O que você faria se pudesse viver um amor interrompido pela morte?.
Capitulo 10 - Second Live
CONTO 10 - Second Live
Acordei sentindo um nó a me apertar a garganta, era como se houvesse uma mão inexistente impedindo a passagem do ar, não deixando que o oxigênio chegasse tranquilamente aos meus pulmões. Após esse primeiro sintoma, vinha aquela dor profunda e dolorida que pressionava o peito como se alguém estivesse subindo em cima de mim comprimindo minha caixa torácica, por fim passava a mão repetidas vezes entre os seios, como se conseguisse estancar o sangue de uma ferida aberta que jamais se fechara por completo, essa cena se repetia há quase quatro anos, desde que a minha Lílian fechou os olhos para nunca mais abrir. Eu sabia que esse conjunto de sintomas era totalmente psicológico, como se fossem velhos conhecidos meus, a sutil diferença é que há muito tempo deixei de lutar contra eles e os abracei, envolvo minhas dores suavemente e assim, as crises se tornaram mais espaçadas.
Sigo como um zumbi aos trinta e três anos, pois não tive coragem o suficiente de me unir a Lílian na eternidade, e por fim, quatro meses depois de sua morte recebi a notícia que nossa inseminação havia dado certo, meses depois Marina veio ao mundo trazendo consigo os olhos verdes e os cabelos ruivos da mãe, chegou iluminando o caos que estava a minha vida, e por causa dela estou tentando transformar a nossa história em algo que transcenda a minha dor.
Lílian morreu em pleno carnaval de acidente vascular cerebral, estávamos curtindo o hotel em Salvador, curando a ressaca de mais uma noite pulando ao som do trio elétrico de Ivete Sangalo, mas, o nosso caso o cansaço era apenas físico, pois não bebíamos. Ainda não sabia, mas foi a partir daquele instante que a minha vida desmoronou, primeiro ela sentiu uma pontada leve na cabeça, aparentemente banal, por isso continuamos a tomar nosso delicioso café da manhã, na segunda vez a dor veio mais forte, e com ela Lílian desmaiou, levando o copo de achocolatado junto com seu corpo, chorei desesperada, sou médica, na mesma hora tive a certeza que havia perdido a minha mulher, minha namorada, minha companheira, minha parceira, aquela que prometeu que seguiria a vida toda ao meu lado, o fato é que independente no meu querer voltei a São Paulo sozinha, escondida por trás dos enormes óculos escuros que não permitiam que vissem meus olhos tristes e empapuçados, enquanto isso, o corpo de Lílian repousava no caixão dentro do porão do avião, no mesmo voo no qual viajavam centenas de passageiros que nem de longe imaginavam a minha dor.
Antes de embarcar passava a mão nos olhos pra espantar as lágrimas que se multiplicavam em meu rosto quando um comissário de bordo gentilmente se aproximou.
- Com licença, a senhorita está precisando de alguma coisa?.
- Obrigada, mas, infelizmente não há nada que possa fazer, estava em Salvador em uma espécie de segunda lua de mel com minha namorada e ela morreu, seu corpo segue comigo neste mesmo voo, estou levando a minha Lilian para ser enterrada em São Paulo e nada pode curar a dor que estou sentindo, mesmo assim agradeço a sua preocupação.
O que o coitado do comissário poderia dizer quando se deparou com uma das maiores dores do mundo?, nada, disse apenas que lamentava e seguiu sua vida, como todos que passariam por mim ao longo desse trajeto de luto por perder o meu grande amor.
No velório dei indícios que não estava bem, chorava e conversava com Lílian e também dizia coisas desconexas, como ao ser abraçada por Amanda, uma das sócias da minha princesa no escritório de advocacia, "Torres de Aguiar Advogados Associados", uma das grandes conquistas profissionais de Lílian.
- Amanda, venha, Lílian vai ficar feliz em te ver.
Amanda grudou em meu corpo, as lágrimas desciam uma atrás da outra em seu delicado rosto oriental.
