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Nossa canção inesperada por Kiss Potter

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Palavras: 10700
Acessos: 1582   |  Postado em: 29/10/2020

Capitulo 45 - Segredos

 

Capítulo 45 – Segredos

 

Pov Liz

             

              Naquela noite, a rockeira não conseguiu dormir propriamente. Primeiro que foi terrível conseguir ao menos pegar no sono, pensando em tudo o que estava acontecendo. Sua mente apavorada criava teorias, uma mais louca e dolorosa do que a outra. Segundo, porque passou a madrugada inteira tendo vários sonhos esquisitos.

Se Lia estivesse ali em sua cama, dormindo ao seu lado, talvez tivesse conseguido descansar um pouco. Liz suspirou pesadamente ao pensar na namorada. Se sentia culpada por envolvê-la cada vez mais naquela loucura, nem mesmo havia ligado para ela ainda para contar sobre a triste novidade.

Seu peito se enchia de culpa e angústia. Talvez fosse melhor dar uma certa distância entre elas. Não conseguia nem suportar a ideia de sua irritadinha correr perigo apenas por ser sua namorada, era doloroso demais ao menos cogitar isso.

Lá pelas quatro da manhã, desistiu de tentar adormecer novamente e levantou-se da cama ainda completamente nua. Inquieta, vestiu-se com seu roupão preto e andou à esmo pelo quarto. Bem no canto do cômodo viu o violão preto que fora de sua mãe. Naquele momento, sentiu as entranhas comprimirem.

Tinha que saber se Flávio havia sido responsável pela morte de seus pais também. Não sabia como iria remexer nesse passado doloroso, mas depois das últimas revelações precisava saber a verdade. Sabia que só teria algum sossego e paz com isso.

Liz pegou o violão delicadamente por entre as mãos e em uma atitude de medo e fragilidade, abraçou o instrumento na esperança de sentir mais a presença de sua mãe. Geralmente ela costumava fazer aquilo quando era mais jovem, pouco tempo depois do acidente de Elena. Sem ao menos perceber, lágrimas já desabavam de seus olhos e precisou conter para que o soluço não soasse alto. Estava verdadeiramente perdida e sem saber o que fazer.

Sentou-se na poltrona macia que tinha ali e chorou por incontáveis minutos. Seus pensamentos e teorias não lhe davam sossego. Precisava fazer algo para poder se acalmar. Automaticamente seus dedos começaram a dedilhar as cordas do violão em uma melodia suave qualquer, enquanto observava o céu ainda negro através da janela de vidro da varanda.

Somente naquele momento, percebeu que já fazia um bom tempo que não havia mais tocado o instrumento. Enxugou as lágrimas que embaçavam a sua visão e respirou fundo. Começou a tocar a música que estranhamente mais lhe acalmava. “There she goes” a música preferida de sua mãe.

              Assim como no passado, tanto quanto agora, música ainda era algo que conseguia distrair a sua mente e ficou grata por isso. Sendo sincera consigo mesma, gostava de paz e de sua mente tranquila. Será que valia à pena se arriscar tanto assim por uma empresa e dinheiro? Será que a preservação de um nome valia todo aquele perigo?

              Sua vontade era de vender de vez sua parte naquela empresa e convencer a tia a fazer o mesmo. As duas já eram ricas o suficiente para o resto da vida, não precisariam se preocupar com nada e Liz conseguiria viver o resto de sua vida apenas de música tranquilamente. Aquilo sim era um lindo sonho.

Mais uma vez, estava sentindo o peso de ser uma Vargas de Moraes. Era uma droga!

              Passou-se quatro e meia, cinco, cinco e meia... e finalmente o sol raiou. Assim que o relógio marcou seis horas, ouviu seu telefone sinalizar com o toque de uma notificação. Sua respiração ficou presa na garganta por poucos segundos e foi até ele, ver o que se tratava. Era uma mensagem de Lia.

              Desbloqueou a tela com ansiedade. Ela não costumava lhe mandar mensagens assim tão cedo e já ficou pensando no que poderia ter acontecido, foi inevitável. Ao abrir a conversar, leu rapidamente:

              Lia: “Eu tive um sonho tão esquisito. Não consegui dormir bem à noite. Você está bem, amor? ”

              Liz apenas teve ainda mais vontade de chorar. Não havia outro nome para aquilo além de conexão. Lia estar falando com ela tão cedo e dizendo tudo aquilo. As duas se sentiam de uma forma inexplicável, era quase como um sexto sentido. Ela era a única coisa que lhe deixava vulnerável e forte ao mesmo tempo e não conseguia mensurar em palavras o quanto aquilo lhe era importante e especial.

              Então, respondeu a mensagem dela de forma simples:

              Liz: “Estou bem. Hoje o dia será agitado. Falo com você assim que puder. Bjs ”

              Acabou cochilando sentada no sofá e acordou-se bem depois, sentindo seu corpo totalmente dolorido. Era quase como se estivesse febril. Levantou-se para tirar o roupão e ir tomar um banho de piscina para relaxar, quando alguém bateu em sua porta. Eram Vitória e Tomás. Os dois estavam sérios e preocupados.

              — Você já sabe que quem fez isso foi o seu tio Flávio? — O primo antecipou-se.

              — Sei sim — admitiu envergonhada ao ouvir a parte “seu tio”. — Eu nem sei o que dizer, pessoal. Eu não esperava tudo isso dele.

              — Eu espero que ele seja preso e pague pelo que fez! — Vitória cuspiu as palavras e Liz viu que lágrimas caíram de seus olhos. — Como um cara desses teve coragem de fazer o que fez? E ele é praticamente família.

              — A vontade que eu tenho é de dar um tiro nesse escroto...

              — Calma, Tomás... — a irmã tentou acalmá-lo, mas ele afastou-se dela e continuou.

              — CALMA O CACETE, VITÓRIA! — gritou irado. Liz nunca havia visto o primo assim antes. — Ele quis matar a nossa mãe.

              O primo levou as mãos até a face e sentou-se em sua poltrona. A rockeira e a loira trocaram olhares pesarosos e Vitória ajoelhou-se próximo a ele, afagando os seus cabelos e abraçando-o. Liz quis se aproximar, mas ficou meio sem jeito. Entendia a ira dele e sentia vontade de fazer a mesma coisa, mas agora estava nas mãos da polícia.

              — Ele vai pagar pelo que fez, irmão — a loira voltou a dizer na esperança de acalmá-lo. — Flávio já está detido...

              — Você já viu algum rico se dar mal na porr* desse país, Vitória? — rebateu enraivecido.

              Naquele momento Liz tinha que concordar com ele. Muito embora amasse o seu país, não fechava os olhos para os problemas de desigualdade que existiam ali e pensar que Flávio pudesse conseguir a liberdade, lhe revirou o estômago. Sentiu a ira fervilhar por suas veias.

              — O que o Flávio fez foi muito sério e monstruoso — pronunciou-se pela primeira vez e os dois lhe olharam. — Mesmo sabendo como são as coisas por aqui, ele não vai se livrar disso tão cedo.

              — Assim eu espero! — Tomás disse e apenas encarou o chão.

              — Como você pode ser parente desse homem, Liz? Não tem nada a ver.

              — Eu nunca me dei muito bem com a família do meu pai. Nunca gostei muito deles — divagou consigo mesma e apenas conseguia sentir tristeza em ter que admitir. — O Flávio nunca foi o exemplo em pessoa, mas isso... isso foi demais para mim!

              — Oh prima! — Vitória foi até ela e abraçou-a. — Sinto muito por tudo. Deve ser muito difícil.

              — Um pouco, mas o mais importante é que ele foi desmascarado de uma vez por todas!

              — Eu não consegui nem ler todas as mensagens que foram trocadas entre ele e aquele homem — O primo voltou a falar e balançou a cabeça negativamente. — Tem que ser muito psicopata para ter planejado. Em troca de quê ele faria isso?

              — Rá! — Liz exclamou sem humor. — Ele é louco para ser o principal CEO da empresa faz tempo. Ele já fez inúmeras propostas para comprar a minha parte na empresa, mas tia Luísa nunca deixou...

