Capitulo 12 - Pela luz dos olhos teus
CONTINUAÇÃO
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Laura dormiu por mais meia hora, acordou com o celular tocando alto, olhou no visor "Roberta, ONG" e resolveu atender mesmo com todo sono do mundo.
- Oi?.
- Laura, é a Roberta, você não veio, fiquei preocupada, está tudo bem?
- Oi Roberta, sim, não fui a ONG porque tinha coisas para resolver, está tudo certo?, deu algum problema ai?, se precisar eu dou uma passadinha...
- Puxa Laura, nem é nada, eu quem precisava urgente de sua ajuda, estou tentando um patrocínio muito bom, para aquele projeto "Ballet na comunidade", lembra?, mas, tem que mandar até a noite de hoje e não sei como começar, você pode me ajudar?, como te falei queria tanto ajudar uma comunidade perto de onde moro.
- Claro, eu faço questão, me dá só uma hora que eu vou dar uma saidinha, preciso mesmo fazer umas comprinhas, assim que estiver em casa eu volto a te ligar, ai você vem aqui, pode ser?.
- Sim, muito obrigada Laura.
- De nada, não vamos deixar a comunidade sem esse projeto, nem se preocupe, fico emocionada com seu empenho em ajudar essas garotinhas.
Roberta riu por dentro e pensou "a única garotinha que quero ajudar é a mim mesmo querida". Não existia projeto e muito menos comunidade, Roberta na verdade tinha ojeriza a pobres, achava mesmo, por mais mesquinho que possa parecer, que os mendigos tiravam a beleza do lugar, também fazia de tudo para evitar os pedintes, imagine se algum dia pisaria em uma comunidade carente?, jamais, isso nunca aconteceria, mas, Laura não precisava saber dessa peculiaridade.
Após o rápido banho, Laura deitou na cama para lembrar os momentos vividos com a namorada, ao lembrar do que ela havia dito antes de sair, correu nua até o guarda roupas e sorriu ao ver uma caixa rosa embrulhada com um papel fininho lilás, ao lado estava um cartão escrito com uma terrível letra de médica, "Te amo para sempre, tua Paty". Dentro da caixinha tinham vários chocolates importados e por cima uma pequena caixinha preta, dentro estava um delicado colar de coração de diamantes e rubis, Laura colocou o presente no pescoço, estava emocionada por todo amor que sentiu impregnado neste presente.
Trocou de roupa rapidamente e seguiu para floricultura, escolhendo um buquê de girassóis com rosas vermelhas. Na papelaria escolheu balões com as cores do arco-íris em tom pasteis e um cartaz onde colaria as fotos, aproveitou também para comprar várias colas com glitter, só para enfeitar sua decoração. O presente já tinha sido entregue na véspera, aliás, Patrícia já estava usando, uma pulseira de ouro com dois corações, um de prata e outro de ouro com as letras L e P, Laura riu ao lembrar, se sentindo uma verdadeira adolescente apaixonada, mas, o que importava era que Patrícia tinha gostado realmente.
Em casa pediu por telefone um combo de comida japonesa e após almoçar, comeu três dos chocolates que ganhou, logo depois começou a encher os balões, formando um delicado arco-íris ornamentando uma parede do apartamento a partir de um varal improvisado. Embaixo ficaria a cartolina com as fotos, estava apenas esperando secar as letras enfeitadas com o glitter.
Após terminar os enfeites, separou os ingredientes para fazer um bolo que Patrícia adorava, feito a partir de três brigadeiros que separavam as camadas de chocolate, coberto por pérolas de açúcar para enfeitar, quando o bolo estava pronto e confeitado, organizou a mesa, ao lado dos pratinhos e dos copos escolheu um lindo jarro para as flores. Só faltava finalizar o quarto com velas e pétalas de rosas.
No fim, quando terminou tudo, Laura olhou o apartamento, achando a decoração bem adolescente, mas, sorriu, tinha conseguido fazer algo simples, mas, muito bonito. Quando ia escolher algumas músicas o telefone tocou novamente.
- Desculpe incomodar mais uma vez, é a Roberta, queria saber se posso te encontrar, é bem rápido, eu prometo.
Laura ainda pensou em dar um jeito de dispensa-la, estava tudo arrumado, queria apenas curtir esse momento, mas, ainda tinha bastante tempo até Patrícia chegar.
