Meus pedaços por Bastiat
Precisa-se de cura
Isabel
Helena passou os braços pelos meus ombros e começou a me conduzir devagar. Nossos olhos não perdiam o contato, ela sorria. Eu me entregava a sua doçura, ao seu cheiro marcante. Desejo e saudade que sinto. Ela não precisava pedir, eu já estava entregue.
Adentramos o quarto ainda abraçadas e a atriz encarou os meus lábios. Beijou-me com volúpia, deixando o carnal falar por nós.
Um vento gelado veio pela porta aberta que dá acesso à varanda e entrou em contato com nossas peles quentes. Arrepiamo-nos.
- Eu vou fechar a porta - disse ao encerrar o beijo. - Só um minutinho, amor.
Fiquei observando a pequena fechar com pressa e voltar para mim com mais vontade que antes. Deixamos o frio lá fora.
- Onde nós paramos? Ah, sim. No beijo.
Tomando a minha boca para si mais uma vez, Helena puxou-me pela cintura e andou comigo até a beira da cama.
No total comando da situação, a apresentadora me virou de costas e me abraçou por trás. Senti o seu dedo deslizar pela minha pele exposta. Em seguida foram os seus lábios que tocara o local. Suas mãos desceram e apertaram a minha cintura, trazendo o meu corpo ao encontro do seu.
Helena continuou distribuindo beijos, até sua mão direita subir na parte lateral do meu vestido e tocar no meu zíper. Sem pressa, senti ela deslizar o objeto para baixo.
A famosa, sem delongas, puxou o vestido para baixo que caiu aos meus pés. As mãos quentes dela demarcou os primeiros toques na pele das minhas costas e barriga. Em seguida, senti leves arranhões.
Sua boca não parava de beijar as minhas costas com carinho, eu sorria com alguns ch*pões. Minha respiração falhou quando eu percebi a intenção dela de puxar para cima o meu top tomara que caia branco.
"Os anos passam e para a minha mulher não foi diferente. Assim como ela deve olhar para outros corpos, eu também faço..."
"O desejo muda, não é mais como antes. É mais um carinho e companheirismo do que qualquer outra coisa..."
Levantei os braços em protesto a minha mente que me traía ao trazer recordações que quero esquecer. O top foi retirado, liberando os meus seios para serem estimulados pelas miúdas e habilidosas mãos da Helena. Fechei os olhos ao sentir ela apertá-los e me concentrei para não deixar que meus pensamentos atrapalhassem a minha excitação pulsante.
De repente, a pequena deu a volta em mim e ficou de frente. Eu abri os olhos e dei de cara com o seu largo sorriso e seus olhos brilhantes. Posicionei os meus lábios na sua boca e a provoquei passando a língua de leve por ali sem a intenção de me aprofundar.
Peguei firme em sua cintura, ela arranhou a minha nuca entrando no jogo de provocação. Subi as minhas mãos até o zíper do vestido nas suas costas e o desci. Interrompi o quase beijo e a ajudei se livrar do belo tubinho azul. Linda e tão entregue.
Arqueei o meu corpo para trás quando senti sua boca quente ch*par o bico do meu seio esquerdo. Não evitei o gemido que escapou entre os meus lábios, o que a fez querer me estimular ainda mais.
- Isa - começou a dizer contornando a minha aréola com a língua - você não faz ideia do pesadelo que era ver a sua bunda e não poder tocá-la - disse usando as suas duas mãos para apertar o seu objeto de desejo.
- Disfrútalo, Helena - sussurrei e contive um grito ao sentir um tapa.
Em um movimento rápido, a mais velha virou-me de costas e me jogou na cama. Mandona e controladora do mesmo jeito que sempre gostei
Subindo em cima de mim, Helena se sentou nas minhas nádegas e rebolou a sua intimidade em mim. O seu gemido rouco foi ainda mais excitador. Meu corpo implora por mais de sua luxúria.
Senti os seus peitos tocarem a minha pele ao deitar-se sobre mim. Sua boca mordeu o meu lóbulo, desceu mordiscando o meu pescoço, meu ombro e toda a extensão das minhas costas, chegando na minha bunda. Mais um tapa e ela pediu para que eu me virasse.
Ansiando pelo o que pretendia, fiz o que ela me pediu. Helena saiu da cama e tirou os saltos que calçava. Em seguida voltou para a cama e pegou o meu pé esquerdo tirando a minha sandália. Eu encarava seus seios enquanto ela beijava a minha perna. Fez os mesmos movimentos com o direito e voltou distribuindo beijos até chegar na minha virilha.
Com os dentes, minha calcinha vermelha de renda foi retirada.
