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Contos para ninar gente grande por brinamiranda

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Palavras: 4400
Acessos: 874   |  Postado em: 26/10/2020

Capitulo 2 - Ciranda de pedra

Conto 02 - Ciranda de pedra

 

       Trabalhava na faculdade há cerca de três anos, nesse dia específico cheguei com relativa folga, olhei no espelho do carro, ajeitando os meus cabelos lisos e negros cortados em um elegante long bob curto que contrastava com minha pele alva, verifiquei se o lápis de olho estava realçando meus olhos cor de âmbar e desci do carro arrumando o echarpe xadrez no pescoço que ia até a altura do joelho e que de alguma forma atrapalhava minha mobilidade, a seguir peguei meu material e andei em passos lentos pelo estacionamento em direção ao bloco do curso de Letras, onde lecionava Literatura Brasileira.

       Demorei uns instantes no caminho admirando uma escultura de pedra que amava, eram três anjos que dançavam de mãos dadas em uma adorável ciranda, olhei rapidamente em direção ao nada, senti que alguém me observava, mas, não estava com tempo de ter medo, de qualquer forma apressei meus passos até a sala dos professores e relaxei enquanto tomava um delicioso capuccino cremoso com pão de queijo, servido pelo querido Chicão, o coordenador sempre levava um lanchinho as sextas-feiras.

       Fechei os olhos sentindo o gostoso aroma que me esquentava por dentro, enquanto isso, conversava animadamente com meus colegas de trabalho. Sorri antes de prosseguir o assunto e girei o corpo para agradece-lo.

- Obrigada Chicão, você é demais...

- Na próxima sexta trago algo só pra você Clara, foi a única que agradeceu o carinho do coordenador.

Todos riram, se desculpando pelo esquecimento.

       O tempo pareceu voar, olhei no relógio percebendo que já tinha dado a minha hora, a seguir me despedi de todos, guardei a echarpe no armário, peguei o diário da turma no escaninho e observei que havia um nome escrito em caneta no final da chamada "Angel Veronese Miguel".

       Fui chamando os alunos rapidamente até chegar no último nome, estava curiosa em relação a novata mesmo sem entender o motivo, li o nome Angel em câmera lenta, depois parei uns instantes para observa-la, seus cabelos eram lisos e curtos, indo até a altura das orelhas, de um tom que ia do castanho claro, passando por um chocolate até chegar em um dourado que nunca tinha visto antes, uma franja lateral emoldurava o delicado rosto, e por muito pouco não cobria os enormes olhos azuis, vestia uma bata branca que ia até a altura dos joelhos, sua roupa era intensamente branca e toda bordada com delicadas flores em tons pastéis. Olhei atenta e fiquei na curiosidade de saber se ela havia sido transferida de outro campus, foi incrível, parece até que ela leu meu pensamento, pois nem terminei de pensar e ela já levantou a mão, pedindo a vez em seguida.

- Boa noite Professora Clara, gostaria de me apresentar, sou Angel, morava em Santa Maria, mas, por questão de trabalho estou em Curitiba há duas semanas, gosto muito de Literatura Brasileira e por isso resolvi repetir a disciplina, já que me disseram que a senhora é a melhor de todas.

- Obrigada Angel.

Agradeci sinceramente, depois sorri e continuei a minha fala.

- Agora, pode tirar o senhora, já que a mesma se encontra no céu, para quem acredita, não é verdade?, depois não me reconheço como senhora.

- Desculpe Professora Clara.

       Olhei em sua direção por mais alguns segundos, algo naquela menina capturava meu olhar, não era apenas sua beleza esplendorosa, tinha algo nela que me prendia a atenção para além disso.

- Sem problemas, vamos começar a matéria?. Hoje vamos falar especificamente sobre Clarice Lispector...Clarice nasceu...

- Boa noite professora, esqueceu de falar o meu nome.

