Oi, oi, gente! Cheguei com um capítulo generoso que teve que ser cortado ainda se não se tornaria uma bíblia. Espero que gostem! Até o próximo!
Twitter: patty5hepard
Capitulo 19
O corpo estava satisfeito, o coração aquecido, mas a mente estava um alvoroço sem igual. Os olhos dourados estavam semiabertos e perdidos, não olhava para nada, estava perdida em seus próprios pensamentos que a impediam de dormir por mais que seu corpo estivesse implorando por mais um pouco de descanso. Uma breve movimentação da mulher a sua frente puxou sua atenção de volta para aquele plano e os olhos logo encararam a mulher de forma atenta. Mia dormia tranquila, um sono claramente pesado e pela expressão serena que ela tinha, era claro que estava à vontade. Já Helena havia acordado há algum tempo, não sabia quanto tempo havia dormido, não sabia que horas eram, mas sabia que ainda estava cansada. Nem ela e nem Mia haviam se movido enquanto dormiam e por isso mesmo estavam exatamente na mesma posição desde que dormiram, uma encaixada na outra de forma extremamente confortável quase dividindo um único travesseiro, os corpos aquecendo um ao outro e as pernas entrelaçadas de forma tão confortável que fazia Helena não querer nem mesmo pensar em sair dali.
A mexicana respirou fundo, a noite que tivera ao lado de Mia fora incrivelmente perfeita, mas a fizera sentir coisas que ela não esperava sentir ou até mesmo não estava pronta para tal e isso a deixava pensativa e um tanto ansiosa, era inusitado e lhe fazia ter vontade de rir, sentia-se como Mia, tendo que pensar muito bem antes de dar o próximo passo e sem ter a mínima ideia do que viria a seguir. Sentiu uma pequena movimentação na cama e no segundo seguinte, a cabeçada que começara em seu calcanhar e fora esfregando-se ao longo de sua perna até a altura da coxa: Era Vadia. Isso a arrancou um pequeno sorriso, mas ela não queria sair dali, manteve-se quieta, porém desta vez fechou os olhos enquanto sentia que a gata estava lhe olhando, a sensação lhe dava vontade de rir. Um miado baixinho e em seguida a gata se esfregando em suas costas enquanto mais uma vez miava. Vadia queria comida e Helena se sentia uma péssima mãe de gato por não levantar-se imediatamente para ir por comida para a gatinha. Um sorriso pequeno se desenhou em seus lábios enquanto voltava a abrir os olhos, encarou a mulher adormecida a sua frente e por Deus, como ela conseguia ficar bonita até mesmo dormindo? Ergueu a mão direita e com muito cuidado tocou o rosto de Amélia de forma carinhosa, o polegar deslizou pela pele quente com carinho enquanto Helena observava o caminho traçado, ela sorriu fraco com os pensamentos que vinham em sua mente a respeito daquela mulher e a sensação em seu interior que lhe trazia um conforto que fazia anos que não sentia, era como se estivesse sendo abraçada por dentro pelo simples motivo de ter Mia por perto.
Porém toda a calmaria acabou-se de forma repentina quando Mia acordou num sobressalto que assustou Helena. A Designer apoiou-se no cotovelo enquanto erguia um pouco a perna e olhava para baixo com o cenho franzido.
— O que houve? — Helena questionou rapidamente e um tanto alarmada, logo olhou na mesma direção que Mia e viu Vadia um pouco afastada, provavelmente pela movimentação rápida de Mia, a gata miou de forma acuada como se estivesse prestes a atacar, Helena entendeu imediatamente o que havia acontecido e começou a rir enquanto virava-se de barriga para cima na cama. — Ela te mordeu?!
— Por que diabos você está rindo disso? — Mia reclamou, o coração ainda acelerado pelo susto que tivera, fora arrancada de um sono extremamente gostoso assim que sentiu a mordida em sua panturrilha. A expressão emburrada só fez Helena dar uma nova risada. — Ela me mordeu, Helena! — exclamou em tom um pouquinho mais alto enquanto ia se ajeitando na cama até sentar-se bem no meio do móvel. — Deus... — gem*u enquanto cruzava as pernas devagar em posição de meditação e apoiava em seguida os cotovelos na altura dos joelhos, passou as mãos no rosto devagar.
— Desculpa! — Helena falou enquanto dava um sorriso largo para conter a vontade de rir. — Ela está com fome, veio me pedir comida, mas como eu não dei atenção, ela foi pedir a você, ela também me morde quando eu não acordo rápido. — a mexicana explicou enquanto ajeitava o travesseiro abaixo de sua cabeça com certa calma. — Você precisa parar de se assustar com a Vadia sempre.
— Claro, por que deve ser bem fácil se acostumar com ser acordada com uma mordida. — a voz da Designer estava rouca e extremamente preguiçosa. Após sua fala ela esticou os braços só um pouco para pegar a gata preta com cuidado, aninhou o corpo gordinho entre seus seios e a apertou, a sensação era maravilhosa, o corpo quentinho e peludo contra sua pele nua arrancou um pequeno sorriso da Designer enquanto ela beijava a cabeça peluda. — Não acredito que você negou comida a esse bebê. Está perdoada, meu amorzinho. — falou baixinho as últimas palavras para a gata que ronronava com o carinho que recebia no pescoço.
— Não neguei, mas a cama estava gostosa demais pra sair dela tão rápido. — Helena se justificou enquanto dava um sorriso extremamente carinhoso ao ver Mia abraçada a Vadia.
Mia olhou para Helena por cima do ombro e deu um sorrisinho assim que ouviu aquelas palavras, soltou Vadia devagar na cama e virou o corpo para então ir inclinando-se para cima de Helena devagar. Quando alcançou-lhe o rosto, deu um beijo demorado no canto dos lábios da mexicana e então a encarou de pertinho.
— Bom dia. — sussurrou.
Helena deu um sorriso um pouco largo enquanto erguia a mão direita para tocar o rosto de Mia com carinho, a olhou melhor, os cabelos bagunçados, a expressão extremamente sonolenta, um lado do rosto meio amassado pelo travesseiro, mas era impossível negar:
— Como você consegue continuar linda desse jeito até com a cara amassada? — questionou Helena. Isso arrancou uma risada de Amélia enquanto ela pendia a cabeça contra a mão de Helena, apenas por que gostara do calor da mão dela. Fechou os olhos enquanto sorria sem mostrar os dentes.
— A pele sempre fica mais bonita após alguns orgasmos. — respondeu com satisfação enquanto alargava um pouco mais o sorriso, mas ainda assim não mostrava os dentes. Helena riu de forma sem vergonha com aquelas palavras e mais uma vez lá estava ela admirando Mia, aquele sorriso satisfeito no rosto dela, os olhos fechados e a forma como ela pesava a cabeça contra a sua mão como uma gata pedindo carinho.
A mexicana inclinou-se, erguendo então um pouco a cabeça para poder colar os lábios aos de Mia em um selinho demorado, o qual fora quebrado por Mia.
— Você não vai me beijar sem eu ter escovado os dentes. — a morena alertou enquanto abria os olhos para encarar Helena.
— Qual o problema? Andou colocando a boca onde não devia essa madrugada? — a mexicana alfinetou enquanto arqueava as sobrancelhas, porém logo à mulher soltou uma exclamação de dor enquanto olhava para baixo. — Meu Deus, Vadia. — havia acabado de ganhar uma mordida da gata esfomeada.
Mia logo entendeu o que havia acontecido e pendeu a cabeça para trás enquanto uma gargalhada escapava de sua boca, também ia se afastando enquanto ria, se ajeitando até ficar de joelhos na cama, não se incomodava com a nudez, assim como era muito claro que Helena também não.
— Eu jamais vou me acostumar com esse nome. — Mia falou enquanto se esticava só um pouco para pegar a gata no colo novamente, a abraçou com carinho como quem segura um bebê e coçou-lhe o pescoço com carinho. — É assim todos os dias? — referiu-se as mordidas.
— Não exatamente, ela me acorda sempre só se esfregando, normalmente funciona por que logo levanto. Inconscientemente criei essa rotina de dar comida a ela logo cedo quando acordo, se eu demoro demais pra sair da cama ou não levanto com ela sendo carinhosa, ela começa a me morder até me fazer levantar a força pra ir por ração. — Helena explicou enquanto ia se ajeitando até apoiar a cabeça na mão direita, mantinha-se ainda deitada de lado, extremamente preguiçosa para sair dali, com certeza seria capaz de passar o dia inteiro naquela cama com Amélia ao seu lado.
— Não acredito que esse tempo todo você estava negando comida a ela. — Mia acusou enquanto devagar ia se erguendo da cama, a gata saltou de seu colo diretamente para o colchão e entre miados já fora descendo do móvel como se imaginasse que Mia seria a responsável por dar comida a ela.
— Ela não está morta de fome como aparenta, isso é puro drama de uma gata gorda. — Helena se justificou de forma um tanto afobada como se realmente precisasse se explicar por isso.
— É por isso que ela te morde. — apontou para Helena enquanto arqueava as sobrancelhas e então começou a andar em direção a porta do quarto, estava com sede, então aproveitaria a ida a cozinha para dar comida a gatinha. — Eu vou beber água, onde fica a ração dela?
Vadia quem respondeu com seus miados incessantes enquanto corria um pouco além da porta, mas parava e olhava para Mia como se estivesse a chamando para continuarem andando. Isso arrancou uma gargalhada de Helena com todo o show que a gatinha estava dando, Mia riu junto por alguns segundos.
— Na porta em cima da pia. — Helena falou ainda com ar de riso e ficou com um sorriso largo nos lábios assim que ficou sozinha no quarto. Umedeceu os lábios devagar enquanto se ajeitava na cama, os olhos encaravam além da porta, mesmo assim não via mais Mia. Sentia-se tão bem, aquela sensação em seu peito que há muito tempo não sentia, que causava-lhe certo estranhamento, era muito bom, ao mesmo tempo que trazia junto uma insegurança que a deixava confusa.
A primeira coisa que Mia fizera assim que chegou na cozinha fora pegar aos pés da mesa o robe que usara na madrugada, devagar o vestiu enquanto sentia Vadia se enroscando em suas pernas ao mesmo tempo que miava com um desespero que realmente fazia Mia ter vontade de rir. Assim que terminou de amarrar o robe em sua cintura, caminhou até a pia e já fora erguendo as mãos para abrir a porta acima da mesma e imediatamente viu o pote de ração pela metade, o pegou e o destampou enquanto olhava em volta para achar a tigela de Vadia. Assim que achou inclinou-se um pouco e despejou uma boa quantidade, não sabia a quantidade que Vadia comia de qualquer forma, mas pelo desespero da gata, certamente não era pouco.
— Agora sim. — falou baixo e passou a mão por toda a pelagem da felina que já abocanhava uma boa quantidade da ração seca. Assim logo se afastou, guardou a ração de volta em seu lugar e foi à procura de um copo, optou por não beber água, abriu a geladeira atrás de suco e serviu-se com uma boa quantidade de suco de laranja. Sentia-se leve e tinha vontade de sorrir por qualquer coisa boba que acontecia ao seu redor, estava com uma sensação tão boa no peito que há muitos anos não sentia. Tudo o que tinha vontade era de nunca mais sair daquela casa onde sentia-se tão a vontade.
Em meio a goles longos no suco, foi voltando para o quarto a passos lentos e assim que chegou a porta viu que Helena falava ao telefone, não quis interromper, mas sorriu assim que seus olhos se encontraram e Helena sorriu de forma larga.
— Que horas você acha que são, Amélia? — Helena questionou. Porém Mia já não mais olhava para seus olhos e sim, perdia-se no corpo nu de Helena mais uma vez de uma forma que não fizera na noite anterior, agora o quarto estava completamente iluminado pela luz do sol que entrava pela grande janela, não tinha um detalhe sequer que ela não conseguia ver, inclusive até mesmo algumas cicatrizes que não havia notado antes. — Aqui, Amélia. — acenou brevemente com a mão para chamar a atenção da morena e em seguida apontou para seus olhos. — Me responda.
Mia riu.
— Eu não sei, não sinto que dormimos muito. É de manhã ainda? — questionou enquanto franzia o cenho e em seguida levava o copo aos lábios novamente e dava um novo gole no suco, trocara o pé no qual apoiava seu peso enquanto se encostava no arco da porta do quarto.
— Você tem algum compromisso hoje?
Mia franziu o cenho com a pergunta e ficou em silêncio por alguns segundos. Helena observou toda a cena com um sorriso no rosto, até o momento em que viu as sobrancelhas da Designer se arqueando enquanto seus olhos se arregalavam ao dar-se conta de que sim, ela tinha compromisso.
Helena riu.
— Você já está atrasada, o Hernando está saindo de casa agora e passa aqui em trinta minutos. — a mexicana explicou, o celular ainda colado ao ouvido enquanto encarava Mia, soltou uma risada enquanto desviava o olhar. — Eu juro que não é culpa minha. — desta vez falou com Hernando do outro lado da linha. Há minutos atrás estranhara quando seu telefone tocara e quando olhou, viu o nome de Amélia no visor, quando atendera não era ninguém mais que um Hernando indignado com o fato de que Mia não estava em casa e que já eram quase duas da tarde e eles tinham um aniversário para ir juntos da família de Mia. A mexicana riu novamente por poucos segundos enquanto voltava a erguer os olhos novamente. — Prometo deixa-la pronta, até daqui a pouco. — deu um beijo estalado no ar enquanto afastava o telefone do ouvido, olhou-o, encerrou a ligação e jogou o aparelho na cama antes de olhar para Mia que tinha um semblante culpado estampado no rosto. — Você esqueceu do aniversário do seu primo.
— Ele tem 6 anos. — tentou justificar-se enquanto se aproximava da cama.
— Isso não é justificativa. Mas agora temos certeza que eu mexo com a sua cabeça a ponto de você esquecer de todo o resto. — Helena deu um sorriso largo que parecia extremamente orgulhoso. Isso fez Mia semicerrar os olhos.
— Eu apenas perdi a noção do tempo, eu não sabia que era tão tarde. — apontou para Helena enquanto caminhava até o criado mudo onde deixou o copo de suco, não queria admitir que de fato perdia a noção de tudo quando estava ao lado de Helena. — Ele está trazendo minhas roupas?
— Não, eu falei que te emprestaria, prometi que estaria pronta assim que ele chegasse. — deu de ombros enquanto apoiava a cabeça na cabeceira da cama. — Por que você se vestiu? — os olhos focaram-se no robe que Mia usava.
— Eu não iria ficar o tempo todo nua. — explicou-se enquanto se aproximava mais da cama, apoiou primeiro o joelho esquerdo no colchão para logo em seguida erguer o direito e o passar pelo corpo de Helena até enfim sentar-se no colo dela de forma confortável.
— Mas você com certeza deveria. — a mexicana rebateu enquanto espalmava as mãos nas coxas macias de Amélia. — Você vai se atrasar.
— Eu já estou atrasada. — respondeu enquanto ia se inclinando, as mãos tocaram a pele de Helena com carinho até alcançarem os cabelos da mexicana, os puxou devagar enquanto se inclinava mais, os lábios quase roçando um no outro.
— Você está se contradizendo, Amélia. — Helena pontuou e Mia arqueou uma sobrancelha enquanto se afastava só um pouquinho. — Disse que não me beijaria sem escovar os dentes. — a Artista Plástica tinha um sorriso sem vergonha nos lábios.
— Foda-se. — Mia sussurrou enquanto voltava a se inclinar até que seus lábios roçassem nos de Helena. Esticou a língua e bem devagar deslizou-a pelos lábios de Helena, porém, gem*u assim que sentiu sua língua ser ch*pada por Helena de forma lenta e tão sinuosa que fez o corpo da Designer se arrepiar enquanto se inclinava um pouco mais para beijar Helena de uma vez. O corpo reagiu imediatamente assim que as línguas se encontraram, Helena deslizou as mãos pelo corpo de Mia, subindo de suas coxas até a cintura por dentro da roupa. Assim esqueceu-se mais uma vez que tinha compromisso e teve uma vontade incontrolável de ficar ali nos braços de Helena o resto do dia.
