Meus pedaços por Bastiat
Não dormimos na mesma cama
Helena
- Mamasita...
Depois de ter passado os seus olhos pelo meu corpo, passado a língua pelos seus lábios encarando os meus seios, os nossos olhos se encontraram.
Rápida como uma leoa a fim de conquistar sua presa, Isabel tomou os meus lábios para si. Eu, que de presa inocente não tenho nada, deliciei-me ao sentir sua língua invadir a minha boca e iniciei uma interessante carícia sensual pelo seu pescoço.
Casañas puxou ainda mais o meu corpo para si e gemi em meio ao beijo quando sua mão esquerda tocou o meu seio e apertou. Depois, ela também fez o som de satisfação quando me joguei ainda mais na sua direção. Claro sinal do que quero, ela entendeu.
Sua mão que estava na minha cintura deslizou com intimidade pela minha pele e foi parar na minha bunda. Acariciou, apertou, e quando a mão que estava no meu seio foi parar por lá também, a mais alta me ergueu e eu passei as minhas pernas pela sua cintura.
Sem separar as nossas bocas, a atriz de teatro me levou até uma pequena mesa que havia ali e desceu os seus lábios pelo meu pescoço. Eu não tinha mais controle de nada, nem da minha respiração. Ela me beijava com vontade, com certa raiva e desejo. A cada beijo mais forte que ela dava no meu pescoço, eu me entregava mais. Com seus dedos, a espanhola começou brincar com o bico do meu peito. Senti-me completamente rendida a ela.
Trouxe o seu rosto de novo para o meu e beijei os seus lábios. Deslizei os meus dedos pelo seu pescoço e parei no primeiro botão de sua camisa social. Abri o primeiro, o segundo, mas suas mãos me impediram de continuar.
- No!
Sem parar de me beijar, Isa retirou as minhas mãos de cima dela com certa rispidez, porém me colocou em seu colo de novo e andou até uma parede.
Erguendo-me um pouco mais, arfei quando sua boca desceu e tomou o meu seio direito. Sua língua quente me fazia ficar ainda mais excitada. Eu não estava aguentando mais, precisava senti-la em outro lugar.
Puxei o seu cabelo e a fiz me olhar. Olhos com puro desejo carnal.
- Isabel, eu preciso de v...
Não precisei nem continuar a falar, a madrilenha assentiu e colocou a minha calcinha de lado, passando seus dedos por toda a extensão da minha intimidade. Já fora de mim, aumentei os gemidos. Isabel voltou a dar atenção aos meus seios com a boca e me penetrou com dois dedos. O vai e vem delicioso me fez arranhar a sua nuca, pedi por mais.
Ritmo frenético. Eu estou cada vez mais sem controle. Só retomei a consciência quando seus dedos não se moveram mais. Reclamei porque parou de repente. Ela quer me torturar? Isabel me colocou de pé no chão e com rapidez retirou a minha calcinha. Mais uma vez eu fui parar em seu colo quando ela me puxou pelas minhas coxas. A espanhola carrego-me até o sofá e sentou-se comigo ainda em seu colo. Penetrou-me novamente e começou com um ritmo mais forte do que antes, aproveitei para rebol*r em seus dedos. Rápido, forte e com uma sintonia única que temos, tive o meu primeiro orgasmo.
Desabaria em cima dela se não fosse colocada deitada no sofá. A mais nova ficou por cima de mim e beijou os meus lábios. Ainda ofegante, vibrei quando ela desceu e voltou a dar atenção aos meus seios com a boca. Eu abri as minhas pernas institivamente quando sua mão voltou a tocar o meu sex*, fazendo os primeiros movimentos para me explorar de novo. Fechei os olhos e aproveitei todas as sensações.
Ouvia-se no trailer apenas gemidos de prazer. Nos poucos instantes que eu pensava em falar alguma coisa, desistia. Tenho medo de assustá-la e acabar perdendo o momento. Isa talvez esteja ocupada demais com a boca para dizer algo.
