Assim que cheguei ao meu quarto, notei que Pedro estava sentado na cama lendo um livro.

Quando me viu, fechou o mesmo e sorriu.

- Oi amor, demorou. - eu estava branca, ainda em choque pelo que tinha acabado de fazer

- Está tudo bem? - perguntou preocupado.

Não, não estava nada bem. Mas eu não podia dizer isso.

- Está sim. Vou tomar um banho, estou com muito calor.

Ele sorriu, enquanto eu corri desesperadamente pro banheiro.

Eu tinha vontade de esfregar minha carne até sangrar e arrancar de mim qualquer indício de que um dia outra pessoa que não meu marido houvesse me tocado. Mas uma outra parte minha tinha vontade de deixar o perfume marcante daquela mulher impregnado em mim.

Meu banho foi demorado e quando finalmente saí, encontrei meu marido dormindo. Só Deus sabe o quanto eu estava arrependida por ter sido infiel, de ter traído o homem que tanto amo.

Naquela noite, dormir foi quase impossível. Eu praticamente vi o dia nascer sem nem pregar os olhos. Acabei adormecendo apenas quando o a luz do dia já estava presente.

Ouvi vozes vindo lá de fora e senti beijos em minhas costas. Eu sabia que era Pedro. Ele
sempre me acordava assim.

- Acorda bela adormecida - eu estava tão arrependida, que mal conseguia o encarar.

- Estou cansada - respondi ainda de olhos fechados.

- Quer dormir mais? Só te chamei por que sei que você gosta de recepcionar os convidados e acho que todos já estam acordados.

Me virei pra ele e quando vi aqueles enormes olhos azuis me encarando, senti uma faca
atravessando meu peito.

- Tudo bem, já vou descer.

Algum tempo depois, resolvi levantar da cama e recepcionar meus convidados. Graças a Deus nunca mais olharia pra cara daquela mulherzinha atrevida.

Quando cheguei a área de lazer do rancho, encontrei todo mundo comendo e bebendo. Em uma mesa estavam Vanessa e Rosana e ao seu lado Pedro e ela, Verônica.

Juro que quase desmaiei ali mesmo. Tanto que tive que me apoiar na parede ao meu lado.

Uma irmã da igreja se aproximou e perguntou se estava tudo bem.

- Está sim irmã Rosa. Acho que foi só uma queda de pressão.

Ela chamou Pedro que logo veio ao meu socorro. Quando eu a olhei, notei que me encarava séria. O mesmo olhar penetrante de sempre. Algumas pessoas vieram ver como eu estava me sentindo e eu usei a mesma desculpa.

- Foi só uma queda de pressão, deve ter sido pelo calor.

Quando todos já estavam convencidos de que eu estava realmente bem, decidi novamente expulsar aquela mulher dali. Estava só esperando o momento certo pra agir. Percebi quando ela se levantou e caminhou até o banheiro, fui atrás dela e antes que ela pudesse fechar a porta eu a empurrei e adentrei o mesmo. Tranquei a porta e cruzei meu braços de frente pra
ela.

- Nossa, isso tudo é saudade? - sorriu.

- Eu disse que te queria fora daqui. Por que ainda não foi embora ?

- Ah, aqui está tão gostoso. Não quis ir, espero que não se importe.

- Eu me importo sim. Vá embora agora!

- Não.

- Não? Como ousa?

- Não sei por que tanta raiva Liz.

-Eu mal te conheço, não sei por que se achou no direito de entrar na minha vida, na minha
festa e estragar tudo. Eu mal consigo olhar pro Pedro agora. Tem noção do que fez?

- Caso você não se lembre - ela se aproximou - Eu não fiz nada sozinha.

Fiquei vermelha de raiva, raiva de mim porque eu sabia que ela estava certa.

- Não te forçei a nada - completou.

- Vai embora, por favor! - apoiei as mãos no balcão da pia e abaixei a cabeça.

Estava desesperada.

- Não vou Liz. Mas te prometo que não farei nada que você não queira.

Esse era o problema. Essa maluca não havia percebido que eu queria tudo dela? Queria sentir seu cheiro, seu beijo, seus toques. Eu só não queria e não iria admitir.

- Para de me torturar Verônica. Para, por favor.

- Eu vou ficar bem longe de você, fica tranquila.

Ela se aproximou de mim e passou um de seus braços por cima do meu corpo. Achei que ela iria me agarrar, mas não, ela só destrancou a porta.

- Agora se me der licença, preciso mesmo fazer xixi.