Porém, repentinamente o quarto fora tomado pelo barulho do toque do celular e além disso Mia também sentiu a vibração do aparelho bem ao lado de seu joelho. A Designer riu um pouco contra os lábios de Helena, mas se afastou um pouquinho para que Helena pudesse atender o telefonema.
— Hmm, não é pra mim. — Helena falou enquanto erguia o celular e o virava para que Mia pudesse ver seu próprio nome estampado na tela. A designer rolou os olhos enquanto pegava o celular da mulher e deslizava o dedo pela tela e logo em seguida o levava ao ouvido.
— Oi, Nando. — a voz saiu um tanto impaciente.
— Vocês estavam se agarrando não foi, sua vagabunda? Eu disse a você que já estou saindo, estamos atrasados e você sabe mais do que ninguém que se atrasarmos demais a sua mãe vai brigar com a gente! — o arquiteto gritou do outro lado da linha e Mia rolou os olhos mais uma vez enquanto baixava o olhar para encarar Helena. — Vocês trans*ram não foi?
— Muito. — um sorriso realmente largo surgiu nos lábios de Mia. — Você ligou só pra me apressar?
— É obvio que sim, eu conheço você, eu sabia que ia se agarrar com ela novamente. São duas horas da tarde, Mia, a festa começou e eu nem sei onde é a casa de Helena então me envia essa merd* de endereço agora!
— Eu não planejava me atrasar, ok?
— Você esqueceu.
— Eu também não planejei isso.
— Você nunca planeja nada quando isso envolve a Helena. — Hernando pontuou e isso calou Mia por alguns segundos, ela franziu o cenho, ele estava correto. Helena encarou Mia com uma sobrancelha arqueada como se estivesse perguntando o que houve.
— Ok... Eu vou tomar banho...
— Mas antes me mande o endereço.
— Sim senhor... — a mão da morena se ergueu e desceu de uma vez em um tapa firme que acertou em cheio as mãos de Helena que tentavam abrir seu robe.
— Foi você quem começou! — Helena se defendeu, mas isso só arrancou um sorriso largo de Amélia.
— Normalmente eu super encorajaria você a agarrar a Helena e a ch*par logo uma bocet* de uma vez por todas, mas agora, nesse momento, larga essa mulher, Mia! — a ligação foi encerrada com a gargalhada de Mia que durou alguns segundos, ainda com um sorriso largou deslizou o dedo pela tela do celular de Helena, não tinha senha. — Vou enviar o seu endereço pro Hernando, ok? — justificou o fato de estar mexendo no celular dela.
— Fique a vontade. — Helena respondeu em tom baixo, as mãos quietas novamente sobre as coxas de Mia enquanto a olhava com um sorriso pequeno nos lábios, não queria que ela fosse embora. — Você realmente precisa parar de ir embora da minha casa com pressa sempre.
Mia baixou o celular e o deixou de lado após enviar o endereço para seu número já que seu celular estava com Hernando. Então encarou Helena com um pequeno bico nos lábios, inclinou-se só um pouco para roubar-lhe um selinho um pouco estalado.
— Eu sei. Me desculpe por isso, eu realmente amo a sua casa por que ela me deixa muito a vontade, você mais ainda. — ergueu a mão direita e tocou o rosto de Helena com carinho, o polegar deslizando pela bochecha, sorriu fraco enquanto admirava a mulher abaixo de sí. — Da próxima vez eu vou fazer questão de planejar muito bem a minha vinda aqui, por mim eu passaria o dia inteiro aqui com você... Transaríamos muito mais para começar o dia bem, passaríamos o dia na cama levando mordidas da Vadia e a noite eu cozinharia com você antes de ir embora. — as palavras não saiam mais altas que meros sussurros enquanto Helena sorria com cada palavra que ouvia, o cenário que se formava em sua mente com aquelas palavras era algo extremamente satisfatório e logo descobriu que era de fato tudo o que ela queria e isso realmente a pegou de surpresa.
— Eu vou cobrar isso. — sussurrou de volta e inclinou-se um pouco, deu um beijo estalado nos lábios de Mia e em seguida deu outro beijo no rosto tão carinhoso quanto o primeiro. — Agora vá tomar banho, depois pode escolher qualquer roupa minha, felizmente temos os mesmos corpos, só não espere um sutiã, seus peitos são maiores que os meus.
Mia deu uma pequena risada com as últimas palavras enquanto saia do colo de Helena com certo cuidado e em seguida ia andando para o banheiro.
— Você fala isso com uma satisfação muito suspeita. — Mia falou enquanto já entrava no novo cômodo, entrou sorrindo, fora praticamente flutuando de tão leve que ela estava se sentindo.
Helena ficou com um sorriso largo nos lábios ao ouvir as palavras de Mia, mas após alguns segundos acabou respirando fundo enquanto voltava a apoiar a cabeça na cabeceira da cama, estava ficando cada vez mais confusa com toda aquela situação e estava sempre querendo mais. Passara a maior parte da madrugada e parte da manhã provando cada parte do corpo de Mia e parecia não ter sido o suficiente, não queria que ela fosse embora.
Assim, alguns bons minutos depois, Mia estava em frente ao espelho do banheiro já vestida, mas ocupada com o secador ligado secando os cabelos ainda úmidos, vestia um shortinho jeans desfiado que ia até um pouco acima do meio de suas coxas e uma camisa de seda preta estampada com algumas flores e um pouco folgadinha, perfeita para não marcar demais os seus seios.
— Então é esse um dos tantos benefícios de sair com uma mulher? — Mia questionou em tom divertido ao ver Helena entrando no banheiro.
— Com certeza. — Helena afirmou e parou bem ao lado de Mia. — Roupas, maquiagens trocadas, um sex* muito mais gostoso, conversas melhores, garantia de compreensão... — a mexicana falou enquanto esticava o braço para ajeitar a gola da camisa que tinha um decote em V não muito profundo, mas o suficiente para deixar um bom visual no belo decote que Mia tinha. — Já citei o sex* muito mais gostoso?
Mia riu por alguns segundos enquanto desligava o secador e o deixava de lado, passou as mãos pelos cabelos mais secos e então encarou Helena bem ao seu lado, próxima demais, precisou só se inclinar poucos centímetros para roubar um selinho estalado.
— Eu preciso provar mais vezes para comprovar essa questão. — provocou enquanto sorria e deu um novo beijo na morena, desta vez no rosto, antes de se afastar e sair do banheiro deixando para trás uma mexicana com um sorriso divertido nos lábios. — O Hernando já deve estar chegando, não acredito que dormimos tão fácil até duas da tarde.
— Pra ser sincera eu dormiria muito mais. — Helena falou enquanto também saia do quarto. Mia já estava sentada na cama calçando as sandálias rasteirinhas de Helena, seu pé era um numero menor que o dela, mas isso não causaria problemas.
— Se não fosse por aquela ali... — apontou para Vadia sentada na porta do quarto, distraída demais se lambendo para se dar conta da conversa. — Eu teria dormido muito mais.
Helena riu por alguns segundos enquanto balançava a cabeça de forma negativa.
— Agora você sabe o que eu aguento todos os dias. — comentou e logo no fim de sua frase sua atenção fora chamada para o celular tocando mais uma vez em cima da cama e viu o nome de Amélia aparecer na tela.
— O Nando chegou. — Mia falou enquanto pegava o celular, mas não o atendeu, deslizou o dedo para rejeitar a ligação e em seguida ergueu-se da cama. Helena sorriu enquanto ia erguendo os braços, Mia imediatamente entendeu e deu meio passo a frente enquanto já ia rodeando a cintura de Helena com seus braços. Helena sorriu de canto enquanto abraçava os ombros de Mia.
— Pare de esquecer compromissos quando está comigo, me sentirei culpada. — falou baixo, dessa vez não estava provocando, estava mesmo falando sério. Mia acenou de forma positiva com a cabeça, mas riu um pouco sem jeito por ter que admitir isso.
— Obrigada por essa noite. — a Designer falou baixinho e em seguida se aproximou mais para dar um selinho nos lábios de Helena, fora prontamente retribuída. — Ainda quero vir pra cá pra cozinharmos juntas novamente.
— Vamos marcar um bom dia para fazermos isso. — Helena a tranquilizou e deu um beijo no rosto da morena em seguida para então se afastar, era hora de Mia ir.
Mia não reclamou, estava mesmo atrasada de qualquer forma, assim se afastou e saiu andando devagar tendo Helena a seguindo a um passo atrás. Mas parou na porta do quarto para acariciar Vadia uma última vez antes de partir, isso durou só alguns segundos e logo estava andando novamente.
— Pegarei meu vestido quando eu vir te devolver essa roupa. — Mia recordou-se da roupa da noite anterior a qual ficara na secadora depois de ter sido molhada pela chuva.
— Combinado, talvez eu mande você vestir ele novamente.
— Eu posso pensar bem nisso. — Mia falou enquanto abria a porta de casa e de imediato viu eu carro parado em frente à casa, o que lhe causou certo estranhamento pelo fato de Hernando ter vindo com seu carro e não com o dele.
— Finalmente!!! — Hernando gritou de dentro do veículo assim que desceu o vidro do carro. Mia riu junto com Helena enquanto a mexicana acenava para Hernando.
— Vai, agora que o Hernando está me suportando eu não quero perder isso por te fazer se atrasar. — Helena segurou com carinho a mão de Mia e a ergueu, virou a palma para sí e deu um beijo carinhoso na palma da mão quentinha.
Mia riu brevemente.
— Quando ele gosta de alguém é muito difícil fazer ele voltar atrás. — Mia inclinou-se para dar um beijo no rosto de Helena, mas fez uma breve pausa no meio do caminho. — A não ser que você faça uma merd* muito grande. — estalou um beijo na bochecha da mexicana. — Até mais, Helena.
— Até mais, Amélia.
Uma última troca de olhares que durou alguns poucos segundos até que finalmente Mia desse meia volta e fosse andando a passadas largas para o carro, ainda mais ao ver a expressão impaciente de Hernando. O amigo sempre era convidado para a maioria das festas de família de Mia, afinal, os dois viviam tão colados há tanto tempo que Hernando era de fato considerado um membro da família não só pela mãe e irmão de Mia. A designer era tratada exatamente da mesma forma pela família de Hernando, apesar de a família dele ser extremamente pequena em comparação a de Amélia e a maioria sequer morava perto.
— Realmente qualquer pessoa que olha para a Helena entende por que você foi sentir atração justamente por ela. — Hernando falou assim que Mia abriu a porta do carro. Procurando entender as palavras do amigo, a Designer olhou para trás: Helena estava com o ombro encostado no arco da porta e os braços cruzados, as pernas quase completamente nuas, um dos ombros expostos pela blusa rosa folgada, os cabelos bem ondulados e um pouco bagunçados que lhe davam um ar extremamente sexy e um sorriso que se formou nos lábios da Mexicana assim que seus olhos se encontraram ao de Mia.
A Designer imediatamente se arrependeu de ter olhado para trás. Quis voltar e ficar com Helena o resto do dia. Limitou-se, infelizmente, a rir ao entender as palavras de Hernando, assim virou-se mais uma vez e adentrou o veículo.
— Você precisa sair daqui imediatamente antes que eu saia desse carro e volte pra lá. — Mia alertou enquanto fechava a porta do carro e já olhava para Hernando com ambas as sobrancelhas arqueadas.
O arquiteto mal esperou Mia terminar de falar e já estava acelerando enquanto ria. Buzinou duas vezes para Helena enquanto finalmente tomava o rumo para longe dali.
— Já vi que provou tudo e gostou muito. — Hernando falou, um sorriso até orgulhoso estampado nos lábios do homem. Olhou para Mia brevemente e falou: — Olha só, até está mais radiante.
Mia riu enquanto colocava o cinto e se ajeitava um pouco no banco para ficar mais confortável. Aproveitou que estava em seu carro e abriu o porta luvas onde havia uma bolsa de emergência com maquiagem extra, a colocou em seu colo e a abriu e foi procurando o que queria.
— Como eu já disse, alguns orgasmos sempre deixam a pele mais bonita. — repetiu o que dissera a Helena mais cedo e baixou o para sol onde havia um espelho. — Por que veio no meu carro?
— O Drew vai me pegar lá na casa da Lizzie mais tarde, tenho um jantar com os pais dele. — o homem fez uma expressão de desdém com aquelas palavras, Mia o imitou inconscientemente, fazendo a mesma expressão já que sabia de toda a história. Hernando e os sogros não se davam muito bem e tudo por motivos fúteis, os sogros do rapaz não eram as melhores pessoas que se poderiam encontrar por ai.
— Sinto muito por você, se precisar fugir me mande mensagem, farei um show tão grande que vão achar que eu estou morrendo e preciso de você imediatamente. — a morena falou enquanto sorria, mas ao mesmo tempo e com muita habilidade passava rímel nos olhos.
A risada grave de Hernando soou por alguns segundos dentro do carro.
— Saudade desses teatros pra fugir de dates ruins. — o homem falou enquanto sorria. — Mas agora eu quero saber como foi sua noite com a Helena, isso é um momento histórico! Você transou com uma mulher!
— Eu nunca acreditei de verdade quando a Leslie falava que trans*r com uma mulher é muito diferente e muito mais gostoso. — comentou em tom baixo enquanto fechava a bolsa com maquiagens e a guardava de volta no porta luvas. — Mas foi incrível. Incrível, Nando. Ela me fez goz*r de formas que eu nem sabia que era capaz e me deixou completamente a vontade durante todo o tempo, tudo pareceu tão natural que nem parecia que era a primeira vez que estávamos trans*ndo. — a morena gesticulava com as mãos de maneira bem expressiva enquanto falava. Cruzou as pernas para ficar mais confortável. — E as coisas que ela fala... Meu deus. — passou as mãos pelos cabelos enquanto respirava fundo.
— Hmmmm, papai está tão orgulhoso. — o arquiteto falou quando parou em um sinal vermelho e esticou a mão para tocar o rosto de Mia enquanto a olhava com uma falsa expressão de afeto. — Minha pequena sapatão está crescendo.
— Vai se foder, Nando. — deu uma tapa na mão do amigo enquanto ria com as palavras dele. Apoiou-se na porta ao seu lado e virou um pouco o corpo para ficar olhando para ele enquanto falava. — Senti que eu deveria ter feito isso a minha vida toda. — sorriu fraco com essas palavras, mas referia-se mais a Helena, teve vontade de ter a conhecido há muito tempo. — Fazer uma mulher goz*r trás uma satisfação que nem se iguala a fazer o mesmo com um homem.
— Então quer dizer que você...
— Obvio. — a morena tinha um sorriso largo nos lábios, o olhar se perdendo no ar enquanto a mente voltava para a madrugada que passara nos braços e entre as pernas de Helena. O sabor, a textura, o calor, toda a sensação voltara para a mente da morena e a fazia umedecer os lábios devagar. — Confesso que eu tive medo. Eu não sabia o que fazer, mas eu queria muito. Então, ela parou, olhou pra mim e falou: Você sabe o que fazer, Mia, você também é mulher. — respirou fundo enquanto lembrava desse momento e então sorriu fraco.
Hernando olhava para Mia com um sorriso pequeno nos lábios, mas teve que desviar o olhar quando o sinal abriu e ele teve que voltar a dirigir.
— Safada. Você tá muito apaixonada. — ele falou enquanto ria e balançava a cabeça de forma negativa ao mesmo tempo. — Você ta praticamente sonhando acordada.
— Isso é uma merd*. — a morena falou, mas não era, falara por falar. Hernando estava certo. Ela só ainda não sabia lidar com tal sentimento, nunca esperara algo do tipo. Passara muitos meses com Charlie, trans*ndo, conversando, tendo ótimos momentos e nunca sentira nada além do que já sentia, nada que a fizesse querer algo a mais. Então chegara Helena e em pouco tempo fizera Mia sentir coisas que nunca antes havia sentido. Era tão surreal que deixava a Designer sem saber o que fazer. — Eu não sei o que vou fazer, eu queria ter passado o dia inteiro com a Helena, mas eu sei que se tivesse passado eu acabaria ficando mais fodida.
— Literalmente! — Hernando enfatizou aquelas palavras e arqueou uma sobrancelha para a mulher ao seu lado como se estivesse insinuando algo. Isso arrancou um sorriso largo da Designer.
