Capitulo 11 - Aparando as arestas
CONTINUAÇÃO
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- Espera, Andréa, solta a Jade...eu vou com você.
- De jeito nenhum mamãezinha, sei que com essa pedra rara, eu vou bem longe, mas, não se preocupe, ela não faz o meu estilo.
Doralice, olha assustada e diz.
- Bia, eu vou com você, sei que você deve estar sofrendo.
- É Andréa...ah, quer saber?, que seja, venha logo Dora...au revoir gatas, e Dra, tu é gostosa pra caramba, desculpe ter atirado nos seus soldadinhos.
Isadora tenta impedir que a mãe seja levada, mas, Andréa antes de sair avisa "sei que não tem como confiar, mas, eu não vou fazer nada com Dora, pode acreditar, adeus e obrigada por tudo".
Andréa segue com Doralice até a garagem, onde pegam o carro de Isadora.
- Entra logo Dora, elas estão vindo?
- Não amor!.
Doralice passa a mão por baixo da saia de Andréa, até encontrar a minúscula calcinha.
- Eita, essa minha velha é muito assanhada, mais tarde vamos ter tempo para isso, agora temos que fugir, vamos por aquele atalho.
- É que você me deixa louca, fico louca de amor e de paixão por você. Sempre fui muito fiel aos meus princípios, você era como uma filha, mas, foi chegando de mansinho, e mudou meus sentimentos, me convenceu que estou viva e há muito tempo sem um amor, você me conquistou. Eu confesso que não gostei da ideia de colocar um remedinho para Jade e Isadora dormirem, e sei que as vezes, colocava escondido no meu leite também...enfim, não estava fazendo mal a ninguém, não é?, era só para dormir, também acreditei quando disse que apenas ia fazer nosso pé de meia, roubando de algumas pessoas que tinham muito, eu achei que seria uma espécie de Robin Hood, eu te entendo meu amor. Agora, deixa a Dorinha sentir você, só um pouquinho.
- Para Dora, estou dirigindo, depois você vai ter a noite toda para isso...
- Não fala assim gostosa da Dora. Meu bem, eu preciso saber, você matou aquelas gurias, porque?
- Eram apenas vadias, eu só queria roubar, como sempre fazia, mas, elas reagiram, me bateram. Agora, esquece isso, põe sua mãozinha aqui novamente, só para saber o que te espera mais tarde. Só um pouquinho, certo?.
- Posso Déa?.
- Deve...
Na casa de Isadora, os investigadores foram levados na ambulância, os ferimentos por sorte eram superficiais, o intuito de Andréa era apenas fugir e não matar. Enquanto a delegada parte com outros policiais, Isadora chorava abraçada a Jade, para logo depois ler o recado da mãe no visor do celular.
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Minha filha,
Espero que me perdoe, eu encontrei o amor com Andréa, ela só queria dinheiro, matou por força das circunstâncias. Não se preocupe, vamos fugir, vou ser bastante feliz, vou redimir a minha mulher, e vai ficar tudo bem. Um dia, tenho certeza, vamos nos reunir outra vez.
Com amor, sua mãe Doralice
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Curitiba, 22 de junho de 2016
Como a vida segue e "nunca nos banhamos duas vezes nas águas do mesmo rio", para Isadora, o tempo também correu, a saudade da mãe foi aliviada com a presença amorosa de Jade, de seus cachorros e gatos e da ONG de apoio a jovens LGBT's. Nesse período aproveitou para estudar para outro concurso e foi aprovada, Isadora queria dar um salto em sua carreira, sempre agradecia todos os anos que passara como escrivã, mas, sentia que era hora de seguir seu sonho, e em março de 2016 foi nomeada juíza. Enquanto isso, Jade resolvera fazer faculdade de veterinária, uma antiga paixão. E seguiam felizes e se ajudando. Após tantos anos, Isadora também vinha pensando em retornar o projeto sobre a biografia da médica Patrícia, agora que tinha mais tempo livre.
