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Meus pedaços por Bastiat

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Palavras: 7397
Acessos: 2933   |  Postado em: 01/11/2020

Tentativa em vão

Helena

 

    - Você está com um negócio... - disse levando a minha mão ao local e retirando com o dedo.

 

    Vi Isabel fechar os olhos com o meu toque. Seus lábios se entreabriram e eu me senti atraída. Passei os meus dedos contornando-os, deslizei pelo seu queixo, desci fazendo carinho pelo seu pescoço e só parei quando alcancei a sua nuca. Arrepiou-se.

 

    Isa não fez nenhuma menção de rejeição, então me aproximei ainda mais dela. Nossos corpos estavam quase juntos e quando capturei os seus olhos, vi desejo.

 

    Seus olhos passearam entre meus e minha boca. Minha perdição foi vê-la passar a língua pelos lábios. Prometi a mim mesma que se ela desse algum sinal de que queria me beijar, eu o faria.

 

    Apenas com a inclinada da sua cabeça para frente, entendi como o sinal e a puxei para o encontro da minha boca.

 

    Não tinha nenhuma resistência, somente desejo a ser saciado. Beijei a sua boca com volúpia. Sua pegada me fez querer ainda mais. Isabel me enlouqueceu com o carinho e puxada que as suas mãos faziam na minha cintura.

 

    Como uma boa provocadora, eu explorava a sua boca com minha língua e ditava o ritmo para que não parasse tão cedo. Eu queria aproveitar aquele momento e se pudesse o estenderia mais se não fosse pelo Maurício chegando na hora errada na sala.

 

    Nem sei o que ele disse, mas um frio atingiu a minha espinha quando senti que as mãos que outrora me puxavam para perto do corpo dela, me empurrarem.

 

    A feição da mais nova mudou rapidamente. Foi a mesma cara de susto quando a Giovanna juntou as nossas mãos no quarto do hospital. Espanto total.

 

    - Me desculpem, meninas. Eu já estou de saída... - escutei o ator dizer.

 

    Pânico, foi assim que defini seu rosto quando seu rosto virou para encarar o Maurício.

 

    Seus olhos pediam por socorro. O que foi difícil de conquistar, rapidamente perdi por uma interrupção.

 

    Fiz uma tentativa de uma nova aproximação, mas aconteceu de novo. Meu toque foi repelido.

 

    - Isabel? - Insisti.

 

    Sua mão direita foi até os seus próprios lábios. A madrilenha estava completamente assustada. Como sei bem a sua reação quando se sente acuada, li em seus olhos que ela iria fugir.

 

 

    - Isabel! Isabel, não! Isabel, volta aqui. Não faz isso, Isabel... não... não...- me desesperei quando a vi dando as costas para sair.

 

    Dei alguns passos na sua direção, pensei em correr atrás, mas desisti, pois, sabia que seria pior.

 

    Encarei o Maurício e passei a mão no meu rosto com raiva.

 

    - Isso lá é hora de aparecer, seu idiota? Imbecil!

 

    - E eu ia adivinhar que vocês estavam dando uns pegas aqui? Fossem para o camarim de uma das duas.

 

    - Que pegas o quê, Mau. Depois de um ano, finalmente consegui beijá-la. Você acha que eu ia ficar escolhendo lugar?

 

    - Então esse era para ser o beijo de reconciliação? Porr*, foi mal. Juro que se pudesse voltar no tempo, preferia ter morrido engasgado no almoço.

 

    - Credo, vira essa boca para lá - disse dando um tapa no ombro dele. - Agora já foi. Talvez ela tivesse a mesma reação mesmo.

 

    - Queria te dizer que não, mas conhecendo a Isabel... bem, você sabe até mais do que eu.

 

    Concordei com suas palavras.

 

    - Liga para ela! Quem sabe ela te atende - pedi a ele.

 

    O ator pegou seu celular e fez a chamada.

 

    Revirei os olhos quando o toque do aparelho da Isa foi escutado na própria sala. O jurado foi até uma das mesinhas e o pegou.

 

    - Isabel saiu daqui muito nervosa, precisamos encontrá-la antes que faça alguma besteira - falei.

 

    - Eu vou procurar pelos estúdios próximos - sugeriu.

 

    - Certo. Eu vou procurá-la nos departamentos de cima. Quem achar primeiro, manda mensagem um para o outro.

 

    Eu andei a parte interna da emissora de televisão inteira à procura da espanhola. Nunca imaginei que havia tantos banheiros em um só lugar.

 

    Após perceber que já estava dando o horário de voltar a gravação, tive quase certeza de que ela foi embora e isso me preocupou. Isabel e trabalho são sinônimos. Se ela tiver abandonado as gravações, é um péssimo sinal para mim.

 

    Para o meu alívio, quando já estava voltando ao estúdio, Maurício me enviou uma mensagem comunicando que já havia a encontrado e que ela estava no camarim.

 

    Eu deveria ter ido direito para o local de gravação. Mas quem disse que eu não sou impulsiva? Cá estou batendo na porta dela.

 

    - Com licença, Isabel. Eu posso entrar?

 

    Nem esperei a resposta e fui adentrando o seu espaço.

 

    - Eu já estou indo para a gravação - disse com uma voz suave.

 

    Para a minha decepção, a minha ex não está sozinha.

 

    - Ah não, eu não vim avisar que já vai começar - tentei sorrir. Eu... eu queria continuar a nossa conversa. Podemos?

 

    A maquiadora e a cabelereira até tentaram sair, mas Isabel me ignorou e pediu para ela continuar a contar o que estavam falando antes.

