Capitulo 5
A Última Rosa -- Capítulo 5
O avião foi parando devagar, Michelle olhou pela janelinha, sorrindo. Estava finalmente bem longe de sua cidade. Quem sabe naquele lugar conseguisse voltar a ter paz.
Valquiria sentada ao seu lado olhava para ela com os olhos brilhando de felicidade. Desde que havia se formado em gastronomia, era o seu primeiro trabalho fixo. Geralmente fazia bicos em restaurante ou, trabalhava em festas de casamento, formaturas e aniversários. Aceitava qualquer coisa que aparecesse. Foi bom para o seu currículo, mas nenhum deles ofereceu estabilidade.
-- Estou tão ansiosa.
Michelle sorriu para ela, com amabilidade. Tinham conversado muito durante o vôo, e não havia dúvida de que aquela jovem esforçada e sonhadora, faria grande sucesso na casa dos Parker.
Saíram do avião, caminhando pelos corredores brancos, aparentemente intermináveis, até o balcão da alfândega. Os pensamentos de Michelle estavam longe dali. Pensava na família, em como os seus pais reagiram à notícia de que a sua filha perfeitinha havia desviado dinheiro dos clientes do banco para uma conta no exterior. Será que tiveram um treco? Provavelmente.
-- Taxi? -- perguntou o rapaz encostado confortavelmente à porta do carro.
Michelle levantou a cabeça e olhou para ele.
-- Sim -- ela respondeu, largando a mala no chão.
O motorista sorriu, acenou de forma cortês e colocou a bagagem no porta-malas.
-- Para onde, senhoritas? -- perguntou o taxista alegremente quando elas entraram no táxi.
Valquíria hesitou por alguns segundos, mesmo com o endereço de Marcela Parker na ponta da língua.
-- Hills, praia Flower -- ela enfim, respondeu.
-- Hum. Bela escolha, meninas -- ele automaticamente olhou em seu espelho lateral e arrancou em seguida -- É um lugar maravilhoso para se visitar -- comentou -- Férias?
-- Na verdade viemos a trabalho. Você conhece Marcela Parker?
Ele a olhou pelo espelho retrovisor.
-- E quem não conhece? -- o rapaz sorriu -- Os Parker são donos da maior empresa de perfumaria e cosméticos do país. Essa empresa é a responsável pelo desenvolvimento de Hills. Todos, direta ou indiretamente, se beneficiam dela.
-- Estamos indo trabalhar na casa dos Parker -- Michelle apoiou os braços no encosto do banco e inclinou-se para frente -- O que você sabe sobre ela?
O rapaz coçou a cabeça e seu rosto exibiu um ar pensativo. Sentia que as moças o olhavam com curiosidade, querendo saber o máximo possível sobre a futura patroa.
-- Tudo o que eu sei sobre ela é o que o povo comenta -- parou num sinal vermelho, então se virou, dando-lhe um olhar longo e direto -- A dona Marcela sofreu um acidente de carro e ficou paraplégica. Coitada -- O sinal mudou para o verde e o carro seguiu em frente.
-- Quando isso aconteceu? -- Michelle estava cada vez mais curiosa.
-- Se não me engano, faz um ano. O acidente repercutiu muito na época, afinal de contas, ela era a toda poderosa da cidade.
-- Era? -- ela perguntou, cada vez mais curiosa.
-- Agora, a toda poderosa é a esposa dela.
Valquíria se abanou com a mão e deu um tapinha no ombro do motorista.
-- Que calor horroroso. Se o inferno for quente desse jeito, acho melhor rever minhas atitudes -- ela reclamou, esbaforida -- Não tem ar condicionado nesse carro?
Ele fechou as janelas e ligou o ar. Michelle decidiu que era melhor dar o assunto por encerrado.
-- Pelo jeito ainda vai demorar um bocado -- resmungou Michelle, antes de descansar a cabeça no macio assento do carro e fechar os olhos -- Vou tentar descansar um pouco.
