História sobre um mundo distópico, entre pinceladas de romance, uma cena levemente hot, traição e um contexto político desfavorável para os LGBTQI+ conhecemos um pouco dos personagens desse conto que me deu muito, muito trabalho para escrever. Qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência rsrsrs
Capitulo 6 - Vivendo o caos
CONTO 06 - Vivendo o caos
Estava escondida há uma semana em Cárdamo, cidade subterrânea construída para fugir do terror instaurado pelo governo de Zairo Bonzani há mais de dez anos, o político havia intensificado a perseguição a três grupos específicos, os chamados esquerdistas, pessoas com comorbidades incuráveis e homossexuais, eu pertencia a dois desses grupos. O governo zairista, após muitas medidas antidemocráticas, foi regularmente considerado uma ditadura, mais tarde o governador foi acusado de perseguir, sequestrar e matar opositores com seu aparato miliciano, assim como difamar quem ia contra sua ideologia através de uma rede de veículos de imprensa sensacionalista. Zairo nada mais era do que um bizarro retrocesso político, mas seus adversários não souberam decodificá-lo e contê-lo.
Lembrava da trajetória do ditador, enquanto o chá de camomila me esquentava o corpo e a alma, deixei que as lembranças viessem, era preciso purgar a dor para que ela fosse embora.
- Você está bem Kalu?.
Ela precisou me chamar três vezes para ser ouvida, olhei tristemente e respondi.
- Estou sobrevivendo...juntamos os fragmentos Dona Nanoca.
- Entendo, vou te deixar sozinha com teus fantasmas, precisando já sabe onde me encontrar.
Dessa forma, pude voltar sozinha as minhas lembranças....
Era uma noite fria de terça-feira, mantínhamos as luzes apagadas, deixando apenas uma pequena vela em cima da mesa, ela iluminava o nosso jantar, pelo bruxulear do fogo vi os olhos assustados de Mayra, afaguei delicadamente sua mão e em oração pedi que essa situação que se arrastava há tantos anos acabasse logo, é fato que ela não seria eterna, mas, não aguentava a luta e o caos. Neste dia específico, tremíamos de frio pois não podíamos nem acender a lareira para não chamar muita atenção dos vizinhos e nem dos transeuntes, queríamos despistar os horários que estávamos em casa, as vezes deixávamos todas as luzes acesas, assim como a televisão e saíamos, infelizmente tivemos que nos adaptar a viver no meio do caos.
Vivíamos uma era surreal, Zairo havia formado um verdadeiro exército constituído por seus inúmeros seguidores, estes eram treinados para o trabalho sujo, isto é, descobrir quem eram os inimigos, independente de quem quer que fosse, para isso bastava ser contra o governo vigente, o medo era tanto que desconfiávamos de todo mundo. Mesmo vivendo em um bairro de resistência não sabíamos se algum dos nossos vizinhos eram um zairista, ou seja, se era um dos fiéis seguidores do governador, fora que ainda havia o medo de sermos encontradas por um dos seus caçadores em suas andanças. Segundo Zairo, os milicianos, assim como os caçadores eram essenciais, tinham como objetivo manter a ordem social, o primeiro grupo fazia o papel da inteligência e o segundo o da captura. Infelizmente nem todos eram declarados, muitos ficavam à espreita para descobrir o inimigo, então, como saber quem eram?, além de silenciosos, pareciam que simplesmente brotavam em todos os lugares.
Os zairistas não tinham limites quando estavam em perseguição, dessa forma, amigos, parentes, conhecidos...qualquer um que fugisse das regras impostas por Zairo eram entregues ao governo, e nem precisava de muito, bastava apenas um pequeno vestígio que a pessoa pertencesse a um dos três grupos que sua prisão arbitrária era certa, afinal, todos esses eram consideradas pelo governador como um grande erro social. Todos os dias muitos eram presos para acareação, alguns simplesmente desapareciam do mapa, outros voltaram como verdadeiros zumbis, nos olhos não havia mais brilho, era como se estivessem ocos por dentro, pior ainda eram os membros da resistência que iam e voltavam zairistas fanáticos.
