Tudo se encaminha para o fim....espero que tenham curtido minhas meninas.
Falta pouco para o final, sinceramente não sei encher linguiça rsrsrs
bj grande
Capitulo 18 - Colando os cacos
No dia seguinte...
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A mesa na varanda já estava posta quando Isadora chegou dez minutos antes da hora marcada. Dentro da casa, Tereza brincava com Geni e seus filhotes, enquanto Dona Milena enfeitava o lugar com algumas flores, tinha preparado algumas de suas especialidades para o lanche da tarde, de um lado estavam os pães caseiros, e ao lado manteiga, requeijão, geleia de framboesa e queijos, do outro um bolo à Kiev de mel e chocolate, e por fim profiteroles e pudim de pão, para beber tinha suco de uva e café com leite.
- Boa tarde Dona Milena, nossa, isso tudo é para o nosso café?.
- Boa tarde Isadora, sente-se, daqui a pouco Tereza vem nos fazer companhia, ela está lá dentro brincando com Geni e seus filhotes...então, como vamos falar sobre a minha filha, fiz questão de preparar tudo o que ela mais gostava, Patrícia amava doces, na verdade ela gostava de quase tudo, sempre foi muito queridinha e gulosa.
Gulosa não mamãe, eu apenas me permitia comer algumas delícias, parecia saber que meus dias aqui seriam breves, e não me arrependo - disse o espírito de Patrícia como se estivesse participando da conversa.
- A mesa está tão linda Dona Milena, imagino como a senhora foi uma excelente mãe...
Ah, isso ela foi mesmo Isadora...
- Sente aqui, mais perto de mim, a história é tão longa, e será um prazer falar da minha filha com alguém que a admire. Bom, para começar, eu tive uma gravidez tão tranquila, não senti nada de ruim, parecia que o bebê era parte de mim, como um membro meu, nunca tive nenhum tipo de enjoo, essas coisas que muitas mulheres sentem, eu só tinha era muito desejo, queria o tempo todo comer doce, principalmente pudim de pão, eu comi tanto que nunca mais quis comer, mas, Patrícia amava, desde pequena, quando ela nasceu, era uma bebê carequinha e feliz, quase nunca chorava, só se estivesse com fome, as fraldinhas eu tinha que olhar de vez em quando, pois ela nunca avisava, também não era de estranhar, ia para o colo de todo mundo, dava até medo, quando foi crescendo percebi que era uma criança muito tranquila, onde íamos sorria e cumprimentava, parecia que já tinha nascido prontinha, com três meses, o primeiro dentinho já rasgou sua gengiva, engatinhou com cinco, e na idade que os seus gêmeos tem já estava andando, imagine aquele toquinho de gente, com oito meses andando segurando nas coisas?, com um ano já corria bem equilibrada, e já falava tudo, frases grandes e com sentido, se expressava muito bem, e aquele cisquinho cativava a todos, era uma guria muito especial a minha Patrícia.
- E na escola?.
- Matriculamos com três anos no maternalzinho, até chorei no dia que ela entrou na escola pela primeira vez, mas, Patrícia estava feliz, me deu tchau e disse "pode ir mamãe", e saiu animada, segurando na mão da tia professora, achei que ela ia chorar, mas, que nada!. Ela também adorava brincar de bonecas, dizia que era a médica delas, como era nossa única filha, comprávamos todos os lançamentos, dávamos tudo o que podíamos, ela gostava das bonequinhas dela, mas, não tinha apego, se alguém pedisse ela dava a boneca que tinha levado e voltava pra casa sem, eu brigava muito, eram bonecas caras, queria que ela tivesse uma coleção, até que um dia ela me levou até o seu quarto e pediu que eu separasse as bonecas que ela podia dar para algumas das amiguinhas pobres que estudavam em sua escola só porque tinham bolsas de estudo, eu fiquei morrendo de vergonha, juntas escolhemos algumas, ela sorriu e disse "nunca precisei de tantas", ela defendia com unhas e dentes esses amigas que eram discriminadas por sua condição financeira, tinha uma coleguinha, que agora me foge o nome, mas, infelizmente lembro o seu apelido, ela era chamada de dente de cavalo ou de dentinho, a menina era filha de uma empregada doméstica, e todos sabiam, a filha do patrão a odiava pois não queria que a filha da empregada estudasse em sua escola, bem, disseram que ela era fruto de uma aventura do patrão, mas, não se sabe ao certo. Patrícia gostava muito da menina, ela sempre ia em nossa casa, mas, conforme foi crescendo, sumiu, Patrícia disse que ela não se sentiu bem em continuar frequentando, e pelo que sei elas perderam o contato.