- Eu quem te peço desculpas Roberta, esqueci completamente, estava tão envolvida em arrumar o apartamento para o dia das namoradas que até esqueci os compromissos de trabalho.
- Puxa, se quiser deixar para depois, vou entender, tento resolver aqui, sozinha mesmo.
- Não, anota o endereço, já terminei praticamente tudo, ainda falta um tempinho até às 18h.
- Obrigada, eu chego já...
Roberta conversava no jardim da ONG, e assim que desligou refez o plano arquitetado há meses com Amália "é, vai sair melhor do que imaginava, uma traição no dia dos namorados, nem uma santa aceitaria". E saiu rindo e comemorando, pensando o quanto iria lucrar com o término desse namoro.
A vida é assim, uns ganham e outros perdem, quem sabe Laura esquece a médica nos meus braços?, ai termino essa história rica e com uma namorada super gata, morando na Irlanda, bom, caso ela não me queira, mulher é o que não faltará pra mim na Europa.
Após espreguiçar o corpo, Roberta se despediu rapidamente dos colegas na ONG, chegando rápido ao apartamento de Laura. Entrou e olhou a decoração de forma minuciosa, achou tudo de péssimo gosto, beirando ao brega, mas, não foi o que falou, não teria coragem e nem vontade de ser sincera com Laura nesse momento, tinha muito a perder.
- Nossa Laura, como está tudo lindo, eu amaria se um dia alguém fizesse uma surpresa dessa para mim.
- Obrigada, será que não está meio adolescente?, você acha que a Paty vai gostar mesmo?.
- Sim, claro que ela vai amar...
- Roberta, você aceita um bolo de coco com água, suco ou refrigerante?.
- Com suco está ótimo...
- De maracujá com baunilha, aceita?.
- Perfeito, não conhecia essa mistura, quer que te ajude a pegar o lanche na cozinha?.
- Pode ser, o meu suco é aquele que está em cima da mesa, pois tomo sem açúcar, você pode ir levando o bolo, ainda vou ainda adoçar o seu...
Enquanto Laura pega uma toalha e parte do lanche, levando tudo para uma mesinha de centro, Roberta derramou um forte sonífero em seu copo. As duas sentaram no sofá e enquanto comiam o resto do bolo do café da manhã, conversam sobre o "Projeto ballet na comunidade". No entanto, logo Laura começou a tontear e apagou, seu corpo não respondia a nenhum comando, os braços e as pernas estavam moles, sua pressão também havia caído muito. Sem perder tempo, Roberta olhou o relógio, a seguir tirou toda a roupa de Laura, colocando-a recostada no sofá com a cabeça descansando em uma almofada, tentou, mas, não conseguiu deixa-la em nenhuma posição sexy, e por fim deixou da melhor forma que podia.
No visor do celular o nome Patrícia piscava várias vezes, então, entendeu que a namorada de Laura devia estar bem próxima, Roberta tirou sua roupa rapidamente e deitou abraçada ao corpo inerte e gelado, não sem antes ouvir o som do coração de Laura, que parecia muito mais morta do que desmaiada. Apesar do corpo frio, Roberta inalou o cheiro e passou as mãos na boca, seios, coxas e sex* de Laura cheia de desejo, que mulher gostosa, pena que em todos esses meses ela não me deu a menor confiança, nem para os meus olhares, muito menos para minhas cantadas discretas.
Patrícia tentou ligar algumas vezes, para avisar que tinha conseguido atender e visitar todos os pacientes, e assim, fechou tudo o que precisava fazer no dia, com isso, já estava a caminho de casa.
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Colônia Nossa Casa, junho de 1995
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- Para um pouco Mahar, não estou conseguindo mais, nem estou respirando direito, ver tudo isso foi forte demais para mim, eu não estou preparada.
Após a fala de Patrícia, Mahar sentiu que a emoção foi forte demais para um espírito recém desencarnado, assim, se aproximou da tutelada e improvisou um leito ao lado da cama de Laura, onde o espírito de Patrícia pode descansar.
- Patrícia, me desculpe, devia ter parado antes de chegar a esse ponto, você desencarnou há pouquíssimo tempo, mas, eu sinceramente, não sabia que ia passar tão mal.