Em uma noite chuvosa, ouvi barulhos na casa contigua à minha, fiquei escondida assustada, tremi, xinguei e chorei bastante, mas, nada pude fazer quando vi a filha de Dona Nanoca, a Tonha, ser arrastada pelos braços por dois caçadores, seu erro?, ser uma professora de Sociologia esquerdista, a mãe chorava pedindo clemência, foi quando um dos homens voltou irado, chutou o portão com sua pesada bota de couro preta brilhante, avisando que ela deveria se calar, ou levaria todos os filhos inúteis que havia parido, depois que eles se foram corri para ajudá-la, levei Dona Nanoca abraçada ao meu corpo, ela chorava baixinho, deixei que desabafasse a sua dor, em seguida preparei um gostoso chocolate quente e choramos juntas.
- Ah Kalu, quem nosso povo colocou no poder minha querida?.
- Um verdadeiro monstro...mas, um dia ele cairá, não há mal que dure para sempre, vamos ter fé Dona Nanoca.
No final do terceiro dia eu e Mayra estávamos presente quando Tonha voltou, ela foi deixada na esquina de casa, veio arrastando o enorme corpo, mancando de uma perna, cheia de feridas, nem parecia minha amiga de infância, Tonha nunca mais foi a mesma, era apenas a sombra de quem foi, sua vida se resumia em se alimentar, tomar banho e voltar a deitar, de sua boca nunca mais saiu uma única palavra, e ver nossa amiga impossibilitada de fazer qualquer coisa, era uma cena de partir o coração.
A semana iniciou com nossas fotos expostas em um anúncio na Tv. Bonzani, todos os outros canais haviam sido fechados por ordem do governador, assistimos assustadas quando nossas fotos foram mostradas, seguido por um aviso que éramos extremamente perigosas, pois além de comunistas esquerdistas, também ousávamos quebrar todas as regras divinas, pois fugíamos da heterossexualidade, uma lei imposta pelo Divino Salvador.
Nos abraçamos permitindo que o medo se apoderasse de nós por uns minutos, constatamos que conseguimos fugir das patas dos cavalos de Zairo, mas, em algum momento nossa imagem foi registrada por algum olheiro durante o protesto, sabíamos que há dias os zairistas caçadores haviam intensificado as buscas pelos inimigos do governo, mas, como havíamos nos mudado para um bairro distante e cheio de membros da resistência, dentro da nossa ingenuidade pensamos que estivéssemos completamente seguras em nosso infinito particular.
A noite estava fria na terça-feira, o vento gelado do inverno entrava por dentro dos grossos agasalhos que usávamos, a lareira estava desligada, portanto não tínhamos como esquentar direito os nossos corpos, mesmo assim, os últimos pedaços da pizza de muçarela com queijo derretido e um suco de uva quente causavam momentaneamente um calorzinho gostoso, para o nosso alívio e felicidade.
Estávamos abraçadas quando o silêncio da noite foi interrompido por latidos de cães e luzes fortes que vinham das lanternas dos capangas do governador, dessa vez não ia dar tempo, não conseguiríamos correr, diante a captura iminente ficamos ali escutando os gritos de pessoas capturadas, o medo nos paralisava a fazer qualquer coisa a não ser esperar, o pavor que sentíamos fez com que uma gota de suor descesse por minha coluna e se alojasse no cós da calça, e foi com nesse estado de nervos que ouvimos batidas no portão de trás, segurei com força a mão de Mayra e fomos até lá, respirei aliviada quando enxerguei os olhos verdes de Yuri, um amigo da época de escola, ele passava as mãos rapidamente pelos braços tiritando de frio, e nos olhava por trás do capuz do moletom.
- Kalu, Mayra, pensei que já estivessem fugido, está tudo escuro ai, achei que não fosse conseguir encontrar vocês, temos que ir agora, ou não conseguiremos mais fugir dos capangas.
Respiramos aliviadas, pegamos os chocolates que estavam em cima da mesa, colocamos no bolso e saímos para encontrar nosso amigo.
- Meu amigo, você está sendo um verdadeiro anjo, muito obrigada.
- De certo que sou...sou o anjo justiceiro.
Sorri satisfeita, sem entender suas palavras, mas, não importava, eu queria a nossa liberdade, segurei no braço de Yuri e perguntei a rota de fuga, ele apenas deu um assovio alto, anunciando a nossa presença, rapidamente os homens de botas de couro pretas chegaram, levantando o braço em uma saudação para Yuri.