- E como foi a adolescência de Patrícia?.
- Bom, ela já dizia desde muito pequena que queria ser médica, e estudava para isso, já tinha até escolhido a especialidade, queria ser pediatra para cuidar de todas as crianças que precisassem dela. Nessa época ela passou a sair com um grupinho de amigos, a maior parte era de meninos mesmo, o mais próximo dela era Caíque, que infelizmente a AIDS tirou do nosso convívio anos depois, um garoto de ótimo coração, enfim, Patrícia sempre estava cercada de amigos, alguns dormiam em casa, tivemos dias felizes, eles eram alegre, viam filmes, tocavam violão e as vezes saiam para as matinês no Clube Português e a festinhas.
Não precisava ter mencionado as matinês, mamãe, me senti uma senhora com essa revelação. - Falou Patrícia enquanto ria.
Dona Milena parou um pouco, as lembranças a deixaram emocionada
- Bom, me desculpe, continuando...além desses amigos dos finais de semana, outros da escola vinham para estudar com ela, ou fazer trabalhos, uns pela companhia, outros queriam apenas se aproveitar da sua inteligência e ter nota garantida, mas, ela parecia não se importar, queria ajudar quem precisasse, ela gostava de formar grupo com os mais fracos, ou mesmo com aqueles que ninguém queria, e tratava todos muito bem, até tentava reintegra-los a sala de aula, um desses amigos, o Ricardinho, hoje é dono da ReCare, aquela marca de computador feito a partir de materiais recicláveis, conhece?.
- Sim...tenho um computador dessa marca.
- E sobre a religião, como Patrícia de tornou kardecista?.
- Eu e meu marido somos católicos, ele não prestava muita atenção, mas, sempre soube que Patrícia era diferente, certa vez, quando ela tinha uns cinco aninhos estava sentada no jardim, segurando um passarinho que tinha caído de uma árvore, eu vi que ele estava morto, cheguei pertinho e perguntei o que ela estava fazendo, ela abriu os olhos e disse que o seu amiguinho Radesh, que estava ao seu lado, explicou que o passarinho não estava morto, ele estava precisando era de energia, nunca esqueço Patrícia dizendo que não me preocupasse que ele já estava voltando, disse muito séria que o seu coração parou porque estava com muito frio e tinha caído do ninho, e que o calor da sua mão ia ajudar, Isadora, não é que o passarinho acordou?, ou sei lá que, deu um canto alto e voou, eu fiquei com medo, mas, fingi que nada tinha acontecido, principalmente porque não tinha menino nenhum ali. Quando entramos em casa perguntei quem tinha ensinado aquilo para ela, pra que fui perguntar?, ela disse que foi Radesh, um menino indiano que às vezes conversavam no jardim, além do nome da criança e a sua descrição, ela contou de qual região da Índia era, como tinha morrido e em que ano, enfim, nem precisa dizer que quase morri de tanto medo, não é?, mas, vi na carinha dela que tudo isso era tão normal, que me acalmei, reação diferente do Carlos, meu marido, ele soube de sua mediunidade durante um jantar de família, acredita que, Patrícia sem querer denunciou que meu cunhado traia a mulher com a secretária?, segundo ela, uma mulher ao lado dele estava dizendo, meu marido ficou louco, após aquele minutos de silêncio no jantar, disse que ver coisas não era de Deus, e levou a menina a um padre, eu não sei o que foi conversado, sei que ela nunca mais falou sobre isso com o pai. Na adolescência, Patrícia passou a ter sonhos que revelavam sempre algo do futuro, outras vezes pegava umas folhas em branco e escrevia uns textos, umas poesias, ás vezes eram desenhos, depois não lembrava de muita coisa, até que Dona Arlete, nossa vizinha percebeu que tudo era mediunidade, e pediu minha autorização para leva-la a frequentar o centro kardecista, eu deixei, ela precisava ser orientada. Nesse centro ela ajudou muita gente com as cartas psicografadas, só eu sei como é reconfortante receber uma carta dessa, dá um alívio para o coração da gente. E com dezessete anos passou em primeiro lugar no vestibular de Medicina, eu tinha, aliás, tenho muito orgulho dela.
