Capitulo 3 - Por ser de la do sertao
CONTO 03 - Por ser de lá do sertão...
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Campo Redondo, Sergipe, 22 de janeiro de 1938
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O sol castigava o céu como todos os dias de janeiro quando o galo cantou lá fora, era Bié, como chamava o garnisé da fazenda, ele cantava forte, em sintonia com outros bichinhos que já gritavam de fome.
- Joana, vai cuidar dos bichos, ande logo menina.
- Estou indo Dorinha.
Espreguicei o corpo ainda cansado e dolorido da noite, revirei os olhos amarelados e tentei levantar para mais uma jornada de trabalho, a diferença é que nesse dia específico estava fazendo dezenove anos, a folha do calendário só me fazia lembrar que há mais de oito havia sido entregue a Maria das Dores, mais conhecida como Dorinha, a fazendeira mais rica de Sergipe, fui entregue por meus pais aos onze anos, por decisão da minha mãe, era a caçula de seis irmãos, e não tenho muito o que dizer da minha vida antes disso.
Do dia em que parti de uma cidade praticamente invisível nos confins da Bahia nem lembro muito, sei que beijei meus irmãos, e apenas ouvi uma adeus seco e sem emoção da minha mãe, meu pai havia saído para trabalhar antes do sol surgir no céu, assim, dele não pude escutar nem mesmo um adeus. Sai de mãos dadas com Dorinha, entre promessas que iria estudar na capital e que um dia seria uma dama da sociedade sergipana, fui embora, fingi sorrir, mas, no fundo não acreditei em suas palavras. Não houve choro e quando cruzei a porta de casa, sabia que seria para nunca mais voltar.
Tinha aprendido a ler com meu pai, por isso quando passei por uma fazenda já em Sergipe, vi uma enorme placa pintada e sem pensar li o que estava escrito, repetindo alto o nome do lugar, "Fazenda Angicos". Deixei Dora impressionada com a descoberta, ela sorriu, falando a seguir.
- Ah, você sabe ler?, que espertinha. Escuta Joana, nesta fazenda moram cangaceiros, sabe o que é isso?.
- Não, o que é?.
Apesar de haver negado, eu sabia exatamente o que era e quem eram os cangaceiros mais conhecidos no sertão nordestino, mas, preferi calar, não ia falar nada sem antes ouvir a sua opinião sobre o assunto. Abri os olhos como se tivesse muito interessada em sua história, e ela prosseguiu.
- Cangaceiros são pessoas que vivem de uma forma nômade, isso é, não tem um lugar fixo para morar, eles se mudam sempre. Na "Fazenda Angicos" moram os mais famosos deles, Lampião e seu bando, eles são inimigos ferrenhos da maior parte dos coronéis da região e acredito que qualquer dia desses vão ser mortos em uma emboscada, estão jurados de morte, sabe?.
- Coitados...
Falei baixinho, expressando tristeza na voz, mas, no fundo eu tinha como o objetivo dar um ar de criança que praticamente nasci sem, sinto ás vezes que sempre fui uma adulta escondida em um corpo infantil.
- Não são coitados Joana, eles não passam de um bando de criminosos que saqueiam fazendas, matam pessoas, por isso os coronéis se tornaram inimigos dos cangaceiros, que saem contando por ai que combatem em nome dos mais pobres, mas, isso não é verdade, são bandidos menina, bandidos, só não invadem a minha fazenda porque o tal Lampião tinha simpatia por meu pai, eu o vi algumas vezes em suas andanças, até que um dia ele veio se alojar na fazenda que te mostrei.
Pensei em dizer que essa sua fala tinha na verdade uma grande motivação por trás, eu sabia que no fundo Dorinha não passava de uma coronel de saia, apesar de andar de calça. Enfim, para mim era claro que ela nunca ia refletir sobre a vida dos cangaceiros para além do seu pensamento de fazendeira rica, muito menos ia constatar um outro lado da história, a caatinga não era um ambiente receptivo ao ser humano, a exploração do trabalho era desumana, os coronéis se aproveitavam de um povo desesperado e faminto, criando assim, um sentimento de revolta. Dessa forma o cangaço para muitos desses homens, inclusive para o meu pai, era a única alternativa que restava, uma forma cruenta de fugir da miséria e da submissão aos coronéis. E eu sabia que de uma maneira ilusória esses homens acreditavam que o bando ofereciam diversos benefícios que não teriam de outra forma, isto é, riquezas, liberdade e respeito. O meu pai não era jagunço de Lampião, era de um outro bando e estava iniciando no cangaço, por isso continuávamos miseráveis.