Devia ter cochilado. Porque, quando voltou à abrir os olhos, o carro estava preso em um congestionado. As duas pistas da estrada estavam entupidas de caminhões, ônibus e automóveis.
O táxi seguiu através das fileiras de automóveis. Logo dobraram à direita, novamente à esquerda e finalmente chegaram à bela cidade.
-- Mais uns dez minutos e chegamos a propriedade dos Parker -- comunicou o motorista.
Jessica bateu a porta do carro com força e atravessou o pátio em frente a enorme casa.
-- Bom dia, Nicolas -- disse, de forma séria.
O homem levantou a cabeça para encará-la.
-- Bom dia, dona Jessica.
-- O que aconteceu? Que fumaça é essa? -- ela ficou olhando para o rapaz. Seus olhos verdes eram emoldurados por um rosto bronzeado e por cabelos loiros que chegavam à altura do ombro.
-- Sinto muito -- disse, após um momento de silêncio -- Estava limpando um pouco o jardim. Fiz uma fogueira para queimar o lixo, então resolvi jogar mais um pouco de jornal às chamas. Infelizmente perdi o controle sobre o fogo.
Ela franziu a testa ao ouvir o que Nicolas dizia.
-- Você ficou louco? -- disse Jessica, em tom seco -- Nunca acenda uma fogueira se não tiver como apagá-la. Você está colocando nossa vida em risco.
-- Sinto muito -- Nicolas respondeu olhando para a fogueira.
-- Pois é -- disse ela, agarrando uma fagulha que passava rente à sua cabeça -- A piscina está cheia de fagulhas, o jardim também. Apague isso.
-- Sim senhora.
Jessica desapareceu no meio da fumaça, e Nicolas ficou olhando para as labaredas, com as bochechas pegando fogo, e não apenas por culpa do fogo, mas também pela bronca da patroa.
-- Que mulher mais desagradavel, como ousa falar dessa maneira comigo, como se eu tivesse feito de propósito? Ela não viu que foi um acidente?
-- Falando sozinho?
Nicolas virou a cabeça para ver quem falava e assustou-se.
-- Quem é você? Como entrou aqui?
O rapaz olhou para as unhas bem polidas, pintadas de rosa chiclete e respondeu com uma expressão irônica no olhar.
-- Entrei pelo portão. Estava aberto.
-- Hum, a patroa deve ter esquecido de fechar. Aquela cabeça dura -- Nicolas cruzou os braços e olhou diretamente para ele -- O que faz aqui?
-- Estou procurando emprego -- neste momento, algumas fagulhas caíram na calça do rapaz -- Aiiiiiiiii... -- ele dava tapas nas coxas, sapateava e berrava -- Meu Deusss.... Socorro, estou pegando fogo!
Nicolas olhava incrédulo para ele. O homem machão de pescoço grosso, com barba por fazer e pelos por todo o corpo, não estava acostumado a gestos tão delicados.
-- Calma. Foi só uma fagulhinha. Eu, hein! -- disse entre dentes.
O rapaz olhou para a calça e deu uma tossidinha.
-- Tem razão -- endireitando-se, limpou as cinzas de sua calça -- Me chamo Pepe. Quero falar com a dona da casa.
Nicolas coçou atrás das orelhas.
-- Acho que não vai rolar. A dona Jessica acabou de chegar com um humor terrível. A dona Marcella vive com um humor terrível. Acho melhor você dar meia volta e ir embora.
Imediatamente o rapaz sentou-se na calçada e olhou para Nicolas, cheio de trejeitos.
-- Não vou!
-- Como assim: "Não vou". Tá louco é?
-- Escuta aqui Chow chow...
-- Meu nome é Nicolas -- ele disse irritado. Sua voz tinha um leve sotaque caipira.
Pepe pensou um pouco enquanto observava o caseiro.
-- Porque o nome Nicolas está no plural e Nicole não?
Nicolas bufou sem paciência.
-- Sei lá -- respondeu irritado -- Escuta à minha opinião.