- E como a senhora descobriu que ela namorava meninas?.
- Descobri da festa dos seus quinze anos, pra mim um sonho realizado, ver Patrícia linda, vestida de debutante. Sabe que até levei minha filha em uma nutricionista e fiz uma dieta séria com ela?, queria que Paty ficasse uma princesinha, ainda mais linda do que já era.
Nem me lembra disso, a sorte é que minha avó me buscava escondido e me levava para lancharmos, eu podia escolher o que quisesse e até repetir, ela dizia que era muita malvadeza da minha mãe. As lembranças também emocionavam Patrícia.
- Continue Dona Milena...
- Sei que o regime valeu a pena, tive um trabalhão de contar todas as calorias que ela comia, minha filha sempre foi meio gordinha, sabe?, mas, no dia da festa, estava uma miss, mais linda ainda do que já era, estava de chamar atenção, queria que ela ficasse uma princesa, e estava mesmo, muito linda, com um vestido que mais parecia uma noiva, todos elogiaram, e o fotógrafo registrava tudo, então, meu mundo cor de rosa caiu...na parte de trás da minha casa tinha um pequeno ático, onde o buffet contratado colocou os docinhos e os salgadinhos extras, que iam sendo recolocados o tempo todo nas mesas, percebi que em certa hora Patrícia havia sumido, estava quase na hora da valsa, e já imaginei que ela estaria no ático, comendo as guloseimas que proibi durante os meses, depois pensei que ela podia estar por lá beijando Felipe, nosso vizinho e príncipe da sua festa, que na época tinha dezesseis anos, e era cobiçada por todas as adolescentes da rua, o rapazinho era lindo, loirinho de lindos olhos azuis, parecia um príncipe mesmo, muito educado e inteligente. Ao dar uma volta, de longe o vi conversando com Natália, uma priminha de Patrícia por parte de pai. Quando cheguei ao ático, meu coração até tremeu, realmente ela estava lá, não comendo doces, mas, agarrada com uma coleguinha de sala, seu vestido estava até a cintura, bem, você deve imaginar a cena que presenciei...
- O que a senhora fez?.
- Nada, voltei para festa, tomei um whisky e dei um tempo, depois fui até o ático, fiz um barulho de propósito para avisar e elas saíram correndo com a boca cheia de brigadeiros e rindo, como se nada tivesse acontecido...
- Entendi, e vocês chegaram a conversar sobre isso?.
Eu não acredito, minha mãe viu a minha primeira vez, que vergonha, ela nunca me disse, Mahar, eu estou vermelha?, nem diga, devo estar, ai mãe, muito obrigada por não fazer escândalo e nem me recriminar, eu fui abençoada com a melhor mãe do mundo, se não tivesse morta, morreria agora mesmo... - Mahar riu, com a mão na frente da boca, como se pudessem escuta-lo.
- Sabe, dessa vez não disse nada, preferi respeitar sua privacidade, logo depois desse episódio a menina mudou com a família para São Paulo e atualmente é uma atriz bem conhecida. - Dona Milena se aproxima e diz o nome da atriz em seu ouvido - você deve com certeza ter ouvido falar dela.
- Claro, acompanhei algumas de suas novelas e fui a três peças de teatro, só para vê-la, uma grande atriz e muito linda.