De longe vi uma porteira de madeira maciça, a casa grande ficava em uma terra a perder de vista, Dorinha morava na "Fazenda Campo Alegre", o lugar foi herança dos pais que faleceram de uma doença misteriosa quando não tinha vinte anos, com a diferença de um mês entre uma morte e a outra. Quando cheguei em suas terras, a fazendeira tinha recém completado trinta, era uma morena alta, bonita, de rosto forte e anguloso, sorriso aberto com covinhas seguido por um queijo delicado, seus cabelos eram escuros, levemente cacheados, longos e fartos, seus olhos eram tão escuros que pareciam duas azeitonas pretas e seu corpo era forte e cheio de curvas, tinha um cheiro gostoso de hortelã, misturado com lavanda.
Suas terras formavam um enorme campo verde contrastando com o resto da localidade. Dora produzia legumes, frutas e folhagens que não deveriam nem vingar na região, também tinha gado, ovelhas, porcos e galinhas, tudo era muito próspero, a produção acontecia durante o ano inteirinho, por isso corriam vários boatos sobre ela, alguns falavam em pacto, outros diziam que Dora era bruxa, mas, descobri mais tarde que ela pagava profissionais caríssimos que vinham de vários lugares do Brasil com o objetivo de tornar a sua fazenda um verdadeiro oásis incrustado bem no meio da pobreza que desolava a sua cidade.
Apesar de ter completado onze anos, meu corpo minguado me fazia parecer muito menos do que isso. Era uma tarde quente quando entrei no armarinho da cidade, esperava para ser atendida pelo dono do lugar, a mando de Dora. Quando chegou a minha vez estiquei minhas pernas, apoiando os braços no balcão e puxando o resto do corpo, fiquei praticamente pendurada para falar, aos meus olhos o dono parecia enorme, mesmo escondido por trás do móvel de madeira agigantado.
- Boa tarde Sr. Augusto, vim buscar a encomenda que a Dona Maria das Dores pediu que separasse.
Ele nada respondeu, se retirando para buscar o que pedi, foi quando ouvi uma conversa a boca miúda entre duas senhoras.
- Olha isso Margarete, que pouca vergonha...Dorinha trouxe mais uma menina para criar, coitadinha dessa ai, tão franzina, não deve ter nem nove anos, a sáfica deve estar esperando que lhe desçam as regras. Não sei se você está sabendo da coitada da Fatinha, Dora deixou a pobrezinha mês passado no rendez-vous de Madame Brunette, a descartou como se fosse um trapo velho, a pobre estava velhinha, com vinte e um anos, não tinha mais serventia para a patroa de certo.
- Não seja maldosa Carmela, não sabemos o que aconteceu de fato.
Vi no olhar de Margarete que ela me olhou penalizada, sorriu para mim, a seguida levantou, perguntou se queria ganhar um pão doce, eu respondi que sim, mas, não podia demorar pois Dorinha tinha avisado que não deveria ficar de conversa mole com as pessoas da cidade.
- Não vai demorar nada queridinha, vamos?.
- Sim!.
Peguei as encomendas e sai sorridente ao lado de Dona Margarete, posso até dizer que estava feliz, a bondosa mulher era casada com o padeiro da cidade, e nesse dia tive a oportunidade de comer o pão doce mais delicioso desse mundo. Não que faltasse comida na casa da madrinha Dora, mas, essas gostosuras eram dadas como prêmio. A doce senhora segurou minhas mãos, acarinhou, se aproximando para poder falar baixinho comigo.
- Joana, quando suas regras descerem, não conte para Dora, evite o quando puder, vá juntando trapos velhos para segurar o sangue, lave os panos a noite quando Dora dormir, se ela perguntar alguma coisa, diga que pensa em fazer uma boneca de pano. Olha, se ela tiver camomila faça um chá bem forte e tome caso venha a sentir alguma dor ou desconforto.