Era noite quando o telefone toca, Jade atende e vai até o quarto.
- Amor, é uma delegada, Marcela Bevilaqua, pediu para subir.
- Ah, sei quem é, é a nova delegada da Homicídios, uma amiga da época da faculdade, pode deixar que vou atendê-la.
Isadora sorriu ao ver Marcela, seus cabelos eram pretos, lisos e curtos, estavam meios repicados, o rosto era delicado e anguloso e seus braços eram fortes e tatuados, do lado direito rosas e begônias enroscavam em toda sua extensão e no outro uma espécie de anjo japonês meditava na posição de lótus, Marcela ainda tinha o mesmo jeito de quando estudaram na faculdade e Isadora ficou bem feliz quando soube da notícia que tinha passado no último concurso para delegada.
- Isa, eu gostaria de vir por uma boa causa, você precisa ser forte colega.
- Nãooooo, Marcela, a minha mãe...ela morreu?
- Não querida, ela está viva, mas matou a namorada, Andréa está morta. Eu vou te contar tudo o que sei.
- Eu, eu nem posso acreditar Marcela.
- Eu lamento muito Isadora, gostaria de nem estar aqui para te dar essa notícia.
Marcela falou toda a frase sem respirar, estava nervosa de ser a emissária de uma notícia tão ruim a amiga, a voz estava trêmula e atropelada, buscava o ar, e fazia pausas para se expressar, mas, foi se acalmando, principalmente na hora que Jade entrou na sala e segurou a mão de Isadora.
- Olha Isa, eu só sei o que ouvi no depoimento, pelo que sua mãe disse, atualmente morava em um sítio em Quitandinha com Andréa, elas se mudavam sempre, no dia do crime elas tiveram uma discussão bem feia. Andréa estava namorando uma adolescente, Doralice disse que isso sempre acontecia, mas, os casos eram facilmente descartáveis e por isso, sempre perdoava, só que com essa última, Andréa se envolveu mesmo e a novinha passou a ser uma espécie de caso fixo, quando sua mãe foi reclamar, Andréa disse que ela estava velha e acabada, e que não tinha obrigação de fazer sex* com alguém que só tinha nojo.
Isadora escutava sem acreditar, amava sua mãe, e apesar de todos os erros que cometera em nome do que ela sentia por Andréa, custava a aceitar que ela seria capaz de cometer um crime.
- Continue, por favor Marcela...
- Bom após essa fala, houve uma violenta discussão, elas estavam no quarto e Doralice a procurou para namorar, queria sex*, beijou o pescoço de Andréa e foi repelida, as duas se levantaram, e Dora empurrou Andréa contra a parede, que se irritou com a atitude e falou que ela era uma velha, e estava acabada, que gostava mesmo era de menininhas gostosas, com o corpo bem feito e os seios durinhos. Andréa seguiu provocando, comparando Doralice a seus casos. Ai sua mãe se humilhou, disse que podia fazer várias plásticas, e malhar muito, pois nunca tinha engravidado, portanto seu corpo era rijo. Andréa riu e disse que ali só nascendo de novo. O fato foi que sua mãe não aguentou, disse que Andréa precisava dela para limpar as sujeiras que aprontava, fazer uma comidinha e ajudar a organizar o dinheiro que ganhava, pois Andréa gastava tudo com mulheres, farras e bebidas, e por fim chamou Andréa de alcoólatra. A partir daí Doralice foi agredida, e nervosa, pegou o revólver da própria namorada só para ameaçar, mas, foi provocada novamente e atirou, o tiro transpassou o coração, enfim, o resto você deve imaginar.
Isadora passou a mão no rosto sem acreditar, não conseguia entender, como sua mãe, sempre tão carinhosa, correta e fiel aos seus ideais, aceitou seguir Andréa em uma vida tão desregrada e sem limites, Isadora não aceitava a escolha de sua mãe, porque ela se submetia a tantas loucuras em nome de uma paixão que não trazia nada de bom?.