- Quita el tuyo también - pedi e ela removeu a sua fio dental branca rapidamente.
De volta ao seu desejo, gemi seu nome quando beijou o canto dos lábios da minha intimidade. Eu sentia a sua respiração quente bater e isso me deixava cada vez mais molhada.
- Hum... amor, prontinha para mim.
Helena começou o oral do jeito que eu gosto, passando sua língua em toda a extensão e com os lábios aumentando o ritmo de moderado para forte. Me ch*pava com a mesma habilidade de sempre, meu já começava a sentir minha pulsação descontrolada. Não poupei a minha voz quando sua língua me penetrou e joguei o meu quadril para sentir mais.
Sua boca foi substituída por sua mão e ela levantou-se. Seus dedos começaram a me penetrar em um vai e vem delicioso. Sua atenção voltou-se para os meus seios com a língua.
Com estocadas mais fortes, eu já sentia o gozo cada vez mais próximo.
- Olha para mim! Quero te ver chegando ao prazer - ordenou.
Abri os meus olhos com certa dificuldade, mas tive o orgasmo olhando em seus olhos e no fim os fechei com seus últimos vai e vem.
Sorrindo pelo feito, a atriz subiu beijando o meu pescoço e por fim beijou os meus lábios. Eu a abracei pela cintura enquanto sentia o meu corpo ainda vibrando pelo recente prazer.
- Eu te amo, Isa - disse olhando em meus olhos.
A sua declaração chegou primeiro na minha cabeça e não permiti que chegasse ao meu coração. Posso estar extasiada pelas sensações que ela me causa, mas ainda me restam respostas.
Procurei os seus lábios para voltar ao clima. Helena correspondeu com entusiasmo, então desci um pouco para envolver um dos seus seios em meus lábios. Toquei a sua intimidade e ela gem*u mordendo o seu lábio inferior.
Com facilidade, joguei o seu corpo para o lado e não fiz firula, abri as suas pernas. Deslizei minha língua por toda a extensão de suas belas cochas. A pequena se abriu ainda mais, eu aproveitei para penetrá-la com um dedo e deslizei o segundo ao notar que ela pediu por mais.
A fim de sentir o seu gosto, cai de boca em seus lábios vagin*is. Seus gemidos ecoavam pelo quarto e me estimulavam para aumentar o ritmo. Senti a sua mão me empurrar contra o seu clit*ris e suguei ali. Fiz todos os movimentos possíveis com a língua. Quanto mais ela se aperta os meus dedos em si, mais quero que tenha prazer.
Mais e mais estocadas, até Helena chegar ao ápice e puxar o meu cabelo fazendo com que eu diminuísse o ritmo das penetrações e continuasse com a língua. Suas pernas tremeram, seu orgasmo foi longo e forte. Com um sorriso de lado, arrastei-me com delicadeza e deitei a minha cabeça na sua barriga enquanto tentava regularizar a minha respiração.
Os dedos da pequena fizeram carinho nos meus cabelos. Eu deixei um beijo delicado em uma de suas pintas.
O meu corpo ainda sentia os efeitos do orgasmo que ela me deu e se misturava com o seu gosto na minha boca. Não perdemos a nossa sintonia e ela não esqueceu os meus pontos fracos. Meu peito explode de felicidade por conseguir me entregar a ela como antes.
Ficamos deitadas tempo o suficiente para nos recuperarmos. Meu paraíso está aqui nessa pele macia e eu quero mais.
Parecendo adivinhar os meus pensamentos, Helena disse:
- A minha boca está te esperando, Casañas.
Eu abafei a minha risada deixando um beijo perto do seu umbigo. Levantei a minha cabeça e ela sorria com o dedo no canto da boca. Minha safada.
Sai do seu colo e ela se ajeitou melhor para me receber.
Posicionei-me de joelhos em seu rosto e desci com minha intimidade até sua boca. Como eu senti falta disso. Uma de suas mãos apertou a minha bunda e fez um movimento para que eu rebol*sse. Eu olhei para trás e vi que ela se masturbava com sua outra mão. Vamos chegar juntas.
Eu perdi o controle e pressionei para baixo, rebolei. A visão da Helena de olhos fechados se deliciando de mim é perfeita. Encontramos o ritmo pelos anos de intimidade, mas ainda com o mesmo afinco como se fizéssemos pela primeira vez. Em mais alguns minutos nessa deliciosa busca pelo prazer, g*zei na sua boca. Todo o peso do meu corpo ficou pressionado em meus joelhos até que um pouco de força voltasse para as minhas bambas pernas. Quando aconteceu, joguei o meu peso para o lado para não jogar o meu peso em cima dela.