- Só conversei com Patrícia sobre o assunto quando ela entrou na faculdade, lá ela arrumou sua primeira namorada, uma professora chamada Valentina Bastos, a mulher era de uma beleza que chamava atenção, os cabelos negros e muito lisos, contrastavam com a pele branca e os olhos cinzas, ela era exuberante, linda, elegante, e Patrícia com aquele all star surradinho dela, camiseta e calça jeans, era um contraste tão grande, mas, parecia que se afinavam, minha filha se apaixonou perdidamente, elas já na namoravam há dois anos, quando essa professora foi embora para Paris fazer um pós-doc., viajou sem avisar nada, nem precisa dizer que Patrícia ficou arrasada por meses, só fazia estudar e logo arrumou um emprego, em uma ONG que cuidava de animais abandonados, assim, ela foi melhorando. Um ano depois, a tal professora voltou, e foi na minha casa visitar a Paty, estava acompanhada de uma mulher, infelizmente tão bonita quanto ela e da mesma faixa etária, apresentou a parisiense que mal falava português, acho que se chamava Marie, era concertista, tocava flauta transversal em uma orquestra, minha filha foi educada, mas, por dentro eu sentia que o seu coração sangrava, depois que a professora foi embora com a mulher, vi Patrícia rasgar todas as fotos que tinham juntas e as poesias que fazia para ela, quando percebeu que estava olhando, ela sorriu tristemente e disse "mãe, está na hora de seguir em frente". No final da faculdade ela conheceu a Laura, essa sim, foi seu grande amor, prefere que eu pule essa parte?, sei que namoraram e como terminou...
- De forma alguma Dona Milena, hoje eu e Laura somos boas amigas, o resto é passado...eu também segui minha vida, conheci Jade e temos um relacionamento do jeito que sempre sonhamos, nossos gêmeos era o que faltava na nossa família feliz.
- Que bom Isadora, pois bem, Laura foi de fato a primeira namorada oficial, ela vinha a todas as festas da nossa família, e estávamos presentes em suas festas também, vou ser bem sincera, para mim era um grande sacrifício, fazia pelas duas, pois conheço Amália desde adolescente, sempre teve esse nariz em pé e esse caráter duvidoso, todas as vezes que íamos a sua casa, o início de assunto era o mesmo, sempre fazia questão de falar de sua origem nobre, mostrava os brasões da família Lefrève, falava em francês com os filhos o tempo todo, e Laura educadamente respondia em português para não deixar ninguém constrangido, ah, sempre mencionava que em sua casa todos falavam vários idiomas, Luigi, o menos esforçado, falava apenas dois, além disso acho que ela pesquisava e sempre tinha um prato exótico como principal, geralmente era algo que nunca tínhamos ouvido falar e nem sabíamos como comer, ela ria e explicava tudo, principalmente a experiência de comer o prato no país de origem, seria interessante entender outras culturas, se ela não fizesse isso igual um pavão. Os últimos pratos que lembro, comi no aniversário de Ernesto foi um Fois gras d'oie, que nada mais é que fígado de ganso e Tête de veau, prato a base de carnes encontradas na cabeça do bezerro, assim como, pele e carne da cabeça. O que isso tem de chique?, eu achei nojento. Apesar do pedantismo, ela fingia muito bem, tratava Patrícia de uma maneira bem formal, mas, era educada, nunca pensei que ela estava tramando separar as duas de maneira tão cruel, o que infelizmente resultou na morte da minha filha amada. Elas eram tão felizes, sempre foram, dava tanto gosto de se ver, se afinavam em tudo, e tinham montado o apartamento tão bonitinho, de cores suaves, a cara das duas, nunca as vi brigar, sempre que estavam juntas sorriam o tempo todo...
- Dona Milena, e como foi no dia da morte de Patrícia?.
- Fazia uns três dias que não nos falávamos direito, ela estava cheia de plantões, mal parava em casa, quando pedia que diminuísse a sua rotina de trabalho, ela falava que por enquanto ainda não dava, mas, em breve diminuiria, por ora precisava de dinheiro para fazer umas coisas, depois eu soube que ela estava juntando dinheiro para aumentar o abrigo para jovens LGBT'S expulsos de casa, ideia que Laura e muitos amigos seguiram adiante, fiquei muito emocionada na reinauguração, quando a ONG foi rebatizada com o nome da minha filha "Dra. Patrícia Diná Toledo de Sá Montese"...
- Essa ONG faz um trabalho excelente, além de abrigo vários profissionais de diferentes profissões prestam serviço, lindo de se ver, mas, voltando, como a senhora soube como tudo se desenrolou?.