 

    Concluí que foi um péssimo momento para tentar conversar com ela. Embora não tenha em nenhum momento demonstrado algum desconforto com a minha presença, a atriz não olhou diretamente para mim e continuaram conversando normalmente.

 

    - 3 minutos para a gravação. Obrigada, meninas. Vamos?

 

    Casañas disse aquilo e eu interpretei como se não fosse o melhor momento. Decidi segui-las em silêncio e esperar um momento mais oportuno.

 

    Paramos juntas na grande porta de acesso.

 

    - Desculpe-me, Helena, eu só não acho certo conversarmos ahora, temos pouco tempo.

 

    - Eu só ia justamente pedir para conversarmos mais tarde, depois da gravação.

 

    Isabel não demonstrou nenhum incômodo durante as atuações. Até tive um sorriso correspondido em meio a um intervalo de apresentação.

 

    Eu só ficava de longe admirando-a. Acho graça dos olhares apreensivos dos competidores quando terminam uma apresentação e seu rosto não dá dica de como eles foram. Embora não sejam inexperientes, eles chegam a serem medrosos. Com exceção de alguns que já tiveram a audácia de olhar com paixão.

 

    A maior exceção está neste momento observando a minha ex: Philipa.

 

    Desde o primeiro momento que vi seus olhos brilharem para a espanhola, liguei o meu pisca alerta. Está bem claro que essa competidora tem uma admiração além do normal pela minha ex. Pior ainda é perceber que talvez a Isabel não seja indiferente. Em todas as apresentações que fez até hoje é sucesso para a jurada. É um elogio atrás do outro, sorrisos e olhos brilhando. Para piorar, a vi chegar com Isa hoje. Quis pular no pescoço da Philipa.

 

    Lembrei-me imediatamente que durante a prova anterior, protagonizei uma pequena cena. A nossa troca de olhares foi pesada. Deixei transparecer o ciúme que senti, mas depois caiu a ficha de que eu não a tenho mais e de que ela é livre para flertar o quanto quiser.

 

    Foi com o sentimento de tristeza que almocei e depois aconteceu tudo aquilo. Bem, o nosso beijo significou muitas coisas, dentre elas que ainda existe amor. Isabel não me beijaria por um simples desejo. Mesmo que ela tenha se assustado, a mais alta sabe que agora tudo mudou.

 

    Com a minha confiança renovada, caminhei até os três para fazer as costumeiras perguntas. Tomada por coragem, toquei o braço da espanhola e pedi desculpa pelo modo que agi mais cedo durante o meu ataque de ciúmes. Não segurei o meu desejo de senti-la e a abracei. Eu gostaria de ser abraçada de volta, mas já fiquei contente por ganhar um sorriso.

 

    Durante o abraço, senti o cheiro bom de sua pele e a sua maciez. Eu faria tudo para poder abraçá-la sempre que pudesse, como antes. Eu sinto tanta falta de nossas peles se tocando. Seja apenas por carinho, abraços, para estar perto, ou fazendo amor.

 

    Eu não queria soltá-la e não o fiz. Desfiz o abraço, mas deixei o meu braço em sua cintura para aproveitar a nossa trégua. Eu estou tão certa de que o nosso beijo mudou alguma coisa.

 

    Segui o roteiro de perguntas. Eduardo, como sempre, trouxe a sua opinião pertinente e Maurício as suas observações.

 

    Para a minha decepção momentânea, Isa levantou o nome da portuguesa e me controlei para não dizer mais besteiras. Resolvi não criar nenhum caso com ela para que mais tarde eu seja nós possamos conversar normalmente.

 

    Tudo seguiu conforme o roteiro. Philipa foi declarada a vencedora da prova mais uma vez na temporada. Óbvio que enxergo o talento que ela tem, mas sua proximidade com a Isabel não me deixa querer vê-la vencedora. Ainda bem que não sou jurada.

 

    Após finalizar a gravação, conversei com a Miriam e fui apressada ao meu camarim para trocar de roupa.

 

    Nem tirei a maquiagem e corri para o camarim da Isabel, porém não adiantou nada pois ela teve a mesma pressa e conseguiu ser mais rápida do que eu.

 

    Saí frustrada pelos corredores da emissora e até me permiti ficar de mau humor.

 

    Casañas é ridícula! Rola um beijo, fica de sorrisinho e vai embora!

 

    Marchando até o meu carro, peguei o meu celular pensando em mandar um textão para ela. Vou escrever tudo o que eu estou sentindo. Quando cliquei o aplicativo de mensagens, dei uma olhada para frente e vi suas costas. Ótimo! É agora ou nunca.

 

    - Isa? - a chamei sem hesitar.

 

    - Helena - virou-se para mim.

 

    - Você tem 5 minutos? - Perguntei firme.

 

    Nos encaramos e eu não recuei nenhum minuto.

 

    - Sí, pode falar.

 

    Respirei aliviada pela sua calma e disponibilidade. Sem pensar duas vezes, fui direto ao assunto.

 

    - Podemos falar sobre o que aconteceu mais cedo?

 

    - Sobre o beijo, é isso?

 

    A espanhola disse como se não fosse nada demais. Fraquejei.

 

    - Você sabe que não foi só um beijo, Isabel. Bem, pelo menos para mim não. Para você foi...? - Meu coração ficou apertado.

 

    - Apenas un beso.

