O perdão é libertador para quem recebe, mas, para quem dá é ainda mais...
Capitulo 13 - Para todo mal a cura...
O hospital não mudara nada desde a minha última visita, a placa de madeira com o nome permanecia lá, as flores que enfeitavam o jardim havia florido, apenas fomos recebidas por um outro enfermeiro. Na portaria, Dra. Vivian continuava no mesmo lugar, como sempre lendo os protocolos e fazendo anotações dos casos, estava tão absorta com o que estava fazendo que não tivemos coragem de chama-la, assim, esperamos até ela sentir que estava sendo observada, o que a fez soltar imediatamente a caneta e subir os olhos em nossa direção.
- Marcela, que bom que veio minha amiga, espera que preciso te dar um abraço.
Vivian deu a volta na mesa e aconchegou Marcela em seus braços com muito carinho, afagando seus cabelos com muito amor, o gesto faz com que Marcela desmontasse e grossas lágrimas descessem pelo rosto.
- Porque ela, Vivian?, porque eu?, dois anos se passaram e não consigo mais suportar essa dor, esse vazio...dói como se fosse ontem, tem dias que acho que não vou conseguir continuar, outros são melhores um pouco...
- Pode chorar minha pequena, você não precisa ser forte o tempo todo, ainda está lambendo suas feridas, mas, não deixa de vir aqui, tem que continuar seu tratamento, ou essa dor vai te consumir o peito, e tenho certeza, Paloma quer te ver feliz.
- Eu sei Vivian, mas, esses meus dias na Delegacia foram tão corridos que não tive nem tempo de parar, só que dessa vez não estou aqui por mim, vim para acompanhar Isadora, no momento ela precisa muito mais do que eu...
- Tanto quando você querida, nada é por acaso.
Eu estava logo atrás, trazia as mãos enlaçadas em minhas costas, como fazia quando era pequena, estava nervosa com alguma coisa que não sabia explicar, depois pensei que talvez estivesse embalada pela emoção do momento.
- Olá Isadora, bem vinda...de volta, sinto muito, mas, acredito que deva estar aqui por um motivo bem mais complicado do que a última vez, espero que consiga a força e o alento que precisa.
Vivian se aproximou e abriu os braços para mim, não entendi o motivo, mas, senti todo o coração tremer quando ela me envolveu, fiquei emocionada, tomada por uma energia diferente, sentia no corpo toda a força do reencontro quando ela me embalou em seus braços, percebi que a médica também estava chorando. Me afastei delicadamente, segurei as mãos de Vivian e falei com profunda verdade.
- Sua voz, seus olhos, tenho a impressão que já os vi antes...
- Sim meu bem, você veio falar com Laura anos atrás, não é mesmo?.
- Não, não estou falando dessa vez, parece que essa lembrança vem de antes, de bem mais longe...
- Quem sabe de outras vidas?.
- Pode ser!.
Após a conversa, Vivian limpou as lágrimas e resolveu quebrar um pouco o clima de emoção, pois estava perto da hora de meditar.
- Bom, pelo visto somos três choronas incorrigíveis, vamos seguir que a meditação guiada está prestes de começar...
As duas seguiram pelo lindo canteiro de hortênsias, enquanto fui caminhando logo atrás, só algum tempo depois soube que nesse instante Vivian foi inspirada pelo espírito de Patrícia.
- Marcela, agora que lembrei, você trouxe o livro?, prometi que te daria um autógrafo no nosso próximo encontro.
- Vivian, acredita que esqueci completamente?, me desculpe...
- Não tem problema amiga, fica para uma próxima vez.
Patrícia sussurrou algo no meu ouvido, e mesmo sem ter escutado de forma consciente consegui captar a mensagem, replicando a pergunta que o espírito me pediu para fazer.
- Qual livro estão falando?.
Marcela voltou os olhos em minha direção, assustada por não ter falado sobre o assunto do livro.
- Isa, esqueci de comentar contigo, a Vivian escreveu um livro chamado "Um pouco de médica e de Anjo" sobre Patrícia, uma médica que trabalhou com ela, sei que criaram um mito em torno da sua história e ela virou uma espécie de santa milagreira no litoral, ela morreu do coração já faz muitos anos. Não sei se sabe, mas, ela era namorada de Laura na época, a morte dela é cheia de mistérios, e Vivian resolveu prestar essa homenagem a amiga, contando da sua vida como médica, seria interessante também falar do outro lado da história, mas, Vivian preferiu restringir só aos casos que aconteceram no ambiente do hospital...