- Não se culpe meu amigo, eu pedi, agora só preciso dormir um pouco, ajude a Laura, é o melhor que pode ser feito nesse momento.
Patrícia adormeceu rapidamente, quando abriu lentamente os olhos, estava em um leito do hospital "Nossa Casa", ao seu lado uma enfermeira lia atentamente um livro e de vez em quando observava Patrícia, que adormecida tranquilamente, ressonava baixinho.
Patrícia acordou sentindo-se bem disposta, aspirou o doce cheiro de lavanda e camomila vindo do lençol e travesseiros, e bocejou chamando a atenção da enfermeira.
- Desculpa, não queria atrapalhar sua leitura, posso saber o que está lendo?
- "O morro dos ventos uivantes", como você está Patrícia?.
- Estou bem, e você é?.
- Desculpe, nem me apresentei, sou Lorna, uma das enfermeiras daqui...
Patrícia olhou a mulher com cuidado, observou a pele negra, os enormes olhos e os lindos lábios grossos que se abriam a todo instante em um sorriso, seus cabelos eram cheios de trancinhas, presos em um coque, deixando apenas uma cair solta em seu ombro.
- Espera, eu te conheço...
- Estava esperando por isso, sou a Lorna, estudamos no pré, naquele tempo eu tinha um apelido um pouco depreciativo, "Lola dentes de cavalo".
- Mas, eu nunca te chamei assim, não é?.
- Claro, você sempre me defendeu das coleguinhas que cismavam em me empurrar, humilhar e diminuir, em nome do que fez eu pedi para ficar com você no hospital, assim que soube que estava aqui para se recuperar.
- E o que aconteceu com você Lorna?, posso saber?.
- Após o final do ginásio eu comecei a sentir dores fortes de cabeça, parecia que ia explodir de tanta dor, e um dia explodiu tudo mesmo, bem dentro dessa minha cabeça dura, tive um AVC, os sintomas foram discretos, era a doença...que chegou silenciosa, mas, só morri depois de adulta mesmo.
- E veio direto pra cá?
- Não, eu acordei em um lugar sem entender nada, era um lugar frio e cinza, parecia que os dias passavam e estava sempre no inverno, também vivi no escuro, não tinha uma luz que de fato iluminasse algo, parecia viver em uma eterna penumbra, eu sabia que tinham outras pessoas ali, mas, não as via, ouvia sempre suas vozes por perto e via suas sombras, as pessoas gemiam, outras diziam palavrões, outras riam de desespero, parecia mesmo que estava dentro de um pesadelo, então, ouvi alguém dizer que estávamos no umbral, nunca havia ouvido falar desse lugar, quando perguntei a uma das sombras, a pessoa riu muito, uma gargalhada esquisita. Hoje eu sei exatamente o que é, e porque fiquei lá. Você deve lembrar de uma Lorna bem criança, mas, não sabe o que eu fiz com a minha dor, não foram poucas as pessoas que humilhei, fiz sofrer e ameacei, achava que estava dando o troco na vida, eu cresci muito, fui advogada, trabalhava para o tráfico, ganhei muito dinheiro de forma desonesta, sabe o "pagando meus honorários está tudo bem", eu pensava assim, muita gente inocente ficou presa por minha culpa, também sabia das execuções do tráfico, eu encobri muita coisa grave, nunca fui descoberta, fui de vítima a algoz, fiz muita coisa ruim Patrícia, acredite, depois acabei morrendo e o resto você já sabe.
- Mas, logo foi resgatada?.
- Eu não sei ao certo quanto tempo fiquei por lá, um dia estava cansada e resolvi rezar, ai apareceu meu mentor e ele me trouxe pra cá, aqui estudei, me tornei enfermeira, e estou aqui para agradecer o que fez por mim na minha infância.
Patrícia segurou a mão da antiga amiga de infância, e deu um carinhoso abraço, assim, Lorna pode seguir seu caminho e sair para cuidar de outros pacientes.
Dias depois, Patrícia estava na "Praça das flores" observando o ambiente quando percebeu que encostado a um banco ao lado do seu estava Mahar, Patrícia nunca tinha prestado muita atenção no físico do seu mentor, Mahar era um homem bonito, por volta dos cinquenta anos, tinha os cabelos lisos, pretos e com mechas grisalhas, suas batas eram sempre claras e impecáveis, tinha a pele cor de mate e um lindo sorriso.