Senti a falta dos seus dedos e abri os olhos para ver o que ela estava fazendo. Entendi o seu movimento quando sua boca saiu beijando a minha barriga e descendo mais.
A mais alta sempre gostou das minhas pernas e como sempre, saiu distribuindo mordidas por uma de minhas coxas até chegar na minha virilha. Sua respiração ofegante bateu na minha intimidade e seus dedos me abriram para ela.
Gemi alto quando sua língua deslizou pelo meu clit*ris e meus lábios de baixo. Conhecendo bem o lugar que estava, explorou os meus pontos mais sensíveis. Isabel sempre foi boa no oral e a cada ch*pada eu me mordia para tentar manter o controle, mas não conseguia conter os meus sons.
Um dedo entrou em minha intimidade e coloquei a minha mão em sua cabeça pedindo por mais. A mulher que sempre me levou a loucura colocou outro dedo e passou a me estocar com mais vontade ainda. Mexi com o quadril ao encontro da sua boca e entramos em um ritmo perfeito. Cada vez mais rápido e sem pudor, eu cheguei a outro orgasmo.
- Ah, Isaaaa - gemi seu nome.
Casañas apenas retirou os seus dedos de dentro de mim e levantou a cabeça para me ver. Quando me recuperei, a olhei e trocamos olhares e sorrisos. Tremi quando seus dedos me tocaram de novo.
Com um sorrisinho sacana, sua boca voltou para o meu sex*. Ela queria me fazer goz*r para ela mais uma vez, mas só com a sua língua.
Isabel tem fome de mim, não quer parar até satisfazer a sua saudade. Me aperta com força com suas grandes mãos, se delicia com minhas reações, devora-me.
Em seu ritmo já acelerado, aproveitou-se da minha sensibilidade acima do normal para me fez ver as estrelas ainda em pleno sol do meio da tarde. O meu corpo correspondeu com vários espasmos, orgasmos múltiplos. Não tive nem forças para gritar. Não sentia as minhas pernas.
Quando retomei minha consciência, Isa se ajeitou ao meu lado e beijou o meu pescoço.
Silêncio de palavras.
Escuta-se apenas as nossas respirações pesadas pelos nossos esforços.
Acolhi a espanhola em um abraço e ela correspondeu. A cabeça dela não deve estar diferente da minha. Confusão.
Aos poucos, sentimos nos acalmar da adrenalina. Regularizamos as batidas de nossos corações.
- Você... - senti ela hesitar. - Você está com gosto de chocolate aqui - disse passando os dedos entre os meus seios.
Eu dei uma risada fraca.
- Um acidente na set. Derrubaram chocolate em mim, por isso tive que vir trocar de roupa.
Resolvi não mencionar o nome da portuguesa para não quebrar o clima bom. Aliás, acho que tenho até que agradecê-la.
Agarrei-me ainda mais em seu corpo, desejei que o mundo parasse neste exato momento. Isabel em meus braços de novo, minha vida está completa outra vez.
A atriz se mexeu um pouco para sair do encaixe do meu pescoço e os seus seios roçaram na minha pele.
O meu desejo se voltou para senti-la. Eu preciso da sua pele na minha boca e do seu gosto.
Virei o meu rosto e fui direto na sua boca. Beijei com vontade os seus lábios e ela correspondeu. Minha mão foi na direção dos seus botões e aos poucos eu abri a sua camisa. Por cima do seu sutiã, apertei o seu seio esquerdo e logo senti a sua mão segurar a minha.
Isabel diminuiu o ritmo do beijo e mesmo que de forma carinhosa, parou.
Olhei confusa e ela desviou os seus olhos castanhos claros.
- Temos que voltar.
Pensei em responder, mas me senti ridícula pela minha exposição. Isa não quer que eu a toque.
O que foi isso tudo que vivemos?
A madrilenha levantou-se do sofá, foi ao banheiro fechando os botões da sua camiseta e ajeitando o seu cabelo.
Meus olhos queimaram, mas eu não deixei cair nenhuma lágrima. A felicidade que eu estava sentindo minutos atrás foi se esvaindo conforme me sentia triste por ter tido o meu toque rejeitado pela mulher que amo.