- Eu não acredito, meu Deus, que mundo pequeno, claro, você é a Vivian Lanz, a autora do livro, eu não cheguei a te entrevistar, eu tenho tanto a falar, a contar, a perguntar. Patrícia apareceu para mim quando sofri um acidente de carro, quase morri, foi logo depois que Laura e eu terminamos, aliás, no mesmo dia, depois passei meses pesquisando sobre ela, queria escrever um livro, depois ficou esquecido, tantas problemas aconteceram. Mas, posso dizer que graças a ela consegui fugir da tristeza, tantas vezes lembro do seu olhar quando o "bicho pega". É verdade que Laura foi responsável por sua morte?.
- Não querida, não foi, essa é uma longa história, mas, é suficiente saber que Laura sofreu imensamente, tanto que passou meses naquele estágio "louco" e depois nunca mais foi a mesma pessoa.
Vivian sentia uma profunda tristeza ao falar, enquanto fazia um entre aspas bem forte.
- Entendo Vivian, puxa, eu a julguei tanto...
- Não se sinta culpada Isadora, pelo visto está abrindo o coração ao perdão, e estou orgulhosa, saiba que Laura só restaurou seu coração atualmente com Melissa...quando te conheceu, parece muito louco, mas, ela ainda não tinha superado a perda de Patrícia, nos primeiros meses, logo após a morte, deu um trabalhão a todos, depois apenas seguiu, mesmo fragmentada. Bom, a morte de Patrícia estava programada pela espiritualidade, mas, o contexto foi uma armação muito cruel, em breve conversaremos sobre isso, mas, hoje veio em busca de uma força para lidar melhor com a situação da sua mãe, Marcela me contou ao telefone.
- Tem razão, Vivian, após saber de tudo isso, eu perdoo Laura, de todo coração.
- Eu sei querida, só acho que ela também deveria saber.
Vivian passou a mão em torno nos nossos ombros e nos levou até a cozinha, aceitamos tomar um chá enquanto esperávamos a segunda turma de meditação, já que tínhamos perdido a hora da primeira. Esse tempo para o chá foi absolutamente necessário para serenarem nossas emoções.
.
...
Na casa de Laura, a rotina de domingo havia sido quebrada pela maratona de seriados que resolveram assistir no sábado. Laura e Melissa ficaram até mais tarde se divertindo e fazendo rápidos lanches, enquanto assistiam as séries, com isso, no domingo não conseguiram levantar a tempo para meditação. Melissa acordou primeiro, olhando o relógio de cabeceira que marcava 8h, buscou o pijama que estava no chão, observando a namorada nua entre lençóis.
- Laura, Laura?, amor?, levanta, está tarde...
- Humm?.
- Dormimos demais amor, estamos atrasadas para meditação, vamos tomar banho e um rápido café da manhã que vai dar tempo de chegar para a segunda turma. Vem amor...levanta!!.
- Vem aqui baby, só hoje, vamos curtir mais um pouco, no outro domingo acordamos cedinho, depois quem inventou de namorar foi você...
- Amor, eu sei, mas, temos que ir, faz parte do seu tratamento, facilita vai...
- Como acordamos atrasadas, vamos curtir só mais um tempinho, olha como essa cobertinha está quentinha e essa caminha está gostosa, é inverno amor, estou precisando de uma massagem nas minhas costas.
- Que chantagista, não vou não, sei muito bem como termina essa massagem...
- E está rindo porquê?, estou vendo que sua respiração está diferente, e estou mesmo com dor, se não passar, vou ter que dar um jeito no hospital com aquela gatíssima que trabalha com pedras quentes, fazer o que?.
- Tá bom, só um pouquinho, viu?.
Laura sorriu e deitou de bruços esperando a massagem.
- Baby, vem logo...
- É só uma massagem, ouviu? Não adianta fazer nada de sexy ai que não vou ceder.
- Juro, juradinho que é só massagem mesmo.
Melissa acomoda-se nas coxas da namorada, e começa uma massagem suave com as pontas dos dedos.
- Pode apertar amor, delicado assim não vai passar a dor, a não ser que o seu objetivo seja mesmo me excitar, se for esse objetivo está conseguindo seu intuito.
- Safada, nem pense nisso, mais tarde eu faço a massagem delicada...
