice. Está uma mulher feita. Muito mais linda que sua mãe.
Mesmo sem querer, comecei a chorar. Tentei me afastar, mas ele me segurava firme pelos pulsos.
- Me solta - pedia entre soluços - Me deixa ir embora.
Ele parecia não me ouvir. Continuou minha tortura e passando o nariz de leve em minha pele. Primeiro em meus cabelos e depois em meu pescoço.
Não sei quanto tempo ficou assim, só sei que do nada se afastou, destravou as portas e com brutalidade me mandou sair. Eu estava tão nervosa que só sabia chorar. Minhas pernas falharam quando tentei sair e por isso ele me empurrou, como se quisesse se ver livre de mim o mais rápido possível. Caí no chão, bem perto do carro e olhei pra trás. Com medo de que ele me mandasse entrar de volta no carro, eu corri. Corri o mais rápido que pude.
Corri até chegar em uma pracinha que ficava relativamente perto do meu colégio. Me apoiei numa árvore e chorei ainda mais que antes. Tinha nojo de mim, raiva do meu corpo, da minha pele, dos meus olhos. Tudo que ele elogiava na minha aparência se tornava asqueroso pra mim. Eu me odiava por ter traços que o atraía. Enquanto eu ainda chorava, pude sentir uma mão tocar em meu ombro. Me virei assustada, sentindo meu coração bater mais rápido do que já batera antes. Por um momento pensei que talvez pudesse ser ele novamente.
- Alice?
Assim que meus olhos encontram os dela, senti todo o ar que eu prendia sair novamemte pelos meus pulmões. Me joguei em seus braços e me permiti chorar ainda mais. Soluçava em seu colo ao mesmo tempo que seus braços me envolviam, acariciando meus cabelos e sussurrando palavras de conforto em meu ouvido. Eu estava no único lugar que eu queria estar, no abraço da minha Helena.
******
Helena
Naquela manhã eu havia acordado feliz. Apesar do José Henrique ter estragado minha noite, as lembranças que ocupavam minha mente era da tarde maravilhosa que eu havia passado com minha pequena Alice.
Só de pensar nela o sorriso bobo nascia em meu rosto. Depois de me arrumar, segui para o trabalho em meu carro. Já próximo ao colégio, em uma pracinha que ficava bem próxima de lá, vi uma garota. Forcei os olhos pra tentar enxergar melhor, afinal, eu a achei bem parecida com minha aluna preferida, e por fim, observando melhor, percebi ser de fato Alice. Estacionei na primeira vaga que encontrei e sem pensar duas vezes seguia até sua direção. Mas quando cheguei perto, me assustei ao perceber que ela chorava. Era um choro dolorido, quase um pedido de socorro.
- Vai ficar tudo bem minha pequena. Se acalma - Não sabia o que fazer. Depois de um tempo a abraçando, devagar eu me afastei um pouco e a olhei. Seu rosto estava banhado em lágrimas, sua boca estava branca e seus olhos bastante vermelhos. Ela tremia.
- Eu não quero ir ao colégio - suplicou em desespero.
- Se acalma, pequena. - ela balançou a cabeça concordando, tentando se acalmar, enquanto eu secava suas lágrimas com minhas mãos - Você não está em condições de ir ao colégio. - olhei em meu relógio e notei que se eu não fosse embora agora, chegaria atrasada - Vou ligar pra diretora e avisar que eu não poderei trabalhar hoje.
Depois de um tempo ao telefone, abracei Alice de lado e caminhamos juntas até meu carro. Durante o caminho, ela se manteve em silêncio, observando a rua pela janela do carro. Percebi que ainda chorava, porém mais contida. Lá fora uma leve garoa começou a cair. Eu não o sabia o que dizer, por isso me mantive calada. Quando chegamos, estacionei e a ajudei a sair.
- Onde estamos? - ela olhava tudo ao redor com cautela, parecia mais calma.
- Eu comprei essa casa a alguns dias. Pedi para arrumarem algumas coisas, ainda não está tudo pronto, mas acredito que aqui poderemos conversar melhor.
Quando entramos, ela notou a casa praticamente vazia.
- Você não está morando aqui?
- Ainda não. - sorri de leve - Me mudo nesse final de semana. Vem, vamos lá pra cima, meu quarto está pronto.
Subimos as escadas.
- É lindo aqui - comentou olhando toda a decoração do lugar. Se aproximou da janela e ficou observando a forte chuva que havia começado a cair lá fora.
- Senta aqui - bati a mão na cama ao meu lado e ela se sentou perto de mim. - Agora me conta o que aconteceu de tão grave pra te deixar nesse estado.
Eu passava as mãos bem devagar em seus cabelos e ela olhava para o chão, em silêncio.
- Confia em mim. Só quero te ajudar - entrelacei nossos dedos.
- Eu não consigo falar - lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto em um choro contido.
- Não chora meu anjo - a puxei pra mais perto. Ela se aproximou e eu a abracei.
Depois de um tempo chorando, ela começou a conversar comigo.
- O jeito que ele me olha...é como se eu fosse uma presa prestes a ser devorada - suspirou - Ele me fala coisas estranhas e me toca de um jeito que eu não gosto Helena.
Um nó se formou em minha garganta e eu apertei os punhos, nervosa.
- O quê? Quem Alice? Quem te toca desse jeito?
Ela olhou para o lado envergonhada.
- Quem é ele Alice?
Ela se virou de frente pra mim chorando outra vez.
- Não posso dizer - colocou as mãos no rosto.
- Por que não? Estamos juntas, eu só quero te ajudar.
- Eu não quero mais falar sobre isso Helena. Por favor.
- Alice...
- Por favor Helena, por favor. - se jogou em meus braços novamente e eu decidi não insistir mais, pelo menos não naquele momento. Alice precisava de mim, estava visivelmente alterada, nervosa, tremendo. Fiquei com medo de que seu eu insistisse mais, ela pudesse ficar ainda pior.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 11/12/2020
Lua...
Que intenso essa capítulo, pobre Alice, justo agora que as coisas pareciam estarem tomando um rumo diferente para ela com a eminente aceitação de Helena. Já ansiosa pela continuação
Beijos
Rosa
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