 

    O mundo pareceu parar, fiquei sem chão. Sua voz soou tão indiferente. Me desesperei:

 

    - Ah não, Isabel. Não começa a negar, falar que não gostou, fingir que não mexeu com você. Esse discurso não vai colar. Rolou um clima, nos beijamos, você correspondeu com vontade. Talvez se não tivéssemos sido interrompidas, você não sairia assustada daquele jeito.

 

    - Helena, cálmate. Não vou negar nada. Foi um bom beijo e eu quis, ok? Mas não significou nada.

 

    Desacreditei. A boca da atriz diz uma coisa, mas seus olhos dizem outra. Eu vejo sua dor.

 

    - O que você quer dizer com isso? - Desafiei.

 

    A espanhola abriu a boca procurando por palavras. Quando pensei que cederia, comecei a sorrir esperançosa.

 

    - Acho que apenas nos beijamos por causa da tensão criada. Nuestras brigas só serviram para alimentar una ilusión de que há amor entre nós - respirou fundo. - Mas para mim foi a confirmação de que não existe mais.

 

    Cada palavra foi entrando em mim como facas. Ela ainda estava na metade e eu já sentia as lágrimas chegando. Toda a minha confiança se transformou em desapontamento.

 

    - Você não me ama mais, é isso? - Nem esperei a reposta - Isabel, as coisas não aconteceram da forma como você pensa! - Desesperei-me.

 

    - Não chora, Lena. Por favor, no llores.

 

    Posso estar sendo maluca, mas os olhos dela não condizem com sua postura. Quando ela passou a mão pelo meu rosto para secar as minhas lágrimas foi com tanto carinho e amor.

 

    - Isso tudo que aconteceu foi bom por um lado - concluiu.

 

    Perdi a paciência que ainda tentava manter.

 

    - Que lado, Isabel? A gente se beija e você chega à suposta conclusão de que não me ama? - Ironizei.

 

    - Olha nós aqui conversando, sem brigas, sem aquele clima pesado. Acho que finalmente podemos funcionar como... colegas.

 

    Custei acreditar no que escutei. Colegas? Eu tive que rir.

 

    A partir daquele momento tudo saiu do controle. O texto que eu planejei escrever saiu com tanta raiva que senti as vibrações das minhas cordas vocais:

 

    -...Passou um ano me ignorando, não suportava nem olhar na minha cara. Há um mês você me esculachou naquele hospital, disse que não suporta nem ser tocada por mim e que te traí com vários. Agora me beija com toda cara de pau, permite que me aproxime durante a gravação - me indignei ainda mais - e para fechar com chave de ouro, diz que podemos ser colegas? Colegas, Isabel? Vai se lascar.

 

    Casañas também reagiu com raiva:

 

    - O que você esperava? Que eu caísse de amores por causa de um momento de fraqueza? O que eu estou intentando hacer é seguir o conselho de todo mundo: buscando uma maneira de te colocar en mi vida novamente. Yo no esqueci do que aconteceu. Pode-se passar 100 años que não vou esquecer.

 

    Momento de fraqueza? Eu beijei essa mulher com todo amor que sinto para ouvi-la dizer que não foi nada?

 

    Deixei o ódio que senti subir pelas minhas veias e peguei sua mandíbula com uma mão só para olhar em seus olhos:

 

    - ...Anda, pergunta. Pergunta, porr*. Pergunta: Helena, você me traiu com o Gustavo?

 

    Ficamos nos encarando em silêncio. Cada movimento do olhar da espanhola é uma interpretação diferente. Primeiro foi paixão, depois confusão, por último decepção.

 

    - Helena, você me traiu com o Gustavo.

 

    Isabel afirmou. Sua certeza é tanta que eu me sinto derrotada. Ainda olhando em meus olhos, pude ver que suas próximas frases serão as mais sinceras do último ano:

 

    - Eu sei o que eu vi, ouvi, o quanto penei. Acha que no sofri? Doeu mucho, Helena. Eu confiava em você de ojos cerrados. Você sabe que por muitos anos tu fueras la persona más importante da minha vida. Então imagina se para mim foi fácil terminar o nosso casamento. Não foi, caramba. Você no fue la única que perdeu com todo esto.

 

    Engoli seco. Uma mistura de desalento e culpa.

 

    - Você precisa me dar uma chance de me explicar! - Insisti.

 

    - Yo esperé. Esperei até o último momento que você me falasse a verdade. Você sabe, Helena! Sabe que as minhas palavras sumiam quando eu esperava a verdade e você vinha com mentiras. Eu te dei tantas oportunidades... tantas. Dei tantas assim porque eu realmente queria que a atitude viesse de você. Queria entender saindo tudo da sua boca. Por que mentiu?

 

    - Quando eu menti? Me diga, Isabel. Quando foi que menti?

 

    Minha mão foi tirada com raiva de seu rosto.

 

    - Mentiu como está mentindo agora. Está ficando tarde y yo tengo que ir, vou passar no Arte ainda.

 

    - Isabel, espera - pedi segurando-a pelo braço, fazendo com que ela se voltasse para mim outra vez.

 

    - Helena, é mejor a gente encerrar a nossa conversa por aqui antes que nos machuquemos de novo.

 

    - E como a gente fica? - Prolonguei o assunto.

 

    - Assim, como estamos agora. Mães da Giovanna e colegas de trabajo.

 

    É o fim. Definitivamente este é o final completo de nosso casamento.

 

    O celular da Isabel tocou e ela não hesitou ver o que era. Deve ser importante.

 

    Fiquei esperando para saber sobre o que se tratava e quando a atriz sorriu fiquei sem entender.

 

    Não foi um sorriso qualquer. Foi o melhor sorriso dela, largo e com olhos brilhantes.