Não demorou muito para que a espanhola saísse do banheiro mais ajeitada.
Ignorei a Isa, peguei a minha calcinha do chão e escondi os meus seios com as mãos. Levantei-me e escolhi outro vestido da arara. Tranquei-me no banheiro para me trocar e me arrumar.
Fiquei o tempo que foi preciso no banheiro para recuperar-me. Eu sei que já devo estar atrasando toda a gravação mesmo, então resolvi dar um tempo.
O problema é como vou encarar a Isabel agora. Profissionalismo, é claro. Mas vai ser difícil encarnar a Helena Carvalho apresentadora e fingir que não acabei de trans*r com a jurada e atriz de teatro renomada Isabel Casañas.
Dei uma última olhada no espelho, respirei fundo e em seguida abri a porta.
Para a minha surpresa, a mais nova está sentada no sofá me encarando.
- Não acredito - sussurrei mais para mim mesma, mas com certeza fui ouvida.
- Hele...
- O que você está fazendo aqui? - Perguntei nervosa.
- Te esperando... eu... eu...
- Você mesma disse que estávamos atrasadas e agora fica aqui para atrasar ainda mais?
- Eu enviei una mensagem para a Miriam dizendo que me senti mal e você estava ajudando-me, mas que já estamos indo.
- Quer que eu te aplauda e agradeça a sua genialidade momentânea?
- Eu só quero te pedir um tempo porque isso...
- Não! Por favor, agora não!
- Espera, caramba...
- Eu já sei, Isabel. Você não precisa verbalizar as suas atitudes, elas já foram bem claras - respirei fundo controlando a minha chateação. - Nós não precisamos disso. Eu não preciso de outra conversa como aquela no estacionamento.
- Você pode escuchame...
- Não! Eu já disse que não! Ou você acha que só você tem o direito de dizer não e eu te obedecer?
- No seas ridícula...
- EU JÁ DISSE QUE NÃO! - gritei.
Isabel calou-se surpresa.
Eu só conseguia sentir raiva dentro de mim. A espanhola quer mais uma vez sair por cima, posar de profissional, massacrar os meus sentimentos.
- Está tudo bem, Isabel. Eu já sei de cor todo discurso que vai sair da sua boca, esta mesma que estava se deliciando de mim minutos atrás. Poupe-me de escutar que isso tudo foi nada, apenas uma atração, essas coisas. Eu sei que para você foi um momento de fraqueza porque do nada eu apareci pelada na sua frente...
- No...
Ouvi o seu resmungo de negação, mas não parei de falar:
- Sei também que não vai negar que foi bom e que você quis, mas que é só isso - ironizei a sua própria fala no estacionamento. - Talvez no fim do seu discurso, você me abrace e diga para eu esquecer disso tudo. Não se preocupe, eu não vou estragar a porcaria da nossa cordialidade no Atuando e sei que somos mães da Giovanna. Agora, senhorita não me toque, dei-me licença pois preciso retornar ao trabalho.
Ainda ouvi um "Helena" quando cheguei até a porta do trailer. Fingindo que não ouvi, saí apressada controlando a minha raiva.
[...]
- Parabéns, equipe 3! Com a atuação do clássico ‘Vale Tudo', nossa queridinha da teledramaturgia brasileira, vocês são os grandes vencedores dessa difícil prova. Equipe 1 e 2, vocês já sabem: prova de eliminação.
Enquanto a equipe vencedora comemorava e os outros lamentavam, eu agradecia o dia terminar. Juro que se tivesse que ficar mais cinco minutos com a Isabel me encarando, todo o meu profissionalismo iria pela primeira vez ser mandado para o inferno e a confrontaria em frente às câmeras.
Como eu não precisava ficar mais no set improvisado, peguei o Eduardo pelo braço e o afastei de todos.
- Se você quer carona para voltar, em 10 minutos te espero no carro.
- Eu vou com o Maurício, ele veio de carro também. Combinamos de passar no restaurante dele, quer ir?