              — Canalha ganancioso! — Vitória disse. — É muita maldade alguém fazer isso.

              — Por mim a mamãe se desfazia dessa empresa de uma vez por todas! — O primo declarou. — Só traz problemas e preocupações e agora ainda corre perigo de vida. Sim, porque não sabemos se ele não vai mais tentar nada. Agora mesmo é que ele vai ficar louco de ódio por ter sido preso. Vocês já pensaram nisso?

              — Já sim! — Liz respondeu de volta. Era só nisso que pensava. — A gente não pode se confiar. Ele pode continuar querendo nos fazer mal. Eu não duvido de nada!

              — Eu vou mandar Jeniffer de volta para os Estados Unidos — Vitória disse baixinho e parecendo pensativa. — Não posso deixar ela aqui correndo perigo por minha causa!

              — Mas isso tem que ser uma decisão dela, Vi — o irmão disse racionalmente. — Ela sabe de tudo?

              — Ela sabe que está rolando algo errado e eu mesma falei que era sério, mas não entrei em detalhes — A prima depois a olhou fixamente e perguntou: — A Lia sabe de tudo? Você também não tem medo que aconteça algo a ela?

              O estômago de Liz revirou. A prima estava tomando a atitude correta e entendeu mais ainda que agora era a hora de deixar Lia mais um pouco afastada daquela loucura, por mais que doesse pensar nisso, mas sabia que era o certo. Não iria suportar se algo acontecesse a ela.

              — Eu contei tudo sim, mas você está certa. Eu tenho medo por ela, não quero nem pensar.

              Os três permaneceram em silêncio por alguns segundos depois daquilo, cada um com seus próprios medos.

              — Como está tia Luísa? — perguntou para não pensar mais no assunto.

              — Abalada. A gente dormiu com ela ontem — Tomás respondeu tristemente. — Minha mãe não merece passar por isso. Puta que pariu!

              Quando eles desceram a tia estava deitada no sofá da sala, apenas mexendo em seu Ipad e Liz de longe viu as olheiras de cansaço. Com certeza a noite dela havia sido tão horrível quanto a sua. Assim que ela os viu, abriu um singelo sorriso. Os três se colocaram à sua volta e pela primeira vez Liz a sentiu realmente vulnerável com tudo o que acontecia. Era péssima vê-la assim, logo Luísa que era sempre uma presença enérgica e imponente.

              — Pelo menos uma coisa boa eu consegui com tudo isso! — Luísa falou compassadamente.

              — Como assim, mãe? — Vitória perguntou, segurando sua mão.

              — Os meus maiores tesouros perto de mim — Declarou a tia e em seguida ela deu um beijo na mão de Vitória. — Vocês três.

              Foi inevitável não chorar. Tomás inclinou-se e a rockeira ficou um pouco mais afastada apenas apreciando a cena. Liz tinha razão, somente por aquele motivo os três haviam voltado e ficado perto dela o tempo todo. Luísa era uma mulher solitária, mas que prezava bastante pela família que tinha. Era um exemplo de matriarca a ser seguido.

              Liz limpou uma lágrima rapidamente e quando os três cessaram o abraço, a tia a olhou por um longo tempo. Por impulso, quis se jogar no abraço tão caloroso e materno dela, mas refreou-se. Não gostava de demonstrar muitas emoções na frente das pessoas. Só havia quebrado na frente de três pessoas desde a adolescência até agora: Lia, Luísa e Jack.

              A rockeira apenas segurou firme na mão dela, beijou-a com devoção e declarou em tom embargado:

              — A senhora sempre vai me ter do seu lado. Não importa o que aconteça, ok?

              Luísa lhe abriu um lindo sorriso e acariciou sua face.

              — Eu só quero vocês três em segurança. O resto não importa.

              — Se não importa então, será que está na hora da senhora se desfazer da empresa? — Tomás falou seriamente, olhando a mãe. — É sério!

              Luísa olhou para o filho como se ele falasse um absurdo, mas apenas suspirou e disse:

              — Precisamos ter calma e não fazer nada precipitado.

              — O Tomás tem um ponto, mãe — Vitória concordou. — Eu ficaria bem mais aliviada. A senhora poderia vender sua parte e ir embora com a gente morar nos Estados Unidos.

              Liz apenas ouviu toda a conversa de longe. Até que não era uma má ideia, mas tinha certeza que a tia jamais agiria dessa forma, fugindo e se escondendo. Ela amava aquela empresa e tinha muitas responsabilidades no momento. Luísa sorriu e acariciou a face dos filhos com carinho.

              — Eu posso pensar nisso mais para frente, mas não agora, meus amores. Tenho muitas responsabilidades e sei que vamos passar por um mal momento com todo esse escândalo.

              — Foda-se a empresa, mãe! — Tomás protestou alterado. — A senhora quase morreu por causa disso. Deus sabe o que mais o Flávio pode fazer. Vale à pena para você?

              — É minha decisão final, Tomás! — Luísa disse firmemente pondo fim na conversa. — Vocês precisam confiar em mim.

              Dito isso, os filhos se calaram. Tomar café-da-manhã foi difícil. Todos estavam com o apetite afetado então Silvia retirou muita comida intacta da mesa. Liz decidiu que ficaria em casa naquele dia. Não teria cabeça nenhuma para o trabalho e queria apenas ficar perto da tia. Na verdade, os três passaram o dia todo com ela.

              Liz ainda criava coragem de ligar para Lia contando tudo o que acontecera. Por algum motivo era muito difícil compartilhar aquelas informações, pois, temia que quanto mais ela soubesse, mais perigo corresse. Se bem que a prisão de um CEO de uma das maiores empresas do Brasil seria uma notícia que logo se espalharia e criando coragem, ligou para ela, contando que Flávio finalmente havia sido preso.

              — Puta que pariu, Liz! — a irritadinha exclamou estupefata ao ouvir todo o seu relato. — Sinto muito, amor. Sei que você queria se aproximar dele, sinto muito mesmo!

              — Eu não quero conversa com aquele assassino! — sentiu raiva ao lembrar do pensamento de que ele poderia estar mudando. — Me sinto uma estúpida por ao menos ter pensado nisso!

              — Você está onde agora? — perguntou preocupada.

              — Estou aqui no condomínio. Não tive disposição para ir ao trabalho hoje. Resolvi ficar aqui com a tia Luísa.

              — Como ela está com tudo isso?           

              — Extremamente abalada. Tivemos uma péssima noite de sono.

              — Eu passei a noite sonhando e sentindo uma angústia. Não sabia o que era. Pensei logo em você e mandei aquela mensagem — comentou em tom triste. — Por que não me contou logo o que tinha acontecido?

              Liz suspirou e pensou por alguns segundos. Não havia falado logo porque estava confusa e com medo. Eram tantas coisas. Queria contar tudo a ela e desabafar. Contar todas as suas loucas teorias. Algo dentro dela dizia que aquilo tudo era um erro. Alguma coisa estava muita estranha nisso tudo, mas apenas calou-se. Havia pensado por horas no que dizer a ela e resolveu não contar tudo.

              — Desculpe, linda. Eu só fiquei com vergonha de admitir que ele havia mesmo feito isso. Sei lá... eu fui dormir tão mal e tão confusa. Aliás, eu não dormi quase nada, isso sim.

              — Tudo bem, te entendo — ela respondeu compreensiva. — Eu só quero que saiba que estou com você para o que der e vier, ok?

              — Eu sei. Obrigada por tudo!

              — Você não tem que me agradecer. Só queria te dar um abraço agora. Te fazer relaxar.

              A rockeira fechou os olhos, se sentindo já acariciada pelas palavras dela. Conseguiu relaxar um pouco apenas ao ouvir a voz dela. Era difícil não poder contar com a sua ajuda.

              — Falando nisso, Lia — começou com pesar. — Eu não vou poder ir te ver esse fim de semana. Vai ser uma loucura por aqui. Sinto muito!

              — Sério?! — exclamou com admiração. — Eu achava que você iria querer se afastar de tudo. Você quer que eu vá?