 

    O meu casamento não só acabou como também acabo de descobrir que a minha ex tem alguém.

 

    Eu não consegui me segurar e chorei.

 

    Surpreendente foi ser acolhida em um abraço da Isabel.

 

    - Ei, está tudo bien. Deixa tudo como está e vai ficar tudo bien.

 

    Encostei o meu ouvindo para ouvir as batidas do seu coração. Está acelerado.

 

    - Não te entendo, Isa. Uma hora você me olha com indiferença, agora me dá esse abraço gostoso.

 

    Ouvi sua risada e a olhei.

 

    - Você não deveria está tan sorprendida. Eu faço isso quando os competidores estão chorando ao serem eliminados.

 

    Poucas vezes durante o nosso casamento eu fiquei tão furiosa com a Isabel como eu estou agora. Em suas palavras eu pude perceber que estou no mesmo patamar de qualquer um em sua vida.

 

    - Claro, a mamá de todos. A que bate, mas também sabe acolher. Muito bem, espanhola, eu captei o recado.

 

    - Hele...

 

    Eu, impulsiva novamente, enxerguei no olhar da Isa que ela não quis dizer aquilo. De novo eu vejo um amor reprimido.

 

    Dei a cartada final e a beijei.

 

    Não quis nada aprofundado como na última vez. Preferi algo mais carinhoso, simbólico, quase uma súplica. Fiquei na ponta dos pés e dei cinco beijos em seus lábios. Quando não me segurei, ela o fez e virou o rosto.

 

    - No, Helena.

 

    Senti-me rejeitada.

 

    Isabel tem outra! Será a Philipa? É tarde demais?

 

    - Entendi... Agora eu entendi tudo. Desculpa.

 

    - Estás todo bien. Pero, o que você entendeu? - Perguntou.

 

    - É melhor você ir - disse andando para longe dela. - Só quero te dizer uma única coisa: eu ainda vou te provar que você se enganou. Boa noite, Isabel Casañas.

 

    Apressei os meus passos na direção do meu automóvel. Falta ar. Dói. Eu não tive coragem de perguntar se ela já está com alguém. Eu sei a resposta.

 

    Entrei no meu carro e chorei.

 

    - Você não cansa, Helena? Não acha que já sofreu demais? - me perguntei.

 

    Sequei as minhas lágrimas. Acendi a luz interna do carro e me olhei pelo retrovisor. Maquiagem toda borrada.

 

    Peguei um lenço umedecido e retirei todo o excesso. Me ajeitei da melhor forma que consegui e procurei me acalmar.

 

    Liguei o meu carro e sai pelo estacionamento para ganhar as ruas. Vou chegar em casa, tomar um bom banho e dormir.

 

    Parece até que eu estava adivinhando que isso tudo ia acontecer quando marquei um passeio na praia com a Natália. Nada como a água salgada do mar e os pés na areia para me renovar. Ainda terei a minha pequena para me distrair. Perfeito.

 

    Imaginar um final de semana maravilhoso me deu ânimo.

 

    - Quer saber? Se eu já lavei 99% das roupas sujas hoje, preciso completar.

 

    Foi com esse pensamento que mudei a rota já perto de casa e parti para o Arte. Eu preciso saber se a Isabel tem outra.

 

    Controlei-me para respeitar a velocidade do trânsito e os faróis vermelhos. Mesmo assim, um percurso que seria de trinta, foi vinte.

 

    Entrei no estacionamento ao lado da companhia como de costume e deixei o carro com o manobrista.

 

    Andei pelo vento frio de São Paulo, isso fez com que eu me escolhesse porque estava só com uma camiseta simples branca.

 

    - Olá, boa noite - disse à recepcionista.

 

    Nem esperei ela responder e entrei. Eu posso até ser a ex, mas os funcionários não estranharam a minha presença.

 

    Fui direto para o seu teatro, o seu lugar. Entrei sem pedir licença e a procurei entre os coordenadores.

 

    - Boa noite, Helena - um velho colega de profissão me cumprimentou.

 

    - Boa noite, querido - sorri. - A Isa, cadê?

 

    - Isabel não vem hoje.

 

    Estranhei a sua resposta.

 

    - Ué... mas ela disse que estaria aqui.

 

    - Bem, ela não me comunicou nada.

 

    Agradeci a sua atenção e sai contrariada do local.

 

    Passei em seu escritório para ter a certeza de que a espanhola não está aqui.

 

    Nem sinal dela.

 

    "Ela deve ter passado em algum lugar antes", pensei.

 

    O restaurante que há dentro da companhia está cheio, mas por pura sorte encontrei uma mesa vazia. Como sua decoração é de vidro, tenho uma boa visão da entrada. Sentei-me e resolvi jantar. Analisei o cardápio e fiz um sinal.

 

    Um garçom já conhecido prontamente veio fazer o meu pedido.

 

    - Boa noite, dona Helena.

 

    - Boa noite, Oswaldo...

 

    Eu dizia e o pedido era anotado.

 

    -... E, bem, quando a Isabel chegar, você pode me avisar?

 

    Resolvi me certificar de que se eu não a visse, seria avisada.

 

    - Claro, dona Helena. Devo pedir para ela vir até a senhora?

 

    - Ah não, só fica de olho e me avisa assim que ela chegar, por favor.

 

    Cada minuto que se passa é uma angústia mais. A salada de atum que pedi desceu com dificuldade.

 

    Comi até a sobremesa e nada da Isa chegar. Duas horas e meia sentada, olhando na expectativa de ela adentrar o local e nada.