- Não, obrigada. Então, tchau.
Eu sairia se o meu amigo não insistisse:
- Ei, mas porque essa pressa?
- Porque sim! Eu não quero chegar em casa tarde, porr*.
- Tá bom, porr*. Vá com cuidado, ouviu bem?
- Pode deixar, meu jurado favorito.
Ganhei um abraço rápido dele e me dirigi ao trailer para trocar de roupa.
Assim que atravessei o camarim improvisado, já retirei os meus sapatos e o vestido saiu do meu corpo logo em seguida.
De costas para a porta, fechei os meus olhos, irritada. Fiquei nervosa comigo mesma por esquecer de trancá-la.
- Helena... opa, scusami. Yo no pensé... perdón.
Virei-me de frente para ela e me cobri por cima com o vestido que tinha acabado de tirar.
- Estou começando a achar que você está fazendo isso de propósito, Isabel.
- No, claro que no. Eu só quero conversar com você.
- De novo isso?
- Helena, por favor, você sabe que precisamos conversar.
- Isabel, sai! No momento eu preciso trocar de roupa, então eu peço que você saia para que eu possa me vestir em paz.
- Por quê? No tiene nada aí que já no tenha visto.
Tinha me esquecido como o sorriso debochado da espanhola pode ser tão irritante.
- Sai logo, cacete! - Pedi com mais firmeza e um tom mais alto.
Isabel colocou as mãos para cima em rendição e saiu do trailer.
Enquanto vestia a minha roupa, perguntei-me o que tanto a Isa quer conversar. Nós não temos nada para esclarecer. Tudo ficou tão nítido quando ela me deixou nua no sofá: foi desejo.
Não posso ser hipócrita e dizer que não gostei. Eu adorei e não me arrependo nem por um segundo. Eu queria mesmo é que ela dissesse que me ama após ter me dado um belo orgasmo. Talvez nem precisasse tanto, se ao menos ela tivesse ficado comigo e falasse palavras que me dessem esperança.
Seria ingenuidade pensar que tudo ficaria bem apenas pelo que fizemos. Sei que precisaríamos entender tudo o que aconteceu, mas não estou preparada para escutá-la e abrir mais as feridas que já estavam começando a serem fechadas.
Três semanas não são suficientes para deixar de amar uma pessoa. Porém, entregar-se a ela não foi o melhor caminho. Como vou esquecê-la se depois de um ano eu a tive no meio das minhas pernas e me fez recordar do quanto ela é única?
Eu preciso encontrar uma forma de afastar-me por completo.
Me olhei no espelho e ajeitei a minha blusa de frio fina.
- A única solução é pedir um afastamento do Atuando. A nossa convivência está se tornando perigosa demais.
Limpei imediatamente o canto dos olhos. Não vou chorar.
Peguei a minha bolsa, coloquei no meu ombro e saí do trailer.
Revirei os olhos quando vi a figura alta da espanhola me esperando de braços cruzados.
- Helena! - Chamou-me.
Não olhei para ela e caminhei apressada.
- Carajo, Helena! Espérame!
Continuei ignorando-a, até sentir sua mão em meu braço. Tive que parar.
- Me solta, Isabel! - Ela me obedeceu na hora. - Qual a parte de que nós não temos nada para falar que você não compreendeu?
- Helena, eu me preocupo com você. Podemos não ter feito a coisa mais correta no momento, mas no quiero que pense...
Tive que a interromper.
- Eu não estou pensando nada, porr*. Aconteceu, ponto. Está tudo bem. Não se preocupe, nem se passou pela minha cabeça que algo iria mudar entre nós.
- Mas mud...
- Se você realmente quer conversar, vamos deixar para um outro dia.
Nervosa, a atriz passou chacoalhou os cabelos com a mão. Aproveitei a sua distração para voltar ao caminho do meu carro. Ela não veio atrás de mim e eu pude respirar aliviada.
Cheguei no meu carro e fiz alguns exercícios mentais para me acalmar. Flashs do momento de prazer tentavam povoar a minha cabeça, o cheiro da Isabel na minha pele também não ajuda.