              — Querer eu quero, mas é melhor você ficar aí mesmo. Além de não querer piorar as coisas com seus pais eu também não quero te envolver nessa loucura toda!

              — Para com isso, Liz! — Lia ralhou toda bravinha. — Porr*! Eu já disse que vou ficar do seu lado e outra, pelos meus pais piorou. Eles não estão nem olhando na minha cara. Seria ótimo sair logo de casa.

              A rockeira ficou alguns segundos pensando no que ela acabara de dizer. Sair logo de casa. Mais uma vez ela estava dando alguns indícios sobre aceitar sua proposta. Há algumas semanas atrás nada teria lhe feito tão feliz, mas agora não era o momento. Não estava nem com cabeça para aquilo.

              — Tem um pouco de paciência, ok? — tentou acalmá-la. — Tenta conversar com eles.

              — Eu vou ficar na minha, só isso! Tem certeza que não quer que eu vá?

              — É melhor você ficar aí mesmo. Vou fazer de tudo para ir o mais rápido possível.

              Ouviu quando ela suspirou pesadamente do outro lado da linha.

              — Ok.

              — Eu preciso desligar agora. Assim que eu puder falo com você.

              — Tudo bem. Te amo muito, viu?!

              Seus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir aquilo. Lia não fazia ideia do poder que exercia sobre si.

              — Eu também, se cuida!

              Não sabia até quando Lia aguentaria essa distância entre as duas, mas pensaria no que fazer até lá. Perto do meio dia Artur ligou dando notícias de que a prisão de Flávio já havia se espalhado por toda a empresa e que os investidores já estavam pedindo uma reunião para a tarde com urgência. Estavam apenas as duas no quarto da tia naquele momento.

              — Precisamos ir até essa reunião, Liz! — Luísa declarou parecendo cansada. — Vamos entrar em um momento turbulento, eu sei disso.

              — A senhora já está se sentindo melhor para ir até lá?

              A tia já estava andando muito bem, apenas com o auxílio de uma bengala, mas mesmo apesar de seus avanços com a fisioterapia, ainda assim, os médicos diziam que ela não deveria fazer muito esforço ou se estressar demais, mal havia passado um mês desde o acidente.

              — Estou bem o suficiente para isso, ao menos! Vai ser um escândalo quando eles souberem o motivo da prisão de Flávio. Eu não quero nem pensar no quanto isso vai ser exaustivo.

              — Alguma notícia dele, falando nisso? — Liz estava curiosa em como ele iria se comportar indo para detrás das grades.

              — Artur disse que ele está negando tudo, é claro! Ele está detido em uma cela especial no momento.

              — É claro que ele vai negar tudo — Liz respondeu de forma cínica. Por algum motivo, ela queria sentar cara a cara com Flávio. Apesar do medo, tinha essa vontade. — Isso tudo é surreal para mim. Todas essas conversas com o outro homem. É tão estranho!

              — Estranho, por quê? — Luísa franziu o cenho.

              — Eu não sei. Foi muito fácil, não acha? — perguntou incerta. Tinha suspeitas, mas poderia apenas estar paranoica com toda a situação. — Quer dizer... como ele pode ter mandando mensagens do próprio número achando que ninguém ia descobrir?!

              — Eu já me fiz a mesma pergunta. Hugo também achou estranho, mas ele explicou tudo. O homem que mexeu no meu carro não apareceu ainda. Na verdade, nesse momento, Flávio está sendo interrogado pelo sumiço dele também. Estão achando que ele mandou apagar o mecânico para que não desse com a língua nos dentes.

              — Isso é uma loucura! Parece coisa de filme italiano.

              — Flávio não vai se render tão facilmente. Eu o conheço. Estou com tanto medo. Não sei do que ele é capaz! — Luísa levou a mão até os olhos e dessa vez, Liz se aproximou para abraça-la. — Ele tem que ficar preso ou não vou mais ter sossego e paz.

              — Tia! Será que o que os meninos disseram não é o melhor? Vender tudo e ir embora daqui. Seria mais seguro!

              A tia suspirou e Liz viu que ela tinha os olhos cheios de lágrimas.

              — Vamos só resolver essa situação até o final. Depois eu posso pensar nisso. Essas coisas levam tempo com a justiça. Não vai ser fácil.

              — Mas será que ele tem mesmo alguma chance de não ficar preso? Quer dizer... tem mensagens no celular particular dele. Flávio está fudido, eu tenho certeza disso.

              Luísa sorriu sem humor e balançou a cabeça. Ela estava frágil como nunca.

              — Eu só queria entender o porquê de ele ter feito algo assim. Foi monstruoso. Nós somos praticamente família.

              — Eu sei tia. O que eu mais quero é olhar para cara do Flávio e perguntar isso... — respondeu irada. Estava com essa raiva misturada a tristeza o tempo todo desde que soubera de tudo. — Se eu pudesse...

              — Shhiu! Não vamos perder tempo com esse crápula, minha menina rebelde. Eu não quero mais ele estragando essa família.

              Aquilo deixou Liz pensativa se abriu para a tia sobre o que rodeava seus pensamentos novamente.

              — Será que ele tem algo a ver com a morte dos meus pais?

              — Sabendo de tudo o que sei agora, eu diria que talvez sim. Eu não duvido. Ele quer a empresa desde sempre.

              — Me dá ânsia só de pensar nisso. Será que podemos pedir para o Hugo investigar algo sobre isso? Não sei. Pedir para a polícia pressionar ele por uma confissão.

              — Se a gente desconfiasse de que poderia ter sido mais do que um acidente naquele tempo, talvez tivéssemos mais chance de descobrir a verdade, mas depois de tantos anos. Não sei se conseguiríamos descobrir algo. Você aguentaria remexer nisso tudo?

              Liz já havia se feito aquela pergunta várias e várias vezes. Sabia que a verdade seria mais libertadora do que as hipóteses infinitas que ficava pensando.

              — Não sei o que sou capaz de fazer se tiver sido ele. Aquele filho-da-puta!

              Naquele momento a conversa delas foi interrompida por Artur, que entrou no quarto mansamente e se aproximou de Luísa para abraça-la.

              — Como você está querida? — perguntou cuidadoso e depois lhe deu um selinho.

              — Não muito bem, mas suportando — ela o olhou seriamente. — Me diz como estão as coisas.

              — Flávio contratou uma das melhores advogadas do país para defendê-lo. Hugo me ligou há pouco tempo informando isso. Vim direto para cá.

              — Você acha que ele tem chance?

              — No Brasil é complicado. É um país que defende assassinos de todo o jeito — disse em tom pesado e retirou os óculos por um momento. — Fontes confirmaram que ele vai apresentar um habeas-corpus.

              — Mas era só o que faltava! — Luísa exclamou revoltada. — Até parece que ele merece estar em liberdade.

              Liz compartilhava da mesma ira. Era impensável tudo aquilo.

              — Vamos ter que aguardar para ver. Temos que contratar um advogado logo.

              — Eu sei, Artur — Luísa disse. — Já sei de um muito bom que pode nos representar.

              — Quem? — perguntou parecendo surpreso. — Eu já tinha alguns em mente.

              — Esse é um colega de muitos anos atrás. Ele também é um dos melhores que conheço. Já nos falamos. Ele virá para reunião mais tarde.

              — Tudo bem. Confio em você, querida!

              Liz resolveu deixar os dois a sós por um tempo, mas antes de sair do quarto, Artur disse:

              — A reunião está marcada para às sete da noite, Liz. Você vai?

              — Vou sim, podem contar comigo!

              Tomás e Vitória não iam gostar nada de saber que Luísa ia para essa reunião. No fundo Liz concordava e entendia o lado deles, mas também entendia o pensamento moral dela em não largar o barco assim de uma vez. Como Luísa dissera, a empresa era uma grande responsabilidade. Milhares de empregos dependiam de suas atitudes.