       Ela falou praticamente encostando a boca em meu ouvido, logo após senti sua respiração no meu pescoço, seu hálito era quente e exalava um cheiro sedutor que me pareceu uma deliciosa mistura de hortelã com pimenta, virei o rosto lentamente e a vi, era uma ruiva extremamente bonita e sensual, os cabelos vermelhos e cacheados caiam como uma cascata até o meio das costas, seu rosto era anguloso e ao mesmo tempo delicado, enfeitado com uma boca rubra e bem desenhada, seus olhos eram negros, mais pareciam duas estrelas brilhantes, seu olhar era intenso, cortante, verdadeiros punhais que penetravam meus pensamentos, denudando os meus desejos mais secretos, apesar de estar vestida de uma maneira casual, calça jeans justa, blusa branca bordada de pedrarias da cor vermelha, casaco de couro da cor preta e botas do mesmo material, tudo caia com perfeição em seu corpo escultural, aquela moça mexia comigo de uma forma muito intensa, aguçando todos os meus sentidos, tentei manter a compostura, apesar do arrepio que foi da coluna em direção ao meu sex*.

       Puxei o ar e logo após peguei a chamada, percebendo que havia de fato um nome bem abaixo de Angel que ainda não havia visto, nome aliás que foi pronunciado dentro de um grande sorriso por sua dona.

- Paola L'étoile du Matin...totalmente ao seu dispor, professora Clara.

- Obrigada Paola, pode sentar, vou continuar a explicação.

       A ruiva sentou ao lado de Angel, na única cadeira vaga que havia dentro na sala lotada, a seguir cruzou as pernas e organizou o material em cima de sua mesa. Sorriu ao olhar a colega ao lado, desejando boa noite com cara de deboche, Angel não respondeu e se limitou a fazer uma careta de evidente desagrado.

      Retornei à matéria e Paola não disse mais nenhuma palavra a aula inteira, me sentia nua com seus olhos negros me encarando, me devorando, desnudando meu corpo e minha alma, do meu canto eu a enxergava como uma estátua viva, virada em minha direção me analisando, parecia nem respirar, e assim permaneceu, segurando o rosto com as mãos. Nem preciso dizer que a ruiva me desconcertou por completo, nem sei como consegui terminar o assunto da aula nas duas horas que restaram, na verdade nem lembrava mais quem vinha a ser Clarice Lispector ou a sua importância.

       Respirei aliviada quando o ponteiro do relógio marcou 22h, indicando que minha aula havia chegado ao fim. Na minha cabeça era evidente o meu desacerto, mas, pareceu que a turma não percebeu esse detalhe, ou deu um grande desconto as minhas falas um tanto quanto desconexas e foi com muita surpresa que recebi rasgados elogios no final, seguidos de gritinhos animados de "Sextou". Assim que conversei com os últimos alunos, tanto para agradecer, quanto para tirar dúvidas, olhei rapidamente em volta, mas, Paola e Angel simplesmente não estavam mais lá.

       Alonguei o meu corpo cansado e fui em direção ao carro seguindo a mesma trajetória de quando cheguei ao campus. Parei novamente para admirar um pouco a estátua dos anjos quando vi Renata, professora de Cultura Brasileira, ela adiantou seus passos para me encontrar, cruzei os braços e fiquei esperando a sua fala, ela sorriu e piscou os amorosos olhos azuis dizendo a seguir.

- Olá Clara, parece que nós sempre ficamos por último, não é?, pelo visto todos foram embora bem mais cedo do que nós, olha esse estacionamento vazio....bom, aceita tomar um café?, um vinho?, uma pizza, quem sabe?...vamos conversar um pouco...relaxar depois dessa semana tão cansativa.

       Ainda pensei em aceitar, mas, senti que tudo o que o meu corpo estava precisando era de descanso, estava ansiosa por um delicioso banho, depois dormiria como se não houvesse amanhã. Enfim, apesar de tentada, não queria companhia nesses planos, porque compreendia muito bem o hiato entre a pizza e o sono, e definitivamente sex* estava fora de questão nesse momento.