-- Quando sua opinião for acompanhada de notinhas de duzentos reais, eu escuto.
Nicolas perdeu a paciência.
-- Então vá embora daqui.
Pepe levantou-se, limpando o jeans.
-- Calma Nic. Sabe que o pobre não pode ficar nervoso que já quer cagar, né. Qual a sua opinião?
Nicolas respirou fundo. E concordou com um movimento de cabeça.
-- Conheço uma pessoa muito boa que pode conseguir agendar um horário para você, com a dona Jessica.
Pepe se aproximou, curioso. Nicolas deu um passo para trás.
-- Quem?
-- Dona Inês. Foi ela quem me indicou para esse emprego -- Nicolas olhou ao redor do jardim coberto por uma fraca cortina de fumaça -- Ela é a tia da dona Jessica.
-- Hum, será que a tia Inês vai me ajudar?
-- Ela nunca nega ajuda. A mulher é um anjo de bondade.
-- Sei não. Estou tão acostumado com as pessoas me decepcionando, que quando uma não me decepciona, eu fico nervoso e decepciono ela.
-- Você quem sabe -- disse Nicolas, sacudindo os ombros.
-- Tá bom, menino lobo. Me passa o endereço. Se a coroa não me ajudar darei uma voadora nela.
Jessica abriu a porta e entrou numa sala repleta de móveis feitos artesanalmente, tirou o blazer e jogou sobre o sofá.
-- É você, Jessi? -- Marcela perguntou de dentro do escritório.
Jessica sorriu, sacudindo a cabeça, fazendo com que os cabelos dançassem. Quando Marcela a chamava de Jessi, era um bom sinal.
-- Sou eu, sim amor -- ela fechou os olhos e abriu a porta em seguida. O cheiro do perfume de Marcela, era muito forte ali dentro. Ela inspirou profundamente. Gostava daquele cheiro, gostava do escritório. Aquele lugar, com seu assoalho de madeira e paredes brancas, onde ela trabalhava nos últimos tempos, fazia parte dela, e não era apenas um local de trabalho. Desde o acidente, aquele lugar passara a ser um refúgio para ela -- Boa tarde, Marcela. Você está trabalhando na hora do almoço? -- perguntou da porta.
-- Estou um pouco atrasada. Preciso analisar essa compra de matéria prima, estou achando o valor muito alto.
-- Tenho certeza que isso pode esperar.
-- Quero aprontar até o final da tarde.
-- Talvez eu possa ajudá-la -- disse ela, entrando na sala.
-- Não se preocupe. Eu vou conseguir terminar -- Marcela voltou a olhar para a tela do computador.
Jessica puxou uma cadeira e sentou-se perto dela.
-- Me desculpa, Marcela, mas precisamos conversar.
Marcela levantou a cabeça e novamente interrompeu o seu trabalho.
-- Seja lá o que for, acho que pode esperar até a noite -- ela parecia muitíssimo irritada.
-- Marcela -- Jessica a chamou, mas não obteve resposta -- Porque não quer conversar?
O rosto de Marcela endureceu. Ela parecia um tanto nervosa. Jessica respirou fundo e decidiu ter a conversa, quer ela quisesse ou não.
-- Não adianta continuar tentando adiar o inadiável. Você precisa de uma pessoa que a auxilie nas tarefas mais complicadas. Eu sei que você é bem independente. Nossa, você é demais! Mas...
-- Quer conversar sobre isso? -- Marcela soltou o ar, aliviada.
Jessica levantou uma sobrancelha, num ar de surpresa.
-- Pensou que fosse sobre o que?
Marcela baixou os olhos, sem jeito.
-- Pensei que quisesse conversar sobre o nosso casamento -- quando falou, a voz saiu mais baixa que o normal.
-- Porque falaria sobre o nosso casamento?
-- É que me sinto insegura. Sei que se sente presa à mim -- ela passou a mão pelo rosto, procurando se controlar -- Sou um peso, uma inválida.