              Liz foi para o seu quarto e estava tão esgotada mentalmente que até conseguiu dormir boa parte da tarde. Pela noite, mesmo que sob os protestos dos filhos, a tia e ela foram para a reunião com os investidores. Como previsto, muitos deles ficaram apavorados e estarrecidos como previsto. Tudo o que foi falado e dito foi sob a orientação do advogado conhecido da tia, que se chamava Marcos Nunes.

              Todos ficaram felizes ao ver Luísa bem, mas reforçaram o apoio a ela e a empresa. Ao final de tudo, o que ficou decidido foi que ninguém deixaria de investir por causa de Flávio. Foi uma reunião delicada e bem demorada. E mais uma vez a tia reafirmou que em sua ausência, qualquer coisa poderia ser tratada com Liz e Artur.

              O sábado foi triste e cinzento. Somente Lia vinha em sua mente. Queria tanto estar com ela agora. Decidiu ir até a praia e ficar perto do mar. Estar em contato com a natureza sempre lhe acalmava. Como sempre naqueles últimos dias, foi acompanhada de seu segurança. Um moreno alto e calado, parecia mais um armário de tão grande e musculoso.

              Ao menos passou o dia trocando mensagens com Lia, o que já lhe acalmava um pouco. Pela noite as duas falaram por ligação, mas havia uma distância entre elas que não podia entender. Sentia como se houvesse várias coisas não ditas. De sua parte sabia o que era, mas se Lia escondia algo, não fazia ideia do que poderia ser.

              O domingo se passou feito um marasmo. Passou o dia trancada no quarto, bebendo e tocando o seu violão. Pela tarde se juntou aos primos e eles levaram Jeniffer para o aeroporto onde ela estaria voltando para os Estados Unidos. Com um aperto no coração, Liz viu quando ela e Vitória trocaram um abraço apertado e um beijo sofrido entre lágrimas. Entendia o lado da prima e sabia que aquela era a solução correta.

              Já na quarta-feira amanheceram com a pior notícia de todas. Marcos foi até o condomínio, avisando que o habeas corpus de Flávio havia sido liberado e que ele exigia uma nova investigação, alegando que as pistas eram ilegítimas. Como a investigação com Hugo havia sido fora da polícia, mesmo com as provas, a delegada viu-se forçada a dar liberar Flávio.

              — O habeas corpus foi muito bem fundamentado. Eu li — explicou o advogado. Eles estavam no escritório da tia junto dela, Vitória e Tomás. — A delegada foi praticamente obrigada a soltá-lo, porém, ela decretou que ele ficará em prisão domiciliar até que a investigação da polícia tenha alguma conclusão. Ele vai ser solto pela tarde.

              Liz ficou desnorteada e tonta com a notícia. Ele não havia ficado nem uma semana preso. Como eles haviam deixado isso acontecer com tantas provas de que ele havia feito aquilo? Contudo, aquela desconfiança que tivera desde sempre, apenas avivou ainda mais. Se eles tiveram que liberar Flávio porque as provas poderiam ser falsas, será mesmo que essa possibilidade poderia existir?

Precisava falar com o tio pessoalmente, mas não sabia como faria isso. É claro que todos iriam dizer que não seria correto e nem bom para o caso ela fazer aquilo, mas precisava. Teria que fazer isso sozinha e sem que ninguém soubesse. Seu coração pedia que fizesse aquilo, mas não queria que ninguém soubesse.

Na empresa os dias estavam puxados e o clima bem tenso. A equipe de Flávio estava totalmente desmotivada com o que havia acontecido e foi trabalho seu interagir e conversar com eles para que o projeto do condomínio não parasse. Mais do que nunca a empresa precisava mostrar que seguia firme e forte nos negócios. Não poderiam vacilar.

Não tardou também para que a notícia da prisão dele se espalhasse pela mídia e logo vários repórteres e câmeras começaram a acampar do lado de fora da empresa e a perseguir os carros na esperança de conseguirem algum furo. Eram verdadeiros urubus na carniça.

Durante a semana, Liz percebeu que Magda, a assistente de Flávio havia ficado incumbida de levar alguns papéis para o mesmo assinar. Ele havia sido totalmente afastado da presidência por um pedido de distanciamento dos advogados, mas ainda assim, algumas coisas precisavam de sua assinatura. Foi ali que Liz viu sua oportunidade.

Viu quando Magda saiu na companhia do advogado e foi atrás deles disfarçadamente. Teve cuidado para que o seu guarda-costas não a visse. Era loucura o que estava fazendo, mas não estava nem aí. Assim que os dois iam entrar na hilux, conseguiu abrir rapidamente a parte da trás da carroceria sem ser vista por ninguém e pulou para lá sem perda de tempo. Como a parte de trás era coberta, ninguém a veria ali.

Liz colocou seu celular no silencioso e acompanhou no telefone os minutos que gastaram até lá. O carro fez várias paradas ao longo do caminho, mas assim que o veículo foi completamente desligado, ela esperou alguns segundos e ouviu a conversa de Magda com o advogado.

— Eu não queria ter vindo aqui — a mulher mais velha disse preocupada. — O senhor Flávio sempre me meteu medo e depois dessa então...

— Não se preocupe, Magda. Nossa visita será breve. Além do quê, ele pediu por essas coisas que estavam na sala e quer falar com você. Ele não vai fazer nada, eu estarei lá com você.

— Tudo bem, doutor. Obrigada!

As vozes dos dois foram se afastando aos poucos e quando ouviu o silêncio absoluto, arriscou abrir a coberta e verificar onde estavam. Era mesmo o condomínio onde o tio morava. Liz pulou fora do carro com agilidade. Magda e o advogado estavam na porta e esperavam serem atendidos, então escondeu-se atrás do muro de outra casa.

Ninguém passou ali para vê-la, por sorte. Uns dez minutos depois, os dois saíram da casa e ela esperou que eles fossem embora. Aquilo poderia ser muito arriscado e perigoso. Não fazia ideia do porquê tinha ido até ali, mas agora já era. Com o coração na mão, tocou a campainha e esperou. A governanta atendeu a porta e franzindo o cenho, perguntou:

— Pois não?

— Olá! — respondeu suavemente, tentando disfarçar o incômodo. — Boa tarde. Eu me chamo, Liz. Sou sobrinho do Flávio.

— Olá senhorita! — a mulher estranhou um pouco, mas lhe respondeu com educação. — Pode aguardar um minuto enquanto eu vou chamá-lo?

— Claro, muito obrigada!

A mulher lhe deixou na sala e saiu. Liz ficou andando de um lado para o outro, com o coração na mão até que Fabrício, filho do tio, apareceu. Ele parecia não acreditar no que estava vendo.

— Como você entrou aqui, Liz?

— Eu preciso falar com ele...

— O meu pai é inocente. Ele nunca faria algo do tipo. O que você quer?

— Eu só saio daqui quando eu falar com ele, Fabrício.

— Como você entrou sem autorização?

— Não importa! — levantou um pouco o tom de voz e disse firmemente. — Eu preciso falar com meu tio.

Naquele momento o primo a puxou pelo braço e tentava coloca-la porta a fora na força. Uma ira tomou conta de si e quando menos percebeu, usou o movimento de defesa que havia aprendido algum tempo atrás para se livrar das mãos dele. Rapidamente Liz inverteu as posições e torceu o braço dele de leve, que soltou um gemido baixo de dor.

— Chega! — Flávio gritou de onde estava, parado no topo da escada.

Liz soltou o braço do primo e afastou-se dele. Enquanto o tio descia as escadas. Reparou que ele estava usando uma tornozeleira eletrônica. Ele estava com a barba malfeita e tinha a expressão mais abatida que nunca vira nele antes. A rockeira prendeu a respiração por alguns segundos. Seu sangue pareceu gelar quando seus olhares cruzaram.

Flávio se aproximou do filho e ajudou-o a ficar de pé.

— Levando surra de uma mulher. O que eu faço com vocês, hein? — o tio falou debochado. — O que você fez com ela?

— Eu só queria colocar ela para fora dessa casa. É claro que ela está do lado da tia nessa investigação insana.

— Nos deixe a sós agora! — Flávio cortou-o com autoridade.

— Mas pai...

— Me obedeça!

