Capitulo 4
A Última Rosa -- Capítulo 4
Maya caminhava cabisbaixa, sentindo a raiva crescer a cada passo. Sentia-se cansada, estava com fome e frio. Seu único desejo, naquele momento, era um lugar quentinho e uma bela refeição.
Atravessou a rua e entrou na cafeteria, caminhando direto até o balcão. Quando a atendente se virou para ela, Maya já estava preparada para fazer seu pedido. Na verdade, ela teria preferido um belo prato de bife acebolado com fritas, mas com certeza isso não seria possível às sete da manhã.
-- Quero um copo grande de café preto, dois pãezinhos de queijo, um pastel de carne e um misto quente -- murmurou para a atendente -- Vou ficar naquela mesa do canto.
-- Claro, fique a vontade -- disse a garota com um sorriso largo -- É rapidinho.
-- Obrigada! -- todas as outras pessoas na cafeteria tinham se virado para vê-la acomodar-se à sua mesa. Uma mulher bonita como Maya sempre atraía olhares de admiração. Porém, isso não tinha importância. Nada mais importava além de comer até não aguentar mais.
Alguns minutos depois, o copo de café foi posto à sua frente, acompanhado por um prato com tudo o que havia pedido.
-- Ah! Maravilha! -- exclamou animada, o cheirinho fez a boca de Maya salivar -- Parece delicioso.
A moça fez que sim com a cabeça, balançando as camadas de cabelos negros que caíam sobre seus ombros.
-- Pode ter certeza que sim. Nossa cafeteria é a melhor da cidade, tudo aqui é delicioso -- afirmou cheia de orgulho -- Se precisar de alguma coisa é só me chamar.
Maya tomou um grande gole do café preto e forte, pegou o misto quente e começou a comer com vontade. Olhos fixos na porta de entrada, Maya tomou outro gole apressado e pousou o copo na mesa. Por um instante havia esquecido que era uma foragida da justiça.
Depois que terminou o misto, Maya serviu-se dos pãezinhos de queijo e do pastel. Segurou a caneca e levou-a aos lábios com um prazer evidente.
-- Agora sim. Sinto-me revigorada.
Foi o ruído irritante da dobradiça, provavelmente, que a levou a olhar rapidamente na direção da porta. Maya parou no meio do caminho com o copo na mão, sem saber se devia sair rapidamente ou se devia ficar e agir naturalmente.
Dois policiais entraram na cafeteria, compraram lanches, café e logo em seguida foram embora.
Maya soltou com força todo o ar contido nos pulmões. Sentia-se enjoada, com uma dorzinha incômoda na boca do estômago e todos os músculos estavam tensos. Seu coração quase parou de bater e, com a boca seca, as pernas bambas, ela caminhou até o caixa para pagar a conta. Entregou o cartão de crédito e ficou paralisada até a maquininha liberar o recibo. Então, sua vida agora seria assim? Cheia de medos, receios, desconfianças.
-- Moça, você sabe se tem algum ponto de ônibus intermunicipal aqui perto?
A atendente pensou durante alguns segundos antes de responder:
-- Não tenho bem certeza, mas acho que no final da rua, em frente ao supermercado, tem um ponto -- ela indicou a direção com um pequeno gesto com a mão e um sorriso amigável.
-- Obrigada! -- de forma decidida, Maya colocou as mãos nos bolsos e se afastou a passos largos. Tinha planejado tudo detalhadamente. Pegaria um ônibus até a capital e depois um outro ônibus para fora do estado. Iria o mais longe possível. De preferência para o outro lado do país.
Assim que chegou ao ponto de ônibus, torceu o cabelo e o prendeu num coque no alto da nuca. Pegou os óculos de sol que estava na bolsa e o colocou no rosto. Com certeza, a sua foto já foi compartilhada por milhares de usuários na internet, então precisava se disfarçar o máximo possível.
Uma hora depois um ônibus parou no ponto. Pessoas desciam e outras entravam. Maya se misturou a eles e apenas relaxou quando estava sentada dentro do ônibus a caminho da cidade vizinha. O ônibus se dirigia a Di Valle, mas seguindo o seu plano, desceu no terminal e pegou outro. Não tinha exatamente uma cidade em mente. A casa de seus pais estava fora de questão. Seria o primeiro lugar em que a polícia procuraria. Não, não podia se arriscar. O jeito era seguir em frente. Procurou afastar o temor e relaxar enquanto o ônibus seguia para a capital.
Se Jessica tivesse uma bola de cristal quando acordou naquela manhã, teria desligado o despertador do celular e ficado na cama. Mas, ao contrário, seguiu sua rotina normal. Levantou-se, tomou banho, vestiu um terninho escuro de corte elegante, ajeitou os cabelos diante do espelho e pegou a bolsa. Marcela ainda dormia, ela se ajoelhou sobre o colchão, depositou um beijo leve em seus lábios e saiu com cuidado para não acordá-la.