Dei partida no carro e cruzei a porteira do sítio com uma certa velocidade acima do normal. É como se eu quisesse abandonar o que aconteceu. Mas é em vão, eu vou levar isso para São Paulo, para a minha casa, minha cama, pelos próximos dias.
Entre relembrar dos momentos de prazer e me repreender por continuar desejando-a, em uma hora e meia eu já estava na capital paulista. Parei o carro em uma rua para pegar o meu celular. Eu nunca fui de guardar as coisas, sempre precisei conversar, procurar outras opiniões para entender melhor o que eu mesma sinto, então resolvi parar o carro e buscar uma companhia antes de voltar para casa.
Pensei na Natália, mas logo descartei. Eu amo minha amiga, todavia eu já vejo o seu olhar e a bronca que vou levar por ter aberto as pernas para a Isabel.
Cheguei a abrir a minha conversa com o Rô, mas lembrei que o Edu vai ao Comer&Beber e talvez ele vá também. Não quero e não tenho direito de atrapalhar a noite deles com mais das minhas confusões.
Logo busquei a Elisa nas conversas. Ela estava lá no final, lugar que ela tem ocupado nos últimos meses pelas nossas poucas conversas.
‘Online', sorri quando li. Minha amiga não faz a mínima ideia do que está acontecendo na minha vida, então vai ser melhor ainda para ouvir algo diferente.
Liguei e fui ignorada.
- Filha da mãe... - reclamei.
Resolvi enviar uma mensagem de voz:
"- Lisa, eu estou precisando conversar com alguém. Aconteceram umas coisas entre mim e a Isabel e, bem, eu preciso desabafar. Posso passar no seu apê agora?" (19:01).
Fiquei olhando para a tela do celular e vi quando ela visualizou a mensagem. Demorou mais cinco minutos depois de ter escutado, só então ela respondeu-me com um texto:
Elisa: Eu sinto muito, pequena, não estou em casa : (. Eu passo na sua casa amanhã, pode ser? (19:08).
- Não - respondi para o meu celular.
Eu não sei o que fiz à Elisa, mas com certeza ela está com raiva de mim. Em outra época, a minha amiga pararia o que estava fazendo para me dar atenção. Mais um problema na minha vida, como se não tivesse muitos.
Meu celular começou a tocar e eu achei que fosse ela mudando de ideia.
‘Rô' piscava na tela.
- Oi, amigo - atendi sorrindo.
- Oi, querida. Já chegou em casa?
- Não - respondi batendo no volante.
- O Du me disse que você não parecia bem. Onde você está? Não atendeu o celular dirigindo, não é?
- Não, eu estou parada em uma rua esperando me recuperar para voltar para casa.
- O que aconteceu?
- Adivinha? - Dei uma risada baixa.
- Isabel - resumiu. - Vem aqui para casa, Heleninha.
- Você não vai sair? Não vou te atrapalhar?
- Claro que não vai atrapalhar, querida. Você está em condições de dirigir?
- Estou sim. Eu devo chegar em uns 15 minutos.
- Coloca o seu celular no viva-voz e deixa no banco do carona. Enquanto você dirige, vou contar o que aconteceu comigo ontem, você vai até dar risada.
Fiz o que o Rodrigo me pediu e ela fez o que prometeu. Dei umas boas risadas dirigindo até a sua casa.
[...]
- Heleninha, meu amor, você falou, falou, falou e falou, mas não disse nada. Estamos aqui faz uns trinta minutos com você xingando a Isabel, falando que vai esquecê-la de vez, que vai retirar todos os porta-retratos da sua sala, destruir todas as lembranças, entrar na justiça para regularizar a situação da divisão de guarda da pequena Gi. Eu já sei de tudo isso. O que eu ainda não sei é o porquê de tanta raiva. Aconteceu alguma coisa? Isabel te ofendeu de novo? Se ela te machucou novamente, me diga porque desde o nosso almoço aqui em casa eu estou louco para colocá-la no seu devido lugar.