 

    Paguei a conta tentando adivinhar o porquê de a Isa ter mentido que viria trabalhar. Caminhei para fora e fui até o estacionamento. Enquanto esperava o meu carro, liguei para a Nina.

 

    " - Dona Helena?"

 

    - Oi, Nina. Tudo bem?

 

    " - Tudo e a senhora?"

 

    - Tudo... você ainda está na casa da Isabel?

 

    " - Sim, a Gi acabou de tomar banho e vou colocá-la para dormir daqui a pouco."

 

    - Você quem vai colocar? Isabel não está por aí?

 

    " - Não. Ela até avisou que vai chegar tarde e pediu para que eu durma aqui."

 

    Droga! Onde a Isa se meteu?

 

    - Ah sim. Então... bom, amanhã eu passo cedo por aí.

 

    " - Tudo bem, dona Helena. As coisas da Gi já estão arrumadas."

 

    Despedi-me da babá e meu automóvel chegou neste meio tempo. Entrei e soltei todo ar dos meus pulmões. Pura frustração.

 

    Eu não deveria ter ido atrás da minha ex. Agora não vou sossegar até saber onde ela está.

 

    Dirigi pelas ruas pensando no sorriso que a Isa deu ao falar com alguém no estacionamento. Lembrei que ela mentiu que viria ao Arte também.

 

    Cheguei em casa e estacionei o carro na minha garagem. Eu poderia estacionar de qualquer jeito ou no meio, porém é incrível como eu ainda ajo como se dividisse a casa com a Isabel. O meu carro fica solitário no canto da garagem, assim como eu em casa. Mesmo tendo agora o Chico.

 

    Continuei dentro do automóvel e peguei o meu celular da bolsa. Eu não deveria correr atrás de saber da vida dela. Mas, eu também não deveria ter feito um monte de coisas que fiz hoje, então resolvi ligar para todas a outra filial para saber se a espanhola está por lá.

 

    Não está.

 

    Sem trabalho, sorriso no rosto ao ver uma mensagem no celular. É, Isabel me esqueceu.

 

    Peguei as minhas coisas e sai do veículo descontando toda a minha raiva na batida escandalosa da porta.

 

    Entrei em casa decidida a não derramar uma lágrima sequer por ela. Tenho que parar com essas lamentações e encarar de frente a situação na qual me encontro. O meu relacionamento chegou ao fim e quando uma das partes não quer mais, cabe a outra aceitar. No caso, cabe a mim acatar. É o que eu farei.

 

    Chico veio pulando e latindo na minha direção.

 

    - Ei, meu bebê! Isso tudo é saudade? Demorei, não é?!

 

    Agachei-me para fazer carinho em seus pelos macios. Larguei a minha bolsa no chão e o peguei no colo.

 

    - Eu ia voltar mais cedo, mas sua dona trouxa resolveu jantar no restaurante que tem na companhia da Isabel. Sim, a ex que eu vivo comentando que eu gostava. É gostava, no passado. Devo me acostumar a tratar a espanhola como o meu passado.

 

    Meu cachorro me olhava como se realmente compreendesse tudo o que se passava.

 

    - Mas... eu não quero falar sobre aquela cretina que me beija e depois me pede para ser colega - bufei. - Vamos pensar somente em coisa boa, amanhã tem Gi e praia.

 

    Chico ao ouvir ‘Gi', agitou-se no meu colo e latiu. Esses dois se amam. Essa bola de pelos até esquece de mim quando a pequena chega.

 

    Fui andando até o meu quarto e o coloquei na cama.

 

    - Hoje você dorme comigo. Só preciso de um banho e já volto.

 

    Prometi para mim durante o banho que esta foi a última vez que corri atrás da Isabel. Na verdade, fiz várias promessas, e todas relacionadas com deixar a atriz longe da minha vida.

 

    Quando sai do banheiro, fui até o closet, coloquei uma camisola confortável e vi o meu passado ali.  Sem pensar duas vezes, peguei uma mala e coloquei o resto das roupas que a Isabel deixou.

 

     Fiz isso o mais rápido que consegui, sem nem parar para respirar. Em 20 minutos eu já estava deitada na minha cama com o Chico. Pela primeira vez eu não reclamei a falta do corpo da Isa comigo.

 

 

--No dia seguinte--

 

 

    Enviei uma mensagem para a Nina pedindo para ela descer com a Gi.

 

    Me certifiquei da hora, 9:30. É o horário marcado para buscar a minha filha. Se não tiver trânsito, em três horas estarei no litoral norte de São Paulo.

 

    Avistei a minha pequena com a cara nada boa e sua babá saindo pela portaria.

 

    Giovanna tem um bico enorme no rosto, estranhei. Era para ela estar radiante pelo final de semana.

 

    De mãos dadas, as duas atravessaram a rua com segurança e chegaram até mim.

 

    - Bom dia, dona Helena.

 

    - Bom dia, Nina. Já não te pedi para parar com esse ‘dona'? - A babá sorriu e acenou positivamente com a cabeça. - Bom dia, Gi. Está tudo bem?

 

    Minha filha negou com a cabeça e esticou os braços para cima.

 

    A peguei no colo e beijei sua bochecha.

 

    - O que foi, meu amor? - Perguntei.

 

    - A Nina não me deixou acordar a mamá. Queria dizer ‘tchau'.

 

    Olhei confusa para a babá. Isabel Casañas dormindo até tarde? Nunca vi isso. Sempre foi a primeira a acordar de nós duas.