-- Não, jamais! -- havia um tom de desespero na voz de Jessica -- Você nunca será um peso para mim, meu amor. Na verdade, não consigo ficar tranquila sabendo que você está sozinha enquanto eu estou na empresa.
-- Não fico sozinha. A Vitória e o Nicolas estão sempre comigo.
Jessica passou os dedos por sua pele macia.
-- Eles estão sempre ocupados com os próprios afazeres.
Marcela inspirou profundamente, forçou um sorriso amarelo, e sacudiu a cabeça.
-- Se isso te deixa mais tranquila, pedi para a minha irmã contratar uma chef de cozinha.
-- E a secretária?
-- Você quis dizer: A dama de companhia, a babá, cuidadora, sei lá. Qualquer coisa, menos secretária -- disse Marcela, irritada -- Não queira me enganar -- ela não disfarçou seu mau humor.
-- Não é nada disso. Você precisa de alguém que faça os trabalhos externos, que se encarregue das compras, inclusive que possa acompanhá-la nos passeios.
A respiração de Marcela se alterou. Deixando transparecer o quanto aquele assunto a incomodava.
-- Por favor, me deixe em paz, Jessica.
Jessica se aproximou dela, fez um carinho em seu rosto e tentou abraçá-la. Marcela, entretanto, afastou-se.
-- Pelo amor de Deus, Marcela! Só quero o seu bem.
Marcela sentiu lágrimas correrem pelo seu rosto. Estava muito sensível e chorava à toa.
-- Não precisa se preocupar comigo.
Jessica suspirou fundo. Para não piorar a situação, decidiu sair do escritório e não insistir. Mais tarde, quem sabe?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
brinamiranda
Em: 26/11/2020
Não deve de fato ser uma situação confortável...mas, sabe que imagino essa Marcela já está recuperada e está fingindo só para manter a outra presa a si rsrsrs é viagem, mas, e possível....
patty-321
Em: 24/11/2020
Marcela parece que é uma pessoa completamente "quebrada". Presa na sua deficiência. Não é fácil, realmente situação. Tudo bem vandinha? Ótimo ler outro conto seu. Bjs
Resposta do autor:
Olá Patty
Marcela além da sua deficiencia, sofre pela insegurança de um casamento que não existe mais. O medo de perder Jessica a impede de viver. Ela a ama e isso é muito triste.
Beijão querida.
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Mille
Em: 24/11/2020
Oi Vandinha
Marcela não querendo contratar ninguém para ajuda e vai chegar uma ajudante junto com a chef.
Jessica vai ter um ataque .
E esse cara será nosso cara da comédia .
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille
Será que Marcela vai contratar Michelle? Sei não.
E o gay abusadinho sempre tem que ter né. Dá um toque de humor ao romance.
Beijos. Até mais.
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NovaAqui
Em: 24/11/2020
Momento difícil que vocês estão passando. Que Deus conforte o coração de vocês!.
A dor da perda é muito ruim. Perdi uma irmã para covid-19 e foi doloroso demais. Sabemos que a vida é um ciclo. Apesar do nosso pouco conhecimento espiritual, isso não isenta nossa dor.
Forças para sua família nesse período
Uma pergunta: você estava postando esse romance antes? Tenho a sensação de ter lido alguma coisa
Abraços fraternos procês aí ????????
Resposta do autor:
Olá meu anjo.
Sinto muito por sua irmã. De coração mesmo.
Dói demais. Peço a Deus que me dê forças para saber entender e aceitar.
Algum tempo atrás eu comecei a escrever um romance bem parecido. Inclusive a protagonista também era perfumista. Você tem razão.
Beijão. Até.
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Anny Grazielly
Em: 24/11/2020
Nossa!!!! Acho que Maya vwi ajudar muuto Marcela... si tenho medo desse triângulo amoroso... aiaiaiaiaia
Resposta do autor:
Olá Anny
Hum, triangulo amoroso é bom né! Kkkk
Beijão.
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