— Eu realmente não reclamaria disso. — ela riu por poucos segundos antes de continuar. — Mas eu realmente preciso pensar em tudo o que está acontecendo, preciso decidir meus próximos passos. Ta... Eu gosto da Helena. Mas e ai? O que eu faço com isso?
— Se declara? — Hernando questionou como se isso fosse a atitude mais obvia a se tomar.
Mia negou com um aceno rápido de cabeça enquanto se ajeitava ao notar que estavam chegando à casa de sua prima.
— Temos coisas mais importantes a pensar agora. — desconversou. Hernando entendeu que aquele não era um assunto que Mia queria se aprofundar naquele momento e respeitou. Sempre respeitava, quando ela quisesse conversar ela mesma ia atrás dele para desabafar tudo o que andava pensando.
— Como, por exemplo? — Hernando incentivou.
— Será que George gostou do nosso presente? — Mia questionou enquanto se ajeitava ao ver de longe a casa da prima e a quantidade de carros que tinha na frente, também já podia ver algumas pessoas.
— A pergunta é: Será que já entregaram? — Hernando a corrigiu enquanto pacientemente ia manobrando o carro para estaciona-lo. — Eu sempre me surpreendo como a cada ano sua família consegue crescer. — Hernando referia-se a quantidade de carros.
— A família da minha mãe ou ama ter filho, ou ama casar com gente que tem muito filho, isso é um fato que ninguém enxerga além de mim pelo jeito. — Mia falou e esperou que Hernando desligasse o veículo para abrir a porta e calmamente sair do mesmo. — Você ta pronto pra ouvir bronca da Lizzie por termos dado coelhos ao George?
— Vai valer a pena. — o homem falou enquanto fechava a porta do carro e logo, a passos lentos, ia dando a volta no mesmo enquanto olhava para a fachada da grande casa em que a prima de Mia morava. No lado direito da mesma havia algumas pessoas na frente, era por onde tinha uma porta que dava acesso ao quintal da casa. — Temos coisas mais importantes a se preocupar aqui.
— Como a presença da Terry. — a designer falou enquanto se aproximava de Hernando com o cenho franzido e os braços cruzados.
— Eu realmente amo a sua família. — a voz dele era risonha. Se aproximou de Mia e passou o braço pelos ombros da amiga para começarem a andar juntos. Mia vinha realmente de uma família grande, tanto da parte materna quanto da parte paterna, apesar de estar mais familiarizada com a família da mãe já que a do pai, a maioria, morava ainda na Itália. E justamente por ser uma família grande, tinha de tudo, principalmente aqueles parentes com os quais Mia não se dava bem e Hernando sempre se divertia com isso.
— E você está uma delícia com essa roupa, eu comeria fácil. — Mia elogiou o amigo logo após olhá-lo mais uma vez.
Hernando, que vestia um short meio justo nas coxas, um pouco mais curto que os normais e uma camisa de linho azul marinho com alguns botões abertos, o suficiente para deixar parte do peito coberto por uma camada de pelos exposto do jeito que Mia adorava, riu por alguns segundos e o sorriso largo se manteve exposto quando a risada cessou.
— Eu fico uma delícia com qualquer roupa.
Os dois cumprimentaram algumas pessoas que estavam ali na frente e logo estavam entrando no quintal da residência, um quintal verdadeiramente grande que daria pelo menos dois do quintal do irmão de Mia. Lizzie, prima de Mia, havia se casado com um homem que era extremamente bem sucedido como corretor imobiliário e por isso mesmo morava em uma casa que era um verdadeiro exemplo para novas casas.
O quintal estava cheio, haviam crianças para todos os lados, a maioria gritando enquanto corria, havia alguns cercados que haviam sido montados naquele mesmo dia, todos com animais que haviam sido trazidos exclusivamente para a festa já que o aniversariante, George, era um verdadeiro apaixonado por animais.
— Meu Deus, aquilo são cabras? — Hernando franziu o cenho e Mia riu enquanto concordava e não deixava de pensar que sua prima com certeza sempre passava um pouco dos limites quando se tratava de aniversários do filho, em partes por culpa do marido, que gostava de mostrar para todos que era bem sucedido e tinha dinheiro.
Havia um típico cheiro de churrasco, o que imediatamente chamava atenção para a churrasqueira grande repleta de salsichas para cachorro quente e Arnold, o marido de sua prima, ostentava um sorriso orgulhoso atrás da churrasqueira enquanto virava as salsichas e conversava com algum amigo próximo. A maioria dos adultos naquele quintal fazia parte da família de Mia, já a minoria, era algum pai ou mãe de alguma criança que corria sem freio pelo quintal ou brincava pelos brinquedos espalhados de forma animada.
— Ela realmente se superou... Graças a Deus eu não estou de ressaca. — Mia falou baixo, mais para sí mesma do que para Hernando.
— O que é surpreendente, você não bebeu por causa da Helena não é? — Hernando questionou enquanto se encolhia um pouco para que uma criança não esbarrasse nele quando ela passou correndo.
— Mais por que eu queria aproveitá-la e não por causa do histórico. — Mia respondeu de forma automática e sorriu assim que viu o aniversariante pulando na cama elástica de forma extremamente enérgica.
— O que merd* vocês dois tem na cabeça? — a voz exasperada da mulher puxou de uma vez a atenção de Mia. A mulher de cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo era um pouco mais baixa que Mia e um pouco mais gorda, tinha um semblante indignado no rosto que em muito se assemelhava ao de Amélia.
— É realmente maravilhoso ver você também, Lizzie. — Mia abriu os braços enquanto sorria de forma larga ao rever a prima, sabia do que ela falava é claro.
— Vocês acham que eu tenho tempo para cuidar de dois coelhos? — ela questionou, por mais irritada que tivesse não negou o abraço da prima, era extremamente carinhosa.
— Os dois vão ficar na gaiola só hoje, eu mesmo projetei um bom cercado e uma casa pra eles aqui no quintal e amanhã nosso pessoal vai vir aqui instalar, é tudo por nossa conta é claro, é extremamente fácil de limpar e mal vai te dar trabalho. — Hernando se adiantou em explicar todos os detalhes do presente que dera junto com Mia já que sabia desde o começo que ela ficaria brava.
— Oh, meu Deus, vocês pensaram em tudo! — Lizzie falou enquanto se afastava de Mia e já ia andando até Hernando com os braços abertos até abraça-lo pela cintura. — Eu adorei o presente, o George chorou quando viu e não queria soltá-los de jeito nenhum, gostou mais dos coelhos do que da festa. — a morena falava enquanto mantinha-se agarrada em Hernando.
Mia riu enquanto voltava a se aproximar da prima e a abraçava por trás, consequentemente também abraçando Hernando, sabia como ela era sentimental e gostava daquilo.
— Você continua tão bipolar, Lizzie. — Mia falou enquanto a apertava.
— Eu sei... Você está tão cheiroso, Nando. Estou exausta, essa festa consumiu minha vida, sinto falta do hospital, não aguento mais meus filhos. — ela falava contra o peito do arquiteto enquanto fazia questão de apertá-lo um pouco mais.
— Alguém aqui está precisando de uns bons drinks. — Hernando falou enquanto apertava as duas mulheres naquele abraço triplo, os três ignorando até os olhares que recebiam ao redor. Lizzie e Mia cresceram juntas, então apesar de atualmente mal se verem por conta das respectivas vidas e trabalhos, elas eram extremamente unidas.
— Oh! — a mulher pareceu recordar-se de algo ao erguer a cabeça do peito de Hernando e um sorriso surgiu em seus lábios, iluminando repentinamente toda a expressão triste que tinha no rosto ao sair do abraço para se virar para Mia. — Eu contratei alguns pintores para fazerem rostos de animais nas crianças! — ela falou animada. — Mas eles furaram comigo. — ela parecia animada demais falando isso. — Há minutos atrás eu estava chorando enquanto me culpava por ser uma péssima mãe que não sabe dar nem uma festa descente até que sua incrível mãe disse que conhecia alguém que poderia ajudar nisso.
Mia abriu a boca um pouco surpresa e ergueu o olhar para encarar Hernando como se estivesse pressentindo o que estava por vir, sentiu até mesmo uma formigação no estômago que a ansiedade lhe causou.
— Como ass...
Lizzie não deixou que ela falasse, logo continuou:
— Ela já está vindo! Como assim você não me disse que estava namorando uma mulher famosa?!!?
— O que???? — Mia questionou de forma incrédula e sentiu até mesmo o coração acelerar enquanto encarava a prima e em seguida encarava Hernando que tinha a mesma expressão, apesar de estar claro que ele queria rir. — A Helena está vindo pra cá?
— Sim! Vera ligou pra ela pedindo ajuda e ela aceitou de imediato...
— E depois ela fez questão de contar tudo. — Mia falou em um tom extremamente debochado que fez o sorriso de Lizzie morrer de forma imediata, a prima olhou para Hernando, que apenas acenava com a cabeça como se estivesse falando um “pois é”. Voltou a olhar para Mia e acabou fazendo a mesma expressão que Hernando.
— Então não era pra todo mundo saber...
Mia não falou, mas arqueou as sobrancelhas de forma exagerada e impaciente que deixava muito clara a sua resposta.
— E apesar da Mia não ter feito nenhuma questão de negar... Elas não namoram. — Hernando alfinetou em tom baixinho como se estivesse falando somente para Lizzie, mas sem fazer questão nenhuma de esconder isso de Mia. — Sua mãe realmente não entende de prazo pós sex* depois que se sai da casa de quem você acabou de trans*r.
Lizzia abriu a boca em um O quase perfeito enquanto sua expressão toda acompanhava a sua reação aquelas palavras de Hernando, ela olhou do homem para a prima que tinha uma expressão nada contente no rosto enquanto encarava o amigo. Como se silenciosamente perguntasse “É sério, Hernando?”, e ela realmente nem precisou falar nada para Hernando responder:
— O que foi? Todo mundo já tá sabendo da Helena, adianta mais esconder alguma coisa? — ele questionou em certo tom debochado.
Mia não respondeu nada, apenas deu meia volta e saiu andando, a expressão séria no rosto deixava claro o quão incomodada havia ficado com a situação, às vezes realmente odiava o quão intrometida sua mãe conseguia ser e havia ficado verdadeiramente chateada por tudo ter sido daquela forma, assim foi atrás da mãe e facilmente a encontrou sentada em uma poltrona rodeada das irmãs e outros parentes em uma conversa frenética sobre a vida de alguém. A Palermo mais velha segurava no colo um bebê de oito meses que se ocupava em morder seu chocalho, o filho mais novo de Lizzie.
— Boa tarde, família. — Mia saudou assim que se aproximou, um sorriso surgindo em seus lábios assim que toda a atenção foi voltada para ela.
— Amélia! — alguns falaram em uníssono e algumas tias levantaram para abraçar a Palermo mais nova.
— Como você está linda. — uma das mulheres falou enquanto apertava a jovem em um abraço. — Estamos todos ansiosos para conhecer a sua namorada, faz tanto tempo que você não namora...
— Me lembro até hoje do alvoroço que foi quando a Vera apareceu com aquela namorada em casa. — outra falou enquanto erguia seu cigarro, na outra mão uma taça com Martini, era sempre assim.
— Ela não é minha namorada. — a morena se defendeu em um tom mais duro, os olhos completamente fixos em sua mãe.
— Uh... — a tia que antes abraçava Mia se afastou, como quem sabe que era perigoso estar próximo. — Alguém aqui falou algo que não devia. — referia-se a Vera.
— Mas eu não disse que era! Eles deduziram isso...
— Na minha época não existia nada disso, isso é... — um homem já de idade se aproximava com um cachorro quente na mão, porém, mal começara a falar e imediatamente todas as mulheres em volta de Mia, em uníssono, o pararam:
— Pelo amor de Deus, Justin! Enfie este cachorro quente na boca antes que fale mais merd*! — em especial a voz de uma das mulheres se sobressaiu, sendo ela ex esposa do homem e mãe de Lizzie. — Me sinto cada vez mais ofendida de ter casado com você a cada vez que abre a boca.
— Você não reclamava quando eu...
E mais uma vez uma enxurrada de reclamações das mulheres o impediram de continuar a sua fala, isso fez o homem erguer as mãos como estivesse se rendendo enquanto dava meia volta, arrependido de ter se aproximado para se enturmar na conversa.
Mia sentiu-se extremamente protegida depois daquela cena, apesar de toda a chateação de ter sido arrancada do “armário” por sua mãe para toda a família de uma vez por todas.
— Tantos anos e ele não muda nada. Por que mesmo você casou com ele, Brenda? — uma das irmãs questionou, ao total, eram cinco irmãs incluindo Vera.
— Ele era um verdadeiro galã há anos atrás se não se lembra. — Brenda recordou-se enquanto levantava da cadeira onde estava sentada e estendia os braços na direção de Mia, um sorriso carinhoso estampado nos lábios. — Ah, minha querida... — falou enquanto se aproximava de sobrinha e a puxava para um abraço apertado. — Sendo sua namorada ou não, ficaremos felizes de conhecê-la, ainda mais por que ela se disponibilizou a ajudar sem pensar duas vezes numa festa de quem ela nem conhece, só por causa disso ela já faz parte da família.
— A Lizzie estava fazendo um escândalo de tanto que chorava quando os pintores que ela contratou disseram que houve um imprevisto e não viriam, ela já tinha comprado todas as tintas e pinceis que eles pediram. — uma das tias foi falando, Mia ainda estava presa no abraço de Breda, a mulher, mãe de Lizzie, era tão carinhosa quanto à filha e por isso vivia distribuindo abraços, Amélia particularmente amava. — Então a Vera falou que conhecia alguém que podia ajudar.
— Ela falou que esse alguém tinha grandes chances de entrar para a família. — alguém citou e Mia arqueou uma sobrancelha enquanto erguia o olhar para encarar a mãe novamente como se estivesse a acusando de algo.
— Imediatamente pensamos no Fred, todas temos esperança de que ele arrume alguém melhor do que aquela vagabunda. — Brenda falou com certo desdém estampado tanto no tom de voz quanto em sua expressão.
— E obviamente a Mamma corrigiu tal pensamento. — Mia completou enquanto arqueava uma sobrancelha.
— Você iria gostar que todos tratassem a Helena como a pretendente do Frederick? — Vera alfinetou enquanto ajeitava o pequeno em seu colo e logo voltava a abraça-lo.
Mia fez questão de desvencilhar-se do abraço da Tia para poder se expressar muito bem no que ia dizer.
— Eu conheço cada uma de vocês bem o suficiente para saber que vocês vão tratar ela como da família já e passarão o dia soltando indiretas sobre isso. — apontou para cada uma das mulheres. — Eu tenho certeza que irão até mesmo convidar ela para vários outros aniversários e tudo o mais apenas por causa desse detalhe. Se vocês constrangerem ela de alguma forma, eu vou parar de fazer móveis de graça para vocês! — rosnou as últimas palavras e algumas das tias tiveram uma reação exagerada a isso ao levarem a mão ao coração de forma dramática. — E você, Mamma! Você conhece uma infinidade de pintores, amadores e profissionais, mas fez questão de chamar a Helena apenas por que não para de jogar ela pra cima de mim. — acusou a mãe enquanto apontava para ela.
— Vera! — Brenda reclamou enquanto levava a mão ao peito de forma teatral.
— Você está jogando uma mulher qualquer pra cima da sua filha dessa forma? — outra tia falou em tom acusatório. — Que espécie de mãe você é?
Então tudo saiu do controle com acusações umas contra as outras sobre como criavam seus filhos, era sempre assim, de repente estavam se amando e do nada começavam a brigar por qualquer motivo até que de repente estavam mais uma vez se amando. Isso fez Mia rolar os olhos antes de dar meia volta, ficaria louca se continuasse no meio daquela bagunça, precisava dar um bom abraço em George e ignorar sua família por algum tempo, sempre se incomodou com o fato de suas tias serem extremamente intrometidas.
— Viram isso? — a briga findou-se de forma repentina assim que Mia foi embora, todas as cinco irmãs olharam em direção a morena se afastando, a briga havia cessado com a mesma velocidade que havia começado.
— Ela está apaixonada não está? — Brenda questionou enquanto olhava para a sobrinha.
— Eu não vejo ela assim á anos. — Vera falou enquanto encarava a filha já longe e agora entretida em conversar de forma extremamente animada com o pequeno George. — E ela tem o mesmo bom gosto que a mãe, vocês vão ver.