Sem falar mais nada, Fabrício deixou a sala a contragosto. Liz sentia suas mãos tremerem como nunca antes.

— O que faz aqui, Liz? — indagou seriamente. — Veio conferir se eu estava preso mesmo?

Sentia arrepios de horror passarem por sua espinha e suas mãos estavam geladas, mas mesmo assim, peitou o próprio medo.

— Me diz com sinceridade, Flávio — A rockeira respondeu seriamente e foi se aproximando dele. — Você fez mesmo isso? Tentou matar a tia Luísa?

Flávio bufou desgostoso e se dirigiu até a porta, abrindo-a abruptamente.

— Não vou falar nada sem minha advogada. Você nem deveria estar aqui...

— Eu vim saber a verdade de você! — cuspiu se aproximando dele e lhe apontando o dedo. Não sabia o que estava acontecendo, mas estava cheia de impulsividade e coragem.

— Você não veio saber a verdade — respondeu ele desgostoso. — Você veio atrás de uma confissão. Por que eu falaria alguma coisa se não vai acreditar?

— Eram mensagens do seu celular para o celular daquele homem. Como eu posso não acreditar nisso?

              Flávio balançou a cabeça negativamente e suspirou.

              — Você quer mesmo saber a verdade?

              — Vim aqui para isso!

              Vamos até o meu escritório. Liz teve medo de que ele tentasse fazer algo com ela, mas como os dois não estavam sozinhos na casa, resolveu arriscar e seguiu-o pelo amplo corredor de sua mansão.

              Assim que entraram, ele fechou a porta e olhou-a por alguns segundos. Liz apenas o encarava de volta. O medo estava ali, mas a sua obstinação era muito maior.

              — O que você quer que eu diga? — Flávio sentou-se em sua poltrona larga de couro marrom e encarou-a.

              — Me diz a verdade. Você fez aquilo tudo?

              Ele balançou a cabeça e procurou por um cigarro na gaveta do cômodo ao lado, acendeu-o e deu uma tragada forte. Liz não sabia que ele fumava.

              — Eu não sei nem o que dizer, sinceramente. Porque você não vai acreditar em mim. Quase ninguém acredita. Vanda já fez as malas e me deixou. Disse que não vai ficar perto de um assassino. Só meus filhos acreditam em mim.

              — Por que será, hein, Flávio? — Liz irritou-se e andou até ele. — Você tem atitudes más...

              — Eu sei que não sou nenhum exemplo de pessoa, mas eu jamais faria algo do tipo. Eu jamais teria coragem de machucar alguém assim — o tio estava mesmo com a aparência abatida e pareceu falar com tristeza. — Eu não sei como essas mensagens foram enviadas do meu celular, mas alguém armou para mim, só pode ter sido isso. Eu não fiz nada, Liz. Sou inocente!

              — Como eu posso confiar em você?

              — Por que você veio até aqui se arriscando?

              Ficou sem saber o que responder. Era tão confuso. Liz acreditava que todas as possibilidades poderiam acontecer. Não duvidava que ele tivesse a capacidade, mas ao mesmo tempo alguma coisa naquilo tudo não estava se encaixando direito.

              — É uma boa pergunta. Não sei porque vim.

              — Vamos ser honestos, Liz! — Flávio pôs o cigarro de lado no cinzeiro e se aproximou. — Isso está muito mal contado. Como alguém que planeja um assassinato assim deixa tantas pontas soltas? É grotesco para falar a verdade.

              — As mensagens saíram do seu telefone, Flávio! — disparou e analisou a reação dele. — Com ordens específicas para tudo ser feito!

              — Eu sei. É isso que não entendo. Eu nunca mandei essas mensagens. Eu nunca me encontrei com aquele homem. Alguém pegou o meu celular ou clonou, eu não sei. Estou dizendo, armaram para cima de mim!

              Liz apenas ficou calada. Tudo aquilo era demais para a sua cabeça. Não sabia porque, mas no fundo acreditava em Flávio. Tinha algo de estranho em tudo aquilo. Então se não havia sido o tio, quem havia sido?

              — Não posso fazer você acreditar em mim. Infelizmente — dessa vez ele falou em tom mais brando. — Mas se você está aqui é porque também está procurando por respostas.

              — Ok, e se não tiver sido você. O que a gente deve fazer?

              Naquele momento, Flávio arqueou as sobrancelhas e tinha a expressão de surpresa.

              — O que quer dizer?

              — Eu quero confiar em você, mas preciso de alguma prova, por mínima que seja — disse decidida. Poderia se foder toda com aquilo. — Eu preciso de respostas. Preciso saber que você não vai tentar nos machucar novamente.

              — Vocês não têm o que temer de mim, Liz. Eu nunca faria isso com ninguém.

              — Você teve algo a ver com o assassinato da minha mãe também?

              O tio ficou horrorizado com a pergunta e arregalou os olhos.

              — Eu não tive nada a ver com o acidente da sua mãe e nem do meu irmão — ele levou a mão até a testa parecendo desorientado. — Eu não sou essa pessoa, Liz. Eu não fiz nada...

              Naquele momento Flávio levou a mão até o peito e fez uma careta de dor. Em poucos segundos ele caiu no chão e parecia sem ar. Liz ficou desesperada naquele momento e abaixou-se até ele, virando-o de lado antes de sair do escritório às pressas.

              — FABRÍCIO! FABRÍCIO! SOCORRO! — gritou nas escadas para que alguém lhe escutasse. O primo apareceu correndo e desceu rapidamente.

              — O que aconteceu?

              — Ele desmaiou no escritório! Está com falta de ar.

No mesmo instante ele discou o número da emergência e começou a passar os dados do endereço com urgência.

              Liz correu de volta para o escritório e junto de Fabrício, seguiram algumas instruções que a atendente passou. De repente, Flávio retomou a respiração, mas ainda continuava muito ofegante e cansado. Ele deu uma olhada ao redor e segurou a mão do filho, fazendo sinal positivo com a cabeça. Liz ficou um pouco aliviada ao vê-lo reagir.

              — Deve ser mais um dos ataques de diabetes que ele tem. Sempre acontece quando ele está sob muito estresse.

              Ela ficou surpresa ao ouvir aquilo. Pelo visto, não sabia de quase nada sobre o tio. Vê-lo caído no chão, tão vulnerável, lhe tocou. Ele não parecia estar fingindo. Aquela não era a reação de um assassino. Ou ele fingia muito bem ou então era mesmo inocente. No mesmo instante sentiu-se culpada por ele estar daquele jeito, mas tentou manter a calma.

              — O que você fez com ele? — O primo perguntou em tom acusatório. — Se acontecer alguma coisa grave você vai ver!

              — Só estávamos conversando...

              — Eu não deveria ter deixado...

              — Acredite, Fabrício, a conversa esclareceu muita coisa. Só quero que ele fique bem agora.

              — Eu vou ligar para a portaria, autorizando a entrada da ambulância.

              Liz ficou ali ao lado de Flávio enquanto o primo fazia a ligação. Nunca havia visto o tio tão vulnerável antes. Aquilo a estava abalando mais do que gostaria.

              — Eu não quero morrer como um assassino... — ele sussurrou para Liz como se fosse um apelo. — Não me deixe levar a culpa, Liz.

              — Shiu! — exclamou e segurou as mãos dele. — O senhor ficará bem.

              A visão de Liz ficou turva e seus olhos encheram de lágrimas. Fabrício logo voltou para perto de onde estava e com muito cuidado, eles colocaram o tio deitado sobre o sofá.

              — Vá embora, Liz. Você não cansa de ser problemática?

              Ouvir aquilo foi como um tapa em sua cara.

              — Não foi minha intenção...

              — Não importa. Eu quero que vá embora! — respondeu irado e a fez se afastar do tio. — Já causou muita confusão por hoje.

              — Eu quero saber se ele vai ficar bem, só isso!

              — Ele vai sim! Meu pai é um homem forte. Agora eu quero que saia daqui!

              — Não comenta com ninguém que eu estive aqui, por favor!

              — Então reza para ele ficar bem e eu espero nunca mais te ver perto dele.