Envergonhada, saí dali bufando de raiva.

Durante toda a tarde me mantive silenciosa. Sorria forçado o tempo todo e estava
praticamente em piloto automático. Dessa vez quem a encarava o tempo todo era eu. Nãoconseguia evitar. E pro meu desgosto, tanto Pedro, quanto as meninas haviam amado Verônica.

Não podia negar que ela sabia ser bem simpática e era muito carismática. Rapidamente havia ganhado a todos ali.

- Liz, posso falar com você? - Vanessa me chamava sorrindo de canto.

- Claro.

- Podemos dar uma volta no jardim?

Pediu.

- Ótima ideia.

Então ela começou:

- Aconteceu alguma coisa?

- Não, por que?

- Porque eu te conheço tem anos e sei que você não está nada bem. Problemas no paraíso?

- Não, eu e o Pedro estamos muito bem.

- Então o que houve? É alguma coisa com a tal Verônica amiga da Rô?

- Ela te falou alguma coisa?

- Não, mas te vi a encarando várias vezes. Tá na cara que você não gostou muito dela.

- É, não mesmo.

- Pedro é louco por você. Nunca te trairia com ela, fica tranquila.

Sorri triste. Se ela soubesse o que realmente estava acontecendo. Se ela soubesse quem estava traindo quem...

- Eu sei, não estou com ciúmes dele.

- Ei, olha pra mim - ela segurou minhas mãos - Somos amigas, você é a irmã que a vida me deu. Sabe que pode contar tudo pra mim e que independe do que seja, eu sempre estarei do seu lado.

- Ah Vanessa... - suspirei ainda confusa sobre o que fazer.

- Fala, talvez eu posa te ajudar.

- Duvido muito. - passei as mãos no rosto, me segurando pra não chorar - Fiz uma coisa horrível ontem.

- O quê?

- Eu traí o Pedro!

- Você o quê?

- Fala baixo pelo amor de Deus - olhei para os lados e a arrastei para de trás de uma árvore.

- Como assim? Com quem? Pensei que esse irmãos da sua igreja fossem corretos. Nunca
imaginei que fossem capaz de...

- Não, não foi com ninguém da igreja.

- Não? Então com quem foi?

Fiquei em silêncio. Cruzei os braços e olhei pros lados. Como eu iria dizer aquilo?

- Ah não - ela colocou a mão na boca e começou a rir - Ah não. - gargalhou novamente.

- Para - falei, já sabendo que ela iria pegar no meu pé pro resto da vida por isso.

- Não vai me dizer que pegou a Verônica?

Olhei pra ela séria, que não se aguentou e caiu na risada novamente. Ela ria tanto, que tive vontade de socá-la na cara mil vezes se possível.

- Quando acabar a sessão de comédia me avisa pro favor - me virei pra ir embora, mas ela me chamou.

- Desculpa Liz, desculpa. É que eu fiquei muito surpresa. Não sabia que era bi.

- Eu não bi. Sou hétero, gosto de homem, mas precisamente do meu homem. Eu amo o Pedro.

- Mas então o que houve? Ela te forçou?

- Não.

- Então você estava bêbada? Liz você sabe que é fraca pra bebida e q...

- Não Vanessa. Você não está entendendo a gravidade da situação. Eu estava sóbria e fiz porque quis.

- Meu Deus.

- É, meu Deus.

Por isso você tá encarando ela.

- Mandei ela embora, mas a filha da mãe disse que não vai.

- E agora?

- Não sei o que fazer.

- Me diz uma coisa

- O que?

- Foi bom?

- Tá de sacangaem comigo Vanessa? Eu aqui desesperada e você querendo saber se foi bom?

- Desculpa, é que eu nunca te imaginei com uma mulher antes e queria saber como é a
sensação.

Fiquei muda.

- Fala vai. Prometo não perguntar outra vez. - fez beicinho me fazendo revirar os olhos.

- O pior é que foi bom, foi ótimo, maravilhoso. Aquela mulher deve ser uma macumbeira pra ter me deixado tão louca por ela assim, só pode.

- Uau, então tá afim de repetir a dose?

- Eu não disse isso.

- Você disse que está louca nela.

- Eu... ah Vanessa, me erra - saí dali batendo o pé com Vanessa atrás de mim, fingindo que nada demais havia acontecido. Quando chegamos na área de laser, notei Verônica nos encarando, mas não disse nada. Como havia prometido, ela se manteve bem afastada de mim o restante do dia.    

Fim do capítulo