- Marcela, eu preciso de uns dias, não vou conseguir encontrar minha mãe agora, não estou pronta.
- Isa, eu posso te dar uma sugestão?, procura a Dra. Vivian Lanz no "Hospital Espírita Violetas na Janela".
Marcela mencionou o hospital, sem saber que estava sendo inspirada pelo espírito da médica Patrícia, já era a hora de começar a curar todas as cicatrizes deixadas pelo passado.
- Se quiser vou com você e Jade, nesse domingo vai ter um grupo de meditação e algumas terapias holísticas, acho que vai te fazer muito bem, vai te dar uma força para enfrentar esse momento, que sei...é tão difícil.
Jade agradeceu, e sorriu avisando que não poderia ir, tinha prova na segunda e precisava estudar antes disso, mas, deu toda força para Isadora aceitar o convite, a ruiva pensou por uns minutos e sentiu que no final das contas poderia ser muito bom. No outro lado o espírito de Patrícia tentava soprar que seria essencial um preparo espiritual em um momento tão complicado, e após muito pensar, Isadora aceitou o convite.
- Marcela, eu aceito ir contigo, eu preciso de toda força, não sei como será ver minha mãe após tanto tempo, ainda mais depois de ter cometido um crime.
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Colônia Espiritual Nossa Casa, em algum lugar nas estrelas...
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Patrícia seguia sua rotina de socorrista, acolhendo na colônia jovens desencarnados e ajudando no tratamento espiritual destes, também trabalhava como médica, ajudando a curar os ferimentos que seguiam no períspirito do desencarnado.
Era o finalzinho de uma linda tarde, e depois do último trabalho, seguiu até a praça localizada no centro da cidade, lá encontrou Mahar, seu mentor espiritual, que havia ajudado a auxiliar no resgate de um grupo de jovens mortos em uma boate LGBT por um fanático religioso.
- Mahar, apesar de muito comovida com a morte destes jovens, estou feliz em ajudar, sei que eles vão entender, eu me sinto realizada aqui, não poderia estar melhor, me sinto tão mais útil do que na época em que era médica na Terra, acho que lá estava apenas treinando para trabalhar aqui.
- Para voltar a trabalhar aqui, não é?, você continuou de onde parou, e imagino o quanto estar aqui mexa contigo, sabe, essa colônia jamais será a mesma quando você se for, novamente.
- Tanta coisa mudou desde que cheguei, não é mesmo?, mas, como assim, quando eu me for?.
- Você tem duas possibilidades, ou vai para outro plano, logo acima da Nossa Casa, ou tem a chance de reencarnar, como filha de Laura.
- O que?.
- Laura pensa em adotar, e você foi o espírito cotado a voltar como filha dela e de Melissa, o que pensa?.
- Nem sei o que dizer, preciso pensar, preciso ficar um pouco sozinha Mahar, essa novidade mexeu com meu coração, posso dar uma volta?.
- Eu entendo Patrícia, fique à vontade.
Patrícia abraçou fortemente Mahar e saiu caminhando entre as flores que ornamentavam a grande praça, saindo em direção ao lago que encontrava-se logo após o canteiro de peônias, e assim que sentou em uma das grandes pedras que enfeitavam o lago, passou a recordar sua caminhada até ali.
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Colônia Espiritual Nossa Casa, junho de 1995
Após a sua morte, Patrícia foi acolhida na Colônia Espiritual Nossa Casa, uma dentre muitas que são povoadas por espíritos desencarnados. A colônia localiza-se acima da cidade de Curitiba, e foi pensada por um famoso arquiteto desencarnado da cidade. A Nossa Casa, tem um formato peculiar de um triângulo, sendo tão bem dividida quanto qualquer cidade da Terra. Na primeira ponta do triângulo era localizado os bairros residenciais, onde famílias espirituais voltavam a se encontrar, com a sutil diferença que a única coisa que separavam as casas eram os jardins que enfeitavam entre as construções de acordo com o gosto da família, o tamanho da casa dependia no número de habitantes, e todas podiam ser expandidas em uma tecnologia impossível de explicar aos encarnados.