- Lilian, meu amor, olhe...uma das nossas madrinhas veio te ver. Ela não está linda Amanda?. Sabe, amo admirar minha mulher quando ela está dormindo. Lílian Torres de Aguiar Bilac...acorda amor, fala comigo!.
Logicamente que esse diálogo foi reproduzido por minha mãe depois da missa de 7º dia, na tentativa de me tirar da letargia que me consumia o coração e as vísceras, parece que deu certo pois nesse mesmo final de semana resolvi que estava na hora de sair do buraco e viver.
- Já chega Sophie...Lílian está morta e não há nada que faça para mudar essa situação.
Foi o que ouvi da minha doce mãezinha na porta da igreja, senti que um fogo subiu em direção a minha garganta, não sem antes queimar tudo o que restava do meu coração esfacelado que agora se resumia a cinzas. A força da raiva despertou a ira da leoa que estava adormecida dentro de mim, deixei que o veneno escorresse pelos lábios e soltei palavras recheadas dele.
- Quer saber?, você está coberta de razão mamãe, Dona Leandra de Azevedo Bilac sempre está certa!.
- Vou embora, você não está em condições de conversar Sophie, vamos Marcelo, quando nossa filha voltar à normalidade ela sabe onde nos procurar.
E foi assim que meu pai seguiu de olhos rente ao chão, levando consigo toda a sua passividade e omissão, o Sr. Marcelo Bilac jamais ia bater de frente com sua adorável esposa, por isso seguia "deitado eternamente em berço esplêndido".
Depois dessa fala, passei dois longos e tenebrosos meses vivendo na fronteira do inferno, tinha certeza que a minha melhor parte havia partido com Lilian naquele caixão branco de alças douradas, não aceitava a minha nova condição de viúva e esse fato despertou o que tenho de pior, passei a ser agressiva com todos que se aproximavam para ajudar, também passei a beber em demasia, coisa que nunca havia feito na vida e infelizmente junto a esse hábito passei também a me envolver com mulheres bem mais jovens, na verdade, estamos falando de garotas pois sabia que jamais me apaixonaria de fato por uma menina de dezessete anos.
Após ter ficado com várias meninas, minha vida degringolou de vez com a chegada de Dani, ela bateu o pé e fez questão de permanecer, como não estava em condição alguma de um embate, eu apenas assenti. Se pudesse voltar no tempo jamais teria nem entrado naquele boate.
A noite fervilhava, girei o corpo no meio da pista de dança com um Cosmopolitan em uma das mãos, o vestido branco bordado com delicadas tulipas coloridas dava um ar descolado, mas, ao mesmo tempo elegante ao meu corpo, estava cerca de três quilos mais magra, no entanto, continuava cheia de curvas, meus cabelos castanhos com mechas douradas caiam em delicados cachos por cima dos ombros e pelos olhares que me lançavam, estava muito bonita. Eu a vi de longe, a bermuda cargo na cor preta, trazia uma corrente que lhe enfeitava a cintura, a camiseta era branca canelada e o boné de um time de baseball estava para trás escondendo os cabelos negros e curtos que iam até abaixo das orelhas, analisei e achei que era bem parecida com a atriz americana Ellen Page, no entanto com um corpo mais brasileiro, quer dizer, a perdição em forma de tomboy.
- Olá gata?.
- Oi, você por acaso tem idade para estar aqui?.
- Desencana meu, tenho dezoito.
Ri o mais alto que consegui, muito mais por efeito da bebida do que por ter achado engraçado aquela adolescente tentando me ludibriar. Foi ai que ela me pegou, na sinceridade, sua boca veio ao meu ouvido e confessou que tinha dezesseis anos, mas, completaria dezessete cerca de um mês depois, por fim relatou que tinha entrado na boate por ser amiga de um dos seguranças. Não foi preciso mais do que um beijo para Dani se apaixonar e quando a levei para casa ela ficou ainda mais encantada com minha experiência sexual, nem precisei de muito para agradar, e depois de comanda-la a fazer tudo o que mais gostava, adormeci entorpecida pelo álcool e pela endorfina do sex*.