Respondi que seguiria à risca tudo o que ela havia me dito, mesmo sem entender direito o seu pedido, ela sorriu e respondeu com os olhos tristes.
- Um dia querida você vai entender o motivo...
O fato é que o tempo passou e pude entender direitinho as palavras de Margarete. Maria Mole, como Dora a chamava, era uma talentosa cozinheira, foi ela quem me contou em tom de confidência todos os detalhes do que chamou ser a minha sina.
Eu já tinha catorze anos e minhas regras já tinham descido no ano passado. A cozinheira de seios fartos e cheio de sardas aproveitou que Dora saiu para banhar os cavalos e me contou tudo...de tempos em tempos, Dora "adotava" meninas de famílias pobres, esperava que suas regras descessem e as seduziam quando completavam por volta dos quinze anos, fazendo dessas moças as suas amantes, no entanto, o interesse e os cuidados com suas meninas não duravam para sempre, logo Dora enjoava de cada uma delas, tão logo ficassem mais velhas, muitas eram dispensadas antes mesmo de completarem vinte anos, era sempre era assim...Dora de repente perdia totalmente o interesse, por isso elas eram entregues à própria sorte, algumas viravam empregadas como ela, outras seguiam para algum cabaré, outras tantas ela dava dinheiro e dispensava em alguma cidade, algumas seguiam em paz, muitas outras seguiam sofrendo.
Estava perdida lembrando da minha família quando entrei no banheiro para lavar as mãos e o rosto para jantar, deixei a porta do banheiro aberta, meu corpo tinha se desenvolvido totalmente, eu percebia que Dora me olhava diferente, com desejo, ela não entendia de forma alguma porque minhas regras ainda não haviam descido se já tinha quinze anos, tinha até me levado em um médico que afirmou que era normal, talvez fosse uma consequência da desnutrição causada pela minha infância sofrida, as vezes me sentia mal por estar enganando, mas, era isso ou sex*. Neste dia, eu estava apoiada na pia e nem senti quando o sangue veio, ocorre que nesse exato momento Dora estava passando e viu muito animada que o sangue descia como um filete bem no meio de uma de minhas pernas.
- Joana, suas regras desceram querida, já é uma mocinha, venha vou resolver isso, não fique com vergonha, é normal, em breve vou fazer um jantar para nós...só nós duas, você quer?, sem Marina que ainda é uma criança de onze anos, o jantar vai ser coisa de mulher.
Marina era uma loirinha muito bonitinha, que havia chegado há cerca de seis meses, ela havia sido trazido por Dora, foi comprada em uma serra qualquer de Pernambuco, e compartilhava meu quarto com ela, apesar de haver duas camas, a menina dormia abraçada comigo todas as noites, tinha medo de tudo e me sentia responsável por ela, era a sua protetora, Marina chorava todas as noites durante o primeiro mês, foi assim até se acostumar e ver em mim e em Dora sua única família.
Quando meu sangue cessou uns dias depois, tinha terminado de cobrir Marina que havia adormecido em sua cama, quando ouvi Dora batendo discretamente na porta, ela havia ajeitado tudo na sala, a mesa estava posta de forma elegante, como se fosse receber alguém, tinha tudo o que mais amava na vida, frango assado com farofa, arroz, feijão e doce de leite de sobremesa, me deliciei com tudo, e após comer, sai para lavar a boca e dar um jeito nos dentes, usando o creme dentifrício Dr. Sheffield, algo fino que chegava todos os meses na fazenda, estava absorta quando ela chegou por trás, puxou delicadamente a alça do meu vestido e beijou meu ombro e pescoço, falando em um tom rouco.
- Como eu esperei por esse momento, Joana.
Respirei alto quando senti que sua mão entrou por dentro da minha calcinha, fazendo movimentos que não entendia ao certo, mas, que estava adorando sentir tudo aquilo, pensei que fosse parar de respirar, o meu coração batia descompassado no peito e ela sorriu ao ver minha reação, a seguir me virou, beijou minha boca de forma suave e foi forçando a entrada com sua língua macia, após o beijo falou com um tom mais suave e quando olhei vi que seus olhos estavam apertados como se tivesse bebido.