Senti falta do seu calor na minha pele, então voltei para o seu lado, abracei o seu corpo e enfiei a minha cara no seu pescoço.
- Confessa que estava com saudade disso, Isa.
- Estava - sorri. - Estava com saudade de você em mim e de dessa sintonia que temos.
- Você acabou comigo, Isabel.
- Estamos ambas acabadas, Heleninha.
Há quanto tempo não a chamava de algum jeito carinhoso? Minha boca até ficou mais doce, senti-me amada novamente.
Ficamos um tempo apreciando as nossas peles se deliciando da presença uma da outra. Eu amo a nossa calmaria pós-sex*. Um sorriso não sai do meu rosto. Curiosa, levantei-me para ver se ela também está como eu, a resposta é sim.
Sem dizer nada, Helena beijou os meus lábios com carinho e levantou-se.
Olhei o seu corpo nu ir até o interruptor rebol*ndo, caminhar até o baú, pegar um edredom e voltar para a cama.
Deitou-se e nos cobriu.
Hoje eu vou dormir em seus braços.
Antes de fazer o mesmo que ela e fechar os olhos, refleti sobre a nossa conversa e o que acabou de acontecer.
Fazer amor com a Helena depois de tanto tempo foi diferente com um lado positivo.
A última vez que ela me tocou, antes da última briga, foi agonizante. Eu não sabia que seria a última, mas já imaginava que o nosso casamento estava no fim. Foi doloroso, meu corpo já a rejeitava, como aconteceu no trailer, e mesmo assim insisti no erro para ver se recuperava o que tínhamos.
Hoje eu pedi por ela. Meu corpo implorou por seus toques, boca, carinho, tapa, prazer. Eu consegui me desconectar das lembranças ruins e me entregar de corpo e alma.
Eu sou da Helena. Sempre serei.
Fugir é dar murro em ponta de faca, ainda mais depois do que aconteceu.
A minha única questão é: será que vou conseguir passar por cima de tudo e voltar?
A pequena me puxou para abraçá-la por trás e eu dissipei os meus pensamentos.
Vou dormir um pouco, acordar cedo e ir para casa pensar.
[...]
Despertei-me lentamente e relaxada como não estive no último ano. Resultado de uma noite de sono tranquila.
Abri os olhos e vi que a Helena dorme tranquila ao meu lado. Fiquei calma. Apesar de ter a sensação de que dormi demais, acho que conseguirei sair antes de ela despertar. Deixarei algo escrito e explicar que preciso pensar.
Levantei um pouco a cabeça para ver se o relógio de parede ainda fica no mesmo lugar.
- Gi?
A minha filha estava nos pés da cama e me encarava sorrindo. Em seus braços, um cachorro dorme. Ela mal consegue segurá-lo.
- Buenos días, mama - seu sorriso aumentou.
- Buenos días, hija.
Giovanna balançou de um lado para o outro e o bichinho abriu os olhos também me encarando.
A minha pequena cópia já tinha mencionado o nome do seu pet, mas não consigo me lembrar.
- Vocês se beijaram?
Um pouco mais que isso, pensei.
Não posso envolver a Giovanna em mais uma tempestade antes de conseguir conversar com a paulistana.
Quando pensei em negar, Helena se mexeu como se estivesse se espreguiçando. O edredom escorregou e revelou a sua nudez.
Gi abriu a boca surpresa.
- Por que a mamãe está nua?
- Calor, hija.
De maneira involuntária, Helena tateou o meu corpo e me expôs também.
- ¡Usted también, mama!
Puxei o edredom para cima nos cobrindo. A mulher virou para o lado e adormeceu de novo.
- Às vezes os adultos dormem nus, Gi - expliquei de maneira sucinta.
- Quando eu crescer, vou dormir sem roupa também?
- Talvez... mas apenas quando for muito adulta - segurei o riso.
O cachorro latiu e saltou dos braços da GIovanna. Andou pelas minhas pernas até chegar na dona e passou a lamber o seu rosto.
- Chico! Volta aqui - ouvi a Gi quase gritar.
Chico, é esse o nome que a Helena deu para a bola de pelos animada que se concentrava em acordar a dona.
Ter um cachorro foi mais um plano feito e adiado por nós duas. A desculpa era sempre a falta de tempo. No caso, a minha falta de tempo.
- Porr*, Chico... não - Helena resmungou e tentou afastá-lo.
Eu comecei a rir junto com a Giovanna quando Chico latiu e pulou pela cama toda.
A famosa atriz segurou o edredom em seu corpo e despertou de vez.