Na semana seguinte Daniella já estava morando em minha casa, Luciane, sua mãe, parecia não se importar com o nosso relacionamento, tudo bem, eu era uma médica de família rica, bêbada, descompensada e de licença, mas, tudo era esquecido por conta do meu status.
No começo Daniella não achava tão ruim em ter que me dividir com o "fantasma" de Lílian como tantas vezes ela gritava quando estava com raiva, da minha parte eu não me importava em feri-la dizendo que Lilian sempre seria minha mulher e que o que sentia por ela não se aproximava nem de longe com tudo que havia vivido com a senhora do meu amor e do meu coração, perdi as contas de quantas vezes a chamava de Lilian durante o sex*. Sinceramente, para uma adolescente ela aguentou foi muito, até que um dia explodiu jogando com força para quebrar o porta retrato da minha mulher no chão. Quando Dani me viu chorando ao mesmo tempo juntando os cacos de vidro pedindo desculpas a Lilian, se tocou do que havia feito e me ajudou a limpar tudo, colocando o porta retrato na cabeceira, dessa vez sem o vidro.
- Me desculpa Sophie, é que te amo tanto, eu sei que seu coração é de Lílian, mas veja, quem está com você agora sou eu, sei que sou jovem, meio tomboy, enquanto Lílian era feminina e madura, mas, poxa, já que me deixou ficar eu quero uma chance real.
Abracei minha menina, tão jovem e tão triste, ali foi como uma espécie de tapa na minha cara, estava decidida a terminar quando passei a vomitar tudo o que comia no fim dessa semana, tinha certeza que meu estado era por conta do excesso de bebida, mas, Dani novamente mandou a real.
- Não quero te assustar, mas, você está igualzinha à minha mãe quando ficou grávida do Pietro.
- Tá louca menina, como eu ia ficar grávida?.
- Ué, você me contou que fez inseminação artificial com os óvulos da Lílian e com o espermatozoide de um doador, já pensou se abortou apenas um feto e o outro vingou?.
No mesmo dia liguei para Camille marcando uma consulta, ela era uma das minhas melhores amigas da faculdade, atualmente era uma excelente obstetra, e a verdade é que havia de fato um bebê completamente formado em mim, minha filha estava lá há pouco mais de quatro meses, com aproximadamente 10,1 centímetros e pesando 70 gramas, não desconfiei pois estava menstruando normalmente e não engordei, pelo contrário, mas, isso pode acontecer em alguns casos. Não sei bem definir, mas, um milagre aconteceu assim que ouvi o coraçãozinho da minha filha bater forte, ali tive a certeza que havia encontrado uma razão para viver.
Quando Marina completou um ano comemoramos com uma linda festa, o tema escolhido foi "Alice no País das Maravilhas", as cores mais presentes no aniversário eram o rosa, amarelo, verde água e azul claro. Nuvens e arco íris foram utilizados para dar um toque especial, além da doce e curiosa Alice com seus personagens e cenários que pareciam feitos para dar asas à imaginação, além do coelho, do chapeleiro maluco e até mesmo o famoso relógio faziam parte da decoração, além de pequenos temas como, passarinhos, flores, borboletas e insetos.
Dani estava feliz com o que chamava de sua nova vida e com a sua nova chance real, tenho que admitir que Daniella estava mudada e isso me causava muito orgulho, nossa convivência fez com que desse um passo enorme rumo ao amadurecimento, era visível que a sua vida tinha dado um looping de 360º. No mesmo ano havia passado na federal para cursar Educação Física e estava mais feminina, não que tivesse pressionado a mudar, mas, parece que essa passou a ser uma necessidade dela. Como havia completado dezoito anos, pude enfim assumir nossa relação a todos e passamos a criar Marina, para seus dezoito anos ela era uma excelente mãe, posso dizer que enfim estávamos constituindo uma família feliz, embora um pouco estranha, só não sabia que um novo elemento quebraria a frágil estabilidade que construímos.