- Quer que eu pare, Joana?.
- Não...por favor Dora, é muito gostoso, continua.
- Então...vem ser minha, vem.
Como negar?, a alma não queria, mas, o corpo estava em chamas, ah, eu quis, como quis e foi nesse dia que ela me fez mulher, se pudesse descrever o meu sentimento, foi como se morresse, chegasse até o céu e voltasse, sentindo uma espécie de morte em vida, era essa a sensação que tinha, morri, cheguei ao céu e voltei. Dora riu com minha explicação, dizendo que tudo o que descrevia tinha um nome, "orgasm*". Nessa noite ainda, Dora me ensinou direitinho tudo o que deveria fazer para que ela sentisse exatamente a mesma coisa que eu, me esforcei imensamente para ser uma excelente aluna, e pelo visto deu tudo certo, pois ela segurou meus cabelos, apertando minha boca em seu sex* e quando gritou percebi que ela havia conseguido ver a "morte em vida".
Quando Marina fez doze anos, resolvi ter uma conversa sincera quando fomos dormir, contei tudo o que fazia no quarto de Dora, explicando que isso um dia isso também aconteceria com ela, para minha surpresa ela ficou ansiosa para se tornar "mulher", não quis esconder de ninguém, muito menos da fazendeira quando as regras desceram no mês seguinte, tão logo percebeu que o sangue fluiu no meio das pernas sujando a calcinha, saiu soltando gritinhos, estava feliz e com gana de mostrar o que tinha acontecido a Dora, muito faceira que estava.
- Pequena, você é novinha ainda, vamos esperar. - Sorriu Dora.
A loirinha ficou decepcionada e passou a me procurar sempre que anoitecia, Dora não admitia que dormisse em seu quarto, e quando voltava ao meu, lá vinha Marina me seduzir, resisti firme, até o dia que ela completou catorze anos, nesse dia tivemos nossa primeira vez, eu não a deflorei, deixei isso para Dora, mas, foi nas minhas mãos que ela descobriu o prazer de orgasm*, talvez por isso, praticamente eu desmaiava todas as noites na hora de dormir, afinal tinha que satisfazer Dora, e em seguida Marina, que me esperava ávida por sex*, em compensação, visitava o paraíso a partir do olhar de duas pessoas diferentes.
Estava encostada na porta, perdida em minhas lembranças quando Dora abriu os olhos, era novamente 1938.
- Joana, pare de ficar nos olhando e vá cuidar dos bichos, ou venha deitar novamente e satisfazer a mim e a Marina, você sabe que somos insaciáveis, não é?.
No meio desse confusão toda, realmente quase não tinha motivação para me alegrar, não havia nada que me importasse realmente, após o gozo vinha uma sensação de vazio, e isso só aumentava a cada ano que passava, talvez por isso nunca fui chegada a comemorações, tirando o fato de amar Marina, nada mais fazia sentido em minha vida, eu era apenas um galho retorcido, uma folha seca que voava sem se sentir presa à vida, e achava que não tinha mais nada de bom a acontecer, tinha apenas uma única certeza, jamais conheceria a felicidade além dos braços do meu girassol, da minha Marina.
Sorri tristemente antes de sair do quarto e das minhas lembranças, espreguicei meu corpo moreno, bronzeado pelo sol de Sergipe, trancei meus cabelos lisos e negros que chegavam até o final das costas e levantei, deixando Marina deitada com Dorinha, seu corpo alvo estava nu e cheio de marcas de dedos que possuíam uma estranha cor rosa, indo facilmente ao vermelho, característica comum após uma noite de amor compartilhada Dora, os cabelos loiros e longos estavam espalhados no travesseiro, e sua boca estava rubra de tanto beijar, havia um sorriso safado em seu rosto, mesmo adormecida, e senti vontade de cheirar seu cangote, mas, sabia que nesse momento ela pertencia a Dora, podia toca-la apenas quando compartilhávamos a cama a três, o que não significa que não fizéssemos amor em sua ausência.