Após intensificar o movimento, Melissa ouviu um pequeno estalo nas costas, assim virou Laura e a levou pela mão até o box.
- É só um banho mesmo, ok?, facilita as coisas Laurinha...
Melissa sorriu enquanto tirou suas roupas e da namorada que a essa altura estava fazendo corpo mole.
- Tá bom, tá bom...
Ao ouvir a namorada, Melissa rapidamente entregou o sabonete líquido em suas mãos, enquanto passava shampoo em seus cabelos.
- Amor, vai se ensaboando, enquanto isso lavo seus cabelos.
- Não prefere me ensaboar?.
Perguntou Laura, piscando para a namorada e falando baixinho com sua voz rouca cheia de malícia.
- Não mesmo, te conheço Laura, não quero ceder ao meu desejo, prefiro agilizar cuidando dos teus cabelos.
- Que pena...
Após o banho, as duas se arrumaram, e só após entrar no carro perceberam que de forma inconsciente escolheram roupas parecidas, calça jeans, tênis e um moletom branco com detalhes em rosa.
- Parecemos um time Laurinha, mas, vamos assim mesmo.
.
...
Quando chegaram ao hospital, Laura e Melissa não tomaram o chá costumeiro, se dirigiram rapidamente a sala de meditação, que já estava arrumada, as pessoas estavam apenas esperando a instrutora que nunca se atrasara, mas, por conta de alguns contratempos familiares, havia ligado dizendo que chegaria um pouco mais tarde.
- Foi a nossa sorte Melissa.
De longe avistaram Isadora com Vivian e Marcela, e após um rápido aceno, Laura saiu para buscar os colchonetes, procurando um lugar em frente a instrutora que acabara de chegar. A meditação Thetahealing era esperada por muitos, a sala estava cheia, e após seu término dava para sentir o clima ameno e os olhos marejados de emoção de muitos.
Vivian fez um sinal chamando Melissa e Laura para se juntar a Isadora e Marcela, aproveitando que estavam todas estavam juntas para convida-las para um lanche.
- Vivian, posso ligar convidando Jade?
- Claro, será um prazer conhece-la, diga que ela é minha convidada.
Já na casa de Vivian, Isadora se afastou um pouco do animado grupinho e ligou para a namorada.
- Amor, estou na casa da Dra. Vivian, do hospital espírita, ela me convidou junto com Marcela para um lanche, então, ela também chamou Laura e a namorada, e gostaria que estivesse aqui nesse momento.
Jade riu para depois comentar.
- Meu benzinho quer me exibir para a ex, não é?, dizer que arrumou uma melhor.
- Ah, nem é nada disso amor, eu quero mesmo que participe desse momento, eu estou liberta da mágoa de Laura, livre daquela dor, e devo isso também a você Jade, eu amo você minha princesa.
- Estou brincando Isa, chego já minha linda.
Isadora após a conversa voltou para a sala avisando que Jade logo chegaria, enquanto isso, Vivian convidou Melissa e Marcela para ajudar a preparar os lanches, deixando Isadora e Laura sozinhas para encerrarem o seu ciclo.
Laura viu Isadora de longe com um livro na mão que havia encontrado no sofá de Vivian, sentou ao seu lado buscando assunto.
- Oi Isa, vejo que achou alguma coisa interessante.
- Mãos de luz, já leu?.
- Nunca...
- Laura, estou muito feliz em ver como está bem, acredito que esse casamento te deu a paz que precisava, parabéns, estou contente de saber o quanto Melissa te faz feliz, e você a ela.
- Obrigada Isa, quero deixar bem claro que você também me fez muito feliz. Você sabe disso, não sabe?.
- Sei Laurinha, você também me fez muito feliz, em nenhum momento me arrependi de nada, obrigada pelos anos que passou comigo, por ter sempre acreditado em mim, me incentivado a continuar, você me ensinou a ser determinada e organizada nos estudos, isso é um tesouro.
- Me perdoe por ter sido tão covarde e por ter fugido de você e principalmente, por não te procurar depois, eu não sabia o que fazer, paguei um preço muito alto por tudo, você me perdoa?.
- Já perdoei Laurinha, depois, se não tivesse sido desse jeito, não teria conhecido Jade.
- Talvez não, e eu também não teria conhecido a Melissa, posso te dar um abraço?
- Até parece que você precisar pedir, vem aqui minha eterna professora.