Na segunda ponta do triângulo, ficavam os centros de estudos, os mais diversificados, de lá saiam pesquisas que ajudavam os homens na terra a encontrar curas para os seus males, que eram soprados através de sonhos ou insights aos grandes médicos do planeta. Neste mesmo lugar estavam as bibliotecas e os centros de idiomas. Na outra ponta ficavam os hospitais e centros de terapia, também encontrava-se o "Centro da Reencarnação", lugar onde os mentores encontravam com os tutelados, para discutir possíveis novas encarnações, ou mesmo acessar as lembranças do passado e de outras vidas se necessário, juntos debateriam a evolução espiritual do espírito e os próximos passos. No centro da cidade, ficavam as praças e locais de encontros, assim, como auditórios para shows, palestras e apresentações de danças e peças de teatro. Muitos artistas continuavam fazendo suas apresentações após o desencarne, apenas mudavam o teor das músicas.
Após lembrar da surpresa e felicidade ao conhecer a colônia pela primeira vez, Patrícia passou a lembrar do seu desencarne, sua lembrança não alcançava tudo, mas, assistira cada passagem em uma sala de vídeo junto a Mahar, portanto, tinha o cenário completo formado em sua cabeça.
Patrícia soube no exato momento que tinha chegado a sua hora, após um breve piscar de olhos estava longe do corpo, e por segundos viu um pedaço da cena, Mahar estava no ambiente, seguido por dois amigos da colônia, coube ao mentor de Patrícia a missão de desliga-la do que ainda a mantinha presa ao corpo que jazia no chão, Mahar observou, e ele estava lá, brilhante, o resto do seu cordão de prata, que tem o objetivo unir o corpo ao espírito. Patrícia adormeceu, sem ver que na Terra, junto a Mahar, estava também a mentora espiritual de Laura, Virginie e outros amigos espirituais que ajudavam no ambiente, tentando limpar as energias negativas de Roberta e os espíritos que a seguiam por afinidade e sintonia, mas, que não permaneceram por muito tempo no lugar.
Quando Patrícia acordou, ainda se sentiu muito fraca, e percebeu que estava em um hospital. A primeira pessoa que viu foi Mahar, o reconheceu dos seus sonhos, e soube que estava diante do seu mentor.
- Olá, como está se sentindo Patrícia?.
- Estou um pouco fraca, mas, tenho a certeza absoluta que já não estou na Terra, e você quem é caro amigo?.
- Sou Mahar, seu mentor espiritual, seguimos juntos em muitas vidas, às vezes você se encontra na condição de encarnada e sempre que possível tento ajudar da melhor forma em sua caminhada. Eu trouxe aqui uma sopa, tome, vai te ajudar a reagir melhor a sua nova condição.
Patrícia agradeceu e segurou o prato, o liquido amarelo encorpado, lembrava uma sopa de mandioquinha com legumes, mas, o aroma e o sabor não tinha nada em comum com o que comera na Terra, não tinha nada a que pudesse comparar, mas, achou delicioso, estava com fome e sabia que teria essa necessidade de se alimentar e dormir por mais um tempo.
- Mahar, eu nunca tive medo do momento do desencarne, no fundo senti que morreria cedo, minha crença me fortaleceu, sempre busquei consolo na doutrina espírita, aliás, o que me preocupa nesse momento é a minha família e Laura, sinto que ela não está preparada para a separação, não quero que ela se sinta culpada, sei que era o meu dia, de uma maneira ou de outra, eu não estava me sentindo bem há dias, mas, preferi não falar nada, sou, aliás, era médica, senti que algo não estava muito bem no meu corpo, mas, não sabia até que ponto estava adoentada, e fui deixando para investigar depois.