Formávamos com Dorinha um estranho trio e éramos motivo de falatório na região, aos vizinhos ela contava que éramos afilhadas, eu seria descendentes de nobres espanhóis, enquanto Maria descendia direto de holandeses, talvez por isso éramos tão diferentes das outras mulheres do sertão, nossas feições eram delicadas, nossa pele mais clara, muito embora a minha tivesse um tom de dourado, contrastando com a pele alva e os cabelos amarelos como girassóis de Marina, eu fazia a comparação porque tinha visto uma foto dessas flores em um livro na biblioteca de Dora, abri o livro e mostrei para ela, a loirinha se limitou a dizer "Humm", depois saiu tirando a calcinha que havia entrado nas nádegas.
- Sabe Marina, um dia ainda vou ter um campo todinho de girassóis, todos eles da cor do seus cabelos, assim é como se tivesse várias miniaturas de você, não seria lindo?.
- De certo que seria...
Nós estudávamos na escola da cidade para moças, motivo de inveja e de brigas políticas com as cidades da vizinhança, a escola ficava as margens do Rio São Francisco, e era caminho certo após um dia cansativo de estudo, fim de tarde era certeza, tirávamos nossas roupas e pulávamos alegremente no Velho Chico, tinha esse rio como testemunha do meu amor por Marina.
Estávamos de longe quando a vimos, era uma cangaceira maltratava pelo sol do sertão, mas, era muito bonita, todos sabiam que ela pertencia ao grupo de Lampião, mas, ninguém ousava chegar perto dela, era abril de 1938.
- Joana, olha...uma cangaceira, que roupa bonita, deve ser tão bom ser livre assim.
- Pare de encarar, eles não gostam, você é livre, vai ser ainda mais quando a gente fugir da fazenda, seremos nós duas e o mundo.
- Você deve estar caçoando de mim, e vamos viver de quê?, Dora nos dá tudo, amor, sex*, atenção, tenho quinze anos Joana, e você mal saiu dos dezenove, se fosse para mudar minha vida seria para seguir uma vida de liberdade com os cangaceiros, porque eles tem muito dinheiro, não vou deixar de viver na riqueza para passar fome contigo por ai.
Na semana em que seguiu não consegui voltar ao Velho Chico, tinha muito trabalho na fazenda, mesmo assim Marina não deixou de mergulhar em suas águas, estava cada dia mais encantada com os cangaceiros, não levei a sério sua fala, no fundo sabia que Marina jamais seguiria com eles, de certo devia estar brincando, mas, não estava, em uma madrugada qualquer ela foi, deixando apenas uma carta para Dora se despedindo, nela estava agradecendo por tudo, mas, aconselhou que a falsa madrinha procurasse uma outra menina, pois agora ela pertencia a Maria Flor, uma jagunça forte do bando de Lampião. De manhã acordei com um grito vindo da sala, era Dora, ela chorava inconsolável falando, "minha loirinha...minha preferida, ela me abandonou", Dora nunca mais foi a mesma, desistiu de arrumar uma nova menina, e firmamos nossa relação, duas pretas brutas se esforçando para se lapidar.
Já era noite do dia 28 de julho de 1938, eu e Dorinha soubemos que Lampião e sua companheira Maria Bonita haviam sido capturados e mortos pela polícia na nossa pequena cidade de Poço Redondo, sertão de Sergipe. Chegamos até a rua principal e vimos que os dois tiveram suas cabeças degoladas e expostas ao público, para servir de exemplo, além deles, também morreram outros cangaceiros, entre eles estavam Maria Flor e a nossa Marina.
E nosso grito de pavor ecoou por toda a cidade.
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...
- Samara?, Samara?, acorda meu bem, você está tendo novamente aqueles sonhos estranhos.
- Amor, você, você...era Marina e morria.
- Já sei, degolada com o bando de Lampião...guria, olha bem, somos do sul, não temos ligação nenhuma com o sertão, você fica lendo esses livros de psicografia, depois tem esses pesadelos horrorosos.
- Amor, éramos nós, tenho certeza, só que em uma outra vida, uma outra encarnação.
- Samara, vamos atrasar, nossa agência precisa de nós para funcionar, levanta e vamos tomar aquela delícia de banho, o que acha?.
- Tá...
- Não faz essa cara amor, não é que não acredite em você, eu só...eu só não acredito em absolutamente nada, acho que tudo tem uma explicação, e a senhorita querendo ou não vai procurar uma psicóloga ainda essa semana, estamos entendidas?.