- Te ensinei tudo muito bem, vê, hoje você é juíza e ainda saiu arrasando corações da mulherada, essa ruiva é imbatível.
- Boba!
As duas se abraçaram carinhosamente deixando o passado para trás.
- Laura?.
- Oi?.
- Você ainda tem o hábito de atacar alunas no banheiro?.
- Ah, vai se lascar...
As duas saíram rindo e chegaram abraçadas na cozinha.
- Podemos ajudar?.
Marcela riu e abraçou as duas.
- Já terminamos quase tudo, o chocolate quente está pronto, o bolo está no forno e os pães de queijo estão saindo já do forninho, mas, podem ajudar levando a louça para a mesa, pelo visto, tudo terminou muito bem. No entanto, mais tarde, as duas estão escaladas para fazer o almoço.
Laura deu um rápido beijo na namorada, dizendo baixinho "está me devendo uma massagem, sem a preocupação de me deixar excitada", depois saiu com Isadora para organizar a sala para o lanche.
A mesa já estava arrumada quando Jade ligou avisando que já havia chegado, mas, não estava conseguindo encontrar a casa. Vivian entregou a chave da porta da frente para Isadora, que saiu feliz da vida para busca-la.
- Oi amor...
Falou Isadora acenando para Jade que terminava de estacionar o carro.
- Oi Isa, trouxe o banoffe, sei que você adora, mas, como não tínhamos comido ontem, achei que seria educado trazer alguma coisa.
Isadora se afastou olhando a namorada com todo amor, Jade estava como sempre linda, com uma blusa de gola alta vermelha, calça jeans e uma linda bota de montaria.
- O que foi meu benzinho?.
- Nada, estou só admirando a beleza da minha namorada.
- É tão bom ver esses seus olhinhos brilhando do mesmo jeito que há dez anos atrás, eu te amo Isa, parece que esperei a vida inteira por você.
As duas iam se beijar quando Vivian chegou.
- Oi Jade, entra ai, nosso lanche está pronto, e não precisava se preocupar em trazer nada.
- Capaz, foi um prazer.
- Amor, fomos escaladas para fazer o almoço com Laura, tem um peixe que já deixei marinando, depois é só fazer o arroz, a salada e a sobremesa lá pelas 15h, já que vamos lanchar agora.
- Tudo bem amor, rapidinho preparamos tudo.
Na sala todas ocupavam seus lugares à mesa e conversavam animadamente quando Isadora chegou de mãos dadas com Jade, estava feliz que a namorada estivesse ali.
- Para quem não conhece, essa é a Jade, minha namorada, minha vida, meu tudo...
Jade sentiu o rosto inteiro arder, estava mais vermelha do que a cor da blusa.
- Olha que bonitinha, ela cora quando é elogiada, prazer sou Melissa, essa é a Laura, minha namorada, minha vida, meu tudo, senta ai Jade, a Vivian e a Marcela acho que já conhece.
A tarde seguiu animada, Laura e Melissa foram embora primeiro, logo depois do almoço. No fim da tarde foi a vez de Marcela, Isadora e Jade seguirem.
- Vivian, precisamos ir, amanhã vamos ao presidio visitar a mamãe, precisamos dormir muito bem. Agora chega aqui...
Isadora se aproximou, baixou o tom da voz e falou da maneira mais sussurrada que conseguiu: olhe mais para Marcela, eu acho que ela se sente atraída por você, mesmo te chamando de amiga.
- Para, ela é bem mais nova do que eu.
- Sim, mas, já viveu bem mais do que você.
Dessa vez foi a vez de Vivian corar. No carro, Jade perguntou.
- Já estava em operação cupido?.
- Sim, percebeu como Marcela olhava Vivian com os olhinhos cheios de admiração e vontade?.
- Percebi sim, amor, você é terrível. Hahahahah
Presídio Feminino de Piraquara, 28 de junho de 2016
Isadora e Jade saíram bem cedo, tomaram café silenciosas e partiram rumo ao presídio. Isadora foi dirigindo, fazendo todo o percurso calada, não conseguia dizer nada, estava apreensiva e triste, às vezes fazia um rápido carinho na mão de Jade, e voltava a dirigir, não sabia como seria rever a mãe depois de tanto tempo, ainda mais na situação de presa. Apesar da curta distância, o caminho parecia uma eternidade, Jade rezava discretamente e após terminar a oração, fez um delicado carinho na nuca de Isadora.