              Liz achou melhor não lutar contra. Fabrício tinha os olhos vidrados e estava muito afetado. Saiu da casa, porém, não foi embora. Ficou à espera da ambulância que demorou ainda mais de vinte minutos para chegar. A culpa estava ali dentro do seu peito, era incontrolável.          

              Viu quando eles saíram com o tio em uma maca. Aparentemente ele estava consciente e suspirou em alívio. Fabrício foi junto dele. As imagens dele passando mal não deixavam a sua cabeça em paz.

              O que deveria fazer a seguir? Se Flávio dizia a verdade, então o assassino de sua tia estava ainda solto por aí e todos ainda corriam perigo.

***

              Chegou em casa e se trancou no quarto para que ninguém percebesse como estava. Não teria condições de ir trabalhar naquele estado. As lembranças da conversa pairavam por sua mente o tempo todo. Ficou se perguntando se deveria contar o que havia acontecido para a tia. Por algum motivo não queria que ninguém soubesse. Será que Fabrício acabaria falando tudo?

              Liz pensou tanto naquilo pela tarde que seus neurônios pareciam pegar fumaça. Depois de tomar um banho demorado, estava tão cansada que dormiu até a noite. Acordou com o seu celular tocando. Ainda grogue, olhou para a tela, mas não reconhece de quem era o número. Prontamente já começou a pensar besteiras. Era o DDD da cidade de Lia. Rapidamente atendeu.

              — Alô!

              — É a Liz que está falando? — a voz do homem soou ríspida e grossa. Parecia ser Horácio.

              — Sim. É o senhor Horácio? — perguntou para ter certeza.

              — Eu mesmo! Lisandra, eu vou sem bem direto — naquele momento seu medo aumentou. Será que havia acontecido algo com Lia? — Preciso falar com você pessoalmente e o mais rápido possível.

              — Lia está bem?

              — Ela está bem sim. Está trancada no quarto sem falar comigo e com a própria mãe — falou em tom acusatório.

— Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade aconteceu sim. Você!

— O quê? — levantou-se da cama sem entender o que estava acontecendo. A sonolência foi deixando o seu corpo. — Como assim?

— Não se faça de desentendida! Não vou mais tolerar que você acabe com o futuro da minha filha!

Dentre todas as coisas, aquilo era a última que poderia estar acontecendo. Será que eles estavam lhe acusando de pôr Lia em perigo? Com certeza já deveriam estar sabendo de toda a confusão com seu tio.

— Calma, senhor Horácio! Eu não quero atrapalhar a Lia, eu a amo e só quero o melhor para ela.

— Ama? — revidou com ironia. — Então prove!

— O que o senhor está querendo dizer? — Liz já se sentia agoniada. O que ele estava falando afinal?

— Ela não quer ir para o intercâmbio por sua causa!

Naquele momento ela se sentiu ainda mais confusa. Como assim atrapalhando o intercâmbio? A namorada não havia passado na prova. O sogro estava bem enraivecido e Liz queria entendê-lo. Tinha medo de contraria-lo, mas precisava entender.

— Como assim, senhor Horácio? A Lia não passou na prova, infelizmente, mas eu sempre dei muito apoio a ela.

— Ela passou no intercâmbio sim!

Ouvir aquilo foi uma verdadeira bofetada em sua cara. Como assim Lia havia passado? Mas ela lhe dissera que não havia conseguido a vaga. Por que ela mentiria sobre aquilo se estava tudo certo entre as duas na época?

— O quê?

— Você não sabe? — Horácio parecia confuso.

— Não! Como assim passou? Ela mentiu sobre o resultado, é isso?

— Eu preciso mesmo falar com você e pessoalmente! — declarou firme. — Quando podemos nos ver? É urgente!

Liz havia prometido ficar mais afastada de Lia e não voltar para a outra cidade tão cedo. Também não iria pedir que Horácio falasse por telefone, pois sabia que ele ficaria ainda mais irado e achando que não o levava à sério.

— Eu vou tentar ir amanhã logo.

— Eu espero por você, mas não diga nada a ela. Precisamos nos falar primeiro.

Ele nem ao menos se despediu e desligou abruptamente. Liz passou vários segundos parada em pé ali no meio do quarto. Sentia como se tivesse levado um murro na boca do estômago e o ar estivesse faltando nos pulmões. Eram coisas demais para processar. A última coisa que precisava agora era brigar com os pais dela.

Não havia entendido nada sobre o intercâmbio. Sua vontade foi de ligar para a namorada imediatamente e perguntar sobre aquela história, mas seguiu as orientações de Horácio. Sem perder mais tempo, foi falar com a tia sobre sua ida para lá.

— Preciso ir ainda amanhã.

— Aconteceu alguma coisa com a Lia? — A tia perguntou preocupada.

— Não, nada grave, mas é uma questão urgente mesmo assim.

              — Eu vou ver se o jatinho está disponível para amanhã.

              Luísa fez uma ligação e em poucos minutos ela agendou um voo para as nove da manhã, o que deixou Liz grata. Quanto mais cedo chegasse lá, melhor. Aproveitaria para se afastar um pouco de tudo, mas antes precisava ter notícias do tio.

              No dia seguinte, sem muita escolha, ligou cedo para Amanda e pediu ela lhe arranjasse os números de Fabrício e Fernando. Criando coragem, ligou para um deles.

              — Quem fala? — Fernando atendeu.

              — É a Liz...

              — O que você quer?

              — Eu só quero saber se ele está bem, por favor!

              — Por que está tão preocupada com ele? — exigiu em tom de mágoa.

              — Porque eu acho que acredito nele, Fernando!

              O primo suspirou e ficou em silêncio do outro lado da linha. Liz não havia pensado direito naquilo, mas no fundo era o que sentia.

              — Ele está estável. Estamos aqui no hospital com ele — ouvir aquilo deixou o seu coração mais leve. — Com guardas do lado de fora da porta. Luísa está feliz com o que fez com ele?

              — Fernando, ela não tem culpa. Tia Luísa está mal e assustada assim como eu! — tentou defendê-las. — Alguém tentou matar minha tia. A investigação levou até ele, o que mais poderíamos pensar?

              — Foda-se isso, Liz! — grunhiu ele com raiva. — Meu pai nunca faria isso!

              — Eu também não sei o que está acontecendo, Fernando, mas vamos descobrir. Ninguém pode saber que eu conversei com ele ontem, por favor!

              — Não se preocupe, ele já nos disse que ninguém deve saber o que aconteceu.

              — Obrigada!

              Aqueles últimos acontecimentos estavam lhe deixando angustiada, confusa e cada vez com mais medo. Temia por todos. Tia Luísa, seus primos e Lia. Ah, sua irritadinha. Se algo acontecesse com ela, não saberia o que fazer. Não podia deixar que nada lhe acontecesse.

Agora que parava para pensar, bem desconfiava que Lia estava lhe escondendo alguma coisa. Não entendia porque a irritadinha não lhe contara sobre o intercâmbio. Por que tantas coisas estavam acontecendo ao mesmo tempo? Sempre quando achava que estava tudo bem, algo acontecia para lhe deixar mal de novo, mas não poderia ceder, tinha que ser forte.

Antes de pegar o voo, Luísa ficou sabendo que Flávio estava no hospital. As notícias voavam mesmo. Liz teve medo que alguém descobrisse que ela havia ido até lá e ficou pensando se deveria contar tudo para a tia. Não sabia que o estava fazendo e agora tinha esse assunto a resolver com Lia.

O voo foi aflitivo. Sofreram várias turbulências e quando finalmente conseguiu dar um cochilo, teve o mesmo sonho de algumas noites atrás em que elas passeavam em jardim e ela levava um tiro. Acordou atordoada. Só poderia ser um aviso e seria estúpida em ignorar os seus instintos e bom-senso.

Ela e seu guarda-costas chegaram por volta do meio-dia e Vivi foi buscá-la no aeroporto. Havia falado mais cedo com ela e a amiga se disponibilizou em lhes dar uma carona. Abraçou-a firmemente, sentia saudades dela.