- Puxa, obrigada mesmo pelo convite, fica pra próxima, tudo o que mais quero e preciso é colocar um pijama, ouvir uma boa música e dormir um pouco.

- Tudo bem, já vou indo então.

       Vi uma evidente decepção nos olhos de Renata, era a terceira vez que recusava seu convite, mas, ela não falou nada, apenas se limitou a sorrir, depois pousou um delicado beijo no meu rosto e foi embora, ainda escutei o alarme do seu carro gritando no silêncio do estacionamento, já estava entrando no meu quando ouvi um barulho de coisas caindo, seguidos por um "ai" gutural, corri até lá e a encontrei no chão, o material estava todo espalhado, ela segurava o tornozelo com uma expressão de dor, coloquei suas pernas por cima das minhas, fazendo uma suave massagem para ver se havia alguma fratura ou torção, pelos meus toques percebi que não tinha quebrado nada, nem se machucado seriamente. Sorri e respirei relaxada quando ela ficou de pé, estava bem apesar do susto, ajudei a recolher seu material e me despedi, dessa vez em definitivo nessa noite, já ia saindo quando ela confidenciou.

- Ai Clara, foi estranho, senti como se alguém tivesse puxado minhas pernas de uma só vez, cai igual uma boneca de pano.

      Apesar de cética, dei uma olhadinha ao redor, procurando um indício, uma sombra, qualquer coisa que explicasse a sua queda, mas, não vi nada além de nós duas, perdidas no estacionamento mal iluminado. Me despedi torcendo que nenhum imprevisto acontecesse mais, no entanto, deixei claro que se sentisse algo poderia me ligar independente da hora, ela partiu mais animada e tive a impressão de ter ouvido uma risadinha sarcástica.

      Em casa fui recebida alegremente por Rembrandt e Velásquez, meus dois gatos persas que se enroscaram em minhas pernas ronronando, queriam comida e acima de tudo, atenção. Após a sessão de ração e de carinhos coloquei um roupão e fui preparar meu banho. Olhei no relógio da sala...quase meia noite.

       Fiz um movimento com os ombros e em seguida com o pescoço, senti que ambos estavam tensos, por isso os alonguei para me sentir melhor, depois coloquei um cd de música clássica para rodar, Schubert como sempre, a seguir enchi a banheira com água morninha, talvez um pouco mais para quente, derramando uma das minhas essências preferidas, um mix de aromas de flor de laranjeira, bergamota, benjoim e limão, em segundos o cheiro tomou conta do banheiro, esses aromas ajudam a acalmar a mente, aliviando o estresse e restaurando o entusiasmo. Se um banho de espuma já tem a capacidade de relaxar o corpo, esse diminuía completamente os sintomas de cansaço e as dores decorrentes de uma dia corrido, neste caso, os benefícios ainda eram potencializados por conta do aroma calmante e restaurativo.

       Respirei fundo ao lembrar de todas as propriedades que Levi, um simpático rapaz que trabalhava da loja de produtos naturais "L'unicorne allègre" me indicou, essa loja foi um achado, estava bem escondidinha em pleno coração da Praça Tiradentes, segundo o vendedor essa loja havia sido inaugurada há apenas uma semana.

       Sorri, deixando que as lembranças fossem embora e mergulhei nas águas cheirosas ao som de Ständchen, fechei os olhos a seguir, mesmo me esforçando para deixá-los abertos. A certa altura me senti completamente desperta, abri os olhos e constatei que estava em um estranho tribunal, o chão era forrado por um grosso tapete vermelho e não conseguia enxergar nada direito devido a intensa luz que preenchia cada espaço do ambiente, fechei e abri os olhos, mas, não consegui me acostumar direito com  a claridade.