- Meu bem, já chegamos.
A penitenciária era enorme, toda branca e de janelas cinzas, não parecia tão aterrorizante quando a construção criada por sua imaginação. Jade desceu primeiro e entregou sua mão a uma nervosa Isadora que a recebeu segurando tão firme quanto o seu olhar "estou nervosa Jade", a namorada nada disse, fechou os olhos e pediu em oração toda proteção e sabedoria aos anjos da guarda de ambas respondendo a seguir "estamos juntas meu amor".
Pareada por Jade, Isadora a seguiu até a portaria, onde passaram por uma revista através de detectores de metais, para logo depois passarem por uma revista mais detalhada pelas mãos de duas policiais. Isadora fingiu não perceber quando uma sorriu para outra maliciosamente. "Aqui está tudo certo", disse a primeira policial, enquanto a outra respondeu, "aqui também, pode leva-las até Alexandra".
A segunda policial interfonou e a terceira se aproximou, era loira e tinha os cabelos cortados na altura dos ombros, com uma franja de lado que a todo instante tirava da frente dos olhos cinzas.
- Bom dia, bem vindas, preciso antes revistar tudo o que trouxe para a Doralice, ok?. Quem é a filha dela?
- Sou eu, Isadora.
- Isadora vou ter que abrir esses potes, depois vou buscar sua mãe, tudo bem?.
- Está certo, pode olhar.
A policial olhou detalhadamente, revistando tudo, após a revista pegou o último pote, cortando o bolo de chocolate em vários pedaços, com o maior cuidado para não destruir o bolo.
- Desculpe ter que cortar, mas, o brigadeiro é escuro e esconde muita coisa, tenho que olhar mesmo, pode parecer muito estranho, mas, achei celular, pacotinho de maconha, armas brancas, tudo que possa imaginar dentro de um bolo aparentemente tão inocente.
- Não tem problema, eu já sabia como seria.
Após a revista do lanche, Jade e Isadora seguiram a policial Alexandra, enquanto as outras duas conversam na portaria.
- Caramba, que mulheres gostosas, elas são caso, percebeu as alianças?.
- Menina, eu nem queria nada, bastava apenas olhar essas duas na cama.
- E quem é a filha de Doralice?
- A ruiva.
- Guria, será que Doralice me arruma uma foto da filha dela?, eu ia mandar para uma gráfica e com certeza ia colar no meu guarda roupas, junto com as fotos de outras gostosas que deixo lá.
- Você ainda tem aquela coleção de fotos de mulher no guarda roupas?.
- Vida de mulher solteira amiga, todo dia vou para cama com uma, é cada orgasmo.
As duas riram da situação, mas, Isadora e Jade já estavam bem longe com a policial Alexandra.
- Podem esperar nessa sala, se quiserem ir arrumando a mesa para o lanche, vou buscar Doralice, fiquem à vontade, dentro do possível, por favor.
- Obrigada!.
Jade abraça Isadora, puxando para perto de si, que já tremia de nervoso.
- Calmar amor.
Logo mais, a batida na porta indicava que lá fora Doralice estava esperando com a policial, as duas entraram e Alexandra pediu licença para ajudar, tão logo percebeu que o lanche ainda não estava organizado, pegou os pratos com os potes e as xicaras e passou a arrumar tudo em cima na mesa, deixando o café e o leite prontos, teriam que cortar tudo com colher, era proibido facas, mas, tinha certeza que não haveria problema, depois se posicionou em um sofá no final da sala, enquanto Isadora analisava toda a cena agradecida.
- Podem ficar à vontade, infelizmente tenho que permanecer aqui, mas, esqueçam desse detalhe, vou ficar quietinha lendo.
Ao falar isso, puxou o livro "Violetas na janela", acomodando-se melhor para ler.
Isadora olhou uma abatida Doralice e deixou a emoção fluir.
- Mãe, como a senhora está?.
Só após fazer a pergunta que percebeu que nunca vira a mãe daquele jeito, estava uma senhora realmente, a dor a envelhecera e o sorriso antes largo, estava tímido.
- Minha filha, a mãe fez uma besteira tão grande, agora estou aqui com o coração cheio de dor e arrependimento. Eu não aguentava mais sofrer filha, Andréa me fazia tão mal, eu sei, podia ter ido embora, não é?.