Estava tudo caminhando quando um dia entrou um novo e-mail na minha caixa de entrada chamado de "Second Life", era o que estava escrito como tema da mensagem. Quando abri, meus olhos passavam pelas explicações sem acreditar, uma empresária japonesa havia criado uma boneca de tamanho real, na verdade, uma robô humanoide, com possibilidade de poder imprimir as características de uma pessoa, a robô poderia ser a réplica de alguém famoso, de pessoas que já haviam partido ou ter as feições que o cliente quisesse, para ser uma réplica bastava ter algo que tivesse um pouquinho que fosse do DNA da pessoa desejada, esse item ao ser colocado no corpo da boneca em cerca de uma hora a transformaria em uma cópia perfeita, a voz e a personalidade viria por conta de uma inteligência artificial fora do normal, assim como uma busca de todos os rastros virtuais deixado ao longo da vida e traços do DNA.
A robô era feita com material de alta qualidade, com o objetivo de representar a sensação real de pele humana, por isso dava para sentir o calor emitido pela pele, além da sua respiração, a voz também seria idêntica da pessoa escolhida, a robô também podia emitir sons e poderia suar, e o melhor de tudo, poderia aprender novas coisas e adquirir novos traços de personalidade.
Não pensei duas vezes, peguei o número do celular e liguei para a "Renée Arcanjo", representante do "Second Live" em São Paulo, marcamos no final da tarde, e nos encontramos em um charmoso café para acertamos todos os detalhes, estava muito ansiosa, em breve minha mulher voltaria para mim, dentro de aproximadamente um mês.
A representante era uma mulher bonita, estava elegantemente vestida com um tailleur e um delicado colar de pérolas enfeitava o pescoço, se pudesse compara-la com alguém para mim ela era uma cópia perfeita da Jeniffer Lopez. Sorri ao lembrar que Lílian detestava minhas comparações, muito embora concordasse que não errava uma. Renée não era de muita conversa e nem de longos rodeios, estendeu sua mão apertando forte a minha, em seguida sentou esperando que fizesse o mesmo.
- Sophie, você trouxe consigo o material genético da sua mulher?, e todas as contas do e-mails, redes sociais, fotos, senhas, preciso do máximo de informações possíveis para que a réplica seja perfeita.
Abri a bolsa e entreguei um papel com os dados e as senhas, entreguei cópia das fotos, assim como os fios ruivos que havia retirado da escova de cabelo que estava guardada dentro de uma caixa junto com outras lembranças de Lílian.
- Você tem que escolher, vai querer que as pessoas saibam da robô ou ocultar?.
- Não quero que saibam, quero a minha Lílian só pra mim, longe dos julgamentos das pessoas.
- Aconselho então a alugar ou comprar um apartamento decorado, tem vários por aqui, assim terá privacidade, como médica pode usar a desculpa de plantões, bom, é apenas uma ideia, no mais boa sorte!.
Abracei a atendente que não se esquivou, mas, também não se demorou no abraço, em menos de uma semana tinha escolhido e comprado um loft, o lugar era aconchegante e bem decorado, arrumei a geladeira com tudo o que Lílian mais gostava, esquecendo que como robô ela não se alimentava, quer dizer, uma vez por mês ela precisava carregar a bateria em uma tomada por cerca de uma hora, no mais ela seguiria normal.
Neste dia voltei para casa feliz como há muito tempo não estava, Marina correu em minha direção quando me viu, envolveu minha perna em um abraço, a peguei no colo e a joguei três vezes no ar, ela ria e dizia "de novo", e recomeçava a brincadeira até ela cansar. A noite escolhi uma lingerie nova, estourei um champanhe e fiz amor com Daniella com muito ardor, me entreguei como se fosse a última vez, foi tão intenso que senti uma fome fora do normal, pedimos uma pizza, ela me olhou feliz, mas, meio desconfiada, não estava entendendo o motivo da minha felicidade extrema, mas no fundo acreditou que estava muito agradecida por ela fazer parte da minha vida e de Marina.