- Muitos anos depois da morte da minha filha, você deve saber que Laura descobriu tudo o que aconteceu e fez questão de vir me contar tudo. Amália e sua amiga, amante, como queira, Chiara, contrataram uma moça ambiciosa, que não me recordo o nome agora, bom, ela quem fez o trabalho sujo de armar para que Patrícia pensasse que ela estava tendo um caso com Laura, mas, minha filha sempre foi sensitiva, tenho certeza que desconfiou de tudo, e tivemos a certeza quando Patrícia escreveu uma carta psicografada, fazia anos que ela não escrevia nada, ficamos surpresos, nessa carta, ela pedia que Laura não se sentisse culpada, que tirasse esse peso do coração, pois ela soube na mesma hora que a cena não era real, e que na verdade, sua morte não teve nenhuma relação com isso, era apenas sua hora, enfim, foi um alívio para todos nós, até Carlos, meu marido, percebeu que a carta era de Patrícia, tinham informações que nenhuma outra pessoa podia saber, até sua assinatura era igualzinha.
Sentada ao lado da mãe, Patrícia assoviou e um passarinho pousou em sua mão, assoviando novamente pousou na mão de Dona Milena, que sorriu e agradeceu. - Obrigada minha filha. - Esse é o nosso sinal, símbolo que nos une, os laços de amor são eternos, e o passarinho sempre é sua forma de dizer que continuamos juntas.
Um terno abraço selou a amizade de Isadora e Dona Milena, a entrevista havia terminado, mas, aquele laço continuaria.
Curitiba, 15 de julho de 2018
Os advogados de Laura conseguiram transferir Amália com relativa facilidade, e na mesma semana ela saiu do Hospital Psiquiátrico do Judiciário a uma clínica particular, além de não representar nenhum perigo para sociedade, o estado avançado de demência permitia isto, muitas vezes Amália apresentava um quadro de confusão mental, em outras era preciso que alguém lembrasse quem era, nestes dias, não recordava muita coisa, às vezes assumia uma outra personalidade, ninguém entendia e nem desconfiava que na verdade confundia a vida atual com outras encarnações, mas, quando estava lúcida mantinha a mesma postura altiva e esnobe.
Era um domingo frio, o sol tímido não esquentava muito a manhã curitibana depois de uma noite de muita chuva. Laura e Melissa acordaram cedo, mas, com muita vontade de continuar na cama, depois de um delicado beijo, levantaram preguiçosas, tomaram um longo banho quente juntas, permitindo pouco contato, se abraçavam e se beijavam discretamente, evitando assim, a vontade de voltar para cama. Após um rápido café da manhã, começavam a arrumar uma delicada cesta de vime, levando tudo o que Amália mais gostava de comer.
O caminho até o "Solar das Amapolas", a clínica onde Amália estava internada foi rápido, antes de encontrar a mãe, Laura resolveu passar com Melissa na sala da psiquiatra para saber como estava o seu quadro clínico.
Dra. Elis estava cansada, completamente derrotada pela ressaca, os cabelos loiros estavam presos displicentemente em um rabo de cavalo e grandes olheiras marcavam os olhos verdes que refletiam o que acontecera na noite anterior, aos poucos ia lembrando das cenas vividas desde o seu despertar, levantara da cama preguiçosamente atrasada, tentando acordar uma moça que dormia de bruços, completamente nua, da sua boca aberta descia muita saliva, e para piorar o quadro, ainda roncava igual um urso velho. Elis parou uns segundos olhando a moça com aflição, tanto pela ressaca moral, quanto pela a cena que estava observando, e só esqueceu a questão da saliva e do ronco ao se deparar com suas curvas generosas e os traços delicados, tentou lembrar o seu nome, mas, parecia que o tempo todo fugia, Sara?, Samara? Samira?, na dúvida resolveu chamar de um jeito carinhoso "gata, gata?, acorda querida". A mulher reluzia, sua pele negra parecia brilhar, depois percebeu que era da purpurina jogada na festa da boate, lembrou de relance os fatos, tinha bebido muito para esquecer a recente separação, as doses haviam se multiplicado em sua frente quando viu seu amigo Felipe chegar acompanhado da belíssima negra de grandes cabelos encaracolados, não foi preciso mais do que uma dose para leva-la até os seus lençóis. Quando conseguiu acordar a moça, ela sorriu e espreguiçou, lembrou de cada detalhe da noite com Elis, e revirou os olhos de desejo, pedindo baixinho que a médica voltasse para a cama, mas, a única coisa que conseguiu foi um rápido banho compartilhado, e uma carona até sua casa.