— Dói dizer, mas você está certa. Você se casou com um galã italiano. — uma das mulheres de cabelos dourados ergueu a taça de Martini como se estivesse brindando a isso, era Olga, a única das irmãs que nunca havia se casado. — Só deus sabe o quanto desejei um irmão solteiro daquele homem, ou uma irmã, nunca tive meu momento lésbica nessa vida, seria a hora?
— Com certeza, a quantidade de Martini e de cigarros que você consome eu não duvido que você morra de câncer na semana que vem. — Brenda alfinetou enquanto voltava a sentar-se de forma confortável ao lado das irmãs.
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Sentia o coração batendo um pouco mais rápido do que o normal enquanto olhava para a fachada da casa a qual achara particularmente linda. Era enorme. Forçava-se a ocupar a mente com os detalhes da casa, mas no fundo sentia que estava fazendo a sí mesma de trouxa já que não conseguia desviar de sua mente o temor que sentia de entrar naquele lugar, forçar-se a pensar em outra coisa era verdadeiramente impossível. Respirou realmente fundo enquanto fechava os olhos por alguns segundos e automaticamente a imagem de Mia veio em sua mente, houve um momento de tranquilidade ao pensar na Designer
— Ok. — falou baixo como se estivesse se preparando. — A Amélia está aí. — essas palavras pareciam à solução para seu medo e em partes, realmente eram. Pensar que Mia estava ali e com certeza a ajudaria com qualquer problema que tivesse, era um verdadeiro ponto de apoio ao qual Helena poderia se segurar sem nem pensar duas vezes.
Apertou a alça da bolsa pendurada em seu ombro e deu uma última respirada funda antes de sair andando a passadas um pouco largas em direção a porta baixa de madeira bem ao lado da casa e era onde algumas pessoas estavam, algumas com seus filhos e outras apenas conversando. Naturalmente Helena não conhecia ninguém, mas isso realmente não era algo que a incomodava, tinha muito mais coisas a se pensar naquele momento. Assim que adentrou o quintal e pode ver toda a decoração, uma sobrancelha arqueou-se de imediato, mas um sorriso pequeno no canto dos lábios também se formou, uma certa ansiedade na boca do estômago ao ver aquela quantidade de crianças se divertindo com uma felicidade tão grande. Era incrível.
— Helena! — ouviu a voz masculina, sequer havia notado que havia parado de andar. Mas estava parada no meio do caminho olhando tudo ao redor, mas seguiu a voz conhecida e encarou um Hernando sorridente acompanhado de uma mulher que parecia muito com Mia.
— Nando. — a voz soou carinhosa, estava feliz por vê-lo mais uma vez, tanto que sorriu de forma larga enquanto caminhava em direção ao rapaz. — Cabras? — apontou para o cercado de animais enquanto franzia o cenho.
— A dona da festa é extravagante. — Hernando falou enquanto recebia Helena com um abraço breve o qual fora muito bem recebido pela mexicana.
Hernando olhou para a mulher ao seu lado, ela tinha um olhar surpreso. Helena encarou a mulher, primeiro não entendeu o motivo de ela estar com aquela expressão, entendeu menos ainda quando a expressão dela mudou e parecia que ela iria chorar a qualquer momento. Porém, mais surpresa ficou quando a mulher repentinamente praticamente se jogou em seus braços em um abraço verdadeiramente apertado. Helena olhou para Hernando com as sobrancelhas arqueadas enquanto ele apenas concordava com um aceno de cabeça e com uma expressão que parecia dizer: Eu sinto muito por isso.
— Meu Deus, eu realmente nem sei como agradecer a você por você ter aceitado do nada a salvar essa festa. — Lizzie falou enquanto apertava Helena ainda mais naquele abraço e imediatamente a mexicana entendeu enquanto retribuía o abraço e uma risada breve escapava de sua boca. — Você é tão linda... — se afastou para encarar Helena e ergueu as mãos para tocar o rosto da Artista como se já a conhecesse a muitos anos. — Uau. — ela falou, um sorriso largo se formando em seus lábios.
Helena corou, fora completamente inevitável.
— É... Acho que todo mundo vai fazer isso com você hoje. A mamma falou pra todo mundo sobre você e Mia. — Hernando explicou enquanto cruzava os braços, ele riu com a situação e principalmente ao lembrar da reação da amiga
— Eu não vim por causa da Amélia. — mentira, ela tinha vindo sim por causa dela. — Eu não iria deixar uma criança ficar chateada por causa da irresponsabilidade de terceiros. — Em partes, isso não era mentira, realmente não gostara de saber o que havia acontecido, mas o que lhe dera mesmo forças para vir... Fora Mia. Mas não iria falar isso. Ergueu as mãos logo em seguida e tocou as mãos de Lizzie com certo carinho fazendo-a baixa-las apenas para que Helena pudesse segura-las melhor. — Eu posso não ter quase nenhum costume de pintar rostos, mas prometo que vou me esforçar. — garantiu a mulher e sorriu para ela. — Eu não te conheço, mas só de ver a sua reação e o seu esforço, já é obvio que você é uma mãe maravilhosa... — deu uma brecha para que Lizzie se apresentasse.
— Lizzie. — apresentou-se ao completar a fala de Helena e em seguida olhou para Hernando, como se silenciosamente falasse para ele que Helena era incrível. — Você é muito bem vinda aqui, Helena, será tratada como da família, quero que fique no fim da festa para se divertir com a gente e também para tratarmos de valores.
— Ficar no fim da festa será um prazer, Lizzie, já tratar de valores... — a morena fez uma expressão um pouco descontente como se não tivesse gostado da ideia. — Considere esse o meu presente para o aniversariante, apesar de eu sequer conhecer ele.
— Jesus cristo... — Lizzie falou e levou a mão ao rosto de forma quase teatral.
— Todos tem essa reação. — Hernando falou e riu por breves segundos antes de ir se afastando. — Eu vou falar com aquelas moças maravilhosas ali, qualquer coisa me chamem. — Hernando falou ao apontar para a área onde Vera estava com suas irmãs, todas entretidas em uma conversa para perceberem a chegada de Helena.
— Vai todo mundo ficar apaixonado por você. — Lizzie garantiu assim que voltou a encarar Helena com um sorriso largo e se afastou um pouco da mulher e puxá-la pela mão. — Vamos, vou te mostrar toda a área e o lugar onde você irá ficar, no caminho vou te apresentando a todo mundo... A Amélia está com o George ali... — Lizzie apontou para a Designer que estava de joelhos na grama no meio de uma conversa com um pequeno garoto ofegante.
Helena se distraiu por um momento enquanto encarava aquele sorriso largo e bobo nos lábios de Mia, um sorriso que deixava claro o quanto ela gostava daquela criança e parecia fascinada em ouvir a história que ele estava contanto de forma tão animada, já que até ofegante ele estava. Porém, por mais entretida que estivesse na conversa com o pequeno, Mia sentiu que estava sendo observada e quando virou o rosto para procurar quem a encarava, seu estômago se alvoroçou ao encarar os olhos de Helena, um sorriso se formou em seus lábios e iria se erguer para falar com ela, mas foi puxada pela mão pelo pequeno George, o encarou sem entender, ele queria mostrar-lhe algo, significava que ela não tinha saída. Voltou a encarar Helena enquanto era praticamente arrastada pelo pequeno.
— Sinto muito. — falou, não alto, mas de forma que Helena conseguisse ler seus lábios e entendesse o que ela queria dizer.
Mas tudo o que Helena fizera fora piscar para a morena como se disse que estava tudo bem, um sorriso e um sorriso daqueles que faria Mia derreter-se em qualquer momento.
Quando Helena desviou a atenção já fora dando de cara com diversos pares de olhos fixos em sí como se estivessem avaliando até a sua calma, no meio de todos conheceu apenas um: Os olhos de Vera. Encarou a Palermo mais velha como se estivesse pedindo socorro.
— Helena, minha querida! — Vera ergueu-se de onde estava sentada com certo cuidado e entregou a uma de suas irmãs, a criança que, desde que chegara, estava mimando. — Que bom ver você novamente. — Vera falou de forma calorosa enquanto se aproximava da Artista plástica e dava um abraço caloroso nela. — Você está contribuindo com a alegria de um jovenzinho.
— É um prazer, Vera, eu jamais negaria algo desse tipo. — Helena falou enquanto se afastava um pouco com um sorriso largo nos lábios para encarar a mulher mais velha, mas mal teve tempo de falar outra coisa e uma nova mulher já estava aparecendo em seu campo de visão.
— Olha só isso... — ela falou de forma que parecia fascinada e mais uma vez lá estava Helena ficando envergonhada diante toda aquela atenção que estava recebendo.
— Aproveitem que a Mia não está aqui. — Vera se afastou um pouco e Helena a encarou brevemente como se perguntasse o motivo daquilo.
— Não se acanhe, querida. — Brenda falou e deu um sorriso extremamente terno que trouxe rapidamente, conforto para Helena. — Eu posso abraça-la? — ela abriu os braços ao fazer a pergunta.
— É claro que pode. — a mexicana respondeu enquanto já envolvia a mulher com seus braços e em seguida sentiu seu corpo sendo envolvido em um abraço verdadeiramente forte que em muito se assemelhava ao de Lizzie.
— Seja muito bem vinda, é um enorme prazer conhecer você. — Brenda falou em um tom extremamente carinhoso. E mais uma vez Helena sentiu aquele calor em seu coração, um calor que a fazia sentir-se extremamente bem acolhida. — Eu sou a Brenda, mãe da Lizzie e irmã da Vera. — se afastou um pouco da mexicana para que ela visse as outras mulheres sentadas. — Vou me adiantando em apresentar todas... São todas irmãs... Olga. — acenou com a cabeça para a mulher com a taça de Martini, em resposta Olga apenas ergueu sua bebida como se estivesse propondo um brinde. — Penny. — acenou para a única mulher de cabelos pretos e Helena sorriu para ela. — E Lisa. — a loira deu um sorrisinho mais contido, claramente parecia ser uma mulher muito mais quieta que suas outras irmãs.
— É um grande prazer conhecer vocês. — Helena fez uma pequena reverência para as mulheres enquanto tinha um sorriso largo nos lábios, apesar de estar sentindo que estava sendo verdadeiramente analisada naquele momento.
— Você não é daqui, é? — Olga questionou em tom inquisitivo enquanto balançava sua taça de Martini, fazendo a bebida dançar dentro dela.
Helena negou com um aceno leve de cabeça.
— Sou Mexicana. — respondeu de forma direta, mas já ia abrindo a boca para falar mais repentinamente foi interrompida.
— Estou enciumado, essa atenção toda deveria estar em mim... — Hernando apareceu, tendo consigo dois cachorros quentes na mão, havia parado no caminho para pegá-los, estava com fome. Ele olhou para Helena brevemente e piscou para ela, como se tivesse feito aquilo apenas para tirar a atenção de Helena, ele sabia que Mia com certeza o agradeceria mais tarde.
— Vou te salvar dessa. — Lizzie apareceu repentinamente atrás de Helena e segurou sua mão e já foi a puxando.
— Eu agradeceria muito. — teve chance ainda de falar enquanto era puxada, ainda ouviu algumas reclamações por parte das mulheres que acabara de conhecer, mas não se importou muito, apenas seguiu Lizzie até uma tenda onde Helena logo entendeu que era ali que ficaria.
— Eu reservei esse lugar por achar que seria mais cômodo para os pintores... — Lizzie falou enquanto soltava a mão de Helena e virava-se de frente para ela para então colocar as mãos na cintura. — Está tudo aqui, tintas, pinceis, revistas com os modelos de pintura, eu não exijo que você faça nada perfeito, eu só...
— Fique tranquila, Lizzie. — Helena a acalmou e deu uma pequena risada enquanto segurava uma mesinha infantil e a afastava um pouco para deixar o lugar mais livre, estava verdadeiramente aliviada por Lizzie a ter levado logo para ali.
— Eu juro que queria que você conversasse com todos, mas é que...
— Mas eu vim aqui para fazer outra coisa. — Helena concluiu e riu novamente com toda a preocupação da matriarca da casa. — Fique tranquila, por favor, ok? — a mexicana parou em frente à mulher e respirou fundo de forma teatral como se quisesse que Lizzie fizesse o mesmo. — Eu vou conversar depois com todos que quiserem conversar comigo, responderei todas as perguntas, mas eu realmente vim aqui primeiro para pintar, então tudo bem. Podemos começar? — Helena questionou enquanto arqueava as sobrancelhas e Lizzie respondeu com um aceno rápido de cabeça.
— Você precisa de alguma coisa? Está faltando algo? — a mulher questionou.
Helena não respondeu de imediato, apenas se abaixou ao lado da mesinha onde tinha as caixas de tinta e foi tirando-as de dentro da caixa, verificando uma por uma, fez o mesmo com os pincéis para logo em seguida confortavelmente sentar-se no chão, em cima da grama e cruzou as pernas ficando em uma posição de meditação.
— As cadeiras não são mais confortáveis? Posso pegar travesseiros...
— Não... Não se preocupe com isso. Eu adoro sentar na grama, esse lugar é perfeito, as crianças vão gostar de compartilhar a grama comigo. Ao menos eu espero... — respirou um pouco fundo enquanto deixava sua bolsa de lado. A mexicana naquele dia vestia uma saia longa e florida, com uma fenda grande na coxa direita que deixava-a com uma boa liberdade para fazer o que bem quisesse. Em conjunto usava um cropped preto que ia até acima de seu umbigo o qual estava coberto pela saia. — Você vai ser a primeira. — apontou para o espaço em sua frente e encarou Lizzie em seguida.
— O que?
— As crianças vão ver seu rosto pintado e vão ficar loucas pra fazer o mesmo... Vamos, sente. — Helena não deu alternativas a Lizzie. A anfitriã apenas riu enquanto se ajeitava e ia sentando calmamente bem de frente para Helena, ajeitou-se até ficar na mesma posição que a artista.
— O que uma mãe não faz por seus filhos... — ela falou em tom baixo enquanto pegava uma das revistas de desenhos.
— Acho isso verdadeiramente lindo. — Helena falou em tom baixo e sorriu fraco, sentiu aquela conhecida dorzinha em seu coração, mas ignorou enquanto ia abrindo as tintas e separando os pinceis lado a lado. Havia duas toalhas, uma delas a mexicana forrou sobre suas coxas, cobrindo parte do vestido. — Quantos filhos você tem?
— Ok... Eu serei a mamãe urso. — Lizzie falou de forma rendida e entregou a revista a Helena que limitou-se apenas a sorrir de forma larga. Ela olhou para o desenho por alguns segundos e deixou a revista em cima da mesinha com o desenho a vista.
— Feche os olhos e fique parada, ok? A tinta sai facilmente com água e sabão depois e não faz mal a pele, pode ficar tranquila. — explicou enquanto segurava um do potes de tinta e pacientemente começou o seu trabalho.
— Eu tenho dois filhos. O George, o aniversariante, com 6 anos e o pequeno Steve, com apenas 8 meses. Dão tanto trabalho... Mas são os amores da minha vida. — Lizzie falava baixo, com medo de mover demais a boca e acabar atrapalhando o trabalho de Helena.
— Me fale um pouco sobre o George, ele gosta de animais? É por isso que tem cabras aqui? — Helena sorriu fraco ao falar sobre as cabras, achara algo inusitado.
— Ele ama animais, desde pequeno é louco por eles. Nós temos cartão fidelidade do zoológico por que vamos lá no mínimo três vezes ao mês, no começo tivemos que ir todo fim de semana. O sonho dele é ser um domador de leões.
— Oh... Eu estava esperando por um Veterinário.
As duas mulheres riram juntas por alguns segundo.
— É, creio que ele vai chegar nessa profissão quando começar a ser mais realista... E a ideia era fazer uma mini fazenda com vários animais... Mas só conseguimos cabras. — mais uma série de risadas.
Helena tinha um sorriso leve nos lábios, olhou além de Lizzie e viu que algumas crianças já pareciam curiosas com o que estava acontecendo ali, isso a fez sorrir um pouco mais.
— Você fica apenas cuidando deles? — questionou.