Os dias passaram rápido, logo recebi uma ligação de Renée e marcamos no loft, ela chegou trazendo uma mala, e quando abriu foi uma decepção, uma massa disforme da cor branca sem seios, sex* e sem cabelos estava dobrada, nem de longe "aquilo" parecia a minha Lílian, Renée explicou que o processo era lento, levaria cerca de uma hora até a transformação completa, pediu paciência e mesmo descrente resolvi ajudá-la a levar aquela boneca estranha que custava o preço de um carro de luxo para a banheira que já estava pronta com um líquido lilás que reagiria a boneca fazendo a mágica acontecer.
Sentamos na sala e de dez em dez minutos ia ver as mudanças, primeiro a pele se formou, depois as imperfeições, uma cicatriz no queijo que Lilian adquiriu ao cair de uma bicicleta se fez presente, depois foi formado o sex* com sua penugem ruiva, a seguir os seios, a pequena tatuagem de uma rosa nas costas, e no final os cabelos ruivos longos e cacheados, o rosto delicado e seus expressivos olhos verdes, quando tudo terminou, ela levantou da banheira mais parecendo o quadro "O nascimento de Vênus" de Botticelli, sorriu e falou.
- Oi amor, vai ficar me olhando mesmo?, me busca uma toalha fazendo o favor.
Era ela, minha Lílian...
Renée foi embora e fiquei ali na parada como se não estivesse acreditando, Lílian terminou de tomar banho, e veio perguntando onde suas roupas estavam, não queria ficar nua no frio, indiquei o guarda-roupas e chorei.
- Eita amor, já está chorando?, você não muda nada, hein?.
Depois riu mostrando os dentes perfeitos, contei as novidades do tempo em que ela estava fora, falei da nossa filha Marina e estranhamente ela não demonstrou felicidade, disse apenas que qualquer hora queria conhece-la, decidi não forçar, achei que não estava sendo fácil recomeçar, falei dos nossos amigos, do trabalho e por fim cheguei no assunto mais sensível, contei na minha relação com Daniella, Lílian novamente pareceu não se importar, disse que mantivesse a relação afinal ia precisar de alguém de confiança para cuidar da menina quando estivéssemos viajando, assenti, mesmo sem entender. Voltei para casa no final da tarde, deixando Lílian com uma estante de livros, uma tv de última geração e internet, pedi apenas que evitasse sair, afinal alguém poderia reconhece-la e não seria uma boa pedida.
Quando cheguei em casa Dani estava esperando com Patrícia e Dominique duas amigas policiais que iam passar o fim de semana conosco em São Paulo, eu sinceramente esqueci que iam chegar, a sorte é que Daniella lembrou e foi busca-las no aeroporto, preparando também um delicioso jantar, um peixe de forno com arroz branco e salada, com um belo vinho tinto escolhido com carinho em nossa adega e um charlote de sobremesa. Por fim chegou Caíque, um amigo de anos, conversamos relembrando a faculdade, foi quando ele resolveu soltar uma de suas pérolas.
- Ai amiga eu fico tão feliz que tenha casado com a leite ninho, Dani é novinha, mas, bem diferente de Lílian, que Deus a tenha, amiga, aquela lá te traia até com a moça da net se deixasse.
Os risos cessaram e joguei o guardanapo em cima da mesa, derramando lágrimas copiosas até o quartinho onde estavam as coisas da minha mulher, olhei o ursinho Teddy e o abracei forte em meus braços, do outro lado da porta Paty batia suavemente pedindo para entrar.
- Amiga, me deixa entrar, eu quero te ajudar...
Abri a porta e me acomodei entre os braços de Patrícia, chorando magoada.
- Isso é verdade amiga?.