Mordi o canto do meu dedo indicador nervosa. Rodrigo me questionava com o olhar, eu buscava coragem para falar. Eu não imaginava que fosse tão difícil falar sobre minhas fraquezas.
- Anda, Helena. O que aconteceu?
- Eu fiz amor com a Isabel. Sexo! - Me corrigi. - Sexo. É isso, eu transei com a Isabel.
O queixo da meu amigo foi para baixo. Ele ficou o retrato da própria confusão que estava dentro de mim.
- Acho que se eu tivesse lhe contado que matei e enterrei a Isabel lá no sítio, você não ficaria tão chocado. Eu fiz merd*, né?
Rodrigo pareceu ter despertado do seu choque e se ajeitou melhor no sofá.
- Eu não estou surpresa porque você me disse que transou com a sua ex, Helena. Desde que aconteceu o beijo e toda aquela conversa, eu estava contando os dias para que isso acontecesse. Eu estou assim porque esperava outra atitude sua.
- Como assim? Que outra atitude eu teria?
- De felicidade. Para mim você estaria radiante e cheia de vida. Ela fugiu, não foi?
- Não exatamente. Isabel não me deixou tocá-la. Tipo, ela que fez tudo, entendeu? Eu não pude trocar muitos carinhos com ela. É isso, não foi recíproco. Não foi como antes.
- Então, vocês brigaram?
- Não... ela até tentou conversar comigo, eu que não quis.
- Querida, eu não estou entendo nada. Explica tudo do começo que é melhor.
Contei a história toda, omitindo apenas os detalhes picantes. Rô prestava atenção em tudo, pelas suas caras eu podia perceber que algo não o agradou. No final, balançou a cabeça negativamente.
- Eu esperava essa atitude de fugir vindo da espanhola e não de você, Helena.
- Mas você não entendeu, amigo. Eu não fugi, apenas não quis ouvir o blá blá blá dela. É como disse, Isabel iria inventar um monte de baboseira para no final dizer para continuarmos colegas.
- Você não sabe. Não deixou que ela falasse. Eu não acredito que ela foi atrás de você depois da gravação para dizer bobagens. Você até mencionou que ela disse que se preocupa com você.
- Rodrigo! - Bronqueei. - Dez minutos atrás você estava dizendo que queria colocá-la no lugar, agora fica me culpando. Ela me largou sozinha e nua no sofá.
- Mas te esperou para tentar conversar.
- Isabel queria saber se iria ficar um clima estranho no final da gravação.
- Como eu disse: não sabemos, você não a deixou falar.
Fiquei quieta. Realmente não foi muito inteligente da minha parte ficar interrompendo-a. Por mais que ela quisesse dizer algo que eu não queria ouvir...
- Putz! Que saco, Rodrigo. Meti os pés pelas mãos. Eu fiquei morrendo de medo do que ela tinha para me dizer.
- Sim, você deixou o seu medo falar mais alto. Mas não se culpe. Por tudo o que passou esses meses todos, é natural essa barreira que você criou.
Senti-me pesada, cansada, sem saber o que pensar. Embora eu esteja curiosa com o que a Isabel queria me falar, não quero criar expectativas. A linha tênue em nossa história.
- E agora, Rô?
- Agora você precisa colocar a cabeça no lugar e a encarar em algum momento. Quer um conselho?
- Todos, amigo.
- Não deixa para conversar no local de trabalho de vocês.
Ponderei as palavras dele, fiquei pensando se a Isabel aceitaria conversar na minha casa ou na casa dela.
- Eu vou tentar.
- Helena, - seu tom foi sério - conversem sobre tudo. Tudo. Entendeu? O passado também deve ser discutido. Se aconteceu assim, é porque vocês têm muitas pontas soltas. Parar seguir em frente, seja como for, vai ser preciso falar sobre tudo.
Mordi o canto do lábio inferior por puro nervosismo. Seguir em frente.
- Já disse que te amo, amigo?
- Eu também te amo, Heleninha.
- É sério, eu não sei o que seria da minha vida sem você e o Eduardo. Obrigada por ser tão maravilhoso.
