15. Surpresa

Na manhã seguinte, despertei e Ilíone ainda estava dormindo. Levantei com cuidado e fui até a cozinha. Felipa me ajudou a montar uma bandeja com café da manhã e quando voltei ao seu encontro, Ilí estava despertando.

- Bom dia! Dormiu bem?

"Bom dia! Sim, já é tarde? Nossa nem ajudei no preparo do desjejum. Desculpa, não consegui acordar mais cedo".

- Não se desculpe, você fez muito bem em descansar, precisava, também acordei a pouco e eu trouxe o café da manhã para você. Linda, entenda que você nem precisa se sentir na obrigação de fazer as tarefas domésticas. Você é a minha namorada, a mulher que eu amo e quero que esteja sempre ao meu lado. Compreende a importância que você tem na minha vida?

"Acalântis, eu te amo (afirmou sorrindo).

- Eu te amo muito mais e estava com muita saudade de te ver sorrindo, agora vou te alimentar, te quero sempre saudável.

"Não precisava se dar ao trabalho".

- É melhor se acostumar, vou te mimar muito.

"Vou continuar cozinhando, gosto muito (afirmou).

- Eu sei e adoro a sua comida. Só não precisa se desgastar, ficar limpando e organizando tudo. O faça sem pressa, sem se cobrar tanto, não é necessário acordar tão cedo e dormir tão tarde por conta de louças por exemplo, quero que você se poupe e não fique achando que deva ficar servindo ou que tem algum tipo de obrigação. Te quero sempre bem e feliz.

Ela voltou a sorrir e tomamos café da manhã juntas.

- Amor, desmarquei as minhas aulas e não tenho nenhum compromisso nesta semana. Então não vou desgrudar de ti. Vamos nadar hoje?

"Meu pé".

- É mesmo, Felipa falou para evitar esforços, vamos nadar outro dia. Podemos ficar lendo juntas ou toco algum instrumento para você.

"Gostei".

Passamos a manhã no quarto, toquei harpa e fizemos a leitura de diversos poemas. Almoçamos na companhia do meu pai e da minha madrasta.Os dias seguintes foram muito tranquilos e a Ilíone se recuperou muito bem.

Quando completei dezoito anos ganhei uma festa surpresa, durante o dia todos fingiram que tinham esquecido da data, Ilíone e Lacedemônia preparam todos os detalhes. O salão de festa ficou lindo todo decorado, para o jantar tinha tudo que gosto e o bolo que a Ilí fez estava delicioso. Papai anunciou que meu presente de aniversário era um conservatório e fiz questão de ir até o espaço, localizado nos fundos do castelo. Fiquei encantada com todo o ambiente.

- Pai, o senhor é incrível, vai ser lindo ver este espaço cheio de pessoas dispostas a aprender música.

- Não é um presente só meu, longe disso. A sua madrasta e a sua namorada me auxiliaram muito, todos os instrumentos daqui, elas que providenciaram, além, de cuidarem de cada detalhe da organização.

- Agradeço aos três e tenham certeza que este conservatório será muito bem utilizado. Gostei muito e nem imaginava. Acertaram em cheio no presente.

No dia seguinte, inspirada com a surpresa do dia anterior, decidi também fazer uma para a Ilíone, pedi autorização do meu pai para passar um final de semana em uma outra propriedade que temos próximo do forte, pois, a vista por lá é muito linda.

- Sinto cheiro de romance no ar.

- Vou pedir ajuda da Lacedemônia, para preparar algo especial para oficializar o meu relacionamento com a Ilíone.

- Tenho certeza que ela vai adorar te ajudar e claro que você tem a minha permissão para utilizar a nossa fortaleza no forte sempre que quiser. Tudo que é meu, é seu minha filha.

Agradeci e abracei meu pai. Em seguida procurei por Lacedemônia que estava no jardim.

- Posso falar contigo?

- Claro, eu estava admirando essas flores lindas.

- Eram as preferidas da minha mãe.

- Então é por isso, que você tem o hábito de colher flores daqui e montar buquês?

- Sim e levo até o túmulo dela.

- Uma bela homenagem e quais são as suas flores prediletas?

- Não ligo muito para flor não, acho bonitas, mas, não tenho nenhuma favorita.

- Eu prefiro as rosas e a Ilíone?

- Adora as flores comestíveis.

- São mesmo bonitas e saborosas.

- Quero te pedir um favor.

- Se eu puder ajudar, peça!

- Vou fazer uma surpresa para a Ilí, no dia dois de junho ela também completa dezoito anos. Papai já autorizou, usarei a propriedade do forte e passaremos o final de semana por lá.

- Não conheço, seu pai já me disse sobre a fortificação, mas, por ser distante ainda não visitei, acabo preferindo ficar aqui no castelo mesmo, que já é enorme. Mas, a visão de lá deve ser linda imagino.