Linda, concluí ao observar a sua cara de sono e seu cabelo fora do lugar.
- Vem, Chiquinho - Gi bateu palmas e o cachorro pulou para o seu colo.
- Gi! Bom dia, princesa - Helena deu risada e sorriu para mim em seguida. - Bom dia, am... Isabel. Dormiu bem?
- Bom dia. Dormi muito bem, obrigada - correspondi o seu sorriso largo.
- Bom dia, mamãe - nos viramos para encarar a nossa filha. - Cadê o beijo? Eu quero ver beijo.
A dona de um perfume amadeirado chegou a curvar o seu corpo para cima de mim, mas eu desviei.
Helena me olhou confusa e eu apenas desviei a minha atenção para o dia lindo que faz lá fora.
- Gi, amor, nos espera lá na sala que daqui a pouco eu e a sua mamá descemos para preparar o seu café da manhã.
Giovanna obedeceu a mãe e saiu correndo do quarto.
- NO CORRAS POR LAS ESCALERAS, HIJA! ES PELIGROSO! - gritei.
A baixinha levantou-se da cama, foi até a porta e a trancou.
- Deveria ter hecho eso ontem, Helena. Assim evitaria a nossa filha nos pegar nuas na cama - falei em tom de brincadeira.
Achei que ganharia uma risada, mas seu rosto permaneceu sério.
Antes de voltar para a cama, andou até o closet e saiu de lá vestida em um robe. Em suas mãos, vi um roupão branco que ela estendeu para mim.
- Eu não sabia que a gente acabaria a noite na cama, nem pensei em trancar. Desculpa.
Vesti o roupão entregue, arqueei a sobrancelha para o seu lado, pois estranhei o seu pedido de desculpa de maneira tão séria. Ela sentou-se na cama, de frente para mim.
- Está tudo bem, Heleninha. Ela só perguntou o porquê de estarmos nuas e eu consegui contornar a situação.
- O que você disse para ela? - Perguntou desanimada, sem muito interesse.
- Que adultos, às vezes, dormem nus. Então ela perguntou se ela também irá dormir nua, eu respondi que provavelmente. No quiero que a Gi cresça e goste de ficar nua - fiz bico.
Consegui arrancar uma curta risada da apresentadora do Atuando.
Dúvida e receios em seus grandes olhos negros.
- Isabel, você se arrepende do que fizemos?
A insegurança em sua voz nada me recordava a sempre cheia de atitude Helena Carvalho.
- Claro que no, Helena. Achei que tivesse ficado bem claro o quanto eu gostei da nossa noite ontem mesmo. Se eu estivesse arrependida, no teria passado a noite aqui com você.
- Então, por que a recusa do beijo?
- Por causa da Giovanna. No quero que ela pense que estamos juntas de nuevo y que va a ser todo como antes.
- Mas eu achei que... - hesitou - Tudo bem, entendi. Certo... hum...
- Helena, nós precisamos conversar antes de tomar qualquer decisão. Eu no retiro nada do que disse ontem, nem me arrependo do que aconteceu nesta cama. Eu tive la noche más tranquila dos últimos tempos porque dormi com você nos meus braços. Solo no puedo llevarme unicamente pelas sensações. Há coisas para serem consideradas antes dos próximos passos - sorri na esperança de ser compreendida.
Seus olhos percorreram todos os cantos do quarto. Posso sentir as engrenagens do seu cérebro em uma batalha para racionar sem se deixar levar pela sua conhecida emoção. Por fim, levantou-se e engatinhou na minha direção. Depositou um beijo leve e capturou os meus olhos para si.
- Vamos tomar banho?
Eu achei que a baixinha preferiria conversar sobre a nova situação criada por nós. Contei com isso após perceber que eu não consegui acordar cedo e seguir o meu plano inicial.
- Vem, Isa.
Helena levantou-se da cama e me puxou pelo braço.
- Querida - soltei-me dela com delicadeza. - Eu, realmente, preciso muito de um bom banho, mas eu prefiro que seja sozinha.
Mais uma vez uma tensão foi criada. Ajeitando melhor o seu robe, a apresentadora deu-me as costas e seguiu para o seu banheiro.
- Como quiser, Isabel. Você sabe onde ficam os banheiros da casa, as toalhas e sempre tem algum shampoo nos armários.
Cobri o meu rosto com as mãos e me xinguei mentalmente. Não esperava uma interpretação tão errada para uma sugestão de conversa, porém tinha que fazê-lo. Na sua cabeça, voltaríamos a ser como antes. Só que nunca vai ser. Eu ainda não consigo imaginar a minha vida ao lado dela. Casar-me novamente com ela é uma decisão somente do meu coração. A minha razão não deixa.