      Ouvi um sino tilintar e só ai entendi, o toque da campainha estava marcando a abertura de um Tribunal do Júri, formado pelo que eu percebi ser uma juíza, ladeada por uma promotora, uma escrivã e alguns oficiais de justiça, como a claridade era grande, não conseguia ver o rosto de ninguém que ali estava.

       A juíza ficou de pé, dizendo a seguir.

- Está instalada a sessão do Tribunal do Júri, as cédulas com os nomes dos jurados serão colocadas na urna para o sorteio neste instante.

       Foram sorteadas como de praxe sete pessoas dentre os presentes para compor o conselho de sentença (jurados). Logo após, a juíza voltou a falar.

- A senhora Maria Bernadete, oficial de justiça, deverá realizar o anúncio do processo, certificando a diligência nos autos.  Peço que entrem todas  as testemunhas nesse exato momento.

       Evidente que não consegui ver quem eram as testemunhas, no entanto, enxerguei algo inusitado, todas tinham algo em comum, era uma cordão de prata luminoso que saia dos respectivos umbigos, mais parecendo cordões umbilicais.

       A juíza voltou a levantar para outro anúncio, eu assistia a tudo impassível, esperando a hora exata da minha participação, sim, decerto eu tinha alguma função importante nesse julgamento, só não lembrava como havia chegado ali, o que me pareceu irrelevante no momento.

       A juíza colocou as mãos na cintura falando em seguida.

- As testemunhas presentes devem ser recolhidas em salas distintas, separando as de acusação das de defesa, para que não ouçam o depoimento umas das outras e não se comuniquem. Cumpra-se agora.

       Depois ela sorriu e colocou os braços para trás.

- A ré deve ser conduzida ao plenário, o justificado uso das algemas de prata é imprescindível para que a ré não desperte antes do julgamento e principalmente para manter à perfeita ordem dos trabalhos, assim como para garantir segurança das testemunhas, preciso lembrar que manter a integridade física de todos os presentes é uma das minhas obrigações.

       Estava atenta quando vi que duas pulseiras brilhantes ascenderam nos meus pulsos, nelas estava pictografada a palavra "selenitas". Fiquei apreensiva e hiper ventilando quando me preparei para levantar e senti que as pulseiras impediam meus movimentos, foi então que cai na real "Meu Deus, eu sou ré, mas, o que fiz?, do que estou sendo acusada?", já estava apavorada quando ouvi em minha mente a voz de Paola "confia em mim", também senti o seu cheiro inebriante me acalmando.

       A Juíza decerto ouviu as palavras que Paola me enviou, pois a seguir falou irritada.

- Peço a todos o silêncio devido, inclusive em relação as vozes mentais...Senhores jurados e demais profissionais presentes ao recinto, como devem saber, não podem se comunicar neste momento, nem mesmo por pensamento, principalmente com a ré. Aos senhores jurados um aviso, os senhores não podem manifestar opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do conselho. Lembre-se, todos devem dirigir a palavra somente a excelentíssima juíza, no caso, eu.

       Todos demonstravam respeito e assentiram as ordens da juíza que continuou a fala.

- Concito os jurados a examinarem com imparcialidade a causa, e que cheguem a decisão de acordo com suas consciências e com os ditames da Justiça Celestial e do Submundo que foram entregues a todos.

       A seguir foi ordenado que todos erguessem seus braços e com a mão direita à frente, deveriam falar: "Assim o prometo".  Logo após a fala, a oficial de justiça distribuiu a todos os jurados um grande envelope com documentos, Paola mencionou em minha mente que estavam distribuindo a cópia da pronúncia e do relatório do processo, assim como as leis dos dois mundos, e só assim, finalmente pude finalmente descobrir o que estava acontecendo, estava sendo acusada de subverter duas anjas, uma do reino celestial, e outra do submundo.