— Não... Eu sou enfermeira. Estou de licença, volto em 1 mês, consegui misturar licença e férias pra passar mais tempo com o pequeno. — explicou e abriu os olhos brevemente por instinto.
— Olhos fechados. — Helena bronqueou, mas sorriu com a urgência da mulher em lhe obedecer. — Você sempre teve vontade de ser mãe?
— Desde jovem, como você teve um pequeno vislumbre... Minha família é enorme e eu sempre gostei disso. Então eu queria formar uma família grande assim, pretendo ter mais. — respondeu com simplicidade. — E você, tem vontade de ser mãe? — a mexicana parou o pincel a poucos centímetros do rosto de Lizzie e umedeceu os lábios, sentiu-se nervosa de repente, mas respirou um pouco fundo, afastou o pincel com medo errar aquela pincelada e limitou-se a tocar o queixo de Lizzie e erguê-lo um pouco para que pudesse ver melhor o próprio trabalho.
— Na verdade sim... Muita. — sussurrou com sinceridade e sentiu um salto em seu peito, sorriu sem muito ânimo. — Mas a ideia não era muito bem vinda para o meu ex-marido. Então... Eu não tive essa sorte. — explicou no mesmo tom de voz e deu uma nova respirada funda, mas quando ia novamente voltar a pintar, os olhos de Lizzie se abriram e Helena a encarou em silêncio, foi uma troca de olhares intensa e Helena sentiu seu interior se alvoroçar como se estivesse sendo lida da cabeça aos pés, sentiu-se levemente enjoada, era um olhar de mãe, um olhar de uma mulher que entendia.
— Eu sinto muito por isso. — Lizzie falou e deu um sorriso pequeno, reconfortante para Helena e a mexicana sentiu que Lizzie pareceu entender o que havia acontecido, seria por que ela era mãe? Ou seria por que Helena havia vacilado? De qualquer forma, ela não soube o que responder as palavras da mulher a sua frente, sentiu vontade de chorar, por isso baixou os olhos e sorriu.
— Os olhos, Lizzie. — brigou novamente, apenas por que não queria ela a encarando daquela forma e se sentiu, de certa forma, aliviada quando ela os fechou.
— Você e a Mia... Como aconteceu? — a enfermeira mudou de assunto, notara que Helena havia ficado desconfortável.
— Acho que todos querem saber essa resposta não é? — Helena questionou e sorriu, se sentiu bem aliviada com aquela mudança de assunto, ainda mais por que se tratava de Mia.
— Claramente, foi uma surpresa pra todo mundo. Mas não ruim.
— Isso explica o jeito como suas tias estavam me olhando. — riu e voltou a erguer o rosto de Lizzie para terminar de fazer o contorno do rosto de um urso. — Apenas aconteceu. Eu meio que roubei um beijo dela na primeira oportunidade que eu tive e isso foi o ponta pé inicial, então, estamos apenas nos curtindo desde então. A Mia é incrível, faz bem a qualquer pessoa, eu gosto muito da companhia dela. — falou baixo por estar concentrada, mas em seguida se afastou e sorriu com o resultado. — Pronto.
— Estavam te olhando daquele jeito por que faz anos que a Mia não aparece com ninguém aqui. — Lizzie falou enquanto voltava a abrir os olhos e arqueou uma sobrancelha.
— Tecnicamente não foi a Mia que me trouxe. E vocês não conheceram o Charlie? — questionou, só então se deu conta de que não havia necessariamente um motivo de ter questionado aquilo, não sabia por que o fez.
— Conhecemos é claro, foi uma reação parecida de todos, mas rapidinho baixou a poeira, foi fácil perceber que os dois nunca dariam em algo concreto. — Lizzie se esticou um pouco para pegar um espelho quadrado em cima da mesinha e olhou com calma a pintura em seu rosto. — Meu Deus... Eu não imaginava tudo isso.
— Ficou bom? Eu não sou acostumada a pintar pessoas assim. — ignorou a primeira resposta de Lizzie, por que de fato não sabia o que responder aquilo.
— Ficou incrível! O Georgie vai ficar louco quando ver isso, ele adora ursos. — a mulher sorriu de forma larga e então voltou a encarar Helena. — Posso ir?
— É claro, dê alguns minutos para a tintar secar, então nada de passar a mão no rosto ou deixar tocarem. E eu preciso de uma tigela com água para limpar os pinceis.
— Sim senhora, providenciarei isso. — piscou para a mexicana enquanto erguia-se do chão e logo estava se afastando.
Quando Helena se viu sozinha novamente, ela respirou um pouco fundo, ainda um tanto nervosa depois daquela conversa com Lizzie, não esperava que iria acontecer aquilo, não esperava por aquela pergunta, mais uma respirada funda, precisava manter o foco, precisava se ocupar com outras coisas e...
— Oi. — a voz infantil tirou Helena da própria realidade e a mexicana encarou um tanto alarmada a pequena menina que parecia tímida por ter se aproximado.
— Oi, pequena. — respondeu de forma carinhosa e sorriu para a menina negra, seu sorriso foi retribuído.
— Você é pintora? — ela questionou e Helena concordou com um aceno de cabeça.
— Estou aqui para pintar rostos de animais em vocês, qual o animal que você mais gosta, hm? — questionou e arqueou as sobrancelhas.
— Borboletas!
— Oh! Borboletas! — exclamou de forma surpresa e em seguida pegou a revista onde Lizzie escolhera o desenho, passou as folhas rapidamente até achar o desenho de uma borboleta e o virou para a menina. — O que você acha de eu fazer em você?
A menina acenou várias vezes com a cabeça, o que levou Helena a rir, sentiu seu coração pular dentro do peito e seu corpo inteiro derreter por aquela cena, céus, como aquilo era lindo.
— Perfeito... Mas... Eu cobro pelo meu serviço, sabia? — questionou enquanto voltava a colocar a revista aberta em cima da mesinha.
— Mas eu não tenho dinheiro. — a menina se defendeu.
— Eu não cobro dinheiro, meu serviço é pago com beijos e com abraços, você que escolhe. — explicou, porém, mal teve a chance de falar outra coisa e teve a pequena envolvendo seu pescoço em um abraço bem desengonçado, o que arrancou uma gargalhada da Artista Plástica.
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— Por que estão todos olhando... — Mia ia se aproximando da área onde estavam suas tias, sua mãe, Hernando e Lizzie todos focados num mesmo local enquanto conversavam. Assim que seguiu o olhar dele, deu de cara com Helena recebendo uma série de beijos no rosto de um garotinho. — Oh...
— Sim, ela está cobrando pelos desenhos, o pagamento são abraços e beijos. — Lizzie falou em tom risonho, todos estavam observando Helena já faziam bons minutos e já perderam a conta de quantas crianças já saíram dali com seus rostos pintados, mas estavam absolutamente todos encantados com o jeito que Helena tinha com crianças. — Olha só o que ela fez comigo.
Mia olhou para a prima e sorriu de forma larga ao notar o desenho em seu rosto, riu por alguns segundos.
— O Georgie deve ter amado, não foi? — Mia tinha um sorriso bobo nos lábios, absolutamente encantada com tudo o que Helena estava fazendo ali e definitivamente não era só ela.
— Não tanto quanto estão amando a Helena. — Hernando estava enfiado no meio de duas das tias de Mia e estava sendo extremamente paparicado pelas mulheres como sempre era quando as encontrava.
— Você tem sorte, Mia, já é muito claro que ela é ótima com as mãos. — Olga falou enquanto se ajeitava na poltrona e cruzava as pernas de forma confortável, arqueou a sobrancelha para a sobrinha enquanto as risadas de suas irmãs ecoavam ao seu redor.
— Meu Deus, Tia Olga. — Mia reclamou enquanto tinha uma expressão de desdém no rosto.
— Venha cá, meu amor, a ignore. — Vera abriu os braços e Mia mais do que imediatamente acatou o pedido da mãe, sentou-se no colo da mais velha de forma confortável como uma criança que corre para o colo da mãe, foi abraçada pela cintura pela Palermo mais velha que apoiou o queixo no ombro da filha.
— Ela não parece ser velha e já foi casada. — Lizzie comentou.
— Ela casou muito nova. — Mia respondeu enquanto relaxava nos braços da mãe, tinha que admitir que era uma mimada, não conseguia ficar longe da Palermo.
— Pobre coitada, casar nova é um castigo, eu que o diga, quando me dei conta me livrei do entulho. — Brenda comentou e benzeu-se logo em seguida como se agradecesse a Deus por isso.
— A forma como você fala tão mal do papai é tão especial, mãe. — Lizzie falou de forma conformada, extremamente acostumada ao ver o pai ser chamado das piores coisas por sua mãe.
— Ela largou ele? O que houve, traição? — Brenda insistiu.
— É realmente necessário isso? — Mia questionou enquanto franzia o cenho, não queria falar sobre o passado de Helena, achava triste demais para ser comentado de forma tão simples como aquela, apesar de não ser um segredo.
— Óbvio que é, estamos todas querendo conhecer mais a Helena, ela é sua pretendente afinal. — Penny falou enquanto gesticulava com as mãos para demonstrar que suas palavras eram óbvias.
— A Helena teve a má sorte de casar com um homem violento, mas teve sorte de conseguir denunciá-lo antes de uma tragédia, apenas isso, senhoras. Está no passado. — Vera tomou a frente da resposta, era obvio que havia notado que a filha não queria conversar sobre aquilo. — Ela pinta sobre isso e os quadros dela são bem intensos.
— Isso é o mínimo que se pode falar sobre os quadros dela. — Hernando comentou e voltou a encarar Helena sentada na grama quase do outro lado do quintal, tão entretida em pintar o rosto das crianças que nem percebia que estava sendo o centro da atenção daquela conversa.
— Uma pena, a Helena parece ser uma pessoa incrível, não merecia passar por isso. — Lizzie comentou de forma mais séria desta vez enquanto encarava a Artista.
— Ela é. — Mia falou e sorriu sem mostrar os dentes. — Mas ela não se lamenta pelo que passou, como a Mamma disse, está no passado.
— Olha só, o Georgie está indo pra lá. — Olga comentou e acenou com a cabeça para onde Helena estava.
E a cena que se transcorreu a seguir fez o coração de Mia derreter-se completamente. De longe vira George envolver o pescoço de Helena num abraço, o garoto puxara a mãe nesse quesito, abraçava sempre apertado. De longe pode ver o sorriso de Helena ao retribuir o abraço que durou alguns segundos e teve vontade de sentar ao lado dela e ficar lá o resto do dia só para observar aquilo de pertinho.
— Então você é o aniversariante, hm? — Helena questionou enquanto o jovem sentava de frente para Helena.
— Sim, estou completando 6 anos. — contabilizou a idade mostrando seis de seus pequenos dedos. — E eu quero ser domador de leões.
— Uau, você tem jeito de que vai ser um domador de leões incrível, sabia? — Helena falou de forma animada, sempre com um sorriso largo no rosto para falar com as crianças.
— Você acha? A Tia Mia diz que eu seria o domador mais lindo de todos.
— Com certeza a Tia Mia está muito certa. — Helena riu por alguns segundos. — O que você vai querer ser hoje? Um leão?
— Por favor!
Helena riu novamente com o jeito educado do pequeno e separou as tintas que usaria.
— Você precisa fechar os olhos, ok? E manter a cabeça parada, eu prometo que vai ser bem rápido. — explicou e o pequeno rapaz apenas acenou a cabeça e já foi fechando os olhos e ficando quietinho assim como Helena havia pedido. — Muito bem... — falou baixo e já foi começando suas pinceladas.
— É frio... — o garoto reclamou.
— Está incomodando?
— Não senhora.
— Você gosta muito da sua Tia Mia? — questionou em tom baixinho já que estavam próximos.
— Sim! Amo a Tia Mia com todo o meu coração, ela sempre me da presentes, ela faz o bolo que eu gosto e me da beijos e ela me deu coelhos, então eu amo ela ainda mais depois de hoje, bom... O Hernando também, ele também me deu coelhos, mas não amo ele tanto quanto amo a Tia Mia. — o aniversariante falava de forma extremamente bem explicada e isso fazia Helena não conseguir parar de sorrir.
— Sua Tia Mia é realmente incrível... — comentou, mas riu por alguns segundos enquanto mergulhava o pincel na tinta laranja. — Você está gostando da sua festa?
— Muito! É a melhor festa que eu já tive, meu pai disse que fez ela só pra eu me divertir e minha mãe disse que é tudo pra mim, mas eu disse que é tudo pra mim e para os meus amigos.
— E você está certo... Afinal, está se divertindo com eles, não está?
— Muito. Eu queria que minha mãe tivesse trazido um leão, mas eu entendo que leões não dariam muito certo aqui. Mas eu gostei das cabras, elas são fofas e engraçadas.
Helena segurou o queixo do pequeno com sua mão livre, apenas por que ele estava se movendo enquanto falava, ela não podia exigi que uma criança ficasse completamente parada, não conseguiu tal feitio com nenhuma das que já pintou naquele dia e já havia perdido a conta de quantas havia sido.
— Você gosta mesmo de animais não é? — se afastou um pouco só para poder alcançar a tinta e voltou a pintar o rosto do aniversariante, completamente atenta aos detalhes, queria que ficasse perfeito. — Eu tenho um gato. Uma gatinha pra falar a verdade.
— Que demais... E como ela é? — o garoto pareceu animado ao saber disso, muito mais do que antes.
— Oh... Ela é toda preta e pequenina... E bem gordinha, ela ama comer, dorme comigo sempre e me acorda todos os dias de manhãzinha pra dar comida a ela.
O garoto riu por alguns segundos.
— Ela parece comigo.
— Ah é? Você é gordinho e acorda sua mãe todos os dias pra te dar comida?
O garoto balançou a cabeça de forma exagerada para concordar com Helena. Ela afastou o pincel de repente e agradeceu mentalmente por ter sido rápida, deu uma pequena risada por isso.
— Eu sinto muita fome. — ele completou.
— É claro que sente, é normal, você parece brincar muito.
— Minha mamãe diz que é por que estou crescendo, comer me ajuda a crescer.
— Sua mamãe está certa. — Helena falou enquanto tocava o queixo do garoto e o fazia virar um pouquinho o rosto só para se certificar que estava tudo certo.
— Qual o nome dela? — ele questionou.
— De quem? — Helena perguntou enquanto deixava os pincéis de lado e pegava o espelho. — Abra os olhos.
— Da sua gatinha. — ele falou como se isso fosse obvio, mas no segundo seguinte já arregalava os olhos ao ver o próprio reflexo. — Eu sou um leão!
Helena riu em resposta a reação dele e riu ainda mais quando viu o pequeno tentar rugir ao tentar de fato imitar um leão. Manteve um sorriso largo nos lábios, mas desviou o olhar brevemente a procura de Mia, ela parecia entretida com uma conversa e sorriu ao vê-la sentada no colo da mãe, sorriu ainda mais quando Mia percebeu que estava sendo observada e devolveu o olhar. As duas não haviam se cumprimentado de fato desde que Helena havia chegado, no começo não tiveram a chance e depois Mia não queria atrapalhar Helena de alguma forma, por isso esperava o fluxo de crianças ficar menor para ir falar com Helena.
— A Tia Mia conhece a minha gatinha tão bem quanto eu... Que tal você ir lá perguntar a ela o nome? Ela vai adorar te responder.
O garoto deu um sorriso completamente iluminado assim que ouviu as palavras de Helena, ele claramente havia gostado e muito daquela ideia. E isso ficou ainda mais claro quando o garoto já foi erguendo-se do chão de forma apressada, o que arrancou risadas de Helena enquanto via o garoto sair correndo, quase saltitando em direção a Mia que franziu o cenho quando viu a animação do sobrinho correndo em sua direção. Ela olhou para Helena como se perguntasse o motivo daquilo, mas Helena apenas deu de ombros de forma fingida, mas não conseguia conter o sorriso.
— Tia Mia, Tia Mia!! — o garoto já chegara falando alto demais, chamando a atenção de todas as mulheres em volta de Mia.
— O que foi, meu amor? — ainda no colo da mãe, Mia não se moveu. — Você está tão lindo de leão, olha só... — falou para que as outras mulheres dessem atenção a isso e o que se seguiu fora o coro de mulheres se derretendo com o aniversariante.