Deitei-me no seu travesseiro e o cheirei. O perfume dela tem um efeito calmante sobre mim.
Ouvi o barulho do chuveiro e fiz um esforço para não ir atrás dela. Bufei irritada.
Com muito custo, levantei-me e sai do quarto. Deixei para trás o meu paraíso.
Posso ter acabado com tudo de vez ao recuar para pensar. Isso me deixa ainda mais confusa com a reação de quase fuga da Helena.
Por que ela não quer conversar? O que quer afinal?
[...]
Passei a mão pelo meu vestido na tentativa inútil de desamassá-lo. Depois de banhar-me, fui até o closet com a certeza de que deixei algumas peças de roupas ali. Mas, não encontrei nada, apenas as roupas da Helena e o meu lado vazio.
Não tive outra opção a não ser usar a mesma roupa de ontem.
A porta do quarto foi a aberta e uma Helena Carvalho vestida de maneira simples, apenas um short, camiseta de alça e chinelo, surgiu ainda com a expressão séria.
- Gi está te esperando para tomar o café da manhã.
Um convite? Uma trégua? Resolvi agir naturalmente.
- Sí, já estava descendo - tentei soar tranquila, mas meu coração está apertado em meu peito. - Eu tentei achar alguma roupa que tivesse esquecido aqui, mas não encontrei - comentei como quem puxa algum assunto.
- Doei todas tem algum tempo. Esperava o quê? - sua voz soou dura.
- No esperava nada, Helena - disse baixando a cabeça.
Voltamos à estaca zero. Toda a nossa conversa de ontem só serviu para nos levar para a cama. Caímos na armadilha dos nossos desejos mais profundos.
- Que droga, Isabel! Por que você simplesmente não me deu um beijo? Por que não aceitou o meu convite para tomar banho?
- Eu já te disse: não quero que a Giovanna crie fantasias.
- Acho que quem tem que parar de criar um pouco de fantasias é você! Se não houver entrega da sua parte para ao menos tentar retomar o nosso casamento, ficará impossível.
- No te prometi a retomada do casamento, Helena.
- Você não precisa dizer o que já está claro em seus olhos - começou a dizer e se aproximar ainda mais. - Eu não sou um objeto para ser usado e descartado. Quando eu disse que queria te amar, não estava me referindo apenas a fazer você goz*r. Se fosse só sex*, era só recusar. INFERNO!
- Escuchaste algo de lo que dije ayer? O nosso amor está aqui dentro, - apontei para o meu coração - mas não chega aqui - coloquei o meu dedo na minha cabeça. - Eu disse que estou confusa. Você também deve estar.
A essa altura, nós duas já perdemos o controle e começamos a aumentar o nosso tom de voz.
- Eu não tenho dúvida do meu amor por você. Te amo exatamente da mesma maneira que antes. Estou disposta a entender onde erramos para consertar.
- Me diz onde você errou, Helena! Você sabe! Para de fingir que está tudo esclarecido. Eu preciso muito mais do que ouvir um ‘eu te amo' da sua boca. Estoy preparada para escuchar todo.
- Eu não vou dizer o que você quer tanto escutar só porque quero voltar. Eu nem ao menos sei o que é, Isabel.
Revirei os olhos e até que caíram na Giovanna parada na porta.
- Gi! Qué estás haciendo ahí?
- Vocês estão brigando? - Perguntou confusa.
Helena passou por mim e foi na direção da nossa filha.
A minha pequena de belos olhos castanhos claros nunca presenciou nenhuma briga nossa. Nunca a tinha visto tão assustada.
- Claro que não, Gi. Eu e a Isabel só estamos conversando.
Giovanna que de boba não tem nada, não deixou que a mãe a pegasse no colo e olhou para mim.
- No estamos brigando, pequeña - confirmei para tranquilizá-la.
- Estão sim. Eu sei que estão. Vocês não vão se beijar mais? Não vamos tomar café juntas como eu pedi? A mamãe me prometeu.
O meu coração ficou pequeno e apertado ao escutar a voz infantil preocupar-se por algo tão complexo, talvez até incompreensível.
- Vamos descer, Giovanna - ordenou Helena.
Pegando o nosso maior tesouro pelo braço, vi as duas saírem do quarto.
Calcei a minha sandália rapidamente e fui atrás delas. Agora tenho uma preocupação dupla e pior ainda é ver o rosto triste da minha filha.
Do alto da escada, olhei para a sala. Tudo poderia ser diferente. Desejei despertar de um pesadelo e que ao descer essas escadas a nossa vida voltasse para o dia em que nos mudamos para cá.