A governanta a esperava quando ela entrou na cozinha.
-- Bom dia dona Jessica.
-- Bom dia Vitória -- puxou uma cadeira e sentou-se à mesa -- Vitória.
-- Sim? -- a moça serviu o café e passou-lhe a xícara.
-- Marcela comentou com você sobre contratar novos funcionários?
Vitória cruzou as mãos à frente do corpo.
-- A dona Marcela falou que contratou uma nova cozinheira para o lugar da Rita. Não falou nada sobre contratar outros funcionários.
-- Tudo bem. Obrigada Vitória -- Jessica mordiscou um pedaço de torrada e bebeu seu café antes de sair para a empresa.
O ônibus parou na rodoviária com o motorista gritando.
-- Ubax! Ubax!
Maya pegou a sua bolsa e desceu na plataforma. Sabia que ficar na cidade de Ubax não era seguro. Então, pegou uma revista de turismo e foi sentar-se à única mesa que estava livre.
-- Bem vejamos -- Maya jogou a revista sobre a mesa e começou a folhear -- Veloir do Norte -- Ela balançou a cabeça -- Muito quente. Bela Vite me parece um ótimo lugar para se morar. Custo de vida acessível, alto índice de desenvolvimento humano e o melhor de tudo: Praias lindas! -- ela balançou a cabeça devagar -- Yes, está decidido.
-- Com licença. Posso sentar à sua mesa? É a única que ainda tem lugar.
Maya levantou a cabeça, viu um rosto moreno e de feições fortes.
-- Claro, pode sentar.
-- Meu nome é Valquiria. Você é Turista? -- a jovem, perguntou sorrindo.
-- Muito prazer. Meu nome é Ma... -- ela sorriu sem jeito. Não seria nada fácil se acostumar com o novo nome -- Michelle Simas. E não. Não sou turista -- Coitada. Se ela soubesse a verdade. Pensou -- Na verdade estou escolhendo uma cidade para morar.
-- Em uma revista de turismo?
-- Sim. Nunca viu algo assim antes? -- ela disse rindo.
-- Para ser sincera, não -- ela também sorriu -- Deixe-me te dizer uma coisa. Estou indo para Hills. Vou trabalhar como Chef na mansão de uma granfina.
-- Poxa. Que legal?
-- Eles estão precisando de uma secretária também. Porque não vem comigo?
-- Secretária? -- Michele fechou a revista. A conversa começava a ficar interessante.
-- É, mas também ser um tipo de dama de companhia.
-- Ela é idosa?
-- Não. Ela tem trinta anos -- Valquíria se inclinou um pouco para frente -- Ela sofreu um acidente e ficou paraplégica -- ela falou tão baixinho que Michelle mal conseguiu ouvir.
-- Coitada, tão jovem! Deve ser terrível -- Michelle disse baixinho, ao mesmo tempo em que respirou fundo -- Quanto ao trabalho, parece bem interessante. Principalmente pra mim que não tenho nada a perder -- pensou durante alguns segundos -- Mas, caso eu não consiga o emprego?
-- Aí, você tenta em outro lugar. Nesta cidade tem uma grande empresa de perfume, tem um comércio bem movimentado e muitos turistas. Não vais ser difícil de arrumar um emprego. Vamos -- ela insistiu -- Vai ser bem legal. O salário é ótimo e o lugar é lindo -- Valquiria debruçou-se sobre a mesa, um tanto ansiosa -- Tem problema para você ela ser casada com uma mulher?
-- Imagina! Até acho melhor -- disse ela, jogando seu cabelo ruivo e macio para trás e endireitando os ombros -- Assim não corro o risco de ser agarrada por um homem tarado.
Valquiria levantou os cantos dos lábios, achando engraçado.
-- Olha, não se iluda. Mulheres também podem ser bem sem-vergonhas.
-- Com certeza -- concordou ela, olhando sério para a moça -- Mas, nesse caso o confronto é mais justo e eu, confio no poder da minha esquerda.
As duas riram e depois ficaram em silêncio.
-- Você é muito bonita -- disse Valquíria, olhando-a com atenção -- E você sabe que essa gente dá uma altíssima prioridade ao aspecto visual.
-- Infelizmente -- comentou Michelle, dando de ombros, o olhar distante -- se nos dermos conta de que o mais importante está na essência interior, as nossas prioridades podem mudar.
-- O verdadeiro atrativo das pessoas estará sempre, nos valores, na forma de tratar o próximo, na maneira de se comportar, em todas as pequenas coisas que fazem parte da personalidade de cada um.