- Boa noite Comandante Yuri, obrigado por sua ajuda.
- Caçadores, podem levar essas duas, com certeza o Zairo vai ficar muito agradecido e chegarei ainda mais rápido ao topo.
Nem tivemos tempo de pegar mais nada, ao longe ouvimos o cantar das metralhadoras, foi assim que vimos nossos sonhos serem destruídos por várias rajadas de balas. Sentamos no banco detrás da Pathfinder preta e oponente, estávamos de mãos dadas e mesmo com medo sentimos o coração cheio de esperança, tínhamos uma a outra.
Ao chegar no quartel de Zairo, fomos levadas imediatamente para o interrogatório, ficamos sozinhas em uma sala de paredes escuras com móveis cinzas por cerca de uma hora, logo após, para nossa surpresa vimos entrar uma senhora distinta, seus cabelos eram loiros e curtos, provavelmente arrumados com gel. Ela respirou, ajeitou o terninho e veio até nós fazendo barulho com os saltos, ela tentava demonstrar em seu olhar leveza, compaixão e paciência, mas, sabíamos que por trás daquela maquiagem social, havia alguém do governador.
- Boa noite, sou Cassandra Meireles.
Após a apresentação formal, a loira sentou à nossa frente, abriu uma pasta vermelha e tirou algumas folhas com fotos e informações nossas.
- Carmen Luísa Fernandes Soares, 35 anos, professora de Filosofia na Universidade Federal da cidade, filha de Dona Aurora Fernandes Soares e Caio Abreu Cavalcante Soares, mais conhecida como Kalu, espero que esteja bem, não foram machucadas como estou vendo, existe muita fantasia em relação ao governo de Zairo, vocês logo serão liberadas, não precisa apavoramento.
- Fantasia?, pessoas estão sumindo...outras voltam e ficam imprestáveis, e a senhora chama a isso tudo de fantasia?.
- Sabe Kalu, estudei com sua mãe, sabia?, e é em nome da imensa amizade que nutria por Aurora que está protegida aqui comigo, assim como Mayra, dessa forma seja educada e vai dar tudo certo, aliás, espero que tudo permaneça bem. Saiba que lamentei demais a morte dos teus pais naquele terrível acidente de carro, chorei, viu?, chorei muito, eu...eu amava Aurora.
- Se tinha amizade a minha mãe e a amava como diz amar, deve saber que os cabos de freio foram cortados, eles foram assassinados, portanto, não morreram de acidente terrível algum...
- Minha querida, você tem o gênio de Aurora, sei que deve ser triste considerar que seu pai agiu de forma irresponsável ao deixar o carro sem a revisão anual. Mas, isso é passado, vim aqui para ajudá-la em troca de pequenos favores.
- Pode deixar a máscara cair, diga a que veio Cassandra.
- Bom, se prefere que seja direta...quero apenas que me entregue os endereços de todas as casas de resistência dos estudantes esquerdistas que souber, assim como o da cúpula do movimento LGBTQI+, ou basta apenas dar os nomes dos cabeças, isso já é suficiente, se cooperarem conosco, dentro de uma hora as duas serão refugiadas em um país vizinho, e nós simplesmente esquecemos da existência de vocês.
- Jamais eu faria isso...jamais...nem que soubesse, mas, não sei de nada, está perdendo seu tempo Cassandra. Em nome ao amor que sentiu por minha mãe, nos solte.
Ela me olhou surpresa, creio que seu sentimento estava escondido, em algum lugar mais recôndito da sua alma, mas, suas palavras ficaram soltas no ar, senti que sua respiração ainda ofegou, mas, rapidamente passou as mãos nos cabelos para se recompor, depois tirou uma espécie de comunicador prata do bolso, sorriu de uma maneira sarcástica e falou.
- Pietra, por favor compareça até a sala negra.
Respirei forte, sentindo o sangue subir em minhas orelhas ao ver Pietra vindo em nossa direção, ela e Mayra haviam sido namoradas há pouco mais de quatro anos, e eu sabia que a loira malévola ainda nutria esperanças em relação a ela.
- Pietra, por favor, leve Mayra daqui, faça com que ela solte alguma informação, pode usar o método que quiser, fique a totalmente à vontade com sua convidada.