Somente voltando no tempo eu e a Helena poderíamos fazer tudo diferente. Nada apaga.
Desci as escadas lentamente, captando cada detalhe do que um dia foi o meu lar.
Cheguei na cozinha e o cheiro de café passou pela minha narina. Helena corta um pedaço de bolo e a Giovanna espera com expectativa ser colocado no seu prato.
Fiquei parada, apenas observando a família que desejei. Quando nos separamos, minha filha não era tão independente, então revezávamos entre alimentá-la e tomar o nosso café da manhã. Perdemos a evolução dela juntas. Deixamos de comemorar as suas primeiras letras do alfabeto, chegar em casa e discutir como anda a sua escolinha.
- Entra, Isabel. A sua cadeira à espera.
Despertei de meus devaneios com a sua voz firme.
Assenti à atriz e ocupei o meu lugar na mesa.
- Gustó tu fiesta, hija?
Respirei aliviada quando vi brotar um sorriso no seu rosto infantil. Vai ficar tudo bem, pensei.
- Eu amei! Foi a melhor festa de todas. As minhas amigas falaram que eu parecia uma princesa e que a decoração estava linda. Gracias, mamá.
- Me alegra que te haya gustado, mi amor. Pero no me des las gracias, fue tu mamãe quien pensó en todo.
- Entonces... obrigada, mamãe - disse Giovanna à Helena.
Servi-me de uma xícara de café enquanto Gi contava as brincadeiras que fez com os seus amigos.
[...]
- Isa, você não precisa fazer o almoço só porque a Gi pediu. Eu converso com ela mais tarde.
Não olhei para a apresentadora, continuei separando os ingredientes na bancada.
- Está tudo bem, Helena. Gi está tão feliz de ter nós duas por perto, não vê? Não podemos estragar isso e voltar ao que éramos antes.
- Então, pelo menos, usa esse seu antigo chinelo. Está me dando agonia você com esse salto a manhã inteira.
Olhei surpresa para ela e vi que em suas mãos estava o que meus pés estão implorando.
- Gracias, Helena.
Rapidamente fiz a troca pelo chinelo. Lavei minhas mãos e voltei para a bancada.
- Massa Alfredo? - Helena perguntou sorrindo.
- Ainda é a sua massa favorita?
- Quando feita pela minha cozinheira predileta, sim.
Não sei se ela faz isso de propósito, mas mexeu comigo.
- Lembra como faz a massa, querids?
A mais velha abriu um sorriso e posicionou-se ao meu lado. Pegou os ovos e separou as gemas, misturou com a farinha. Decidiu ela mesma preparar a massa.
Eu fiquei a admirando misturar começar a dar liga. Orgulhosa, a vi amassando com força e maestria, como eu havia ensinado anos atrás.
- Está lembrando do dia em que te pedi em casamento? - Perguntou sem me olhar
- Você estava tan nervosa com a minha avaliação.
- Deve ser a mesma sensação que os competidores passam com suas caras e bocas quando estão sendo avaliados.
- Se você participasse em uma temporada, ganharia fácil.
- Até mesmo da Philipa?
Segurei o riso. Ciúmes.
- Com certeza. Ella es una boa atriz, mas no chega aos seus pés.
Helena até relaxou e parou de socar a massa.
- Se eu te perguntar uma coisa, vai me responder com sinceridade?
A menor entregou-me a massa em forma de bola e eu toquei para ver se estava boa.
- Perfeita - disse sobre a massa. - O que você quer saber, Helena?
- Você... você está gostando da portuguesa? Está esperando terminar o programa para dar uma chance a ela?
Arregalei os olhos para a sua pergunta. Não imaginei que seria tão direta.
- Claro que no, Helena. Eu no gosto romanticamente dela e nem de ninguém.
- Mas ela quer. Eu vi o beijo... a Philipa te beijou.
- ¿Cuándo?
Temi ser o dia que quase transei com a Philipa.
- Na quinta-feira. Fui até o seu camarim para conversar e acabei vendo toda a cena.
- Certo - ponderei o que responderia e decidi por ser sincera. - Philipa já demonstrou algum interesse, tentou alguma coisa. Mas no... Ela é uma menina, Helena. Está apenas encantada com a jurada do programa, depois passa.
- Não posso te cobrar nada, mas eu precisava saber - mordeu o lábio inferior. - Massa pronta, tem que deixar descansar um pouco. Podemos conversar enquanto esperamos?
- Claro, Helena.
- O que você quer, Isabel? Me enlouquecer? Quer se vingar por eu ter errado?