- Patrícia, você deve saber porque estou aqui, você está bem para continuar?.
- Estou Mahar...já me sinto preparada.
- Daqui a uma semana vamos ao "Salão das lembranças", tenho certeza que por lá vai se sentir bem melhor do que naquele dia lá na casa de Laura, a presença dela foi muito impactante para você, mas, se está tão empenhada em ajuda-la, preciso que termine de ver tudo de onde parou, no entanto, para isso você tem que estar muito bem.
- Pode confiar Mahar, dessa vez eu conseguirei terminar.
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Salão das Lembranças, julho de 2005
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Em cima do salão estava escrito o nome do ambiente "Salão de lembranças, baú de memórias", logo abaixo uma frase em latim, Alls grave Nil - Nada é pesado para aqueles que têm asas.
A sala estava à meia luz, o ambiente era muito agradável, um suave aroma de lavanda deixava o lugar aconchegante, ao fundo uma música delicada levava a um intenso relaxamento, se fosse fazer um comparativo, parecia um enorme cinema da Terra, no entanto, com poucos lugares no auditório, as poltronas eram bem confortáveis, e a tela sim, esta era enorme, parecia abraçar quem estava sentado.
- Patrícia, já posso começar?
- Sim...
Mahar fecha os olhos e com as mãos espalmadas, como se estivesse dando um passe insere as lembranças captadas em Laura no telão. Antes de começar as cenas, volta a se concentrar, e logo uma senhora simpática entra na sala.
- Olá Amarílis, que prazer revê-la minha querida.
- Oi Mahar, trouxe o chá que pediu.
Patrícia observa a senhora de grandes olhos cor de violeta e os cabelos brancos que mais pareciam flocos de algodão, fazendo força para recordar de onde a conhecia, a seguir correu com os braços abertos em direção a Amarílis.
- Bisa, eu não estou acreditando...
- Minha netinha, como me reconheceu?, quando morri você mal falava.
- Não sei explicar bisa, mas, também lembrei das músicas italianas que cantava para mim, você me fazia sorrir sempre.
- Lembro minha querida. Mahar, eu posso ficar?.
- Claro minha amiga, você sempre é bem-vinda.
Só depois Patrícia soube que sua bisavó estava em uma colônia espiritual acima de "Nossa Casa", e que tinha vindo a pedido de Mahar, somente para auxiliar Patrícia devido ao grande amor que sentia pela bisneta.
- Patinha, era assim que te chamava minha querida, vou ficar ao seu lado o tempo todo, não se preocupe, se sentir vontade de chorar, deixe as lágrimas caírem, você é uma boa pessoa, mas, é humana, estou aqui para tudo, conte comigo.
- Obrigada bisa...
Na tela, a cena continuo exatamente do ponto onde tinham parado.
Patrícia entrou no apartamento rapidamente, sorriu ao ver a decoração, olhou emocionada tudo o que havia sido preparado por Laura com tanto amor e achou tudo incrível, quando deu a volta ao redor da mesa, ainda olhou o resto do lanche servido a Roberta, e por fim, avistou as duas abraçadas no sofá, ainda ouviu alguém sussurrando que era uma farsa, e sentiu que algo estava errado no cenário, não sofreu ao ver a cena, sofreu porque parecia que Laura estava morta.
Nesse momento, Laura conseguiu abrir os olhos lentamente para logo mais fechar, viu de relance Patrícia em pé e sentiu muito frio antes de voltar a desmaiar, estava nua e abraçada ao corpo quente de Roberta, mas, ainda conseguiu fixar o olhar em Patrícia, que ao perceber o que estava acontecendo, já se preparava para falar alguma coisa e agir, quando uma forte dor no peito a derrubou, foi assim que se olharam pela última vez, a dose do sonífero tinha sido excessiva.
Roberta levantou rápido, estava apavorada, tentou sentir o coração de Laura, que batia fraquinho, mas, viu que estava viva e a vestiu com muita dificuldade, logo mais viu que Patrícia estava morta no chão da sala e tinha o corpo trêmulo quando ligou para Amália.
- Amália, algo deu errado, Laura está aqui desmaiada, vai e volta, e Patrícia está mortinha aqui no chão.