Elis estava perdida em suas lembranças quando escuta o seu nome mais uma vez, dessa vez seguida a uma pergunta.
- Dra. Elis, tudo bem?, desculpe incomodar, gostaria de saber notícias da minha mãe...
A água com gás estava ajudando Elis a voltar à Terra, a médica após um grande gole, olhou Laura por um minuto, achando-a muito mais bonita do que da última vez que se encontraram no corredor, e para não continuar admirando a filha da paciente, puxou o ar para os pulmões e tentou juntar as forças para falar.
- Bom dia Laura, eu gostaria muito de dar uma boa notícia, mas, infelizmente sua mãe não apresenta nenhum tipo de melhora, parece que ela se encontra no limiar entre o presente, o passado e a fantasia, sinto como se estivesse em um limbo, entende?. Ontem ela acordou dizendo que o seu nome era Mèline de Montserrat, uma dançarina francesa do Folies Bergère, algo assim, hoje ela lembra exatamente quem é, sabe que está aqui por conta do assassinato da atriz Verônica Castro.
- Entendo, obrigada mesmo Dra. Elis...
- Bom, tem mais uma peculiaridade...é meio constrangedor dizer, mas, ela tentou me seduzir por três vezes - Falou a médica diminuindo o volume de sua voz e piscando para Laura que manteve a mesma postura séria.
A atendente da médica, tenta desviar o assunto da conversa, percebendo que existia um pouco de malícia na colocação de Dra. Elis, e para evitar um mal estar maior, devido à presença de Melissa, tenta emendar um assunto no outro.
- Sabe, apesar de tudo, sua mãe continua com a mesma elegância sempre vi nas colunas sociais e nas revistas da Sociedade Curitibana, às vezes ela dá um pouco de trabalho para comer, pede uns pratos bem exóticos, que ninguém nunca ouviu falar, mas, creio que ela já aprendeu a apreciar o gosto de um simples strogonoff de frango...
- Obrigada, ouvi tudo o que precisava, tenham todos um bom dia...
Após despedir-se, Laura sai de mãos dadas com Melissa, evitando demonstrar o quanto essa conversa lhe deixou tão contrariada, por tudo o que ouviu sobre a sua mãe e principalmente pela ousadia da médica. Quando partiram a atendente fechou a porta e entre os dentes falou.
- Dra. Elis, a senhora nem para disfarçar, estava quase babando na mulher...
- Ai Duda, você reparou que mulher, nossa, ela é muito linda e charmosa, que corpão, não?!. - Falou a médica mordendo o lábio inferior.
- Já disse que não curto mulher, sou muito feliz com meu neguinho...e não sei se reparou que ela estava com a mulher dela.
- Eu também estava com a minha até dia desses e não estou mais.
Da porta do quarto em um volume baixo, mas, audível se ouvia Edith Piaf cantando "La vie em rose", enquanto Amália conversava com a enfermeira.
- Vamos Françoise, termine de arrumar meus cabelos, minha filha está chegando com a esposa e quero que elas me vejam bem.
- Dona Amália, sou Renata, sua enfermeira e não sua cabelereira, lembra?.
- Ora querida Françoise, essa sua mania de sonhar que é enfermeira, mas, sonhe, sonhar faz muito bem, só que não adianta sonhar e não realizar, estude, mas, no momento seja a melhor cabelereira que pode ser.
- Mas, mas, eu....
- Não discuta, eu sei que tem potencial, agora querida, termine de arrumar meu cabelo, e olha, Françoise é um nome bem mais bonito do que esse pseudônimo Renata, use o seu nome Françoise, mania que esses jovens tem de inventar moda.
As batidas na porta indicara a Amália que as suas visitas haviam chegado, Laura abriu uma fresta, sendo recebida pela mãe.
- Oi minha filha, pode entrar, que prazer, vejo que trouxe Patrícia contigo, sejam bem vindas gurias, sentem-se naquele sofá, sei que esse hotel precisa melhorar muito para ser chamado de bom, mas, é o que consigo pagar.