— Como você está, hein? — A morena perguntou atenciosa e com carinho.

— Vivi, tantas coisas horríveis. Vamos! Eu te conto tudo lá. Preciso ir logo até a cidade da Lia.

— Tudo bem!

Não quis contar nada no carro para que seu segurança não ouvisse. Não se sentia bem em ter sua privacidade invadida, mas não tinha outro jeito. No apartamento, Liz contou tudo para Vivi, que ficou estarrecida com o que estava acontecendo.

— Liz, por que você não me contou nada disso antes? — A amiga parecia escandalizada.

— Desculpe, Vivi. É que foi tudo tão repentino e também eu não queria contar tudo isso por telefone.

— Não acredito que seu tio fez tudo isso. Ele sempre foi bem estranho, mas chegar a isso?!

— Sabe o que é pior? Eu acho que não foi ele.

— Será? Mas não tem registro de conversas com ele?

— Mas está estranho. Foi tudo muito fácil. Ele está dizendo que alguém armou para ele e eu estou acreditando. Eu pensei que você tinha escutado algo pelo jornal já.

— Pior que não! Eu não tenho assistido muito jornal ultimamente. Liz isso é muito sério! O que a polícia diz sobre isso?

— Eles estão fazendo uma nova investigação e até lá ele está em prisão domiciliar. Está uma reviravolta tudo isso.

— Caramba!

— Eu não sei o que fazer, Vivi — Liz esfregou as mãos na face. — Agora o pai da Lia me ligou me acusando de um monte de coisas e pediu para falar comigo pessoalmente.

— Te acusou de quê?

— Praticamente ele disse que sou uma má influência e que estou destruindo o futuro dela, que a Lia passou no intercâmbio e não quer ir por minha causa.

— O quê? — indagou confusa. — Mas eu lembro de vocês falando sobre esse intercâmbio. Ela estava super nervosa e até acabou reprovando, não foi?

— Pois é. Até onde eu sei foi isso! Mas ele disse que ela passou. Eu vou conversar pessoalmente com ela sobre.

— E agora vocês vão ficar distantes, é isso?

A pergunta fez seu peito apertar de dor. Só de pensar em ficar longe dela já era uma tortura, porém, talvez aquilo fosse o melhor para as duas, ao menos por enquanto.

— Sabe que eu tenho medo dela acabar se ferindo. E se quem tentou matar a tia Luísa fizer algo contra ela só para me atingir?

— Tudo é possível, Liz. Infelizmente uma pessoa que é capaz de fazer isso, pode muito bem tentar algo. Eu estou com medo por vocês.

— Exatamente o que eu penso! — Liz levou as mãos até a face e chorou mais uma vez. Vivi apertou sua mão lhe passando forças. — Se algo acontecer a ela eu não me perdoaria nunca. Nunca!

— E o que você pensa em fazer?

— Eu não sei, mas se ela passou mesmo nesse intercâmbio, talvez seja melhor ela ir e ficar longe dessa loucura toda que é a minha vida. Preciso falar com ela primeiro, mas sabendo como ela é teimosa, ela não vai querer ir mesmo.

— Não vai fazer nenhuma besteira, Liz — Vivi aconselhou-a cuidadosamente. — Você e Lia já passaram por muita coisa. A escolha tem que ser dela.

Liz ficou calada. Não queria fazer tantas suposições naquele momento, mas de uma coisa tinha certeza, não iria deixar que nada de mal acontecesse a ela por sua culpa, principalmente se pudesse evitar.

Elas finalizaram a conversa e sem mais demoras, pegou seu carro e já partiu para a cidade, isso tudo sem Lia ao menos sonhar que estava ali. Havia feito como Horácio lhe dissera. Ela pediu para que Greg, que era o nome do seu segurança, fosse dirigindo, pois se sentia muito cansada. Chegaram por volta das três da tarde e imediatamente ligou para o sogro.

— Alô!

— Senhor Horácio, é a Liz — falou sem rodeios. Não adiantaria ser simpática, era óbvio que o pai da namorada não gostava de si e apenas a tolerava. — Eu já cheguei. Estou aqui na pousada.

— Em qual quarto você está?

— No quarto 7.

— Ótimo! Eu chego aí logo — respondeu ríspido e, mais uma vez, desligou sem ao menos dizer tchau.

Liz avisou a Greg que estava que estava esperando a chegada de Horácio e pediu para que ele ficasse vigiando tudo disfarçadamente para que o sogro não percebesse. Não queria alarmá-lo com mais isso e ficar ainda pior na fita.

Estava ainda mais aflita. Os minutos até ele chegar no quarto foram longos e tortuosos. Pouco tempo depois, bateram em sua porta e ela foi atender com o coração na mão. Ao vê-lo tentou disfarçar o nervosismo.

— Boa tarde, Sr. Horácio! — cumprimentou-o e lhe deu passagem para entrar no quarto.

— Boa tarde! — ele respondeu sem jeito.

Liz mal fechou a porta do cômodo e Horácio já começou a falar.

— Olha, Liz... vou direto ao ponto. Eu nunca concordei com esse namoro. Eu nunca consegui aceitar a ideia da minha filha namorando outra mulher. Por mais errado que isso seja, eu respeitei. Respeitei e deixei você fazer parte da família por causa da Lia, porque eu não queria perder a minha filha.

Liz já suspeitava que era assim mesmo que o sogro pensava, não era nenhuma novidade o que ele estava dizendo, contudo, nenhuma palavra deixou de doer menos. Apenas ficou calada e ele continuou.

— Desde que vocês estão juntas ela está diferente. Sempre batendo de frente com a gente e colocando você como a prioridade dela, mas eu não vou mais ficar calado. Eu e Nádia tivemos uma briga grande com ela ontem, até mesmo com o Pedro ela brigou.

Liz franziu o cenho e o peso da culpa a consumiu. Lia não havia lhe dito nada ontem, ela sempre contava quando discutia com eles, mas não daquela vez.

— O que aconteceu? — perguntou já com medo da resposta.

— Parece que há uns dias atrás ela recebeu uma ligação da universidade, dizendo que ela passou no intercâmbio. Ela ficou em uma lista de espera e como houveram desistências, ela conseguiu.

A respiração de Liz ficou presa na garganta tamanha era a sua surpresa. Lia não havia lhe dito nada sobre aquilo. Por isso ela vinha agindo meio estranha ultimamente. O pior é que com tanta confusão acontecendo, admitia que havia negligenciado atenção a namorada, eram tempos um pouco complicados e difíceis.

— Eu não sabia disso! Ela não me contou nada.

— Ela contou só para o Pedro e pediu para que ele não dissesse nada para ninguém. Só que ele sabe a oportunidade grande que ela está perdendo e aí ontem ele nos contou que ela estava guardando isso, e o pior, que ela tem até o final desse mês para dar uma resposta.

— Esse mês de maio?

— Sim, parece que eles não disseram nada mais cedo por causa da greve e tudo acabou ficando mais lento, mas enfim. Ela disse que não vai para o intercâmbio, ontem tivemos uma briga grande por isso.

Liz deu de ombros e sentiu-se murchar. Balançou a cabeça negativamente e fitou o chão por alguns segundos. Definitivamente, se sentia culpada por tudo o que estava acontecendo e triste pelo fato dela não ter lhe dito nada sobre o intercâmbio.

— Eu não fazia ideia disso!

— Ela está obstinada e irritada, como sempre. Disse várias barbaridades para nós dois. Disse que ia morar com você porque não aguentava mais a gente pegando no pé dela. Isso é verdade? Vão morar juntas agora? — concluiu Horácio e ele falava como se tudo fosse um grande absurdo.

Naquele momento o seu estômago deu um solavanco e suas suspeitas foram confirmadas. Talvez era sobre isso que ela queria tanto conversar. Sobre o pedido de irem morar juntas.

— É, eu fiz essa proposta desde o mês passado, mas ela não aceitou. Eu não sabia que ela estava reconsiderando...

— Liz, eu não sou nenhum idiota. Sabe que eu acompanho jornal?