- Você matou minha filha?, sua louca, eu vou acabar com você.
- Calma, Laura está bem, eu só coloquei sonífero demais, ela abriu os olhos e está respirando e o corpo está começando a ficar quente, deve estar voltando, agora a outra, se foi mesmo, o que faço?.
- Ora, livre-se do corpo, aliás...não, pode deixar que vou levar uns amigos policiais que já precisaram de mim, não tem problema algum, afinal, foi um ataque fulminante, melhor do que eu pensei, deu tudo certo, que bom.
Laura voltou lentamente, e quando acordou os médicos legistas já tinham levado Patrícia para todos os procedimentos, e Roberta e sua mãe lhes observavam.
- O que-que aconteceu aqui?
- Minha filha, você precisa ser forte, Patrícia não está mais entre nós, o coração...bom, foi infarto fulminante, sinto muito...
- Roberta, eu não lembro, me ajuda, o que aconteceu amiga?.
- Laura, você desmaiou do nada, senti que sua pressão caiu loucamente, ai tirei minhas roupa e as suas, a abracei para passar o frio que você estava sentindo, te aqueci com o calor do meu corpo.
- Laura minha filha, será que em um momento de fraqueza não ficou com Roberta?
- Não mamãe, isso jamais aconteceria.
- Sei lá filha...
A morena estava confusa, mesmo desmaiada lembrava de algumas palavras, Roberta conversava com alguém no celular, mas, não sabia com quem, lembrava de poucos fragmentos e, sabia que algo estava muito errado, mas, nessa hora, só pensava mesmo na dor de perder a namorada, e dentro do peito tinha a sensação que nunca mais se recuperaria.
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A caminho do Hospital Espírita Violetas na Janela, 26 de junho de 2016
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- Marcela...
- Oi Isadora?.
- Obrigada por estar comigo nesse momento.
- De nada amiga, saiba que gostaria de ter participado muito mais da sua vida desde a época da faculdade, mas, a vida é o que é. No começo Hannah mais parecia um pitbull, não deixava ninguém se aproximar, sempre na sua cola e discretamente dava um jeito de ameaçar quem se aproximava mais do que ela permitia, depois você passou a namorar a Laura e dava para perceber que estavam se curtindo muito, ai, não tinha muito tempo para as amizades, afinal, no intervalo vocês sempre estavam ou na lanchonete ou nos banheiros.
As duas riram lembrando.
- As pessoas sabiam?.
- Claro Isadora, mas, quem ia ter coragem de tirar onda com a Prof. Laura?, a mais ponto firme da faculdade?.
- Ninguém...aliás, você soube que ela esteve doente, não é?.
- Sim, ela me contou também do final do namoro de vocês, olha, é possível que a gente encontre Laura por lá.
- Nosso último encontro não foi muito legal, mas, não me importo de encontrá-la, Laura é passado...
- Desculpa, eu sinto que ainda te incomoda muito esse término. Isa, você é tão feliz com a Jade, da mesma forma com que Laura é feliz com a Melissa, tenta perdoar, acredito que nada foi proposital, depois vocês viveram um amor tão verdadeiro, durou o que tinha que durar, e está na hora de tirar esse espinho do coração, se liberte minha amiga...
- Só acho que eu tinha o direito de saber e decidir se queria ou não continuar o relacionamento mesmo ela estando doente, não acha?, ela me tirou esse direito e pior, me fez pensar que fui traída, é muito difícil perdoar isso.
- Bom, eu sei que na hora certa você vai esquecer, vai perdoar. Mas, me fala de Jade, eu achei uma ótima pessoa, ela tem uma energia leve e doce.
- Jade é literalmente a minha estrela, ela segue iluminando meus dias, me sinto completa com ela, ela é minha namorada, mulher, amante, companheira...parece que foi ontem, mas, mantenho o mesmo brilho no olhar quando olho nos seus olhos. Sou muito feliz.
- Como vocês se conheceram?
- É uma longa história...
- Vamos ter tempo até chegar ao hospital.