- Sim...
Após um banho gostoso, já estávamos a caminho do elevador, quando tomei um grande susto, reconheci a nova vizinha, era a terceira mulher dos meus sonhos, mesmo estando de máscara, era ela, eu tenho certeza, ela voltou exatamente igual a época de Dora, mas, ao mesmo tempo era idêntica a uma atriz que minha mãe falava muito e seguia em suas redes sociais, como era mesmo o seu nome?, ah, Lúcia Veríssimo, era isso, mas, da minha boca saiu algo completamente diferente quando ela piscou os olhos.
- Meu Deus, você....você é...Dora!!!.
Minha namorada me cutucou e soltei um gritinho de dor, logo após nós três estávamos rindo
- Não perdão, não sou Dora, sou Renée, serve?...prazer, me mudei ontem mesmo, sou a nova vizinha de vocês, meio louco mudar no meio da pandemia, mas, foi necessário, e vocês são?.
- Sou Samara, e essa é minha namorada, Milena.
Olhei seu olhar lascivo e pensei: Dessa vez não, Dora. E nos mudamos no final do mesmo mês.
Fim do capítulo
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Rosa Maria
Em: 10/12/2020
Brina...
Essa Dora vivendo no sertão se "alimentando" de menininhas...eita pédofila danada, no final as "menininhas" até que aprenderam a gostar, alias amar pelo jeito né? kkkk
Beijos
Rosa
Resposta do autor:
Sabe, não sei se elas aprenderam a amar ou tiveram uma espécie de síndrome de Estocolmo, ou ambas as coisas, quem entende o ser humano?. Sei que gostei dessa louca rsrsrsr bjs
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florakferraro
Em: 30/11/2020
Eu fui atrás de descobrir quem era essa Lúcia Veríssimo, nem é do teu tempo com certeza, mas, a mulher é muito gata, vi que mesmo atualmente continua linda.
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florakferraro
Em: 22/11/2020
Essa história foi forte, fico pensando assim, essa Dora é uma abusadora, mas, ela é tão diliça que estaria perdoada, pode enviar meu contato se ela existir.
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brinamiranda Autora da história
Em: 04/11/2020
Dorinha foi inspirada em uma atriz que fez muito sucesso dos anos 80, a Lúcia Veríssimo rsrsrsrs
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Gabi2020
Em: 04/11/2020
Olá!
Dorinha pedófila do caramba!!
Essas histórias dos cangaceiros me fascina, tem o lado da crueledade e tal, mas ouvimos sempre o lado dos perdedores e com isso os vencedores são sempre os mocinhos da história.
Beijoss
Resposta do autor:
Dorinha, pedófila total...rsrsrs só pegando as cabritinhas...
Quanto aos cangaceiros...tudo tem um outro lado, não é?
bjs
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brinamiranda Autora da história
Em: 29/10/2020
Imagine que o conto chamaria Joana e Marina por que ia ter uma inspiração em João e Maria kkkkkkk mas, não rolou...
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Rain
Em: 29/10/2020
Olá!
História sobre Lampião e os cangaceiros me dão náusea e pavor. Minha vó costumava me contar com era o tempo dela quando criança e ficava morrendo de medo e dizia mentalmente " que bom que não nasci naquela época". Ela me dizia que a mãe dela escondia ela no meio do mato quando os cangaceiros passavam por perto. Quando eu estudava minha professora colocou um filme para assistimos sobre Lampião e eu sentir náusea tantos dos atos mostrados como de alguns garotos da minha sala achando engraçado ele arrancar os bofes de cara para fora... Muita crueldade.
Acho que a Joana/Samara fez certo em fugir dessa Renée... Nunca se sabe não é?
Até mais!
Resposta do autor:
Oiê Rain,
Verdade, os cangaceiros tem uma longa história de crueldade, mas, tem um outro lado...o contexto social, simmm Samara fugiu mesmo, vai que a outra queria continuar nessa vida formando um trisal rsrsfs preferiu se mudar e seguir com a vida de boa...
Essa história era pra ser bem diferente do caminho que seguiu rsrsrs os personagens criam vida própria, muito doido...
Até
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