 

    - A dona Isabel chegou muito tarde e... bem, a porta do quarto dela está trancada - Nina respondeu o meu olhar questionador.

 

    Rolei os olhos para cima, procurei fingir que nem ouvi a última frase dita.

 

    - Su mamá precisa descansar mais, Gi. Depois fazemos uma ligação e vocês conversam.

 

    A pequena não se animou com a proposta e continuou séria.

 

    - Hum... Gi, você sabe quem está no carro te esperando para fazer companhia? O Chico! Vamos entrar logo? Quanto mais cedo formos, mais a gente aproveita o mar.

 

    Como previ, Giovanna abriu um sorriso. Foi o que pensei para distraí-la e funcionou. Aproveitei para colocá-la na cadeirinha.

 

    - Comportem-se! - Disse aos dois fechando a porta.

 

    Sorri para a babá que estava apreensiva. Abri o porta-malas para colocar a pequena mala da minha pequena.

 

    - O que foi, Nina? - Perguntei logo depois de fechar a porta.

 

    - Eu tenho que ir para casa, mas a senhora... digo, você acha melhor eu ficar até a dona Isabel se levantar? Ela nunca dorme até essa hora, talvez esteja doente.

 

    - Vá para casa, Nina. Isabel já é grandinha e sabe se cuidar de uma boa farra.

 

    Me despedi da babá desejando um bom final de semana. Olhei para o prédio que a espanhola mora, senti uma tristeza, mas logo balancei a cabeça e entrei no meu veículo.

 

    Foda-se a Isabel.

 

    Músicas infantis nos acompanharam pelas curvas da rodovia. Giovanna não esqueceu de que não se despediu de sua mamá, mas se animou com o final de semana que programei.

 

    Cheguei na casa de praia que aluguei perto do horário de almoço. O trânsito ajudou-nos.

 

    - Mamãe, eu e o Chico queremos praia.

 

    Giovanna é grande para a idade que tem, mas vê-la segurando o cachorro no colo com dificuldade é uma das cenas mais fofas que gosto de ver na vida.

 

    - O sol está queimando, filha. Eu vou preparar o almoço enquanto a tia Nat não chega e depois nós vamos à praia.

 

    - Tá... então, eu posso brincar com o Chico lá fora?

 

    - Nem pensar! Tem uma piscina enorme, é perigoso você cair. Assiste TV aqui na sala ou vamos até a cozinha para você criticar o meu modo de cozinhar.

 

    Gi soltou sua risada infantil pela lembrança das comparações que fazia de mim com sua outra mãe e levou o Chico com ela até o sofá. Liguei a televisão e coloquei em um canal de desenhos animados.

 

    Fui até os quartos ajeitar as malas e desci direto para a cozinha. Peguei as sacolas de compras que trouxe, , resolvi preparar peito de frango acompanhado de legumes. Simples e rápido.

 

    - Mamãe, yo quiero hablar con mi mamá.

 

    Assenti para a pequena e liguei para a Isa do meu celular.

 

    Quando a atriz atendeu, a pequena voltou para a sala com o aparelho.

 

    Como eu queria que a espanhola estivesse aqui, mas não como foi na última vez.

 

    " - Amor? Você vai realmente ficar trancada neste quarto com o dia lindo que está fazendo lá fora? - Perguntei à Isabel.

 

    Um feriado prolongado inteiro com as minhas amigas na praia foi meticulosamente planejado por mim, mas Isa estava totalmente fora da felicidade que rolava no jardim de uma enorme casa no litoral sul de São Paulo.

 

    A madrilenha continuou lendo um livro, me ignorou por completo.

 

    - Isabel! - A chamei tirando o livro de suas mãos.

 

    - Puta que parió! ¿Qué pasa? Perdi a página que estava.

 

    - ¿Qué pasa? Pasa que está todo mundo lá na piscina se divertindo e você aqui sozinha com cara de poucos amigos. O que está acontecendo?

 

    - Nadie! Yo solo quiero quedarme aqui e descansar. Devolve o livro, Helena.

 

    Seu espanhol chamou a minha atenção para um nervosismo inexplicável.

 

    - Mas meu amor, quinta e ontem você ficou distante e passou quase o dia inteiro neste quarto, só saiu para cozinhar. Se fosse para ficar lendo, dormindo e comendo, a gente fazia isso em casa.

 

    - Eu estou cansada, Helena! Trabalhei na companhia, gravei o programa, fiz várias reuniões para poder adiantar as coisas e passar o feriado aqui.

 

    - Você mente muito mal, Isa. Eu sei que o seu problema é comigo. Anda, fala o que eu fiz. Ou o que eu não fiz.

 

    Estudei os olhos enigmáticos da minha mulher. Ela não estava apenas longe das pessoas, mas procurava distância de mim também. Além de não me chamar de ‘cariño' desde antes da viagem, mal trocava 10 palavras comigo.

 

    Estamos vivendo o nosso pior altos e baixos nos últimos meses. Quando penso que está tudo bem, Casañas muda de uma hora para outra.

 

    - Tú no fez nada, Helena. És realmente um cansaço.

 

    - Se você continuar agindo desse jeito, me escondendo coisas, vamos acabar na lama. É só você me contar o que está acontecendo que tudo vai se ajeitar.

 

    Isa desviou o olhar para a janela e ficou pensativa. Não disse nada.

 

    - Amor, você tem alguma coisa contra uma das minhas amigas? É isso?

 

    - No! No tenho nada contra nenhuma. ¿Por que no crees que es solo cansancio?