Vi o rosto de Mayra corar, quando Pietra passou a mão no seu sex* lentamente. Mayra me olhou com lágrimas nos olhos, depois desviou os olhos tentando buscar na memória de onde conhecia Cassandra, a seguir me olhou tristemente, e não pude deixar de encorajá-la.
- Não se preocupe meu amor, eu confio totalmente em você, seja forte, não vai acontecer nada.
Olhei irada em direção a loira que estava sentada em minha frente de pernas cruzadas, tirei uma força que não sei de onde veio e dei um tapa que estalou forte, deixando a marca de todos os meus dedos em seu rosto.
- Sabe Cassandra, eu jamais diria que na cúpula de Zairo haviam mulheres sáficas, vocês são hipócritas demais.
- Criança, você não devia ter feito isso, ia te poupar de um constrangimento maior, mas, já que quis assim, vamos ver como minha filha Pietra vai se virar com Mayra.
Cassandra apertou um dos botões do controle à sua frente e os braços da cadeira abarcaram meu tronco. Não podia me mexer quando uma tela plana e gigantesca desceu do teto.
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...
- Aceita beber alguma coisa Mayra?, um suco, um refrigerante?.
- Você é louca se está pensando que vou te dizer alguma coisa Pietra.
- Querida, não seja ingênua, sabemos que não sabe muito do movimento, te investigo faz tempo, e sei que Kalu sempre te poupou, não é isso que quero de ti.
Mayra se levantou e colocou as mãos na mesa em posição de defesa.
- Você é louca Pietra, eu amo a minha namorada.
- É fato...você tentou amar Kalu, saiba que acompanhei o pouco mais de três anos que está com ela, portanto...sei que não a ama, e hoje, seus olhos estão me dizendo algo, sabe o que?, está morta de desejo por mim, veja, estamos aqui sozinhas Mayra, não está vendo?, ela nunca vai saber.
Pietra falava enquanto passava a mão no próprio corpo em uma dança sensual, depois deu a volta, puxou Mayra por sua bundinha firme e passou a rebol*r em movimentos circulares, enquanto Mayra gemia e mordia a boca.
- Para Pietra, eu não quero.
A loira desceu um pouquinho da calça de moletom de Mayra e deixou que sua mão escorregasse em seu sex* úmido de desejo.
- Não é o que seu corpo está dizendo, quer mesmo que eu pare?.
- Não Pietra, não quero que pare, continua...não aguento mais, me faz goz*r aqui e agora, ai que saudade de você, bandida, porque me deixou?, continua vai...
- Rebola gostoso na minha mão meu amor, vai...assim...isso...não esqueceu como faz.
O grito de Mayra foi forte quando o orgasmo veio, no entanto, ela não ficou totalmente satisfeita.
- Eu quero sentir você em minha boca, eu preciso, que saudade, nossa que saudade Pietra, eu não conseguia mais viver sem teu toque, sem teu cheiro, sem teu gosto. Porque você foi seguir esse grupo de Zairo?, eu te amo, sempre te amei, só não aguentava mais saber que pertencia a um grupo político nojento...
- Psiuuuuu, não é hora para isso, você não está com saudade do meu gosto?, do meu cheiro?.
A loira deixou a roupa cair, mostrando o corpo branco como um grande copo de leite e cheio de flores coloridas tatuadas em sua extensão, a seguir sentou na mesa, apoiando o peso do corpo com as mãos para trás, abrindo as pernas, deixando que Mayra sugasse todos os líquidos que oferecia.
- Eu sou tua amor, sempre fui tua, me bebe gostoso meu beija-flor.
- Deliciosa, vou acabar com você Pietra, você vai ver, nunca mais vai querer me deixar sua bandida.
Pietra gemia alto, segurava firme nos cabelos castanhos de Mayra empurrando sua cabeça em direção ao seu sex*.
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...
Estava sem palavras quando vi o olho de Pietra piscando em direção a tela, dizendo em um tom mais alto do que o normal.
- Me faz goz*r Mayra, você é deliciosa.
Grossas lágrimas escorreram da minha face, fechei os olhos e pedi.
- Já basta Cassandra, fecha essa tela por favor, eu não aguento mais ver isso.
- Fecho, fecho sim, mas, quero algo em troca.