       A juíza avisou que nesse instante seriam ouvidas as anjas e a seguir, as testemunhas. Se os jurados presentes tivessem alguma dúvida, poderiam fazer perguntas a ré, assim como às testemunhas, lembrando que esse processo ocorreria unicamente por intermédio da juíza presente. Dessa forma se deu início aos debates entre a acusação e defesa.

- Meritíssima, senhores jurados...peço agora mesmo a condenação da senhora Clara Veríssimo Holtzkocker, por quebra de decoro. Vejam só, eu estava no meu canto cumprindo dignamente a minha pena, ou seja, estava habitando um dos corpos dos anjos de pedra no período noturno como me foi ordenado, com o objetivo único de cuidar daquela universidade e quero deixar claro que estava fazendo tudo certo, me esforçando para cumprir  a pena da melhor possível e acatando ordens do Conselho Celestial e do Submundo, estava muito bem, quando do nada...essa mulher que acuso passou a lançar olhares lascivos em minha direção, e olha que estava nua, estava exposta, como uma estátua de um anjinho que até p*nis tinha.

       A anja deixou que uma lágrima vermelha lhe descesse na face, a seguir respirou fundo continuando.

- O fato é que de repente fui tomada de uma paixão desmedida, o sentimento era tão fora do comum que não pensava em outra coisa senão possui-la e totalmente contra a minha vontade, sai do anjo de pedra, sendo obrigada a tomar um corpo humano entre os universitários para conquistar o amor dessa mulher, e eu teria conseguido se Paola não viesse atrapalhar meus planos, fazendo de tudo para chamar atenção da Senhora Clara, impedindo que ela se tornasse a minha senhora no submundo.

       Angel, torceu as mãos, enxugou as lágrimas vermelhas que se multiplicavam no chão e continuou.

- Sei que fui fraca em me deixar seduzir, mas, sou apenas uma anja jovem, e isso tudo não teria acontecido, se não tivesse sido seduzida de forma vil pela ré, que fingiu me querer, para logo mais me descartar como um trapo velho quando viu Paola. Com isso ela se enquadra no crime 23, ato 4,  § 3, cometendo o Crime de Sedução a Anjo Caído, sendo evidente que é culpada. Além disso peço que rebaixem a anja Paola, pois novamente ela usou de artimanhas escusas ao seduzir a professora, agindo com total falta de decoro angelical.

       Respirei fundo quando comecei a enxergar com perfeição tudo o que se encontrava ao meu redor, podia ver tudo, inclusive as pessoas, só não estava mesmo conseguindo ouvir Angel, me diverti quando via que ela mexia a boca, mas, não ouvia nenhum som, também sorri ao constatar  que todas as testemunhas eram conhecidas minhas e entendi que o cordão de prata tinha um sentido interessante, ele mantinha o corpo da pessoa conectado ao seu espírito, todos que ali estavam eram vivos e suas almas foram levadas ao meu julgamento.

       Estava longe quando o discurso de Angel voltou em segundos a minha cabeça, a mensagem foi enviada por Paola que destravou meus ouvidos, as palavras da minha adversária me indignaram, por isso, virei os olhos a tempo de ver Angel do outro lado, ela balançou todo o seu corpo e duas enormes asas negras se abriram, da mesma forma que suas feições delicadas caiaram, evaporando como purpurina no ar, e assim, pude ver seu rosto real, sua verdadeira face bestial, e mesmo com muito medo, retruquei.

- Ora sua louca, eu apenas olhava a estátua, nem sabia que estava habitando nela, se soubesse tinha passado longe.

       A juíza olhou severamente para Angel e em seguida para mim falando.

- Angel, você já pode voltar a sua máscara angelical para não assustar os vivos. Dona Clara, foi avisado que a senhora não se pronunciasse enquanto não chegar a sua vez.

- Desculpe Meritíssima.

       A seguir Paola iniciou suas explicações.