- Laura, vai se sentir um pouco culpada, apesar de não lembrar do que realmente aconteceu, e pelo que sei Virginie, sua mentora, acha que nem é o momento de nada ser relevado, mas, na hora certa, ela vai saber de tudo, e minha querida se você quiser pode chorar, não precisa ser forte sempre, você acaba de deixar sua vida, e sei que era feliz.
Mahar envolve Patrícia em um abraço tão amoroso, que sua tutelada logo desaba, chora toda a tristeza que carregava no peito, "porque Mahar, porque agora?", e as lágrimas desciam. O mentor esperou que se acalmasse, chorando até a derradeira lágrima para dizer.
- Minha querida, tem uma razão para Laura ter presenciado tudo, isso vai ajudá-la no futuro a libertar Amália, sua mãe, ainda muito presa aos prazeres excessivos e no egoísmo. Se não fosse preciso, ela teria sido poupada, isso foi fundamental para a evolução de Laura, ela ainda tem alguns nós que precisam ser refeitos.
- E nós?.
- O amor de você é muito forte e vem de outras vidas minha querida, não vai terminar nessa.
- E a Dona Amália, eu fiz alguma coisa a ela em outra vida?
- Não, vocês nunca haviam se visto antes, Amália precisa evoluir, infelizmente todo o preconceito que ela tinha em relação a filha não condizia com seu comportamento, sabe o sonho de Amália?, era deixar uma sucessora nas suas conquistas, Laura seria uma extensão sua, e se isso realmente tivesse acontecido, se a filha tivesse seguido uma vida heterossexual, após o desencarne de Amália, com certeza ela agiria como uma vampira, a sugar a energia de Laura na ordem sexual.
- Que horror Mahar...
- Infelizmente, isso é muito comum.
- E meus pais, como reagiram?.
- Hoje passou dez dias após seu desencarne, te deixamos dormindo até depois da missa de sétimo dia, esses primeiros dias são sofridos para quem parte e para quem fica na Terra, queria te poupar dessa dor. Bom, ninguém nunca está preparado para ver um filho partir, você sempre foi um orgulho, seus pais discutiram bastante, um colocando a culpa no outro, porque não reclamaram do excesso de trabalho seu?, porque não ligaram há dias?, essas coisas. Mas, logo tiveram ajuda e terminaram por se unir na dor, foram acolhidos no "Encontro de casais enlutados com Cristo" e seguem tentando cuidar um do outro, dentro da religião deles. Deus está em todas as religiões, não importa a forma com que cheguem a ele.
- Sim, meus pais sempre foram católicos, fico feliz que tenham conseguido fazer as pazes e se ajudar, não me sentiria bem se brigassem por mim, tudo tem uma causa, e estar longe não significa falta de amor.
- Cada um tem o seu caminhar...
Nessa semana Patrícia e Mahar não conversaram mais sobre o desencarne, e após um mês, Patrícia já estava completamente adaptada, participando de tudo que podia, estava estudando para ser uma socorrista, e já trabalhava para a espiritualidade, ajudando no que podia na colônia. Além do curso de socorrista, se matriculou para aprender alemão e nas aulas de música, onde escolhera a flauta transversal como instrumento. Ainda tinha necessidades, mas, sabia que seria assim, se alimentava ao menos três vezes ao dia, e para sua surpresa, alguns alimentos eram bem semelhantes aos da Terra, também dormia e tinha necessidades fisiológicas, e não se importava se um dia ia deixar de fazer ou não.