-- Porém, a realidade é bem outra Valquíria. Eu conheço muito bem isso -- Maya se entristeceu ao constatar que até pouco tempo também pensava dessa forma -- Vivemos em uma sociedade onde a estética é muito promovida. Nos fazem crer que o mais importante é a imagem, que se formos belos teremos sucesso.
-- Acho tão boba essa dependência de querer agradar, de buscar elogios, de querer estar sempre bonita.
-- Eu passei por isso no banco em que trabalhava -- disse Michelle, de forma um tanto lamentosa e sorriu desanimada -- Existem muitos outros requisitos importantes, mas eles colocavam a beleza, a apresentação, em primeiro lugar.
-- Entendo -- Valquiria suspirou fundo -- Meu primo trabalha em um banco. O que ele recebe só dá pra roupa.
-- É bem por aí, mas, voltando ao assunto, Onde fica essa cidade Hills?
-- Fica uns 124 quilômetros a oeste de São Cássio. Tem uma praia chamada Flower que é simplesmente um paraíso! A praia possui paisagens de cair o queixo: dunas, coqueiros, lagoas e falésias.
-- Parece incrível, mas leva quanto tempo de ônibus até lá?
-- Dois dias de ônibus e quatro horas de avião -- ela fez uma pequena careta -- O que você acha?
-- Que tal avião? Acho que não suportarei dois dias dentro de um ônibus.
-- Maravilha! Eu topo -- exclamou Valquiria, levantando os braços para comemorar -- Eu sabia que você não resistiria.
Michele deu uma sonora gargalhada.
-- Até parece que eu tenho muitas opções.
-- Ah, não fale assim. Tiramos a sorte grande -- Valquiria olhou para o relógio -- Então, vamos agora mesmo para o aeroporto.
Michelle concordou com um movimento de cabeça, sentindo um aperto estranho na garganta, mas sem demonstrar toda a sua angústia.
-- Hills, aí vamos nós!
Jessica amava seu trabalho de perfumista. Trabalhava na empresa há nove anos, com um monte de técnicos brilhantes que criavam os melhores perfumes do mundo. Seu trabalho inicialmente era apenas criar, mas com o acidente de Marcela foi necessário que assumisse também a direção da empresa.
Naquela manhã, quando chegou ao escritório, todos estavam falando animadamente sobre o fim de semana. Viagens, barzinhos, encontro familiar.
Isso tudo não fazia mais parte da vida de Jéssica. Ela aprendera que a vida podia ser indescritivelmente cruel. Aos dezoito anos, perdeu os pais em um acidente de carro em uma viagem para à vizinha cidade de Lorenzi.
Havia ficado em casa porque tinha que estudar para uma prova na segunda-feira. Era a primeira viagem que os pais faziam sem ela.
Quando a Polícia Rodoviária ligou avisando sobre o desastre, Jessica recusou-se a acreditar que seus pais tinham morrido. Só podia ser um engano. Tinha que ser.
Mas não era. Minutos depois ligaram novamente para confirmar a identidade dos ocupantes do carro.
Jessica lembrava pouco do funeral. Somente esboços da cena permaneciam em sua memória. Samanta, sua prima, segurando sua mão e chorando, enquanto ela permanecia ali, de olhos secos. Paralisada.
Foi nessa época que se apaixonou pela primeira vez. E foi também nessa época que sofreu a sua primeira desilusão amorosa. Parecia ser o destino dela perder as pessoas que amava e das quais dependia.
Fim do capítulo
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brinamiranda
Em: 26/11/2020
Esses "acasos" da vida, tudo o que fica mal resolvido acaba retornando...rsrsrs imagine susto das duas...
Anny Grazielly
Em: 23/11/2020
Aiaiaiaia... meu momentode sofrimento vai começar... será que Valquiria vai ser aquela que vai fazer Marcela voltar a sorrir? Ou a amiga medica?!?!? Eeeeee... esse reencontro entre Maya e Jessi... ja quero...
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NovaAqui
Em: 20/11/2020
Acho que em breve elas vão se reencontrar. Será que vai rolar química no primeiro encontro por parte da Jéssica? E Maya quando vê-la? Isso será bom
Espero que tudo fique bem para você e sua família!
Abraços ????
Resposta do autor:
Olá
Jessica e Maya, estão prestes a se encontrar. Não acredito que que será um mar de rosas, isso é impossivel. Porém, esperamos ao menos que elas ajam com maturidade.
Meu irmão está desenganado pelos médicos. Está dificil, muito dificil. Mas, Deus tudo sabe.
Beijão meu anjo.
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Mille
Em: 20/11/2020
Oi Vandinha
Que destino filho da mãe hein. Jessica fugiu da Maya e Maya irá trabalhar na casa dela.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille
Mas apesar de cruel, duvidoso e infeliz, às vezes, o destino não erra. Jessica e Maya quem diga.
Beijos.
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