- Toda a fala de Angel, que aliás, deveria usar seu nome verdadeiro, Dévila, é uma tentativa de deslocamento, a anja caída apenas tenta de uma maneira muito clara, desviar a sua conduta de algoz, passando a posição de vítima, querendo dar um sentido de um ato criminal de sedução que na verdade nunca existiu. Dévila além de usar uma prática discursiva característica dos algozes, também quebrou uma ótica jurídica tanto angelical quanto a do submundo, ela saiu do posto em benefício próprio. Por fim concluo que a alegação que a ré a olhava de forma lasciva é mentira, Clara na verdade sempre rezava em frente os anjos de pedra pedindo uma prova de existência divina, pois seu desejo maior era encontrar uma ligação com o sagrado, que uns chamam de Deus, outros de Deusa, sendo assim, percebemos que a acusadora quer apenas inferir a Clara uma característica de mulher experimentada nos mistérios sexuais com anjos caídos, o que é uma inverdade. Por isso mesmo, por total falta de malícia nessas questões, peço a absolvição da ré, que nada sabia do acontecido.

      Os jurados e a juíza tentaram disfarçar a evidente emoção após a fala de Paola. Como o assunto era extenso, ainda tiveram direito a  réplica de Dévila, a promotora, e a tréplica de Paola, a defensora, por isso foi acrescentado mais uma hora para debates. Encerrado esse ato, a juíza advertiu as partes que não seria permitida qualquer intervenção que perturbasse a livre manifestação do Conselho, sob pena de ser retirada da sala a pessoa que se comportasse de forma inconveniente. Os jurados saíram para a votação na sala secreta, voltando com a decisão, de forma que a juíza sorriu ao lavrar a sentença.

-Antes da leitura, quero avisar aos jurados que está encerrada a incomunicabilidade. Peço silêncio a todos, porque nesse instante vou proferir a sentença, jurados podem voltar aos seus lugares, assim como todos presentes. Neste instante peço a todos que fiquem de pé, pois a sentença será proferida.

- Por entender comprovada de forma satisfatória a imaterialidade e autoria da conduta imputada a Clara Veríssimo Holtzkocker, julgo improcedente a pretensa denúncia, e de consequência absolvo Clara das acusações que lhe são feitas nestes autos.

       A juíza foi aplaudida de pé, pedindo silêncio  de forma enfática para prosseguir.

-  Por outro lado, o Conselho de Sentença julgou procedente a acusação formulada na pronúncia contra a Anja Caída Dévila, e condeno-a seguinte pena.

* Trinta e um anos terrenos, um mês e dez dias angelicais, trabalhando em uma creche infantil terrena, com crianças de zero a três anos...sem lembranças, poderes e em um corpo totalmente humano. Anjos Celestes agirão como parentes e amigos, assim como, falsas lembranças serão induzidas na condenada.

- Ah, não, isso é o dobro de tempo para nós anjos caídos, eu não tenho condição alguma de cuidar de crianças pequenas por quase setenta anos terrestres. Por favor, detesto aqueles mini adultos, são tão barulhentos e desagradáveis.

- É isso ou a reencarnação como humana sete vezes seguidas em um corpo absolutamente saudável que a faça viver muito. Então Dévila?, pode escolher o que prefere.

- Ok, tudo bem, fico com as crianças mesmo.

- Anja Paola, apesar de ter agido de boa-fé, foi constatado que de fato seduziu a humana, por isso cumprirá uma pena do mesmo tempo de Dévila, sua pena é...

       A risada da Dévila encheu o ambiente, a juíza apenas a olhou e acrescentou, o equivalente a três  anos terrestres em sua pena. O aumento fez que com que a anja caída se calasse de forma instantânea, embora uma nuvem negra se formasse bem acima de sua cabeça, por óbvio interesse, não disse mais nenhuma palavra.