- Mãe, essa é a Mel...
Não terminou a frase e viu o piscar da enfermeira, que aproveitou para interagir.
- Laura, sua mãe estava muito ansiosa, antes de você chegar pensou em tudo e até quis fazer um penteado novo...
Amália sorriu e complementou.
- Então chérie, pedi a Françoise que me arrumasse bem bonita, queria recebe-las como merecem, ah, você acredita que ela tem um hábito estranho de querer ser chamada de Renata e também diz que é enfermeira, não é engraçado?. Eu disse que ela lutasse pôr o seu sonho e estudasse, estou certa, não é filha?.
- Está mãe...
A enorme cesta de vime foi sendo esvaziada em cima da mesa por Melissa, enquanto Amália lia o nome dos patês e doces franceses aportuguesando tudo, Laura olha assustada para mãe, se aproxima e fala o mais básico do francês.
- Maman, je peux poser une question?...je voudrais vous presénter Melissa.
- O que minha filha?, me desculpe, mas, não entendi nada do que falou.
- Perguntei em francês se poderia te fazer uma pergunta e te apresentei a Melissa, minha namorada.
- Ah, Melissa, é sua nova namorada minha filha?. Eu gostava de Isadora, sabia?, uma ótima menina, dona da Leoni Decorações, mas, tenho certeza que gostarei de Melissa também, venham queridas, vamos guardar as coisas e tomar o café. Renata, sente-se querida, não sei se já conhece minha filha Laura, Laura essa moça dedicada é minha enfermeira Renata, Renata, chérie, coloque novamente o cd de Piaf.
- Qual música quer ouvir primeiro?.
- Le foule.
Amália fala em francês perfeito e passa a cantar junto com a música "je revois la ville em fête em délire..."
- Maman, você lembrou...
- Ma chérie, você sabe muito bem que falo francês, alemão, italiano e inglês tão bem quanto o português. Laura, continua avoadinha como sempre.
Um constrangedor e triste silêncio se fez presente, após o lanche, Laura pede para ir embora, não conseguia presenciar sua mãe confundindo tudo. De mãos dadas a Melissa, Laura segue em direção ao carro em silêncio, as lágrimas desciam insistentes embaçando os óculos escuros, a namorada seguia ao seu lado, calada, mas, tentando transmitir todo seu amor em um suave carinho em sua mão.
- Jade, será que esse é o fim da minha mãe?, ninguém merece esse final tão triste, sei que ela errou muito em sua vida inteira e com muita gente, mas, ninguém merece ficar assim amor, sem lembrar de nada direito, confundindo tudo, o pior que não tem nada que possa ser feito.
- Amor, não podemos fazer nada além de rezar , espero que ela possa lembrar de tudo, organizar a sua mente e tentar repensar as suas atitudes. E o seu pai, deu notícias?.
- Sim, está em Madri, acredita que reencontrou uma antiga namorada de adolescência?, a Margot, atualmente ela está viúva, e viajou para Europa sozinha, querendo arejar depois da morte de um marido opressor, sei que eles se reencontraram em um café, e estão curtindo, eu achei uma linda história...
- Laurinha, a vida só vale a pena com a presença do amor, da chama gêmea, da pessoa que faz com que os nossos olhos brilhem, nada acontece por acaso, sei que pode parecer muito brega, mas, sempre é hora de recomeçar.
- Você tem toda razão meu amor...
Fim do capítulo
para quem perguntou se o seu Ernesto se arranjou rssrsrs
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Rain
Em: 16/12/2020
Bom dia!
Comentadora oficial!? Dessa eu não sabia. Rsrsrs ... Adorei saber disso!
Sim! A gente sente falta! Principalmente, quando criamos um vínculo através da escrita com os autores. Acaba virando amigos sem se conhecer. Rsrs
E me conhecer é algo bem difícil, quase impossível. Porque sou muito anti-social e tenho muito dificuldade em fazer amigos e de confiar nas pessoas. E também, porque moro no interior, do interior, do interior da Bahia... Ai já se viu, né. Rsrsrsrs
No Lettera mesmo, não conheço ninguém. Estou aqui á dois anos, mas somente no meio desse ano foi que senti vontade de comentar. Antes não tinha interesse... Não sabia que era tão legal assim. Além de ser inportante para o autor, é muito bom falar o acho do capítulo. Normalmente, eu falava comigo mesma... É divertido e estranho. Rsrs.