Patrícia confirmou, dizendo que todos os amigos sabiam das traições de Lílian, mas, que esquecesse isso e só guardasse as lembranças boas que tinha, segundo Paty, com certeza nesse momento ela até deveria estar questionado tudo o que fez lá no mundo espiritual, foi ai que lembrei da robô, levantei irritada, peguei a bolsa e a chave do carro e me dirigi ao loft, quando cheguei de longe escutei os gemidos tão conhecidos por mim ao longo de mais de sete anos de casamento, da porta pisquei para acreditar, minha Lilian estava sentada na boca de uma morena que não conhecia e cheguei a tempo de ver o grito que soltou quando atingiu o orgasmo.
Quando a Lílian me viu, calmamente pediu que a morena vestisse suas roupas e fosse embora, a seguir colocou um roupão para cobrir a nudez e avisou que estava me esperaria no sofá para uma conversa. Minha mulher estava séria, simulou um leve respirar, dizendo a seguir que gostava de sex* e que sentia necessidade de outras experiências, quando perguntei se sempre foi assim ela apenas confirmou com a cabeça, dizendo a seguir.
- O que importa é que sempre te fiz feliz, não é?.
Voltei para casa e todos me esperavam, menos Caique que havia ido embora envergonhado com o que causou, pedi licença e fui para o meu quarto, deixando minha mulher fazendo companhia para Patrícia e Dominique, pelo olhar de Dani percebi que estava chateada, mas, simplesmente não me importei. Já era tarde quando Dani veio deitar, estava com o corpo virado para o outro lado, fingi que estava dormindo e ela fingiu acreditar, assim fomos levando os dias, que se transformaram em meses e em anos.
Daniella trabalhava todas as tardes, dava suas aulas na faculdade e logo montou uma pequena academia, mesmo assim arranjava tempo para me pressionar como nunca, confesso que já não tinha mais como inventar tantos plantões que justificassem minha ida ao loft durante a semana, e as vezes até nos finais de semana, estava cansada de viver uma vida dupla, por outro lado, Lílian começava a demonstrar que estava entediada, queria viajar, com isso pedi um tempo a Dani, deixando Marina aos seus cuidados e fui a Fortaleza com Lilian, arrumei documentos quentes com um outro nome para ela e assim viajamos felizes, posso dizer que vivemos uma verdadeira lua de mel, essa semana nos aproximou ainda mais, passávamos os dias curtindo a cidade e entre uma coisa e outra a cama nos convidava a amar.
Era uma tarde fria de uma segunda-feira, sai de casa feliz, não sem antes dar um beijo em Daniella e acariciar os cabelos ruivos de Marina.
- Até mais tarde filha, a mamãe vai trabalhar. Amor, confere a lição de casa da nossa filha, prometo que vou voltar cedo desse plantão e vou fazer aquela lasanha que vocês adoram.
Marina bateu palmas e disse um "oba" animada como sempre foi, Daniella não esboçou nenhum sorriso, limitando a levantar os ombros e dizer um "tudo bem". Em seguida passei perfume, peguei a chave do carro e sai assoviando uma música qualquer da Alanis Morrissetti.
Quando entrei no loft Lilian já estava me esperando com um bata indiana vermelha, pediu que sentasse no sofá, a seguir apertou um controle e uma música sedutora passou a tocar, dançava ao sentar no meu colo, em seguida tirou o vestido expondo sua nudez, estava tão excitada que não ouvi o barulho do trinco abrindo a porta, era Daniella que havia me seguido, trazendo consigo Marina, que agora estava com sete anos.
- Mamãe, quem é essa mulher?.
Lílian se vestiu chamando a menina até ela.
- Sou Lílian querida, a sua mãe.
- Não é não, a minha mãe Lílian está no céu.
Pedi que Daniella sentasse no sofá com Marina e junto a Lílian contamos de um jeito simplificado tudo o que havia acontecido ao longo de todos esses anos, precisávamos decidir o rumo que a nossa família levaria, e tudo deveria ser decidido ali.
.
...
Milão, capital da Lombardia.
.
- Mãe Lilian?.
- Pode entrar querida, a mamãe está carregando a bateria.