Naquele momento seus olhos se arregalaram. Sabia que agora sim a conversa de verdade iria começar, então apenas fez um gesto para que ele continuasse.

— Desculpe dizer isso, mas a sua família é bem desestruturada, não é? É para isso que você está levando minha filha? Para essa loucura? Eu não ligo, cada família tem os seus problemas, mas eu me preocupo com a Lia. Eu estou criando e educando os meus filhos para eles serem independentes acima de qualquer coisa. Sabe o erro que seria ela largar os estudos por causa da namorada rica?

O coração de Liz batia acelerado. Infelizmente tinha que concordar com ele. Apesar de amar muito Lia, tinha que admitir que seus caminhos estavam se afastando cada vez mais. Se sentiu tão envergonhada e embaraçada que passou um tempo calada, pensando no que dizer.

— Eu sinto muito, senhor Horácio. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

— Mas sabe agora e eu sei que só você pode mudar esse pensamento dela e fazê-la aceitar a vaga. Estamos com o tempo curto. Se você ama mesmo a minha filha, agora é a hora de provar. Convença a Lia a aceitar a vaga, isso é mais importante agora.

— Eu vou conversar com ela sim, eu garanto! Mas senhor Horácio, eu nunca quis ficar no meio dos sonhos dela. Só quero que o senhor saiba disso! Quando ela se inscreveu para o intercâmbio eu dei todo o apoio, sempre fiquei do lado dela e também nunca foi minha intenção que ela brigasse com vocês...

— Vocês ainda não muito novas para isso. Morarem juntas. Lia ainda nem se formou e você tem os seus problemas de família. Eu não quero minha filha envolta em uma realidade que não é a dela. Se algo der errado nisso, ela vai ser a parte mais prejudicada.

— O que o senhor quer dizer com isso?

— Se vocês terminarem, vai ser mais difícil para ela.

Aquele foi o limite para Liz. As pessoas pensavam que o relacionamento das duas não era sério. Não entendia isso. Não levavam o que ela sentia por Lia a sério.

— Senhor Horácio, eu amo a Lia de verdade. É injusto o senhor dizer algo assim. Se a gente terminar, vai ser o inferno para mim. Eu sinto tanto quanto ela...

— Já chega, Liz! — Ele levantou uma mão e parecia impaciente. Liz odiava ser tratada como criança. — Eu já disse o que eu precisava. Agora é com você e espero mesmo que faça a coisa certa.

Não adiantava falar mais nada. Horácio era um homem bem teimoso, agora estava explicado de onde vinha tanta teimosia em Lia. Assim que ele foi embora, Liz sentou-se sobre a cama sem saber o que fazer. Lia não ia querer ir para o intercâmbio, sabia disso. Por que mais ela não lhe contaria que havia conseguido a vaga?

Concordava em partes com algumas coisas que Horácio havia dito, principalmente sobre a parte dela ser independente e que seria um erro perder essa oportunidade. Também estava com raiva por ela não ter lhe dito nada, mas infelizmente não podia julgá-la, ela própria estava cheia de segredos.

Liz precisava fazer de tudo para que Lia fosse nesse intercâmbio, apesar de doloroso seria uma ótima opção para ela ficar afastada de todos aqueles problemas e do perigo que poderia estar correndo.

Resolveu tomar um banho e trocar de roupa, na tentativa de se acalmar mais antes de anunciar a Lia que estava ali. Vestiu-se calmamente e ficou o tempo todo pensando em como iria agir. Precisaria ter muita paciência com Lia para tratar daquele assunto. Tinha muita coisa em jogo naquele momento.

Respirando fundo, procurou o número dela e ligou. A irritadinha lhe atendeu prontamente.

— Oi, amor! — saudou-a com alegria.

— Oi, Lia!

— Você está bem?

— A gente precisa conversar. Eu estou aqui na pousada. Pode sair agora?

— Você está aqui? — ouviu o tom de felicidade em sua voz. — Por que não me disse que vinha?

— Surpresa.

— Como sempre me surpreendendo. É claro que eu posso sair agora. Estou morrendo de saudades.

Liz engoliu em seco e apenas respondeu:

— Ok, estou indo te buscar.

— Estou esperando.

Liz chamou Greg e novamente pediu para que ele dirigisse. Em poucos minutos, eles chegaram na casa dela e lhe mandou uma mensagem dizendo que estava lá fora. Não demorou para que a namorada logo estivesse saindo pelo portão.

Apesar de toda a culpa, medo e consciência pesada, não pode deixar de abrir um lindo sorriso quando a viu se aproximando do carro com um lindo sorriso, porém, que se apagou um pouco quando ela viu o segurança no banco da frente. Liz abriu a porta para que ela entrasse.

— Oi! — Lia fechou a porta, abraçou-a apertado e lhe deu um beijo colado.

Liz não resistiu e beijou-a de volta, ignorando a presença de Greg. Também estava com muitas saudades. Sentir aqueles lábios e aquele cheiro gostoso foi como se uma calmaria tomasse conta de seu ser. Era sempre assim quando estavam juntas. Afastaram os lábios um pouco e Liz deu ordens para que Greg dirigisse de volta para a pousada.

— Está calada! — Lia sussurrou sobre seus lábios. — Como você está?

— Bem na medida do possível — respondeu tristemente e sem se segurar, puxou-a de volta para um beijo gostoso e cheio de saudades.

No caminho até lá, Lia não desgrudou de si e apenas se permitiu sentir os carinhos que tanto lhe confortavam. Já passava das quatro da tarde quando elas entraram em seu quarto. Sem perder tempo, Lia foi para cima de si e beijou-a de forma ardente. Logo em seguida ela já começava a tirar a roupa.

Por mais que estivesse com saudades e enfeitiçada pelo tesão dela, não era momento para aquilo. Elas precisavam ter uma conversa primeiro. Sendo o mais delicada possível, segurou nas mãos impedindo-a de retirar sua blusa.

— Lia, calma! — beijou-a na testa e depois olhou-a. — A gente precisa ter uma conversa.

— Você está com olheiras — Lia tocou abaixo de seus olhos. — Aconteceu mais alguma coisa?

— Me diz você! — rebateu de volta, se afastando um pouco e viu que ela ficou sem entender. — Não tem nada para me contar?

— Como assim? — fez-se de desentendida e tentou abraça-la novamente, mas esquivou-se.

— Eu vou te dar uma chance de contar tudo se for sincera — respondeu pacientemente.

Naquele momento Lia pareceu entender do que se tratava e um ar de choro tomou conta de sua face.

— Liz, por favor! — ela disse em tom manhoso.

— Quando você ia me contar sobre o intercâmbio?

 

 

 

 

 

 

 

             

                

 

             

             

             

             

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 45 - Capitulo 45 - Segredos:
Ester francisco
Ester francisco

Em: 09/11/2020

Lembrei q não tinha lido esse cap....

Caraca!!! Tenso demais...

Meu coração não aguenta isso não....

Parabéns linda!!! Vc tá arrasando como sempre!!!! Bjos


Resposta do autor:

Olá Ester querida?

Rsrsrs tranquilo. Eu demoro tanto para postar que até eu me perdo às vezes. Kkkk

Está tudo muito tenso mesmo para o lado das nossas meninas. Também estou com o coração apertado por elas. 

Obrigada pelas lindas palavras e fico feliz que esteja nos acompanhando ainda.

Beijinhos.

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patty-321
patty-321

Em: 30/10/2020

Nossa! Tudo conspira contra esse amor. Que estória emocionante, vc criou, linda. Parabéns. Ansiosa pelo próximo. Bjs


Resposta do autor:

Olá Patty-321

Então, tudo está mesmo conspirando contra elas. Eu só espero que elas consigam encontrar uma forma de fazer as coisas darem certo. É tão difícil encontrar um amor igual ao delas que dá pena abrir mão, mas é aquela coisa, a vida não é justa.

Fico feliz demais que esteja gostando da estória e que tenha chegado até aqui.??

Espero que goste do novo capítulo apesar de tudo.

Beijinhos e obrigada pelo lindo comentário. ????

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