 

    - Porque eu te conheço. Mas se você não quer falar, não posso te obrigar - disse dando as costas para a espanhola para sair do quarto.

 

    - Helena, espera...

 

    Virei-me com esperança.

 

    - O meu livro - ela apontou com a cabeça para as minhas mãos.

 

    Caminhei de volta na sua direção e o joguei em seu colo. Nossos olhos se conectaram e a raiva de um primeiro momento foi dando lugar ao carinho. A espanhola sorriu de lado e ajeitou os seus óculos no rosto.

 

    - Esse é o livro que estou lendo. Estamos quase na mesma parte, não me dê spoiler - pedi como trégua.

 

    - Sente-se aqui na cama comigo, cariño. Vamos ler um pouco juntas.

 

    Sem procurar entender sua atitude, não recusei o seu convite. Sentei-me ao seu lado e a abracei. Encaixei o meu rosto em seu ombro enquanto ela procurava pela página que estava. Quando Isabel encontrou, beijou a minha testa com carinho e me abraçou pela cintura também. Nos encaixamos com perfeição.

 

    - Isa, eu te amo tanto, tanto, tanto. A próxima vez, a gente vem sozinhas ou só com a Gi. Te prometo, tá?"

 

    Não houve outra vez e Isabel pareceu ter adivinhado pois não respondeu. Ficamos naquela posição por horas, sem questionamentos. Essa foi apenas uma das inúmeras vezes que resolvemos ficar bem através do silêncio. Não lembro exatamente por quantos dias conseguimos deixar-nos levar pela trégua, mas tenho certeza de que não durou por muito tempo. A verdade é que nos estranhamos muito e eu nunca procurei saber o porquê.

 

    - Mamãe? - Giovanna sacudiu o meu celular na minha frente.

 

    Peguei o aparelho e verifiquei se a Isa ainda estava na linha. Não está.

 

    - Falou com a sua mamá? Ela está bem?

 

    - Sim. Quero praia, mamãe.

 

    - Só depois do almoço, Gi.

 

    - CHEGUEI!!!

 

    - Tia Nat!

 

    Giovanna correu para os braços da minha melhor amiga que a rodopiou.

 

    - Tudo bem, princesa? - Perguntou.

 

    - Tudo sim, tia Nat. Mamãe está chata, só vai ter praia depois do almoço e ela nem começou ainda.

 

    Natália deu risada e saiu carregando a Gi com ela para fora da cozinha.

 

    - Vamos sair antes que sobre para nós esse almoço.

 

    As duas me deixaram sozinha e só me restou começar a cortar os legumes.

 

    Deixei o meu celular em cima da mesa, mas os meus dedos voltaram a tocá-lo. O desbloqueei com a minha digital e abri o aplicativo de mensagem.

 

    Helena: Está tudo bem, Isabel? Nina me disse que você ainda estava dormindo, fiquei preocupada (13:34).

 

    Enviei a mensagem e larguei o aparelho por lá.

 

    Depois que terminei de cortar os legumes e os coloquei para cozinhar, o meu celular deu sinal de vida.

 

    Isabel: Tudo bien y você? Fiquei até tarde no Arte, precisava descansar um pouco mais (13:51).

 

    Isabel mentiu. Pior, sem necessidade nenhuma. Por que falar que estava no Arte? O que ela está me escondendo?

 

    - Hello! Terra chamando Helena Carvalho - Natália se materializou-se na minha frente. - Está tudo bem, amiga? Você está pálida.

 

    - Isabel está com outra pessoa - falei de uma vez.

 

    - O quê? Como assim? Me conta essa história direito.

 

    - Mais tarde, Nat. Preciso terminar logo essa comida.

 

    Peguei o peito de frango para temperar e Natália mesmo não querendo acabou me ajudando.

Sua companhia foi essencial para me distrair.

 

    O almoço foi muito conversado, mas não por mim. Nat parece voltar a ser criança quando se reuni com a Giovanna.

 

    A pequena comeu o mais rápido que conseguiu e dispensou uma fruta de sobremesa quando finalmente convenceu a minha amiga ir à praia com ela enquanto eu cuido da louça.

 

    Sentindo a empolgação da Gi, foi difícil não permitir sua ida assim que ela voltou do seu quarto com os dentes já escovados. Não resisti aos seus olhinhos brilhantes e as duas partiram para a areia com o Chico.

 

    O silêncio me deixou angustiada. Lavei os poucos pratos e panelas usadas com rapidez, caminhei até o meu quarto e coloquei um biquíni violeta.

 

    Não demorei para sair de casa e atravessar a avenida para encontrar a Natália sentada e a Giovanna brincando com o Chico por perto.

 

    - Elisa não quis vir mesmo? - Perguntei me sentando ao lado da Nat em uma cadeira de praia.

 

    - Não, ela disse que tem muito trabalho - respondeu.

 

    - Ela está estranha, não é?! Semana retrasada a chamei para jantar em casa e ela recusou. Nos últimos meses só me responde direito quando é sobre trabalho.

 

    - Comigo ela está normal, ontem mesmo jantamos juntas.

 

    - Ah é? Ah, mas a dona Elisa está lascada comigo agora.

 

    Natália olhou seriamente para mim e eu ignorei o seu olhar voltando a minha atenção à Giovanna que estava sentada mais à frente tentando pegar um pouco de areia com a pá de brinquedo enquanto o Chico descansava da correria.

 

    - Vai ficar tentando caçar assunto até quando? Conta logo o que quero saber, Helena.

 

    Sem saída, contei detalhe por detalhe sobre o dia de ontem. O beijo, os olhares, a nossa desastrosa conversa e a minha burrice de ir até o Arte.