- Anja Paola, está condenada a unir almas gêmeas na Terra já que se interessa tanto pelo amor entre humanos, sua pena dura o mesmo período que Dévila, tirando os anos que foram acrescentados, saiba que tem direito a dois ajudantes por caso.

       A juíza relaxou quando viu que tudo havia acabado bem, soltou os enormes cabelos cacheados, a seguir abriu as asas e vi que cada uma tinha uma tonalidade diferente, foi ai que percebi que ela era uma híbrida, uma mistura de um ser celestial com um ser do submundo, seu rosto era perfeito e seu corpo escultural e no meio dos longos cabelos loiros, pude ver duas mechas, uma era branca e a outra vermelha, e elas se misturavam discretamente. Ela me olhou atentamente com seus grandes olhos verdes, depois abriu um lindo sorriso e agradeceu mentalmente os elogios. Após sua fala, adotou novamente uma postura séria, encerrando assim o julgamento, vi que de alguma maneira um fio rosa passou a nos conectar, o que seria isso?. Ela não me respondeu e continuou a falar.

       Agradeço aos senhores jurados a presença e o cumprimento do dever, os senhores estão dispensados. Agradeço também aos serventuários da Justiça aqui presentes. Declaro encerrada a sessão.

.

...

       Abri os olhos lentamente, a água estava fria e o cheiro dos sais era praticamente inexistente, me enrolei no roupão e fui para quarto, a caminho olhei o relógio, constatando que haviam se passado três horas desde o meu mergulho na banheira. Ao deitar, vez por outra, apareciam flashs de sonhos em minhas memórias, mas, optei por esquece-los, já que eles não faziam sentido algum para mim.

       Pisquei os olhos e o final de semana passou voando, segunda à noite estava de volta a faculdade, cheguei em cima da hora, mas, a tempo de ver a estátua dos anjos de pedra sendo destruída, perguntei a motivação, e avisaram que foi uma ordem do reitor, mas, que no lugar iam construir uma fonte com cristais e suculentas, achei uma excelente ideia e segui apressada para sala dos professores.

      Juntei minhas coisas rapidamente e já ia sair para dar aula quando a vi, senti um arrepio percorrer minha coluna, ela era uma linda mulher, tão linda que não parecia humana, seus cabelos eram loiros e cacheados, chegando até o meio das costas e seus olhos pareciam duas esmeraldas brilhantes, sorri ao constatar que era uma professora novata, e timidamente me apresentei.

- Oi, sou Clara, professora de Literatura Brasileira.

- Prazer, Judge...professora de Direito Penal.

- Nossa, seu nome significa?....

- Exato, Juíza, mas, pode me chamar de Judy, meu segundo nome, por alguma razão meus pais me batizaram de Judge Judy....exótico, não?. Você poderia, por favor, me indicar o caminho do Bloco A?.

- Claro, vamos andando, dou aula no Direito hoje.

- Ah, que bom, me dei bem...

- De alguma maneira, te digo o mesmo.

.

...

       Ao lado do bloco, Paola abraçou carinhosamente os dois anjos que a acompanhavam.

- É meninos, primeiro caso, ok...hora de voltar para casa.

 - Ah Paola, antes vamos passar novamente para ver Dévila auxiliando em uma creche, é muito engraçado vê-la sem poderes, sem lembranças do que é, e o pior de tudo...em forma humana.

- E Porque não?. Hahahahah

Fim do capítulo


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Comentários para 2 - Capitulo 2 - Ciranda de pedra:
rhina
rhina

Em: 12/12/2020

 

Morri!

 Atropelada, massacrada por uma Scania chamada Senhora cheia de Conteúdo.

Valeu..

Obrigada.

Rhina


Resposta do autor:

Essa definição foi top rsrsrsrs adoro uma boa fala.....e obrigada por comentar.

Valeu bj

Responder

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rhina
rhina

Em: 12/12/2020

 

Pois é: Sabrina Miranda

Posso fazer uma pergunta?

 Se sim, lá vai minha pergunta.