Resposta do autor:
Oie Rain,
Sim, você e Gabi que sempre comentavam meus textos e sempre adorei, tem outras meninas ocasionais e outras novatas. ai eu a gente sente falta e estranha, é bem legal interação com os leitores, a gente vai observando o que é melhor, o que pode ser melhor essas coisas.
bom, eu sou comunidativa, falo pelos cotovelos, e tenho amigos queridos, sei que hoje em dia tem muita gente fdp...pronto falei rsrsrs mas, tem muita gente legal. É da Bahia, amiga, me mande uns acarajés...amoooooo...pra mim é muto importante eu fico feliz e comemoro cada coisa que me escrevem...
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Rain
Em: 15/12/2020
Olá! Você tinha perguntado por mim aqui... Desculpa, eu não entrei no Lettera esse último mês todo e não vi.
Eu já gostava da Patricia e depois de saber a história dela, passei a gostar mais ainda.
Adorei dona Milena também e super concordo com ela. O que te de chique comer o fígado do ganso e as partes de cabeça de bezerro? Que nojo! A gente já matam animais de mais na minha opinião. É por isso que estou pensando em virar vegetariana... Mas, é tão difícil!
E eu acho que essa "gata" que a Dr dormiu aí, fez a realidade de todos. Que é que acorda bonita!? O ronco é por pessoa, mas a baba vem do cansaço e exaustão que foi o caso da "gata" da doutora aí.
Que Doutora safada, viu! Que falta de moral, só porque o casamento dela não deu certa, ela pode sair dando em cima da mulher dos outros. Que coisa!
É Amélia colheu o que plantou... Achei pouco, mas...
Eu acho incrível tudo isso! Tipo, eu amo quando os vilões se dão mal ou tem um final espetacular. Porém, quando descobrimos a história por trás da maldades deles, faz a gente repensar naquilo e nos nossos próprios atos. É um ótima lição para vida! Por mais que não justifique os atos.
Entretanto, nem todos os vilões tem histórias por trás, alguns são maus mesmo porque querem. No caso a Pierro de "caminhos..." Nunca me esqueci daquela lá. Éra a maldade em pessoa.
Tachu, autora!
Resposta do autor:
Sim, você e Gabi são as minhas comentadoras oficiais rsrsrs a gente sente falta não é? é que Gabi tenho notícias pq a conheço fora do Lettera.
A Dona Milena é aquela sogra sincerona, realmente não tem nada de glamour no que comeram, por mim também não comeria carne, mas, adoro um churrasco, triste, mas, real...rsrsrs
A médica é safada demais, né?, estou virando uma especialista em personagem assim....Quanto aos vilões uns tem exlicação, outros não, né?.
Bom dia Rain...
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Andreia
Em: 13/12/2020
Amália ta colheindo o que plantou em toda sua longa vida na terra achou que nada a atingiria que era maior que Deus só que ela esqueceu um pequeno detalhe a lei do retorno se planta mal a vida toda colhe o mal se planta bem colhe bem, ela achou que dinheiro era tudo em sua vida.
Quem sofre são os familiares no caso Laura que está cuidando dela ou melhor dando ajuda.
Foi lindo o jeito que Patricia se mostra mãe dela e amor incondicional de mãe para sua filha.
Bjs.
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brinamiranda Autora da história
Em: 27/11/2020
Ah, o Ernesto depois de muito sofrer nas mãos da Amália mereceu encontrar um grande amor, confesso que não lembrava desse detalhe...
Rain, kd vc mulher?
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florakferraro
Em: 25/11/2020
E a mãe da Paty é tão legal, adorei ela, sabia?.
Resposta do autor:
OI Flora, também gostei dela, queria alguém suave que transmitisse a mesma leveza que a Patrícia, foi uma excelente participação.
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florakferraro
Em: 25/11/2020
Ah, e o Ernesto reencontrou alguém, que dahora, espero que ele seja feliz depois de sofrer com essa traidora da Amália.
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