Marina estava com doze anos, sorriu ao ver Daniella abraçada a Sophie, dormindo pesado por conta do inverno italiano rigoroso.
- Ih, pelo visto essas duas vão dormir até mais tarde, você me ajuda a preparar o café da manhã?.
- Claro meu amor, falta apenas dez minutos para concluir a carga, que bom que só preciso ter esse trabalho uma vez por mês.
- É, e uma revisão a cada dez anos...
- Isso ai princesa, você entendeu todo o processo.
- Só estou triste porque você não pode viajar conosco nas férias de fim de ano no Brasil.
- Não tem problema meu amor, a mamãe tem muita coisa a fazer quando não estão por aqui.
- Você não está mais traindo a mãe Dani e a mãe Sophie, não é?.
- Claro que não meu amor, não tenho necessidade disso.
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...
Praia de Boa Viagem, Recife.
.
- Lílian, cheguei.
- Oie Bárbara, entra querida, quer um lanche, alguma coisa?.
- Não...quero apenas você.
- Para menina, você é bisneta de Sophie, neta de Marina, de qualquer forma temos um elo familiar.
- Ah, para vai, nenhuma delas estão vivas há anos, depois sou filha adotiva, não temos nenhum traço genético em comum, nem fui criada perto de você, apenas recebi a função de cuidar de você quando a Vó Marina morreu...pensa Lili, não tem nada que possa nos impedir, me dá uma chance vai?.
- Você sabe que está lidando com uma mulher centenária, não é?.
- Sim, e eu sou uma mulher de vinte e quatro...e você tem esse rostinho parece que congelou nos trinta.
- De fato congelei.
Bárbara puxou Lílian pela mão, tirando suas roupas e admirando o corpo alvo, com suas sardas no colo e longas madeixas ruivas.
- Nossa, você é uma perdição...
Fim do capítulo
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Rain
Em: 18/12/2020
"O que você faria se pudesse viver um amor interrompido pela morte?".... Choraria até me acabar e provavelmente não seguiria em frente... Não, sei lhe dar com perdas grandes.
Desculpa, autora, não fique com raiva de mim. Mas, não gostei desse conto.
Agradeço pela tecnologia que temos hoje e pela evolução da medicina e outras coisas... Mas, não gosto de robôs. Não, acho que a existência deles será boa para humanidade e para o planeta.
E sério, cadê o amor próprio desse povo? Começando pela Sophia... Caramba, ela viu a robô trepando com a outra e soube das traição e tudo ficou normal! Mas, que coisa viu! Não, vou nem falar de Dani.
Gostei da participação da Paty e Nick e a ideia de algo ser passado em geração também.... Só não um robô.
Desculpe autora, mas realmente não curti o capítulo.... Não fique chateada comigo, por favor.
Abraços.
Resposta do autor:
Oi querida, não fiquei chateada não, te todo coração, não acertamos todas, aliás não tocamos todas com nossas histórias, é um tema meio surreal, de fato não atrai muitos...por ser tão diferente....não t problema, fique a vontade para falar quando não gostar...
Abraço
Rosa Maria
Em: 11/12/2020
Sá...
Nem tenho o que comentar, simplesmente encantada..Parabéns resume meus pensamentos nesse momento..
Beijos
Rosa
Resposta do autor:
Obrigada Rosa, fico feliz que tenha gostado desse conto.
Beijos
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florakferraro
Em: 30/11/2020
Já pensou uma réplica muito gata que passasse de uma pessoa para outra na família, queria uma.
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brinamiranda Autora da história
Em: 23/11/2020
Sabe, na verdade eu queria sugerir que a réplica iria passar de geração a geração, mas, não necessariamente teria um envolvimento.
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florakferraro
Em: 22/11/2020
A réplica foi passado de geração a geração?. Interessante a ideia, gostei muito.
Resposta do autor:
Sim foi, primeiro foi para a filha e depois para neta.
Nem sei como essa ideia surgiu, mas, também gostei.
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