— A moça da pintura... — o garoto parou e olhou para Helena com um semblante confuso, Mia entendeu o motivo.
— Helena, bebê, o nome dela é Helena. — tirou a dúvida clara do garoto e ele pareceu agradecer de forma silenciosa ao sorrir e acenar de forma positiva com a cabeça de forma exagerada.
— A Helena tem uma gata e ela me disse que você sabe o nome. — ele olhou para Helena novamente, mesmo que de longe, como se buscasse a aprovação dela, mas voltou logo a encarar Mia. — Você pode me dizer o nome dela? Você tem fotos dela? Ela é bonita?
A gargalhada de Hernando rompeu o silêncio que veio após as perguntas de Georgie, Mia travou com a boca entreaberta após aquelas perguntas e quando ergueu o olhar para encarar Helena viu o sorriso nos lábios da Mexicana, aquele sorriso arteiro que Mia já conhecia muito bem, viu ela rir de longe e pode até imaginar o som da risada dela, em seguida olhou para Hernando que ria da situação, ele entendia, entendia muito bem, afinal, lia na cara de Mia o quão, de certa forma, constrangida havia ficado. Como iria dizer para uma criança que o nome da gata era Vadia?
Suas tias olhavam a situação sem entender e questionavam a Hernando o motivo da risada e até mesmo qual era o nome da gata, Mia balançou a cabeça de forma negativa.
— Você não sabe? Mas ela disse que você iria adorar responder...
— O nome da gata é Mocinha. — respondeu de forma pausada para que o pequeno entendesse bem e então se ajeitou para puxar o celular do bolso frontal do shorts que usava, quando o tirou o destravou rapidamente, George já foi se aproximando e olhando o que Mia mexia, parecia saber que ela iria lhe mostrar a foto da gatinha. Mia entrou na conversa de Helena e foi até os arquivos recebidos até achar uma das fotos que Helena já havia lhe enviado dela com Vadia. — Aqui... Essa aqui é a Mocinha. — virou o celular para o aniversariante.
Ele demorou alguns segundos observando a foto, aquele olhar ansioso, ele mal conseguia ficar quieto e era nítido isso, mas, repentinamente ergueu o olhar diretamente para a sua mãe sentada em uma das poltronas a alguns metros.
— Nem pensar. — Lizzie pareceu ler os pensamentos do garoto quando ele a encarou. — Não podemos ter um gato, você já ganhou coelhos. Conversamos sobre isso depois, ok?
— Tudo bem, mamãe. — obediente, concordou com as palavras da mãe, ele sabia que realmente conversariam sobre depois, era acostumado com aquelas palavras e confiava plenamente que a mãe realmente iria puxar tal assunto futuramente quando eles estivessem sozinhos, normalmente sempre antes de dormir.
— Agora volte pra sua festa, meu amor, não deixe seus amiguinhos sozinhos. — Lizzie falou naquele tom amoroso e no segundo seguinte, o garoto já saia correndo e tentando rugir como um leão para seus amigos.
— O nome da gata é Vadia. — Mia falou um pouco alto, já que sabia muito bem que perguntariam sobre sua hesitação anterior.
— O que? — Brenda questionou de forma chocada.
— Isso foi impagável. — Hernando falou ainda com resquícios de uma risada.
— O nome da gata é Vadia? Vadia?? — Lizzie questionou como se quisesse confirmar que havia entendido certo.
Mia sentiu e ouviu a risada de sua mãe a olhou brevemente por cima do ombro, acabou também sorrindo.
— Vocês ouviram certo. É Vadia. Tem haver com o que ela passou no casamento e com as condições precárias a qual ela achou a gatinha na época, em frente a um bar de strippers e sendo pisoteada por bêbados. — deu de ombros enquanto relaxava um pouco mais e ia entrelaçando seus dedos aos dedos da mãe. — A minha reação foi igual quando eu soube. — riu ao recordar-se. — Hoje em dia eu acho engraçado.
— A Helena é diferente em tantos sentidos... — Vera falou com ar de riso e Mia riu junto com a mãe enquanto concordava
— Eu realmente estou morrendo de vontade de sentar com a Helena e tomar uma garrafa de vinho, ela deve ter histórias incríveis. — Olga falou enquanto acenava com a cabeça, claramente impressionada.
— Não da pra julgar o nome, sendo que ela salvou o animal. — Brenda comentou.
— Ela não gosta de beber, Tia, mas ela realmente tem histórias incríveis. — olhou para Helena novamente, a mexicana mais uma vez estava entretida em pintar o rosto de uma nova criança, sorriu de canto ao ver a alegria que Helena esbanjava ao fazer aquilo. Mas logo entrou na conversa com sua família sobre nomes de animais e ali ficou por um bom tempo conversando sobre os mais variados assuntos.
Algum bom tempo depois e quando percebeu que o trabalho de Helena já estava próximo ao fim, Mia se ocupou em preencher um prato com alguns lanches da festa e pegou um bom copo de suco, ela já havia comido algumas coisas, mas sabia que Helena não havia comido nada naquele dia a julgar pelo horário que acordaram e pelo tempo que Helena não teve depois que Mia saiu de casa. Quando se aproximou o suficiente, encostou-se numa das barras da tenda e ficou em silêncio só observando Helena terminar de pintar o rosto de uma criança.
— Não pode passar a mão no rosto agora, ta bom? Se não pode borrar tudo. Só depois de um tempinho. — sorriu para a menina enquanto deixava a tinta de lado.
— Não pode passar a mão no rosto. — ela repetiu as palavras de Helena e ergueu-se em seguida. — Obrigada, Tia Helena. — a jovem falou e logo em seguida deu meia volta e saiu saltitando.
Mia a seguiu com o olhar, ela havia escolhido a pintura de uma borboleta no rosto e saiu batendo os braços como se estivesse voando, isso fez Mia dar uma pequena risada, mas logo em seguida olhou para Helena.
— Oi. — Helena enfim a cumprimentou, um sorriso pequeno nos lábios.
— Você está linda. — Mia falou de forma repentina e deu um sorriso um pouco maior.
Helena riu e pendeu um pouco a cabeça para o lado.
— Não achei que te veria tão rápido. — brincou enquanto ainda sorria.
— Ah... — Mia soltou um suspiro cansado enquanto se aproximava de Helena. — De verdade, eu não sabia que isso aconteceria...
— Não se preocupe com isso, Amélia. Eu estou adorando. — Helena afirmou enquanto acompanhava a morena com o olhar. Mia calmamente sentou-se bem de frente para Helena e exatamente na mesma posição que ela, com todo cuidado já que estava com ambas as mãos ocupadas.
— Eu não vim antes por que não queria te atrapalhar. — ofereceu o suco a Helena. — Mas sei com certeza que você está com fome.
— Hmm, é verdade. — não mentiu ao pegar o copo de suco e já o levar a boca, deu um gole bem generoso antes de deixar o copo em cima da mesinha ao seu lado, perto das tintas.
— Temos hambúrguer assado na hora e cachorro quente também. — Mia colocou o prato logo em frente à Helena. — Alguns dos vários salgados que a Lizzie comprou e que são maravilhosos. O Arnold, apesar da aparência, é um churrasqueiro incrível, então esse hambúrguer ta maravilhoso. — arqueou ambas as sobrancelhas para a mexicana e então sorriu.
Helena deu uma pequena risada enquanto limpava as mãos com a toalha em seu colo, nunca conseguia ficar completamente limpa quando pintava.
— Você tem uma família realmente incrível, Mia, apesar de eu quase ter sido interrogada. — brincou enquanto com certo cuidado pegava o famoso hambúrguer. — Chega a ser engraçado a surpresa que todos demonstram por você estar saindo com uma mulher.
— É... A Mamma falou um pouco demais hoje. — se lamentou para Helena e franziu um pouco o cenho com as próprias palavras.
— Isso foi ruim? — questionou enquanto mastigava.
— Não, não foi. Minhas tias são incríveis e estão loucas por você, você tem esse pacote todo de charme que encanta todo mundo. — gesticulou com a mão apontando para todo o corpo de Helena. — Tia Olga quer beber com você para trocar todo tipo de histórias... Tia Brenda já deve estar planejando novas festas pra te chamar, a Mamma você já sabe, Lizzie já foi fisgada.
— Pelo jeito não são só os Palermos que não resistem ao meu charme. — Helena falou como se isso fosse completamente óbvio, mas isso arrancou uma risada de Mia.
— Idiota. — Mia falou ainda rindo, mas pegou um dos salgados e o levou a boca.
— Falando em Palermo, onde está o Fred?
— Trabalhando, o subchefe está doente há alguns dias, o Fred não pode sair do restaurante.
Assim que terminou o hambúrguer, limpou as mãos novamente e ergueu-as levando-as ao rosto de Mia e colocou os fios de cabelo para trás de ambas as orelhas.
— Sua vez, feche os olhos. — mandou e segurou o queixo de Mia, puxando seu rosto mais para perto.
— O que? — Mia afastou o rosto por instinto e olhou melhor para Helena. — Eu não vou pintar o rosto.
— É claro que você vai, eu não perderia essa chance. — falou enquanto já ia começando a organizar as tintas que iria usar como se Mia já tivesse concordado com aquilo.
Mia riu por alguns segundos, já tendo a certeza de que não iria escapar daquilo, mas de qualquer forma não era algo que lhe incomodaria, por isso mesmo se ajeitou um pouco e fechou os olhos, o prato apoiado em suas coxas, estava confortável o suficiente para ficar ali por um bom tempo. Quando sentiu o toque em seu queixo novamente, ela respirou um pouco fundo.
Helena sorriu um pouco enquanto encarava Mia mais de pertinho desta vez, mas balançou a cabeça de forma negativa com os próprios pensamentos e calmamente ergueu o pincel e com cuidado passou-o pela pele da Palermo, a outra mão ficou segurando o queixo com cuidado.
— O que irá pintar? — Mia questionou em tom baixinho, mal moveu a boca com medo de atrapalhar Helena.
— Uma gata. — Helena falou no mesmo tom de voz. — É o animal que mais combina com você.
— Por quê? — Mia sorriu.
— Fresca, manhosa...
Mia riu por alguns segundos e Helena acabou indo junto.
— Não acredito que você mandou o Georgie ir perguntar o nome da Vadia...
— Eu queria ver a sua cara. — Helena se justificou e encarou a boca de Mia por alguns segundos, sentiu uma imensa vontade de roubar-lhe um beijo, mas não sabia se podia o fazer em frente a toda a família dela e Helena sentia muito bem que estava sendo observada naquele momento, então, não queria abusar da sorte, ela sabia que aquele era um assunto que ainda deveria ser tratado com delicadeza para Mia e não se importava com isso, respeitava os sentimentos dela.
As duas ficaram em silêncio, um sorriso pequeno formado nos lábios de Mia e Helena completamente concentrada no que fazia.
— Você está bem, não está? — Mia questionou em tom baixinho, como se aquela pergunta fosse um segredo e Helena imediatamente entendeu sobre o que Mia estava se referindo. Sorriu de forma fraca com a preocupação dela e mais uma vez sentiu vontade de beija-la.
— Eu estou. — sussurrou de forma não muito verdadeira. — Fiquei com medo de entrar aqui, confesso, fiquei parada lá na frente alguns minutos criando coragem...
— Helena, eu juro que se eu tivesse chegado antes da Mamma te ligar, eu não teria... — Mia abriu os olhos para poder encarar Helena, a mexicana havia parado com as pinceladas a alguns segundos e por isso não se importou quando Mia se mexeu. Ela sorriu de forma carinhosa com a preocupação da Designer e balançou a cabeça de forma negativa antes de inclinar-se um pouco e roubar um selinho estalado da Palermo. Mia não se importou, a preocupação maior que qualquer outra coisa, mas de qualquer forma riu quando viu o sorriso de Helena, riu e baixou o olhar.
— Eu não podia viver sempre com medo de enfrentar isso, além do mais... Eu estou adorando, mesmo. — garantiu de forma mais firme para Mia e deu uma pequena risadinha enquanto voltava a aproximar o pincel da pele dela. — E acabamos de dar um showzinho para as suas tias. — falou baixinho e desviou o olhar brevemente de Mia para encarar o espaço onde as mulheres estavam, algumas ainda as olhavam. Isso a fez rir enquanto voltava sua atenção para a mulher a sua frente. — Desculpe, eu não resisti. — referiu-se ao beijo.
Mia por sua vez, deu uma pequena risada e deu de ombros.
— Não precisa se desculpar, Helena. O que mais eu tenho pra esconder? — questionou enquanto sorria.
Helena estava certa em vir para aquela festa com o intuito de ter Mia como base de apoio, ali, naquele pequeno momento que tiveram juntas, Mia conseguiu esvaziar qualquer preocupação que girava em torno de Helena. A mexicana realmente sentia-se segura ao lado dela e o sentimento era tão bom que a deixava extremamente confusa e ao mesmo tempo com vontade de mais, mas a fazia ter certeza que precisava sentar consigo mesma para entender melhor o que estava sentindo por aquela mulher sentada em sua frente.
Após aquele momento a festa seguiu com extrema tranquilidade, Helena encerrou seus trabalhos como pintora, mas não deixou de ajudar com o resto da festa ao lado de Helena. Fez questão de ajudar em tudo o que podia, serviu comida, brincou com as crianças, conversou com toda a família de Mia e sentiu-se completamente bem vinda, como se fizesse parte daquela família há muito tempo. O bolo só foi cortado horas depois em conjunto com todos da festa e apenas quando as crianças já não mais aguentavam brincar, após o bolo, veio a calmaria. Crianças comendo quietas e logo em seguida, já de noite, a despedida. Parentes com crianças pequenas foram embora logo, as crianças já exaustas e loucas por suas camas. Os amigos também fora, restando apenas alguns familiares. As equipes contratadas para cuidar de algumas partes da festa, como certos brinquedos e as cabras, apareceram para recolher suas coisas e tiveram a ajuda dos demais que sobraram na festa.
Hernando já havia ido embora há muito tempo e levou junto o lamento de várias mulheres que adoravam ficar agarradas ao homem. E quando a festa enfim chegou ao fim de fato e tudo já havia sido recolhido, já passava das 8 da noite e o que restava apenas eram mulheres cansadas conversando amenidades depois de arrumarem toda a bagunça da casa. Só havia ficado ainda Vera, Brenda e Olga, as demais haviam ido embora com seus netos, Brenda dormiria na casa da filha naquela noite e Olga pegaria uma carona com Vera para ir pra casa.
— Meu Deus, festas de criança são muito cansativas. — Lizzie falou enquanto aparecia na sala e ia massageando o pescoço com uma das mãos e ia caminhando até uma das poltronas.
— Mas são maravilhosas. — Olga apareceu com duas taças de Martini na mão, ninguém sabia quantas taças daquela ela havia tomado naquele dia, parou ao lado de Mia sentada no sofá, e lhe ofereceu uma delas. — Você sabe que é regra. — Olga alertou-lhe.
Mia riu, era algo que as duas tinham, sempre tinham que beber ao menos uma dose de algo juntas sempre que se encontravam.
— Jamais negaria, Titia. — Mia falou enquanto pegava a taça de Martini e já ia dando um bom gole na mesma, adorava as bebidas que a sua tia preparava e isso não era segredo nenhum, apesar da bebida preferida dela ser Martini, ela era ótima em preparar outros drinks e Mia sempre se aproveitava disso.
— Não abuse demais, Amélia... Você vai dirigir. — Vera freou a filha, mas Mia já estava concordando com um aceno de cabeça.
— Eu sei, Mamma, não precisa se preocupar. — respondeu enquanto se inclinava um pouco para deixar a taça sobre a mesinha de centro da sala. — Cadê a Helena? — questionou enquanto olhava para Lizzie.
Há algum tempo haviam se separado para ajudar nas tarefas que haviam ficado, enquanto Mia ficara ajudando sua mãe e sua tia Olga na limpeza da cozinha e da área, Helena havia subido com Brenda para cuidar de Georgie e do pequeno Steve, os dois estavam extremamente cansados, então era hora do banho.
— Ela estava cuidando do Steve, deve estar descendo logo. — Lizzie falou e ergueu a mamadeira para que Mia visse, como se dissesse que ela desceria por que era hora de Steve comer.