- É recíproco, a sua amizade também é muito importante para mim.
Ainda ficamos mais um tempo conversando e nos despedimos com um longo abraço.
Conversar com o Rodrigo é sempre esclarecedor. Ele tem sempre um ponto de vista diferente do que se pensa. Foi com essas questões que colocou e seu conselho que em 40 minutos dirigi até o meu lar.
Cheguei em casa já ouvindo a risada da Gi e o latido do Chico desde a porta.
Giovanna corria pela sala em uma felicidade que me contagiou. Quando me viu, jogou-se nos meus braços quando agachei para ganhar um abraço seu.
A bola de pelos ficou rodeando a gente e latindo feliz.
- Que saudade que eu senti de você. Como você está, princesa?
- Muy bien - respondeu em espanhol.
Eu beijei o seu rostinho e nos separamos.
- Como foi a escola? - Perguntei me levantando.
- Fiz um desenho bem bonito do Chico, depois eu te mostro.
Peguei em sua mão e fui até a nossa cozinha.
- Olá, Nina.
- Oi... oi, dona Helena. Opa, Helena.
- Nina fez um lanche delicioso para mim, mamãe - contou Giovanna feliz.
- Desculpa, Nina. Eu falei que iria preparar o jantar, mas acabei chegando tarde. Obrigada.
- Imagina, Helena. Eu preparei um para a senhora também - apontou para a mesa. - Espero que goste.
- Eu tenho certeza de que vou adorar - sorri com gentileza.
Chico voltou a latir e Giovanna voltou para a sala.
- Está tudo bem com a senhora?
Realmente a minha cara não deve estar das melhores.
- Tudo sim, querida. Só estou cansada, o dia foi longo. Bem, já passou do seu horário, pode deixar que eu dou banho na Gi e a coloco para dormir.
- Ok. Obrigada. Ah, eu já arrumei a bolsa da Gi para amanhã.
- Bolsa da escola?
- Não. Amanhã é o passeio para o planetário, lembra-se? O lanche que ela tem que levar está na geladeira. É um que a dona Isabel me ensinou e a Gi adora.
- Nossa, esqueci completamente da excursão escolar. O que seria de mim sem você, hum? Mais um agradecimento.
- É o meu trabalho. Não se esqueça de deixar a Giovanna uma hora mais tarde na escola.
- Não vou esquecer - a agradeci com um acenar com a cabeça.
- Boa noite, Helena.
- Boa noite, Nina.
A babá saiu e eu lavei as mãos.
Peguei o lanche preparado por ela e dei uma primeira mordida. Um delicioso sabor de frango. Nina tem um bom tempero, quem diria.
Comi em pé mesmo e bebi um copo de suco natural que estava na geladeira.
Olhei para o relógio que marcava 22:03 e caminhei até o sofá. Giovanna já denunciou o sono pela sua cara. A peguei no meu colo.
- Dá boa noite para o Chico, filha.
Gi se despediu do amigo de quatro patas e ele até tentou nos acompanhar, mas fiz ele ficar na sala.
Sei que é inútil, pois tenho certeza de que quando for acordá-la, ele estará lá.
Dei um banho rápido na minha pequena e a coloquei na cama. Fiquei esperando-a dormir profundamente e dei um beijo na sua testa.
Depois de cuidar da minha filha, chegou o momento de cuidar de mim. Tomei um longo banho, coloquei um pijama, sequei o meu cabelo com o secador e me deitei na cama.
Fechei os olhos, mas o sono não veio. Peguei o meu celular que está carregando na mesa de cabeceira e naveguei um pouco pela internet.
Enquanto via algumas fotos postadas pelos meus amigos, uma notificação de mensagem apareceu na barra de notificação.
Meu coração bateu em descompasso. Isabel me enviou uma mensagem. Chegou outra e mais outra. Não resisti e cliquei para ver.
Isabel: link vídeo ‘I Don't Want To Miss a Thing - Aerosmith - Live' (23:42)
Fim do capítulo
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