- Porque não fez mãe?.
- Eu não conseguia minha filha. Andréa era minha droga, meu vício, eu só recebia as migalhas no final, era pouco para o tanto amor que lhe tinha, mas, era isso, ou nada. No começo ela me fazia tão feliz, sabe?, eu nunca pensei que ainda fosse encontrar a paixão na minha vida, após ficar viúva, não quis mais homem nenhum, aliás, só depois dela que soube que não fui feliz no casamento, no sex*, sabe?, eu fui completa com Andréa, ela foi chegando tão devagar, dizia que eu era uma mulher bonita, vistosa, que me anulei, ai um dia eu não resisti, me entreguei totalmente aos seus carinhos. Foi meu primeiro orgasmo.
- Você nunca tinha sentido nada por mulher, mãe?.
- Ah, desculpe, eu sentia uma atração pela Laura, sua ex namorada, ela era muito bonita, no começo eu achava que era só uma admiração, mas, depois vi que não, era difícil disfarçar, e acho que algum momento ela notou meus olhares e passou a me evitar, sinto muito por isso.
- Tudo bem mãe, é passado.
Jade deu um abraço em Doralice e pediu licença para sentar no sofá junto a policial, aquele era um momento que sentiu que não devia estar ali.
- Oi, posso sentar?.
- Claro, Doralice é sua parente?.
- Não, é mãe da minha mulher. Acho que não nos apresentamos, sou Jade.
- Alexandra, eu sinto muito em ter que ficar presente nesses momentos, mas, já que estou aqui, você aceita um café?.
- Sim, vamos comer com o bolo que trouxemos, tem muito, depois comemos cachorro quente com refrigerante quando elas terminarem a conversa que precisam ter.
Jade ainda perguntou se Doralice e Isadora queriam lanchar, como recusaram voltou a conversar com Alexandra.
- Faz tempo que trabalha por aqui?, é muito complicado esse trabalho?.
- Sete anos, no começo foi muito difícil, depois me acostumei, você deve imaginar, mais de quatrocentas mulheres em um lugar confinado, com crimes os mais diversos, nossa rotina é cansativa, mas, eu gosto.
- E você já se envolveu com alguém daqui?.
- Não, desculpe, não curto gurias, será que pareço gay?.
- Não, não parece, sei lá, foi uma impressão, desculpe. Eu fui noiva, sabe?, antes de Isa só tinha beijado uma menina aos dezesseis anos, enfim, quando vi estava completamente apaixonada por Isadora, temos dez anos de casada. Mas, mudando de assunto, vi que está lendo "Violetas na janela", você é kardecista?.
- Não, sou católica, foi uma detenta que me emprestou, e estou sinceramente amando, a história é linda, espero que a doutrina seja de fato a verdade.
- Puxa não acerto uma, hein?...e também espero que seja verdade.
- Estava brincando com você, eu sou casada com uma mulher faz dois anos, ela se chama Débora, é assistente social.
- Quase me enganou, mas, é kardecista também?.
- Não, nisso fui sincera.
As duas riram, e em dado momento Isadora percebeu o entrosamento da namorada com a policial, pareciam velhas amigas. Observando o olhar de ciúme de Isadora, a policial pediu licença e voltou a ler no sofá.
- Jade terminou o lanchinho?.
Falou uma irritada Isadora para a namorada que apenas balançou os ombros respondendo à pergunta.
- Sim amor...com licença Alexandra.
- Toda.
Jade levantou e a policial a olhou por alguns segundos de uma forma discreta, realmente Jade era uma linda mulher, e estava muito bonita com uma bata branca bordada com flores e pedrinhas, além da calça jeans e dos mocassins pretos.
- Será possível que criei um monstro?, pode ficar aqui Jade, vamos comer cachorro quente com a mãe.
- Nossa, mas, estava só conversando...hahahaha... a moça nem é gay amor, quer dizer, depois descobri que é.
- E ainda teve tempo até de fuçar a orientação da outra, olha que perigosa!.
- Ah, para né?.
- Eu bem vi a moça que não é gay, mas, é...te olhando com um olhar bem comprido, quase babando, e você igual uma pavoa, toda, toda exibindo suas penas.
Doralice riu e abraçou as duas.
- Minhas filhas, que saudade disso tudo, olha só o que perdi!.