- O que?.
- Você...se não tive Aurora, a filha dela é o suficiente, alguém já te disse que é a cópia da sua mãe?.
- Você é louca, completamente louca...
Estava tentando me levantar quando vi Delphine, uma das filhas de Dona Nanoca se aproximar, ela pediu silêncio com um dedo e em seguida atirou em Cassandra, que tombou em cima da mesa, a seguir apertou um dos botões do controle e me soltou.
- Você a matou Delphine?.
- Não somos como eles, é apenas um forte sonífero, vamos?.
- Espera, preciso encontrar Mayra.
- Acontece que o a ceninha hot de sua namorada com a filha dessa ai está sendo atração principal deste lugar, acho que ela fez a sua escolha.
- Não pode de repente ser uma montagem?, um efeito?.
- Não querida, veja com seus próprios olhos.
Quando passamos na sala, as duas estavam dormindo abraçadas e nuas, bem em cima da mesa, ao lado um rapaz loiro estava deitado no chão.
- Quem é esse Delphine?.
- Domenico, o irmão caçula de Pietra, os dois revezavam no relacionamento com Mayra, sinto muito por te informar.
- Como você soube de tudo isso?.
- Fui uma das namoradas de Pietra, ela quem me contou...esquece isso, vamos...logo todos despertam, temos no máximo uma hora.
Fomos embora tentando fazer o mínimo barulho possível, vi no caminho inúmeras pessoas adormecidas, em seguida vi o grupo da resistência ladeado por sobreviventes que foram resgatadas, já íamos sair quando dois pequenos filhotes de cachorro se aproximaram, eles eram branquinhos e balançavam o rabo na maior felicidade do mundo, em suas coleiras estava escrito "Nino e Amora".
- Não vou deixar vocês aqui pequenos. Posso leva-los comigo, Delphine?.
- Claro, Pietra vai ficar maluca quando acordar e ver que esses adoráveis cachorrinhos foram embora conosco, não apenas por afeto, eles custam uma pequena fortuna, são da raça Samoyeda...pense ai?...esses pequenos totós valem 22.000 USD.
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...
- Oi Kalu, atrapalho?.
- Não Del, pode ficar, ainda não tive tempo para agradecer sua ajuda no dia da fuga.
- Que é isso, estamos no mesmo lado.
Delphine passou a mão no meu rosto, aproximando seus lábios dos meus, meu corpo inteiro se retraiu, a seguir retirei sua mão da forma mais carinhosa que consegui, afaguei seus cabelos, olhei dentro dos seus olhos e avisei que ainda não estava pronta, ela sorriu e respondeu que entendia.
Os dias passaram lentos, nos reunimos para decidir o que íamos fazer em relação a Zairo, uns votaram para que ele fosse eliminado, esperei a minha vez de falar e ponderei.
- Companheiros, matar Zairo seria uma atitude que nos colocaria na sua própria condição de algoz, fora que depois de morto, ele viraria um herói para extrema direita, e rapidamente um dos zairistas ocuparia o seu lugar, a única forma de acabar definitivamente com essa ditadura, é fazer com que as pessoas percebam o caos que esse Governador transformou nosso país, precisamos combater essa tendência política que tomou conta do mundo inteiro, é essa ideologia que precisa ser reprimida.
Fui aplaudida de pé, do outro lado da cúpula vi que os olhos de Delphine brilhavam em concordância e orgulho, tinha conseguido transformar minha dor em luta. Dias depois, a lua iluminava meu rosto com seus raios prateados quando respirei o ar da noite, enchi meus pulmões de ar puro, bem diferente do ar condicionado do subterrâneo, tinha ido à superfície buscar mantimentos, foi ai vi que em um outdoor que o romance de Mayra e Pietra era alardeado em propagandas políticas, Zairo tinha retirado seu discurso homofóbico, substituindo por uma fala mais cuidadosa, no entanto, ainda cheia de preconceitos mascarados por uma falsa compreensão.