Se não, faço ainda assim.

* você é professora ou formada em Letras literatura/ português?

 Então!

 Seu  processo de escrita é muito complexo!!!!

 Meu tipo desafiador de preferência!

 Bom dia.

Bom final de semana.

Rhina


Resposta do autor: Bom dia Regina, fique a vontade para perguntar o que quiser. Então, sou professora de Filosofia, Sociologia e Antropologia, sou cientista social e tenho mestrado em Antropologia, mas, sempre gostei de escrever, no entanto, os romances ficaram em segundo plano, tinha escrito dois anos atrás "A sombra do tempo" e uns cinco anos atrás um rascunho da vampira Marianne, o resto surgiu durante a pandemia... Excelente final de semana pra você também!

Responder

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rhina
rhina

Em: 11/12/2020

 

Casa.

Vc começa assim é termina assado.

Tenho certeza que vc se diverte muito emaranhando nossas mentes com o que parece mas nunca é......kkkkkkk

Senhora Z.

Rhina


Resposta do autor:

Rhina, o pior é que até eu me surpreendo as vezes, pode acreditar, as vezes penso em um final e quando estou escrevendo tudo muda, é um processo muito complexo esse meu.

Bjs

Responder

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Rosa Maria
Rosa Maria

Em: 10/12/2020

Brina..

Que beleza e surpreendente no final a que parecia do mal na realiade é do bem, prova que não devemos julgar as aparencias..

Beijos

Rosa


Resposta do autor:

Exatamente Rosa, era isso mesmo que quis passar com esse conto 

Bjs

Responder

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florakferraro
florakferraro

Em: 30/11/2020

O bom é que no final das contas, a que pensei que era boa era ruim, e a que achei que era ruim era a boa hehehehe

Responder

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florakferraro
florakferraro

Em: 22/11/2020

Ia ser muito bom ter um spin off, mas, ainda gosto mais da Stella, acho que daria um grande livro.

Responder

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brinamiranda
brinamiranda Autora da história

Em: 04/11/2020

ps. escolhe um tema e conta várias histórias curtinhas sobre o tema, assim rola...bjs

Responder

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Gabi2020
Gabi2020

Em: 04/11/2020

Olá tudo bem?

 

Ri demais com essa anja Caída Dévila... Kkkkk.... Doidinha! Por isso que não devemos nos deixar levar para as aparências, a diabinha era do bem... Kkkkk...

 

Beijosss

 

Ps. Queria ter esse talento para escrever contos curtos.


Resposta do autor:

oieeee Gabi,

A anja caída era uma tropeça rsrsrss. Pois é, no final a diabinha era do bem....talvez um pouco espevitada, mas, do bem....

Quanto aos contos começa, é um excelente exercício para criatividade...bjs

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Rain
Rain

Em: 29/10/2020

Minha nossa que coisa louca!

Eu teria ido comer a pizza, sério menos assustador e mais gostosa. Rs

Deixa eu ver se entendi: a Juíza híbrido é a Judy a alma gêmia da Clara no mundo humano? Então, ela também se transformou em humana? 

Outra curiosidade ( rsrs) : Você tem preferencia em ruivas? Ou você é ruiva? Em quse todas as suas que li até agora elas sempre aparecerem uma ruiva. 

Gosto disso, ruivas são lindas, apesar de eu nunca ter visto uma pessoalmente.

Até mais. Bye!


Resposta do autor:

Pizza é uma excelente pedida a qualquer dia rsrsrs

A juíza foi transformada em humana, assim que apareceu a conexão delas no ar, mas, preferi deixar subtendido essa história...rsrsrs adorei essas duas, quem sabe faço um spin off depois?.

Sim, adoro ruivas... são lindas, conheci algumas, namorei uma dessas anos atrás, loiras também, claro que a atração conta muito, mas, tem todo um contexto para que me interesse...

Até ,

 

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