- No, cariño - o jeito carinhoso que a chamo escapou pelos meus lábios. - Eu quero um tempo para poder assimilar e arrumar as coisas dentro de mim. A minha vida ya estaba traçada, estava conseguindo te esquecer. Pelo menos, achei que tivesse. Enganei-me - confessei - . Por isso, eu preciso de um tempo. Você diz que quer consertar o nosso casamento, mas antes eu preciso me averiguar os danos, ponderar os prós e contras, recuperar-me. Se eu tiver que entrar em uma nova relação, vou me entregar inteira para você. Por agora não, desculpa.
- Então não tem nada a ver com você estar interessada em outra?
- No. No estoy interessada em ninguém. Se tivesse, no iria para cama com usted.
- Nunca duvidei do seu caráter, meu amor.
Helena colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. Me perdi no seu olhar.
- Enquanto você toma esse tempo, o que é um direito seu, como ficamos? Porque dependendo de quanto tempo vai durar, será difícil me manter afastada.
Não sei qual é a estratégia da Helena. Muito menos imaginei que a atitude dela seria a de demonstrar tranquilidade depois da pequena discussão que tivemos mais cedo. O seu esforço para me ter de volta é algo que não se encaixa com a mulher de quase dois atrás.
Será que, apesar de tudo, a paulistana realmente se arrepende e gosta de mim? Não sei por que me pergunto isso. Eu ainda a amo e estou cogitando a hipótese de voltar.
- O que você sugere? Prefere se afastar como antes? - Perguntei encarando bem em seus olhos.
- Nunca! Eu quero deixar as coisas rolarem vamos continuar conversando. Se pintar um clima a gente fica, sem culpa. Vamos aos poucos nos conquistando novamente.
- E se, no fim, a gente no conseguir voltar?
- Paciência - deu de ombros. - Somos duas adultas, Isa. Não podemos fingir que nada aconteceu e nos reservar com a promessa de que um dia você vai me dar uma chance. Nos privar de diálogos que podem ser necessários para a sua reflexão será burrice. Então, o melhor é deixar rolar.
Encostei-me na bancada e joguei o meu cabelo para o lado.
Sem cerimônia, Helena parou na minha frente e tomou a minha boca em um beijo quente.
Enquanto sou puxada pela minha nuca e tenho meu cabelo bagunçado, eu aperto sua cintura e desço a mão boba na sua bunda.
Sinto-me como uma adolescente dando um amasso com a primeira namorada. Helena tem esse efeito.
- Chico! Volta aqui...
Separamo-nos quando ouvimos a voz da Giovanna na sala. Não demorou muito para que o pequeno furacão entrasse correndo na cozinha.
- O que vocês estão fazendo? - Questionou olhando para a massa.
- Alfredo, hija. Sua mamãe que preparou a massa e eu vou finalizar.
Giovanna sorriu largo, sem se importar com a janela em sua boca.
- Posso ajudar? - Perguntou dando pulos empolgados.
- Pode sentar-se na cadeira para aprender a abrir uma massa com a gente - Helena respondeu.
Assim, eu e a Heleninha encaixamos o cilindro de massa na mesa. Juntas como sempre sonhamos, mostramos para a Gi como manusear o objeto e fizemos a mágica acontecer.
Giovanna teve pela primeira vez um dia em família de verdade. Nem ao menos eu e a sua outra mãe interagíamos tanto antes da separação. Agradeci pelo momento de ver os olhos brilhando da minha filha entre as conversas e os ensinamentos culinários.
[...]
Parei na porta de entrada da casa que um dia eu chamei de lar e admirei o céu estrelado.
- O nosso almoço e jantar de domingo foi um sucesso - Helena comentou.
Desviei os meus olhos para ela e concordei. Depois do almoço, ficamos o resto da tarde arrumando a horta que estava mal cuidada. Quando a noite caiu, tentei ir embora, mas acabei sendo convencida a fazer o jantar pelas duas que reclamaram de fome.
- Gracias por todo, Helena.
- Tem certeza de que não quer dormir aqui?
Inclinei a minha boca na tentativa de segurar um sorriso e recusei o convite.
- Tenho. Eu preciso ir para casa, tomar um banho, pensar... Amanhã nos vemos na gravação, tudo bem?
Helena apenas acenou positivamente.
Beijei os seus saborosos lábios antes de sair. Uma despedida silenciosa, mas cheia de significado. Um ‘até breve', sem a certeza do futuro.
Meu caminho até o carro foi leve. Pareço caminhar nas nuvens. Felicidade.
Destravei as portas do veículo e entrei jogando a minha bolsa no bando do passageiro.