Todas as tardes encontrava-se com Mahar para conhecer outras particularidades da colônia ou mesmo conhecer novos amigos na caminhada. Nessa tarde, estava passeando pelos canteiros de rosas, admirando a beleza do lugar, feliz sentou em um dos bancos, colocados estrategicamente em torno do jardim, convidando para momentos de deleite e contemplação. As flores eram cuidadas por um imenso grupo de adolescente e crianças que cercavam os canteiros e de mãos dadas entoavam mantras e músicas suaves, e assim irradiavam energia para todo lugar, conhecia muitos dos que trabalhavam no jardim, a cada dia conversava com um, queria entender um pouco de suas histórias, tinha se afeiçoado muito a uma menina de uns oitos anos de nome Carlinha, que sentiu que Patrícia estava ali, mas, não quebrou o círculo, tinha um trabalho a terminar.
Mahar se aproximou lentamente, não queria atrapalhar, mas, Patrícia sentiu sua aproximação.
- Mahar, meu amigo, sente, gostaria mesmo de conversar contigo. Eu preciso ver Laura, posso pedir autorização?, não queria fazer o pedido sem antes passar pelo seu crivo.
- Patrícia, você sente que está mesmo preparada?, Laura não aceitou sua morte ainda, sua mentora está ajudando, Virginie mal sai de perto, e está se esforçando para que ela logo se recupere, mas, você sabe, ela é bem teimosa.
- Mahar, vamos?, eu gostaria de solicitar uma equipe para dar um passe coletivo em Laura, feito por nós desencarnados, junto com a mentora dela, quanto mais energia, melhor, quem sabe assim ela não se sente melhor?, e se ela ficar bem, eu vou ficar completamente feliz.
- Vou solicitar, eles atendem de três a dez dias.
- Obrigada Mahar.
Três dias após o pedido, Patrícia recebe autorização, não apenas para visitar seus pais, como a visitar e dar o passe com uma equipe espiritual organizada por Mahar.
Assim que Patrícia, Mahar e mais dois trabalhadores entraram na casa de Laura, percebem que a aura de Amália tinha um cor escura e exalava um cheiro fétido. Mahar tentou um passe magnético, mas, chegava no campo espiritual de Amália e praticamente se dissolvia no ar.
- Deixo Amália para uma próxima ocasião, vamos ao quarto de Laura.
Na entrada do quarto de Laura, um espírito de luz guardava a entrada, estava a pedido de Virginie. Patrícia foi a primeira a entrar seguido dos amigos, Laura estava sentada na cama, visivelmente mais magra e abatida, junto a ela estava Lírida, sua avó materna desencarnada e Virginie.
- Olá amigos, fico feliz com a presença de vocês, como vê, estamos tentando de tudo, mas, a reação de Laura é muito lenta.
Patrícia pediu licença aos mentores e sentou na cama, viu que milhares de fotos suas estavam espalhadas, e Laura estava abraçada ao ursinho Tupy, um dos presentes dos muitos que dera em algum dos dia dos namorados que comemoraram juntas.
As lágrimas de Laura caiam grossas em cima das fotografias, e sem conseguir conter a emoção falou em seguida.
- Paty, minha mãe disse que eu te trai com a Roberta, mas, eu não lembro de quase nada, só de uns flashes...eu nunca te trairia, uma hora eu estava conversando com a menina da ONG, depois eu acordei e vi bem longe teus olhos tristes, de repente você não estava mais lá, e eu acordei, não lembro direito.
O choro apertava o peito das duas, Patrícia pediu um passe a Mahar antes de continuar, e após isso, passou delicadamente a mão no rosto da namorada dizendo.
- Eu sei disso meu bem, não foi sua culpa, calma...
Patrícia, apesar de toda sua tranquilidade, pediu novamente ajuda aos amigos que a acompanhavam, com isso, um círculo foi formado em volta de Patrícia e de Laura e todos deram um forte passe magnético.
- Mahar, estou melhor meu amigo, eu preciso saber o que aconteceu, mas, não sei como buscar as lembranças do subconsciente de Laura, eu preciso entender para ajudar. Virginie, você autoriza?.