Apesar do ambiente, Doralice, Isadora e Jade conseguiram transforma-lo, lembrando do tempo que moravam juntas e das traquinagens dos bichinhos de estimação, parando o riso apenas para comer os cachorros quentes preparados por Jade.
O tempo voou e duas horas pareceu muito pouco, mas, ajudou Doralice a renovar as esperanças de recomeçar, sentindo novamente no coração uma vontade de viver, tinha uma filha adulta, vencedora, mas, que precisava dela, também ia rezar pelo espírito de Andréa, para que ela encontrasse a paz que com certeza estaria precisando.
Fim do capítulo
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Rain
Em: 15/12/2020
Gostei desse seu pensamento heternoramtivo... Mas, não sei se conseguiria seguir essa neura aí, não. Rsrsrs.
Também senti saudades de você! ??
Resposta do autor:
Ah não consigo dizer minha esposa rsrsrs...é estranho...fico feliz que esteja bem, e os momentos difíceis sempre passam amiguinha, é só acreditar.
Rain
Em: 15/12/2020
Olá! Autora!
Aí! Estava com tanta saudade de ler que gerou muitas emoções nesse capítulo.
Primeiro, quase chorei na parte da Marcela. A gente sente a dor do personagem... É fascinante e doloroso, as vezes.
Segundo, amei esses momentos delas tudo juntos. O perdão da Isa e fofura e ousadia da Laura com a esposa. Foi muito bonito.
Eu fiquei meio confusa nessas apresentações de "namoranda" depois "casadas" essa é a primeira história que leio que os casais se apresentam assim. Geralmente, quando são casadas elas se apresentam com "minha esposa" ou quando são namoradas "minha namorada". Kkk fui entender quase no meio da história. Kkk
Terceiro, É realmente triste o caso da Dora, é difícil amar, mas não mendigaria amor. Mas, como você disse sobre a vivência... É verdade. Já vi casos assim, não que mataram, mas de pessoas que deixaram de ser feliz para continuar em relação sem amor.
Que policiais safadas! Ela coleciona fotos de melheres? Sei não... Olha uma louca disfarçada de policial!
Gostei da Alexandra, não vi maldade nela... Tomare que não mude. Isa com ciúmes foi fofo e engraçado!
Desculpas pelo comentário grande. A saudade se liberou! Kkk
Abraços, Autora!
Resposta do autor:
Olá Rain,
Esse livro é muito intenso, não é verdade?, foi criado com muito amor e saiu de supetão entre tantas coisas que tinha que fazer na época, não foi fácil. Marcela é uma personagem sensível, marcadas pela dor, não sei te dizer como vaio inspiração para ela, só veio e está tudo certo.
Também gostei de isa ter conseguido perdoar Laura, não é para qualquer uma, sinal que elas superaram e seguiram suas vidas.
Esse lance de namoradas, casadas acho que é uma coisa minha...ai sei lá, não curto dizer...minha esposa, as meninas gostam, mas, acho estranho, meio heteronormativo, mas, pode ser apenas neura minha rsrsrs
A Dora coitada, dá pena mesmo, muito sofrida, carente de afeto, foi fácil ser enganada, não é?.
Essas policiais são duas safadas, uma era pior que a outra, né?...a Alexandra é boazinha sim, não tem maldade, é que a isa é ciumentinha mesmo. E pode escrever eu adorei seu comentário, eu gosto de ler, saudades de suas falas,
abraços
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Andreia
Em: 13/12/2020
Teria sido bem mais fácil se mãe da Isa tivese ido embora ela estaria com a filha hj e talvez com novo amor, as vezes as pessoas esquece de se amar a si mesmo primeiro depois o próximo.
Agora ela tem que pagar pelo que fez.
E Isa tem um ciúmes da Jade em.
Até agora não entendi porque a Isadora tem que trazer este passado a toma algum significado vai ter.
Bjs
Resposta do autor:
Sim, acho que a Dora deveria ter se emprenhado mais em relação a sua vida, mas, diferente de Amália, não vejo maldade, apenas uma falta de vivência.
Isa tem ciúmes tadinha, ficou com trauma. E acho que ela foi atrás de descobrir o passado para tentar ajeitar as coisas de alguma forma dentro de si...
bjs
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florakferraro
Em: 22/11/2020
Olha a policial de olho na mulher da outra kakakakakak
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brinamiranda Autora da história
Em: 18/11/2020
Amanhã devo voltar com um novo capítulo que ainda não revisei para postar.
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