Um toque de mensagem me fez procurar o meu celular dentro da bolsa. Quando o encontrei, desbloqueei a tela e cliquei na mensagem sem ver de quem era.
Elisa: Só vi agora que a Helena me enviou uma mensagem mais cedo dizendo que vocês dormiram juntas. Foi mais rápido até do que eu previ. Devo te parabenizar por perdoá-la? Tomara que consiga esquecer de tudo, embora nem você acredite nisso (22:01).
Joguei o celular de qualquer jeito no banco do carro e soquei o volante.
Fim do capítulo
Por hoje é isso :)
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 06/12/2020
Oi autora
As duas passando uma noite maravilhosa e um sua em família perfeita. Isabel não querendo atropelar o momento em nova chance só por causa da entrega na cama.
E essa Elisa ainda vai aprontar viu, não duvido.
Gi passou o dia muito feliz com as duas mamães juntas.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Oi, Mile!
Essa Elisa... talvez apronte mesmo.
Gi é muito fofa.
Beijos, inté.
EliandraFortes
Em: 05/12/2020
Estou juntando seus pedaços... tirando Elisa, Philipa, Gustavo e demais entraves, o que houve com este casamento?
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GabiVasco
Em: 04/12/2020
Eu consegui sentir daqui o quanto as duas se amam. A entrega da Isabel foi tão verdadeira, uma verdadeira luta entre razão e emoção!!! Eu vejo que a Helena também ama a Isabel e que é capaz de tudo para voltar, inclusive ocultar qualquer coisa que tenha feito, tipo traído mesmo.
Algo me diz que não vai prestar as duas na cama sem diálogo. Vai demorar muito para elas conversarem de verdade? Para saber se a Helena traiu ou não a Isabel?
Resposta do autor:
Depois dos dois capítulos que postei hoje, terão mais 3 e depois vem a revelação se traiu ou não :).
Abs.
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LeticiaFed
Em: 04/12/2020
Querida autora, finalmente comecei a ler seu conto e não consegui parar até chegar aqui. Apesar de estar com muita vontade de dar uns petelecos nessas duas, que são as rainhas da falta de diálogo, acho pior ainda o nivel das amigas (?) da Helena. Uma mais cobrinha do que a outra, eita. Não acredito que Helena tenha mandado essa mensagem pra Elisa...ou tem mais traíra na área ou ela descobriu de outra forma e está envenenando mais o relacionamento das duas. Xô!
Finalmente começaram a conversar e tentar se entender, mas Isa tem que contar logo sobre Elisa. Outros mistérios: porque Helena ocultou la pelas tantas ser casada com Isa/uma mulher? Preconceitos de colegas? E A tal camisinha? As saidas musteriosas? Acho que tem dedo de pseudo amiga nisso, será?
Enfim, parabéns pela história e confesso que acho mais especiais ainda quando tem esses flashbacks e, principalmente, pontos de vista das protagonistas e eventualmente de outros personagens. Não me incomoda em nada alguma repetição, a trama fica bem mais rica quando permite conhecer as verdades/sentimentos de cada um.
Bom final de semana! Bj!
Resposta do autor:
Oi, querida! Fico imensamente felizque esteja gostando :D.
Ah, a Helena mandou a mensagem sim :(.
Muuuuuuitos mistérios hahahaha. Vou responder o da pseudo amiga: não tem exatamente o dedo na sepração.
Obrigada de coração.
Beijos!
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alexaviana
Em: 03/12/2020
Menina...
As amizades de Helena... pelo amor.
Está me dando aflição essas conversas delas... não esclarem nada, fica nessas meias palavras. Conversa direito gente, custa nada.
Amo as sua histórias.
Resposta do autor:
Dá aflição mesmo, não é? Mas custa revelações que elas tem medo. As vezes tem coisas que são melhores nem sabe haha.
Obrigada :). Abs!
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Baiana
Em: 02/12/2020
Helena achando que uma noite de sexo resolveria tudo e elas restariam o casamento assim,de uma hora para outra,a Isabel está receosa,pois ainda não acredita que a Helena contou tudo,e está certa ao ir devagar,mas não adianta elas se permitirem com dúvidas pairando,a prova disso foi a msg da amiga da onça,e a Isabel já ficou mexida. Depois dessa conversa que tiveram, elas têm que manter isso em mente, dialogar antes de qualquer coisa, aproveitarem esse início de recomeço, principalmente a Isabel,que ainda tem perguntas não feitas,mas que com certeza,quer respostas.
Resposta do autor:
É, essas duas pisam em ovos o tempo inteiro. Quem sabe agora vai.
Abs.
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