- Claro, eu também posso e quero ajudar.
Mahar encostou a mão direita na testa de Laura, e com a outra mão, imagens eram transmitidas na parede, atrás dele, Virginie ajudava energizando o companheiro, nesta época, ninguém sabia que Mahar e Virginie ao longo das encarnações ajudavam Laura e Patrícia, suas filhas em uma das vezes em que foram casados, eram almas afins, em algum momento queriam voltar a carne para concretizarem o forte amor que os uniam.
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DE VOLTA AO PASSADO - PATRÍCIA & LAURA
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Curitiba, 12 de junho de 1995
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- ONG Resistência & Luta LGBT, Silvana, bom dia...
- Oi Sil, aqui é a Laurinha, estou falando baixinho para não acordar a Patrícia, estou ligando para avisar que hoje não vou posso ir, quero aproveitar que Paty vai visitar os pacientes as 10h e enfeitar o apartamento, tenho umas coisas a fazer, quero passar na floricultura e na papelaria, comprar rosas, balões e cartolinas para enfeitar tudo para hoje, quero que esse dia das namoradas seja especial, vou pedir Paty em casamento.
- Em casamento Laurinha?, que legal, aproveita amiga, vocês merecem, nem se preocupa que aguentamos as pontas por aqui, não tem nenhum atendimento até agora, está tudo certo, fora que está cedo demais, agora que são 7h.
- Obrigada amiga, até amanhã então.
Roberta ao lado, finge não escutar, mas, estava atenta a cada palavra pronunciada naquela ligação, esse dia seria ideal para dar o bote que tentava a tantos meses sem resultado algum.
Depois de desligar, Laura ficou pensando em tudo o que acontecera de madrugada, não estava entendendo porque apesar de toda a felicidade e animação com o dia, não conseguia esconder a tristeza que sentia desde a hora que acordou de madrugada, era uma sensação de perda, uma dor intensa, sentia que Patrícia ia deixa-la a qualquer instante, mas, desde o começo tentou abafar o medo com uma lembrança positiva, mas, voltou a pensar na hora que acordou.
Era 3h da manhã quando Laura abriu os olhos, era dia dos namorados e massageou entre os seios, sentia uma dor no peito que parecia palpável, seu coração latej*v* de tanta dor, assustada resolveu acordar Patrícia, vai que estava sofrendo do coração e não sabia?.
- Paty, amor, acorda, acho que estou enfartando.
- O que está sentindo?.
- Um aperto no coração, algo ruim, que vai e volta...parece que tem alguém com uma mão destruindo tudo por dentro.
Patrícia coça os olhos cansados, olha o relógio marcando 3 da manhã, e percebe que a dor de Laura é emocional, e a abraça amorosamente.
- Amor, isso chama angústia e não infarto, você deve ter tido outro pesadelo, eu peço tanto para você rezar antes de dormir.
- E rezar faz com que as coisas ruins não aconteçam?.
- Nem sempre, mas, nos ajuda a ser fortes, nos ajuda a manter a sanidade diante das situações mais difíceis e das dores.
- Paty, promete que você não vai me deixar? eu não saberia viver sem você.
- Saberia sim amor, seu coração é forte, e você é jovem, sofreria, mas, logo seguiria sua vida, e se apaixonaria novamente, ninguém é eterno Laurinha, todos nós vamos embora...
- Cruzes, eu nunca mais ia querer ninguém, pode parar com essas coisas espíritas, eu tenho medo.
Patrícia a abraça apertado, passando a mão em seus cabelos, sem entender porque seu coração em algum momento também doeu, era uma dor física e emocional ao mesmo tempo, mas, devia ser apenas pelas palavras de Laura.
- Laurinha, eu estou aqui, não é?, isso que importa, vamos aproveitar o nosso dia das namoradas, vamos curtir esse momento, logo mais eu saio para visitar meus pacientes e estamos perdendo tempo, concorda?.