Isadora sorriu a cada lembrança, e sai contando animada sua história com Jade, falar do casamento foi uma ótima estratégia de Marcela, pois teve efeito imediato, o amor dissolve qualquer mal-estar. Apesar de ouvir atentamente, curtindo cada palavra da amiga, Marcela sentiu que ia ser muito difícil para Isadora superar a mágoa que sentia de Laura, era difícil para ela perdoar, mesmo depois de tantos anos e do seu casamento feliz.
- Marcela, e você?
- Eu sou viúva, lembra?, estou ainda juntando os cacos que partiram aqui dentro, não foi fácil Isa, um dia estava feliz com Paloma, a noite fizemos amor e no outro dia de manhã ela estava morta.
- Desculpa perguntar, mas, do que ela morreu?.
- Embolia pulmonar, um dia ela estava bem, saudável, como te disse jantamos, fizemos amor e fomos dormir, ela estava muito bem, no outro dia acordou com muitas dores no corpo, uma enorme dificuldade de respirar, um cansaço excessivo e dor no peito, fomos para o hospital, e para resumir, ela não saiu de lá, morreu nessa mesma manhã. Amanhã fará dois anos que ela se foi...
- Desculpe por não estar contigo nesse momento...
- Yuri me disse que estava viajando com Jade em uma Eurotrip, não ia poder fazer muito por mim minha querida.
- E depois de Paloma?.
- Você deve saber que tive um casinho com Samantha.
- Sim, eu sei, ela me contou na época, é uma pena que não deram continuidade.
- Samantha é completamente apaixonada por Nadine, você percebeu como ela a olha?, é um amor que ela não consegue disfarçar, que escapa dos olhos, basta falar o nome da Nadine que a Samantha se desmancha inteira, então eu vi que não adiantaria investir, sei que uma hora o amor vai pegar as duas desprevenidas e elas vão acabar de apenas brincar com fogo e vão se deixar queimar inteiras nessa fogueira...
- Eu espero que sim, Nadine foge, eu não entendo porque, parece que quando a coisa está engrenando ela some, sei lá, parece que tem receio do amor de Samantha, mas, confesso que já flagrei algumas cenas das duas.
- Eu não sei Isa, Nadine nunca me deu abertura alguma para falar de qualquer coisa que vá além de trabalho, ela é muito reservada, mas, espero que ela e Samantha se entendam um dia, todos nós merecemos toda a felicidade do mundo...
- Sim, e pelo visto chegamos Marcela.
Fim do capítulo
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florakferraro
Em: 22/11/2020
Ah, eu deixava pra lá, essa Laura não merece consideração, custava ter avisado que estava doente, perdoava só para seguir mesmo.
brinamiranda Autora da história
Em: 15/11/2020
Quanto a questão do perdão para mim só vale se não for da boca pra fora, de qualquer forma é libertador para quem perdoa também...a Isa consegue perdoar depois...
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Rain
Em: 13/11/2020
Caramba! Paty e Laura eram tão fofas juntas! Eu queria ter visto mais delas juntas seriam bobas apaixonadas. E que triste a Marcela também. É incrível como sentimos a dor dos personagens. O bolo na garganta, a dor no peito a vontade de chorar é incrível e doloroso.
Para mim o perdão é que nem o amor. São poucos que sabem valorizar, ter e receber, e mais ainda, saber sentir. Para mim tem coisas que só Deus é capaz de perdoar. Mas, ainda assim eu entendo tanto a Laura como a Isa nessa história.
Até a próxima! Bye
Resposta do autor:
Sabe Rain, é como te disse... quando comecei o livro eu não imaginava contar a história das duas, mas, é como te falei, as vezes a coisa toda rumos diferentes ao escrever...Marcela não lembro como veio...ah, a gente cria um vínculo com as personagens, tem livros que já li mais de duas vezes e sempre sofro rsrsrs
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brinamiranda Autora da história
Em: 12/11/2020
Sabe Marta sempre que escrevo algo eu penso como eu agiria, como ia sentir se fosse comigo...quando escrevo acabo de ajudando também a pensar, a refletir, a ver o ser humano de forma real com seus acertos e erros...
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Marta Andrade dos Santos
Em: 11/11/2020
É complicado o perdão.
Resposta do autor:
Verdade, ainda mais que Isadora sentiu que não foi dado a oportunidade de escolha, mas, talvez não fosse para ser, não é?, se tivesse seguido com Laura não teria conhecido Jade...é assim na vida, assim nos livros.
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