— Boa noite, Senhoras e Senhoritas. — Arnold entrou na sala e pacientemente foi tirando a jaqueta que usava e largando as chaves do carro em cima da mesinha. Havia saído para levar em casa a sua mãe e suas irmãs. — Essa festa foi incrível, vão falar dela por semanas. — ele falou enquanto se aproximava da poltrona em que Lizzie estava e se inclinava para dar alguns beijos no rosto da esposa.
— Como sempre, não é mesmo. — Mia questionou enquanto sorria. — São as melhores festas da família, isso não é discutível.
Arnold fez uma pequena reverência como se estivesse agradecendo a Mia por isso.
— Vou pegar algo para beber, querem alguma coisa? — olhou para as mulheres, Olga ergueu sua taça, Mia apontou para a sua, Vera negou com um aceno de cabeça.
— Ficarei com dor de cabeça se eu beber. — Lizzie se justificou e o marido apenas concordou com um aceno de cabeça antes de lhe dar um selinho e sair andando.
— Dar banho no Georgie foi uma missão praticamente impossível. — Brenda falou em tom completamente dramático enquanto descia as escadas. Mia virou-se para encarar a Tia e viu atrás dela Helena também descendo as escadas com o pequeno Steve com seu pijama de ursinhos bem aconchegado contra o colo da Mexicana.
— Tive que prometer que viria pintar o rosto dele mais uma vez. — Helena completou e deu uma pequena risada enquanto ia caminhando em direção a Lizzie. — Acho que ele está com fome. — avisou a mulher enquanto já se ajeitava para entregar-lhe a criança.
— Você me faria esse favor? — Lizzie questionou enquanto estendia a mamadeira para Helena. Fez uma expressão pidona a qual arrancou uma pequena risada de Helena que imediatamente acenou de forma positiva com a cabeça e pegou a mamadeira. Deu meia volta e foi andando devagar em direção a Mia.
Nesse momento Georgie apareceu coçando os olhos e vestido em um pijama idêntico ao de seu irmão mais novo.
— Mamãe... — ele falou baixo enquanto se aproximava dela e já ia estendendo os braços, claramente pedindo colo. Lizzia imediatamente acatou e pegou o filho no colo que a abraçou tanto com as pernas quanto com os braços para se aconchegar no colo da mãe como gostava de fazer sempre que podia. — Quando vamos conversar sobre o gato?
— Amanhã quando você estiver menos cansado, eu prometo. — ela falou baixo enquanto começava a acariciar os cabelos do filho.
— Você tem tanta sorte... A Mia e o Fred quando eram pequenos não eram tão compreensíveis assim. — Vera falou enquanto olhava para a sobrinha com um olhar extremamente terno.
— Seus filhos são maravilhosos, Lizzie. — Helena falou. A mexicana já estava confortavelmente sentada bem ao lado de Mia e com o pequeno Steve sentado em seu colo, meio deitado sobe seu braço ocupado em tomar todo o mingau da mamadeira, os olhos já preguiçosos, Helena não conseguia nem mesmo desviar os olhos do pequeno em seus braços.
— Puxaram a ela, Lizzie foi uma criança extremamente tranquila. Nem se dava o trabalho de chorar. — Brenda falou naquele tom nostálgico que fez as mulheres rirem. — Você lembra Vera?
— Eu lembro o quanto eu sentia inveja disso. — Vera pontuou.
— Por Deus, Mamma, você ama colocar eu e o Fred como péssimas crianças. — Mia reclamou em tom um pouco alto e isso arrancou mais uma vez algumas risadas das mulheres, com exceção de Helena.
A mexicana estava completamente absorta naquele momento, em alimentar aquela criança em seu colo, o jeitinho que ele sugava o mingau da mamadeira, os olhos preguiçosos que hora mal fechavam e hora encaravam Helena de forma atenta, as mãos gordinhas que abriam e fechavam de forma quase automática, o cheirinho gostoso do shampoo de criança e o talco que havia ajudado a usar nele, era tudo um misto maravilhoso de sensações que fazia o coração de Helena doer de tanto amor e ao mesmo tempo de tanta tristeza, ela nunca havia sentido aquilo. Gravava cada sensação daquele momento, tocava os pezinhos cobertos pelo pijama, tocava as mãos pequenas e as apertava devagar, segurava os dedinhos gordinhos e acariciava a pele macia. Ela se inclinou um pouco, a ponta do nariz tocou os cabelos lisos do bebê e ela cheirou, fechou os olhos para apreciar aquilo.
Mia acabou parando de conversar quando notou o que estava acontecendo bem ao seu lado, ficou em completo silêncio olhando tudo o que Helena fazia e notava com facilidade o apreço que ela tinha em cada coisa daquele momento, se sentiu completamente minúscula perto dela naquele momento, incapaz de ajudar Helena em algo naquele momento e se sentiu tão triste ao mesmo tempo, imaginou como Helena seria uma mãe incrível e ao ver ela com o Steve daquele jeito, ela teve absoluta certeza do tamanho da vontade dela de ser mãe. O mundo sumiu a sua volta, ficou totalmente alheia a conversa de sua família, quis abraçar Helena ali mesmo e aproveitar aquele momento com ela, mas ela simplesmente travou, travou em apenas observar o jeito todo delicado que Helena estava agindo, o jeito calmo que os dedos dela acariciavam a mão pequena de Steve. Um sorriso pequeno se formou nos lábios de Mia, aquilo era realmente a coisa mais linda que já havia visto.
— Helena? — ouviu a voz de Lizzie, tanto Helena quanto Mia pareceram sair do transe ao mesmo tempo e olharam para a mulher em pé com o filho adormecido no colo. — Vamos levar eles pra cama?
Helena pigarreou e sorriu.
— É claro, desculpe. — deu um sorriso sem mostrar os dentes desta vez e afastou a mamadeira já vazia do pequeno adormecido em seus braços.
— Pode deixar comigo. — Mia estendeu a mão para pegar a mamadeira e Helena a encarou brevemente e sibilou um “obrigada” enquanto com muito cuidado ia ajeitando o pequeno em seu colo até poder se erguer e devagar foi seguindo Lizzie. Mia as seguiu com o olhar até que ambas as mulheres sumissem na escada rumo ao primeiro andar da grande casa.
— Foi obra de vocês levar a Helena pra cuidar deles? Algum tipo de avaliação? — Mia questionou em tom um pouco mais sério e em seguida olhou para Brenda, já que foi ela que havia chamado Helena para lhe ajudar.
Sua Tia fez uma expressão culpada, se entregando sem nem mesmo falar nada.
— Eu queria ver como ela lida mais com crianças e também queria conversar a sós com ela. — justificou-se, não foi só Mia que havia parado para observar como Helena ficara admirando Steve, todas haviam parado para olhar não só Helena, mas também a forma como Mia olhava para Helena há minutos atrás. — Cometi um erro?
Mia respirou um pouco fundo e balançou a cabeça de forma negativa, encarou sua mãe logo em seguida, mas desviou o olhar.
— Eu não sei. — respondeu, mas respondeu mais para sí mesma do que para a sua tia.
— Bom... — Vera se ergueu, chamando a atenção para sí já que havia notado naquele olhar de Mia que havia algo de errado e era claro que Mia não queria falar sobre isso. — Já está tarde, moças e eu não sei vocês, mas eu estou exausta, eu não tenho mais idade para lidar com tantas crianças e me manter inteira. — brincou enquanto ia ajeitando o vestido que usava e em seguida foi andando em direção à filha para e despedir dela.
— Você deveria estar acostumada já que criou dois monstros, Mamma. — Mia ironizou e isso arrancou uma risada das demais mulheres. Abraçou a mãe pela cintura de forma bem apertada e deu-lhe alguns beijos no rosto.
— Se cuide, minha monstrinha, dirija com cuidado para casa. — falou baixo para ela e Mia sorriu de forma totalmente derretida com as palavras da mãe.
— Você também, Mamma. — sussurrou e deu um último beijo na Palermo mais velha antes de se afastar e ir andando até a sua Tia Olga já com os braços abertos.
Lá em cima a coisa estava bem mais silenciosa, tanto Steve quando Georgie tinham quartos diferentes, um do lado do outro e Helena estava sozinha no quartinho bem decorado do pequeno Steve. Já havia colocado o pequeno no berço e agora apenas o cobria com sua pequena manta e organizava os travesseiros ao seu redor com todo o cuidado que tinha.
— Você é muito boa com crianças. — ouviu atrás de sí, mas não desviou o olhar do pequeno, já conhecia a voz de Lizzie.
— Eu também venho de uma família grande. — explicou em tom baixo. — Precisei cuidar dos meus irmãos desde nova, então sempre foi algo natural pra mim. — completou e tocou a bochecha gordinha do bebê e a acariciou devagar, respirou fundo, consciente de que precisava sair dali. — E depois vieram os sobrinhos, apesar de eu não ver eles com muita frequência, faz algum tempo que não visito minha família. — explicou e então se afastou do berço devagar e virou-se. Lizzie estava apoiada na porta com um sorriso pequeno nos lábios.
— Isso explica seu jeito com crianças. — deu uma pequena risada. — Eu não tenho nem palavras pra te agradecer por hoje, Helena. — as palavras não eram altas, muito pelo contrário, eram faladas com cuidado, um certo medo de acordar tanto o bebê quanto Georgie. — Você é uma pessoa verdadeiramente incrível e a Mia tem muita sorte de verdade de ter você, independente do que vocês duas tenham. Eu iria gostar de te ter na família.
Helena deu uma breve risada enquanto parava em frente à Lizzie e olhava uma última vez para o berço.
— Eu iria adorar fazer parte da sua família, Lizzie, vocês são incríveis e realmente foi um prazer imenso ajudar vocês hoje. Eu faria novamente com muito prazer, inclusive quando precisar de ajuda com pinturas... Já sabe. — Helena arqueou ambas sobrancelhas e Lizzie riu por alguns segundos.
— Você tem uma galeria não é? Vou fazer questão de ir na sua próxima exposição. — Lizzie deixou claro enquanto segurava as mãos de Helena de forma carinhosa.
— Infelizmente você só não vai poder levar as crianças, meus quadros são muito adultos. — pontuou, as sobrancelhas se arquearam para dar ênfase no “muito.”
— Acredite, eu vou adorar isso. — deixou claro. As duas deram uma risadinha cúmplice antes de se abraçarem
— Mais uma vez, obrigada, Helena.
— Eu quem agradeço, Lizzie, foi um dia incrível. — falou em meio ao abraço e respirou um pouco fundo enquanto ainda sorria. — Mas agora é melhor irmos, você com certeza deve estar louca por sua cama.
— Um plantão no hospital com certeza é menos cansativo. — Lizzie brincou antes de se afastar de Helena. As duas se afastaram um pouco e Lizzie, antes de sair andando, encostou a porta do quarto de seu filho e então foi seguindo Helena em direção as escadas.
As duas desceram em silêncio e na sala, todos estavam em pé conversando e claramente se despedindo.
— Aí estão, estávamos esperando vocês para nos despedirmos. — Vera falou enquanto já ia andando em direção à sobrinha e já foi lhe dando um abraço apertado, fez o mesmo com Helena logo em seguida. — Foi um enorme prazer passar o dia com vocês hoje. Precisamos fazer isso mais vezes.
— Com menos crianças. — Olga pontuou e todos riram.
Todos se despediram com abraços e palavras como aquele prometendo um novo futuro encontro e a conversa continuou até mesmo quando Helena, Mia, Vera e Olga caminhavam para seus respectivos carros enquanto Lizzie, seu marido e Brenda ficavam na porta de casa aguardando que seus convidados partissem.
— Uau. — Helena falou assim que entrou no carro e já foi deixando sua bolsa no chão do mesmo. — Eu estou verdadeiramente exausta.
— Nem fale... Mal dormimos e no fim, enfrentar uma festa dessas. Isso estava totalmente fora dos meus planos. — Mia falou enquanto puxava o cinto e já ia dando partida no carro.
Helena deu uma breve risada enquanto se ajeitava e também colocava o cinto.
— É claro que estava. — implicou enquanto relaxava um pouco. Acenou quando Vera passou por elas em seu carro e buzinou. A mexicana apoiou-se melhor no banco, tentando ficar mais relaxada, sentia seu corpo tão tenso que isso estava a deixando ainda mais cansada.
— Sinto seu tom de julgamento. — Mia rebateu, mas Helena só respondeu com um sorriso enquanto sentia o carro enfim se movimentando. As duas estavam cansadas e por isso mesmo não ficaram nada desconfortáveis com o silêncio que se seguiu.
Mas para Helena o silêncio, diferente das outras vezes, não foi bem vindo. Não por que ficava desconfortável com Mia, mas sim por que sua mente foi invadida por lembranças que fizeram seu coração doer. Lembrou-se da sensação de ter Steve em seu colo, de cuidar dele, dar-lhe comida e por para dormir, lembrou de todos os abraços que havia recebido das crianças e todos os beijos estalados que ganhou no rosto e tudo o que vinha em sua mente era a filha que havia perdido. Ela seria como eles? Ela seria carinhosa ou mais quietinha? Do que ela iria gostar de brincar? Será que ela iria amar animais como Georgie amava? E se amasse, qual seria o seu preferido? Será que ela iria pedir colo a Helena para dormir como Georgie pedia a mãe? Será que ela seria tão cheirosa quanto o pequeno Steve era com aquele cheirinho de talco? Ela seria um bebê tranquilo? Será que choraria muito? Qual seria o tema da sua festa de 1 ano? E de 2?
Sentiu um nó em sua garganta e seu coração acelerou com tanta força que seu peito doeu de uma forma que Helena sentiu que iria morrer. Ajeitou-se repentinamente no banco enquanto sentia uma lágrima grossa escorrendo por seu olho.
— Mia. — sua voz falhou um pouco, tentou engolir o choro e sentiu uma dor na garganta quando fez isso, seus olhos queimaram com mais força e ela precisou respirar fundo mais uma vez, mas não ajudou, ela não iria conseguir segurar. — Por favor, por favor... Vai acontecer algo agora, por favor, ignore. Por favor. — implorou, a voz já carregada com uma dose de desespero que ela não conseguiu conter. Em seguida, tudo o que fez foi se encolher, ergueu os pés, apoiou-os no banco, abraçou os próprios joelhos e parou de tentar segurar aquilo que era impossível de ser segurado. Seu peito doeu com tanta força que ela se sentiu completamente sufocada enquanto chorava, não teve controle de nada, sentiu o desespero tomando conta de cada parte de seu corpo como se ela fosse sufocar a qualquer momento de tanto chorar, eram tantos “será” em sua mente, sentiu tanta angústia naquele momento que a dor desceu para seu ventre e isso a fez se desesperar ainda mais.
Mia, ao seu lado, no começo nada havia entendido quando Helena havia chamado seu nome e quando ela começou a implorar daquela forma Mia quase desesperou-se junto e agora, sentia as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto segurava o volante com toda a força que tinha, como se precisasse de forças para aguentar aquele momento, sentiu um buraco se abrir em seu peito ao ver Helena daquele jeito que ela nunca viu e ela sabia muito bem o motivo de ela estar chorando, sentiu-se completamente culpada, quis parar o carro ali mesmo e abraçar Helena com toda a sua força e ao mesmo tempo sentiu que iria desrespeita-la se fizesse isso. Teve medo e sentiu-se completamente perdida, o que ela faria? Tentou engolir o choro, sentiu-se a pessoa mais inútil do mundo por não saber o que fazer naquele momento, ela deveria mesmo ignorar aquilo? Ela deveria acatar os pedidos desesperados de Helena?
O choro de Helena era alto, era possível ouvir o desespero nos gemidos de dor que ela soltava em meio aos soluços altos, Mia se sentiu completamente quebrada, não queria deixar Helena sozinha e ao mesmo tempo não queria invadir o espaço de Helena, espaço que parecia ser minúsculo pela forma que Helena se encolhia completamente. Mia respirou fundo e ergueu a mão direita, olhou brevemente para Helena e tocou a mão dela, sentiu como a mão estava extremamente tensa, apertando a sí mesma. Puxou com certo cuidado a mão dela e entrelaçou seus dedos.