Mal tive tempo de lamber as feridas, afinal me importava mais com o coletivo do que com o meu sofrimento, e ao longo dos dias tivemos muito a comemorar, nós da resistência nem precisamos fazer muito, apenas intensificamos as denúncias e os protestos, dessa forma muitos passaram para o nosso lado, assistimos animados a derrocada do governo ditatorial, a alta cúpula zairista eclodiu sozinha devido brigas internas, claro, sem esquecer a grande ajuda de ex parceiros. Nos próximos três meses o governador foi traído por aliados de outros países, ele estava acuado e para piorar a sua situação, o Congresso também já tinha aprovado uma lei que o impedia de modificar o orçamento, assim como haviam decidido investigar a denúncia de que Zairo e seus asseclas haviam posto à venda roupas e alimentos recebidos como donativo de um império oriental, da mesma forma, seu principal aliado na América do Norte, Ronald Trompilham rompeu o tratado de amizade ao divulgar uma lista com nomes de 150 oficiais milicianos e caçadores suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas.
A comunidade internacional também fez ameaças, anunciando inclusive embargo econômico, muitos governadores foram enviados em missões diplomáticas para amenizar a situação e pedir a saída de Zairo que já havia anunciado que ficaria mais quatro anos no poder e no fim do seu mandato, passaria o maior cargo do país a seu filho Jairo.
Enquanto o governador prestava juramento no Congresso, prometendo democratizar o país, milhares de pessoas entraram em choque com a polícia e incendiaram a Sede Nacional do Governo Zairista, pois com denúncias vinda de outros países, as gravações com opiniões reais de Zairo sobre o povo e principalmente com a descoberta de inúmeros desvios de dinheiro público, isso levou o país ao caos, por isso, a maioria dos zairistas se sentiram enganados, e cheios de ódio queriam a imediata saída do governador. Em um ato de profunda coragem, o Congresso acabou abrindo um processo contra Zairo, o que culminou com o seu impeachment, e no fim desse mesmo ano, os congressistas emitiram uma ordem de prisão internacional contra o governador após declará-lo "réu ausente", por ter fugido ao seu julgamento.
Extraditado, Zairo voltou a Lemúria, sendo condenado a 25 anos de prisão, considerado culpado por crimes de corrupção e violação dos direitos humanos.
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...
Três anos depois.
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Do lado de fora batidas na porta anunciavam a presença de alguém que continuaria a bater se não tivesse respondido, estava imersa em papeis, respirei profundamente, tirei os óculos do rosto e pedi que que a pessoa entrasse.
- Com licença senhora Governadora.
Era Delphine, que abraçada a pequena Léa, entrava sorrindo na sala.
- Precisamos contar uma novidade, a partir dessa manhã temos a guarda definitiva de Léa, ela é nossa filha de forma oficial agora.
- Mamãe Kalu, a partir de hoje não sou apenas a filha de coração de vocês, sou filha, filha mesmo, não é incrível?.
- Claro que é!, e onde você quer passar as férias esse ano?.
- Ah mãe, podemos ir para o Brasil?.
Sorri, abraçando minha filha e mulher e pensei "que seja, Brasil de novo".
- Mamãe, será que o Brasil um dia vai ser totalmente livre como a Lemúria, o nosso país?.
- Quem sabe minha filha, quem sabe...
Fim do capítulo
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Rosa Maria
Em: 10/12/2020
Sabrina...
Definitivamente qualquer semelhança não é mera coincidência. Muito bom esse texto, os nomes de Zairo Bonzani e Ronald Trompilham foi de um criatividade incrível. Adorei
Beijo
Rosa
florakferraro
Em: 30/11/2020
Lembrei tanto do governo do Brasil, muito debochado esse conto, muito bem escrito também..
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brinamiranda Autora da história
Em: 12/11/2020
Eu pensei em fazer a história no Brasil...mas ser um continente perdido e inexistente...achei mais bacana. Amanhã termino a história de uma vampira... abraço
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Rain
Em: 12/11/2020
Olá!
Devo dizer que rir com essa coincidência... Zairo Bonzani e Ronald Trompilham. Que nomes parecidos com de certos políticos idiotas, não!?
Esse conto foi incrível! Deu um pouco de medo e raiva... Mas, como disse a Kalu no final: Quem sabe...
Só não entendi um coisa. O lugar aonde tudo isso aconteceu foi em Lemúria? Isso é pais? Eu imagine o cenário o Brasil.
Até breve!
Resposta do autor: Então rsrsrsrs me inspirei nós dois mesmo kkkk
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