 

    -... Então, ela mentiu sem necessidade nenhuma porque não quer que eu saiba que ela está namorando, ou ficando, seja lá o que for.

 

    A amiga mais nova ficou pensativa, teceu poucos comentários enquanto eu falava.

 

    - Qual é, amiga? Insistiu para saber e agora não vai dar nem uma opinião? - Questionei.

 

    - Eu só estou pensando. Se eu estou confusa, imagino você. Algo não está se encaixando nisso. Se ela está namorando, qual o problema de te contar? A Gi saberia. Mas também, se pararmos para pensar, pode fazer sentido ela estar ainda conhecendo uma pessoa e não querer expor. Mas, Helena, você a beijou e sabemos quando somos correspondidas. Por que a Isabel iria te beijar de volta, sair correndo, se não sentiu nada?

 

    - Sei lá, deve que ela se diverte por saber que ainda sou apaixonada. Aliás, fui apaixonada. Tenho que fazer esse exercício de falar as coisas no passado.

 

    - Bobagem, amiga. Mas você disse isso? Que ainda gosta dela?

 

    - E precisa, Nat? É só ela olhar em meus olhos que vai ver que além de gostar muito dela.

 

    - Complicado, porque você falou várias vezes que os olhos dela te diziam que ela ainda te ama. Já parou pensou que ela te agride com palavras para usar isso como defesa pois morre de medo de ainda te amar?

 

    Um sorriso começou a querer brotar no meu rosto. Natália Viera tacou gasolina e acendeu a chama do meu amor pela Isabel.

 

    "Acho que apenas nos beijamos por causa da tensão criada. Nuestras brigas só serviram para alimentar una ilusión de que há amor entre nós. Mas para mim foi a confirmação de que não existe mais".

 

    Pronto, bastou me recordar de suas palavras e sua indiferença para que meu coração se fechasse novamente.

 

    - Quem? A Isabel? Amiga, ela não me ama mais. Isso ficou bem claro. Essa minha visão foi o meu coração idiota querendo me iludir. Os olhos dela são traiçoeiros.

 

    - Helena, o que você quer de verdade?

 

    - Sabe, Nat. Eu queria esquecer a Isabel assim - estralei os dedos para me expressar. - Mas eu não consigo.

 

    - Você nunca tentou, amiga. Você sempre alimentou esse amor mesmo após a separação. A tua casa grita Isabel. Cada móveis escolhidos por ela, cada detalhe que eu sei: é o gosto dela. Está tudo exatamente como era há um ano. Os porta-retratos que ela ama, fotos de vocês juntas ou com a Giovanna. Você não tem vida, Helena.

 

    - Está enganada, ontem mesmo eu peguei o resto das roupas dela que ficaram e coloquei em uma mala para a doação.

 

    - E os detalhes pela casa?

 

    - Não posso mudar tudo de um dia para o outro.

 

    - Você pode mudar de casa, isso foram só exemplos. Mas e o seu coração?

 

    - Eu sei que você gostaria que eu saísse, conhecesse alguém, mas eu realmente pensei que voltar a conviver com a Isabel fosse me fazer voltar com ela. Nunca estive tão enganada na minha vida. Desde que nos aproximamos só levei na cara.

 

    - Eu sinto muito, Helena. A Isabel não te merece.

 

    - Você nunca gostou dela, não é? - Sorri de lado.

 

    - Nunca morri de amores, mas reconheço que ela te fazia feliz no casamento. Mas depois, o jeito que ela te tratava, tentou praticamente tirar a Gi de você, tem como gostar? Ela tem suas virtudes, é legal, mas ultimamente só fez merd*.

 

    Parei para pensar e cheguei à conclusão de que a Natália está certa.

 

    - Mas agora acabou. Foi até bom ter acontecido tudo isso porque assim eu me sinto mais inteira para enterrar esse resto de amor que ainda sinto.

 

    - Isso quer dizer que...?

 

    - Que eu cansei. Isabel na minha vida será apenas, como ela disse, a mãe da Gi e minha colega de trabajo.

 

    - Até quando, Helena? Até pintar um clima entre vocês de novo?

- Serão apenas mais três meses de Atuando. Eu posso muito bem conviver ignorando-a. Isabel já tem outra e eu vou buscar uma maneira de ser feliz sem ela.

 

    Levantei-me e fiz a minha sócia fazer o mesmo, a abracei e a agradeci por me ouvir e ela falou mais algumas palavras me dando força. Giovanna se juntou a nós no abraço para logo depois corrermos para o mar.

 

    Dei um mergulho para lavar minha alma, renovar minhas energias. Vida nova.

Fim do capítulo


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Comentários para 9 - Tentativa em vão:
GabiVasco
GabiVasco

Em: 09/11/2020

Entendo completamente a Helena, para um bom entendedor meia palavra basta, atitude ridícula da Isabel 

Responder

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ritapin
ritapin

Em: 03/11/2020

Gente! Difícil essa Isabel hein... 


Resposta do autor:

Complicada, não é?!

 

Abs!

Responder

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lidi
lidi

Em: 02/11/2020

Volta logo. 


Resposta do autor:

Sempre volto.

 

Abs.

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Baiana
Baiana

Em: 02/11/2020

Ótimo a Helena começar a se desapegar,quem sabe assim a Isabel acorde para a vida e veja o que perdeu,melhor ainda se a Helena arrumar outra,ou outras


Resposta do autor:

Eita, outras... hahahaha

 

Abs!

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