— Eu estou aqui. — falou um pouco baixo, mas não parou o carro, depois das palavras de Helena, ela sentiu que se parasse e desse toda atenção a ela, isso não seria bem vindo. O que aconteceu a seguir fez um bolo subir para sua garganta. Helena, que antes abraçava as próprias pernas, abraçou a mão de Mia. Colocou as mãos unidas contra o próprio peito, apertou os dedos entrelaçados e abraçou-os com força, deixando a mão e parte do antebraço de Mia, presos contra seu corpo. Como se aquele aperto de mão fosse seu apoio para não perder de vez a sua sanidade.
Sentir a mão de Mia contra a sua havia lhe trazido à realidade. Helena havia saído do ar e foi puxada de volta quando sentiu o toque de Mia e ouviu as palavras dela, foi como se tivesse sido puxada de toda a sua dor e por isso abraçava a mão dela com tanta posse, como se agradecesse em silêncio como se implorasse que ela não lhe soltasse, que continuasse ali lhe segurando e impedindo que ela enlouquecesse. Seu peito doía, seu coração batia acelerado contra a mão de Amélia, mas o calor da mão dela, os dedos apertando os seus e a presença de Mia fazia a sensação de morte diminuir. Sentia que não iria morrer, não naquele momento.
O carro era automático, Mia não tinha problemas em dirigir apenas com uma mão. Apenas passou a mão nos olhos uma vez para limpar as lágrimas que estavam impedindo que visse bem a estrada. Sentia no dorso de sua mão, o ritmo cardíaco de Helena, seu coração batia muito rápido e também sentia o quão ofegante ela estava, além de é claro, ouvir. Aquilo havia definitivamente lhe quebrado em pedaços, quis cuidar de Helena e protege-la de tudo que pudesse lhe causar momentos como aquele. Se culpou ainda mais e sentiu mais uma lágrimas escorrendo por seu rosto, sentiu também algumas gotas caindo em sua mão a qual Helena agarrava. Ela chorava mais baixo, mas isso não tornava aquela situação menos desesperadora.
Acima de tudo, Mia respeitou completamente aquele momento, não havia o que falar, ela sabia que nenhuma palavra iria ajudar Helena naquele momento, mas podia ficar do lado dela de qualquer forma, foi o que fez. Apertava bem a mão dela e se recusava a afrouxar o aperto, queria deixar claro que estava ali por meio disso. E Helena realmente sentia, sentia naquele aperto em sua mão tudo o que Mia queria dizer e era isso que estava lhe acalmando, sentir que Mia estava ali para ela. Tinha vontade de gritar e a angústia ainda estava instalada em seu peito e ela sabia que sentiria-se assim por mais algum bom tempo, mas o desespero que sentia e o choro descontrolado já começavam a se acalmar.
Todo o caminho feito até a casa de Helena foi daquele jeito, as duas em um silêncio cumplice e Helena ainda abraçada à mão de Mia tentando se acalmar pouco a pouco e lentamente, sentia seu coração ir se acalmando, a dor em seu ventre sumindo, sua respiração ficando cada vez mais calma, apesar de lágrimas ainda escorrerem por seus olhos e quando sentiu o carro parar, Helena ainda estava completamente encolhida, mas muito mais calma, apesar de sentir-se vazia.
— Chegamos. — Mia falou baixinho e com certo cuidado assim que parou o carro em frente a cada de Helena, mas não teve pressa alguma, só olhou para o corpo encolhido ao seu lado e sentiu o aperto mais forte em sua mão. Devagar viu a cabeça se erguer um pouco e virar em sua direção. No escuro do interior do carro pode ver parte do rosto molhado por lágrimas ainda.
— Você se importaria de dormir comigo hoje? — Helena sussurrou a pergunta. — Eu não quero ficar sozinha, eu chamaria a Ally, mas eu não quero ter que explicar tudo...
— Não precisa se justificar, Helena. É claro que eu não me importo. — sussurrou e esticou a mão livre e emaranhou-a nos fios de cabelo de Helena num carinho suave. — Eu estou aqui e ficarei com você.
Helena sentiu vontade de chorar novamente com aquelas palavras de Mia, se sentiu acolhida, sentiu que estava sendo cuidada e tal sensação foi completamente bem vinda, era realmente tudo o que ela precisava naquele momento. Ela acenou de forma positiva com a cabeça e devagar soltou a mão de Mia para poder se ajeitar no banco, retirou o cinto, pegou a sua bolsa e logo em seguida saiu do carro, olhou para a fachada de sua casa logo após fechar a porta. Aquela casa lhe trazia tantas lembranças. Balançou a cabeça de forma negativa e foi andando devagar, sentiu que Mia vinha logo atrás de sí, as mãos foram limpando o próprio rosto à medida que andava e assim que chegou em frente a porta abriu a bolsa para pegar a chave. Quando a porta de casa foi aberta completamente, de longe ela ouviu o miado que parecia não ter fim, o miado foi ficando mais e mais alto até ver a pequena bola de pelos preta aparecer em seu campo de visão, correndo em sua direção enquanto miava.
— Oi, meu amor. — falou enquanto se abaixava, a gata miava de forma quase desesperada, o arrancou um sorriso terno de Helena enquanto a pegava no colo e ia se erguendo. Segurou-a contra seu peito, as patinhas da frente ficando apoiadas em seu ombro e a abraçou enquanto dava beijos na cabeça da gatinha.
Mia sorriu com a cena enquanto fechava a porta atrás de sí e se aproximou um pouco só para tocar o rostinho da gata e acaricia-lo com a ponta dos dedos. Mais miados.
— Eu sei, eu sei. — Helena falou baixo e sorriu contra a pelagem da gata que sempre lhe trazia conforto.
Mia abraçou a mexicana por trás, quase ficando cara a cara com Vadia, ela riu um pouco quando a gatinha quis cheirar seu nariz.
— E ainda dizem que gatos não são carinhosos. — Ela falou baixo enquanto olhava para a gatinha que antes parecia tão desesperada ao ver a sua dona.
As duas mulheres pareciam ignorar o que havia acontecido há minutos atrás, mas a verdade é que não ignoravam, Mia apenas esperava o momento certo assim como Helena. Mia não queria forçar nada e Helena não queria falar sobre aquilo naquele momento. Mia deu um beijo carinhoso no ombro de Helena e se afastou devagar, saiu andando a passos calmos. Já Helena foi até o interruptor e foi ligando as luzes da casa e em seguida foi seguindo Mia em direção à cozinha.
Mia sentia-se completamente à vontade naquela casa, como se já tivesse vindo ali centenas de vezes, Helena adorava ver isso.
— Tem um sachê da Vadia na porta da geladeira, pega pra mim? — Helena questionou assim que passou direto pela geladeira e foi até as tigelas de ração da gatinha, a ração estava vazia como sempre. Colocou a gata no chão e pegou a tigela vazia e imediatamente a gata já foi se enroscando em suas pernas enquanto miava.
— Aqui. — Mia estendeu o sachê aberto para a mexicana. Em seguida foi até o armário pegar um copo para beber água, o encheu e calmamente se encostou no balcão e ficou observando Helena que servia Vadia com sachê, quando a gatinha foi servida e logo começou a comer, Helena finalmente encarou Mia.
O olhar das duas se encontrou de forma rápida e Mia viu os olhos de Helena avermelhados, bem irritado pelo choro, o nariz também vermelho, o rosto um pouco inchado. Já Mia tinha apenas o nariz vermelho, as duas se olharam em silêncio de forma completamente cúmplice, nenhuma palavra precisou ser dita, tanto que Mia apenas virou-se um pouco para deixar o copo quase vazio em cima do balcão e quando virou-se a posição anterior já foi abrindo os braços e Helena já estava em sua frente, envolvendo-lhe a cintura num abraço apertado. Mia a apertou de maneira cuidadosa, mas muito apertado, como se quisesse deixa-la presa ali a vida toda para que nada mais a machucasse. Virou o rosto e deu um beijo nos cabelos de Helena e fechou os olhos para apreciar aquele abraço. Helena por sua vez, enfiou o rosto bem na curva do pescoço de Mia enquanto lhe apertava a cintura com força, aquele abraço era tão reconfortante que não tinha vontade alguma de sair dali.
— Obrigada. — sussurrou contra o pescoço de Mia, a voz ainda saindo meio fragilizada. Mia sabia que Helena não estava agradecendo só por aquele abraço, ela sabia e sentia.
— Me desculpa... Eu deveria ter...
— Não. — Helena ergueu a cabeça para poder encarar Mia e negou com um aceno de cabeça. — Não se desculpa, Amélia, você não tem culpa nenhuma em tudo isso. Nenhuma. — sussurrou e ergueu as mãos devagar para tocar o rosto de Mia. Ao mesmo tempo Mia desceu as mãos e envolveu a cintura de Helena para que elas se mantessem coladas uma na outra.
— Eu sabia, eu passei o dia todo pensando em como aquela festa podia ter mexido com você, eu poderia ter evitado.
Helena sentiu um certo calor em seu interior ao ouvir aquelas palavras, ao saber que o dia inteiro Mia havia pensado em proteger Helena de seus próprios terrores. Isso a fez ficar em silêncio por alguns segundos, admirada com a forma que Mia se preocupava. A mão direita carinhosamente acariciou o rosto da morena e sorriu fraco, sem muito ânimo.
— Esse dia foi incrível. — sussurrou. — Eu me diverti muito, muito mesmo, amei pintar cada rostinho, amei conversar com cada criança. Eu amei brincar com o Georgie, eu amei cuidar do Steve, eu amei tudo e eu só tenho a te agradecer e agradecer a sua família por isso. — a morena sentiu os olhos arderem novamente e olhou para cima para não chorar, respirou fundo. — E foi tudo, tão, tão perfeito que foi impossível não pensar... O que ela iria gostar? — a voz foi ficando embargada. — Será que ela ia ser quietinha? Será que ela seria um mini monstrinho? Será que ela amaria animais? Qual seria o animal preferido dela? — as lágrimas iam escorrendo por seu rosto e sua voz ia ficando cada vez mais forçada à medida que falava, as mãos gesticulavam com se quisesse expressar qual era o tamanho do sentimento que estava lhe causando tanta angústia. — Eu nunca pensei de verdade nisso, por que eu sempre evitei completamente pensar demais por que isso me quebrava aos pedaços, mas hoje... Hoje foi inevitável.
Mia mantinha-se quieta apenas olhando, atenta a cada movimento e a cada palavra dita por Helena, via a dor nos olhos dela, via o quão perdida ela estava falando aquelas coisas, era tudo tão... Injusto. Ela se sentia completamente inconformada quando via que Helena, uma mulher tão incrível, tinha tanto sofrimento guardado dentro de sí. Ela puxou Helena mais para perto, em um abraço apertado e colou sua testa a dela, fechou os olhos e ficou em silêncio.
— Nada que eu te falar vai te ajudar agora, Helena. — sussurrou e respirou um pouco fundo, estava com tanta vontade de chorar, mas fazia um esforço absurdo para manter-se ali forte para ela. — Mas eu acho que você não deveria evitar tanto esse assunto, a Esperanza não é algo que deva ser guardado em seu inconsciente e evitado por que te causa dor. Ela foi uma garotinha que não estava pronta para vir pro mundo e que deve ser lembrada com carinho por que durante todo o tempo que ela existiu dentro de você, ela foi amada com todo o seu ser e o amor que ela sentiria por você seria muito maior que ela mesma por que você seria uma mãe, tão, tão incrível. — Mia respirou fundo novamente e afastou só um pouquinho o rosto para poder encarar Helena que praticamente tremia em seus braços. — Não foi a Esperanza que te machucou, foi o Trevor. Ela merece toda lembrança, todo sorriso, toda esperança. Ela com certeza merece que você veja algo e pense que ela gostaria daquilo. E quando você tiver um filho ou uma filha futuramente, ela merece saber que teria uma irmã que iria adorar as coisas que você vai idealizar. E eu tenho absoluta certeza que você vai ser mãe sim... Por Deus Helena, todo mundo ficou absurdamente encantado com a forma que você tratou todas aquelas crianças, hoje. — Mia olhou para o alto por um momento e tentou expressar-se com as mãos e em seguida tocou o rosto de Helena, os polegares limparam algumas lágrimas e então sorriu para a mexicana sem mostrar os dentes, mas de forma tão carinhosa que fez Helena sorrir de forma triste. — O jeito que você cuidou do Steve hoje deixou claro para todas naquela sala que você é e será uma mãe incrível no futuro, eu, minha mãe, minhas tias, todas ficamos te admirando. Foi lindo.
Helena não soube o que falar diante todas aquelas palavras, tudo o que conseguiu fazer foi chorar enquanto sentia aquele buraco em seu peito, mas ao mesmo tempo sentia um calor lhe abraçando, lhe confortando de um jeito que a impedia de surtar de uma vez, por isso mesmo apenas abraçou a mulher a sua frente com toda a sua força e mais uma vez chorou, mas desta vez chorou enquanto era amparada por braços que lhe traziam uma segurança tão grande que sentia que poderia morar ali pelo resto de sua vida. No fim, ela estava mesmo certa, Mia era um ponto de apoio ao qual Helena com certeza poderia se apoiar.
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 04/11/2020
Sabe quando vc não tem palavras para descrever essa história e esse capítulo então, essas mulheres tão maravilhosas, é assim que me sinto...não tem como não não se envolver e se sentir dentro de tudo isso.
Parabéns autora e cada minuto de espera vale a pena, que seja no seu tempo, vou estar aqui esperando.
Não costumo ser muito emotiva, mas toda essa carga de emoções abalam minhas.estruturas.
Até o próximo
sonhadora
Em: 03/11/2020
Oiê!! Fico te seguindo no Twitter pra saber quando você vai postar...kkk menina, que capítulo hein!!! Sou suspeita porque adoro esta história e espero o tempo que for pra ler!!! Entendo a dor da Helena!!! É como se passasse pra gente este vazio e o aperto do tamanho da dor que ela sente naquele momento!!!
Meu casal favorito está dando um show de sensualidade, paixão e amor!!!
Vadia é linda!! Minha gatinha também me morde de manhã quando demoro a levantar pra pôr comida pra ela...kkkk
Beijos!
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Dolly Loca
Em: 03/11/2020
Que capitulo fantástico!! Valeu cada minuto de espera.
A intensidade dos sentimentos das duas é algo muito envolvente. Parabéns!!
bjos
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preguicella
Em: 03/11/2020
Ia comentar no wattpad e vi que não tá conseguindo ler os comentários.
Primeiramente não posso perder a zoeira, se sobrou texto o próximo capítulo vai sair logo. A gente nunca está satisfeito com o que tem, sempre quer mais. Quem manda escrever personagens tão apaixonantes! hahaha
Segundamente, tão lindo as nossas protagonistas juntas, seja no hot, seja no momento triste.
Amei que a família já recebeu Helena de braços abertos.
Helena não vale nada, mandar o George ir perguntar o nome da gata para a Mia foi ótimo.
A mama quer desencalhar Mia de qualquer jeito, chamá-la para a festa foi um golpe de mestre.
Vadia dando mordida pedindo comida é tudo de bom! hahaha
Já estou com ciúmes dessa veterinária que vai aparecer. O bom é que já sei que mais pra frente a Helena vai sentir ciúmes de Mia.
Terceiramente hahaha Não queria que o ex abusivo aparecesse mais na história, mas é bem possível que isso aconteça, não é mesmo?!
bjuuuuuuuu
Resposta do autor:
Já voltou a funcionar!
EUHEUEHEUHEUEHEUHEUHE Nem venha com essa, sobrou texto, mas não é o suficiente pra um capítulo novo, então vai demorar um pouquinho ainda, lembre que eu faço faculdade e to no fim do semestre.
Não tem como receber a Helena de outra forma né? Ela é um verdadeiro amor.
Mamma é o verdadeiro cupido dessa história e ninguém pode dizer o contrário.
Próximo capítulo provavelmente você vai conhecer a veterinária!!
O ex abusivo aparecer é uma possibilidade real que pode acontecer, da mesma forma que o ex que Mia "abandonou" também pode.
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cris05
Em: 02/11/2020
MARAVILHOSO!
Amo capítulo generoso!
Autora, por favor, não nos mate de ansiedade. Volta logo. Please!
Resposta do autor:
Infelizmente não posso prometer nada quanto ao próximo capítulo!
Fim de ano = fim de semestre. Então fico bem ocupada, mas eu vou dar o meu melhor!
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