Laura sorri e puxa a namorada para um beijo demorado. Só depois descobririam que tudo seria a última vez, o último beijo trocado, a última vez que faziam amor e se declaravam sentindo o coração descompassado, e por fim, seria a última vez que dormiriam abraçadas, nuas e completas.
Patrícia acordou atrasada as 7h, entrou rapidamente no banho, pensou em chamar Laura para tomarem banho juntas, mas, sabia que esse banho as levaria de volta a cama e preferiu seguir sozinha. Antes de sair, chama Laura algumas vezes.
- Laurinha, amor?, Laurinha?.
- Humm, o que foi?.
- Estou saindo, volto as 18h, tem uma surpresinha dentro do guarda roupas, quando acordar realmente olha lá, eu acho que você vai gostar, mais tarde comemoramos. Te amo para sempre...
- Tá amor, eu te amo também, pra sempre...
Antes de sair Patrícia olha pela última vez a namorada nua, enrolada no lençol, e sai com os olhos cheios de lágrimas, estava difícil deixa-la essa manhã....
Fim do capítulo
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Andreia
Em: 13/12/2020
Como vai ser hora que Iwa descobrir que mae tava a fim da namorada dela em a Isadora tbm acredita demais nas pessoas e não tem conversa deixa por isso mesmo.
Quando sera que as duas vão se encontrar a segunda vez e descobrir as coisas medica e q Isadora.
E ostios da Isa não vão mais aparecer?
O destino de Patricia, Laura , Jade , Roberta e Amália estão ligados?
Não vai me dizer que Roberta e mae da Isadora está com nome falso?
Bjs
Resposta do autor:
Oie, a Isa tem bom coração, ela acredita nas pessoas, vai caminhando na história que as respostas vão chegar. Os tios de isa nunca mais apareceram, fugiram e deixaram a pobre para trás, no entanto foi melhor assim...nãooo...Roberta era aluna mesmo da amiga de Amália, uma moça interesseira, só isso...
bjs
florakferraro
Em: 22/11/2020
Eu não sei se fico com pena da Doralice ou se sinto raiva, ou os dois.
A véia pirou o cabeção.
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brinamiranda Autora da história
Em: 11/11/2020
Sabe Rain eu comecei um conto só da Patrícia, mas, não rolou, vamos ver se depois consigo...
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Rain
Em: 10/11/2020
Mulher que coisa bizarra! Doralice e a doida da Andréa tinham um caso e que acabou mal por sinal. Então, o que Doralice sentiu por Laura foi um tipo de atração? Por isso a Laura disse que ela a olhava de um jeito de frente? Dora é uma mulher meio... Safada e confusa.
A pergunta que me fiz agora foi: A tia da Isa ( aquela do começo) vai voltar?
Agora, que percebi também que Doutora Vivan Lanz, foi quem fez o parto da Isadora! Eu não tinha percebido isso até agora! Não é que elas se encontaram.
E sentir um aperto no peito com esse momento da Paty e da Laura. Queria que elas estivessem juntas. Amélia maldita!
Até o próximo! Bye!
Resposta do autor:
Oie Rain,
Sim Doralice se apaixonou pela Andréa, ela foi seduzindo devagar até conseguir o que desejava...e sim, Laura estava certa no final das contas, mais tarde ela confessa a filha do que sentiu pela namorada, vc vai ver, é um diálogo sincero e franco...A tia de Isa e o tio...não eles sumiram no mundo e não vão mais retornar, resolveram seguir a vida deixando o passado para trás...
Quanto a Vivian, sim é ela mesmo, foi a primeira pessoa que leu isso e conectou os fatos, voila....parabénsssss....elas ainda vão descobrir esse elo....em breve
É, a história da Paty e Laura não foi vivida como deveria....quando a Amália ela tem o que merece, oh bicha ruim....
rsrss até
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