- É sim.

- E tem também a questão da privacidade. Por isso, elegeu lá para a surpresa?

- Isso, pode me ajudar com os preparativos? Quero oficializar meu relacionamento.

- Será uma honra, adoro organizar festas.

- Na verdade, vai ser algo íntimo, não precisa fazer muita coisa não.

- Que tal um jantar a luz de velas?

- Excelente!

- Conte comigo, ela vai amar, eu estava mesmo entediada, farei questão de cuidar de todos os detalhes.

- Quero que ela fique a vontade, então, sem exageros e sei que você tem bom gosto.

- Grata por seu elogio. Qual a cor favorita dela?

- Ela gosta de dourado.

- Já providenciou um anel de ouro para ela?

- Sim.

- Então, pode ficar tranquila cuidarei de tudo para você e vou te informando.

- Obrigada desde já.

Ilíone não desconfiou de nada e Lacedemônia ficou toda empolgada.

Quando a data tão importante chegou, eu estava ansiosa e acabei acordando alguns minutos antes da Ilíone. Rezei e agradeci pela sua existência.

- Bom dia e feliz aniversário (parabenizei e enchi ela de beijos).

"Amor, obrigada"!

- O quê você quer fazer hoje?

"Ficar o tempo todo contigo".

- Faço questão de providenciar teu desejo, ficando grudadinha em ti. O aniversário é teu, mas, o presente é todo meu. Você é um presente na minha vida.

"Linda"!

- E você maravilhosa.

"Já estou com fome".

- Então vamos nos arrumar e fazer o desjejum.

Ilíone foi recebida com felicitações, apesar de constrangida ficou muito feliz.

- Parabéns pelos seus dezoito anos.

Disse meu pai estendendo em sua direção um colar, semelhante ao que tenho e com a inicial do nome dela.

"Rei, fico muito agradecida".

Nos alimentamos e tudo estava ótimo. Quando terminamos Ilí quis ofertar um pedaço do seu bolo de aniversário e fiz questão de acompanhá-la até a estátua de Ártemis.Assim que retornamos, Lacedemônia nos aguardava.

- Para vocês usarem hoje (falou e nos entregou dois embrulhos).

"Rainha, não precisava, obrigada".

- Espero que gostem, desejo muitas felicidades!

Ganhamos um vestido cada uma, junto com um conjunto de peças íntimas.Guardamos no nosso quarto, em seguida fizemos uma hidratação grega que a Felipa preparou para os nossos cabelos.Depois do almoço cochilamos um pouco e assim que acordamos anunciei:

- Tenho uma surpresa para ti, vamos nos arrumar, iremos sair e passar o final de semana fora do castelo.

"Mas, eu nunca viajei".

- Não se preocupe, nem será nenhuma viagem longa, desta vez nem sairemos de Lesbos, quero te levar para um lugar aqui na ilha mesmo.

Enquanto Ilí estava no banho, separei algumas roupas e pertences nossos, para levarmos. Na sequência corri para falar com a minha madrasta, que estava na sala de leitura.

- Acalântis, você escolheu um excelente local, de lá é possível ver toda a ilha, adorei e fiz questão de ir pessoalmente para preparar tudo.

- Lacedemônia, sem a sua ajuda nem daria conta de preparar tudo, obrigada por cuidar de cada detalhe.

- Espero que gostem de tudo, dei o meu melhor.

- Vamos gostar sim. Quer ver o anel?

- Claro!

Estendi em sua direção e ela examinou a joia.

- É delicado e elegante. Perfeito e combina com a Ilíone.

- E eu vou usar um anel que era da minha mãe.

- Oficializar um relacionamento, para a sociedade, funciona como uma condição mais séria. O principal vocês já possuem que é o amor e vão continuar crescendo juntas. Entendo como namoro, um tempo de conhecimento, entre duas pessoas que buscam mais do que amizade e é tempo de escolha. Fase já ultrapassada por vocês. O coração aproximou vocês e o amor as uniu. Agora vou parar de tagarelar, vá se arrumar e tenham uma bela noite.

- Muitíssimo obrigada. Posso te dar um abraço?

Ela levantou da poltrona e me abraçou forte. Foi bom, ela vem sendo muito boa comigo.

Tomei um banho e gostei do vestido azul clarinho que Lacedemônia me deu, já o da Ilí, no tom champanhe, ficou encantador.

- Tão bela!

"Estou curiosa. Para onde vamos"?

- Logo você vai descobrir. Vamos?

"Sim, estou ansiosa".

Deixamos o castelo de mãos dadas e uma carruagem já nos aguardava.Permanecemos com as mãos unidas e ficamos admirando a paisagem.

"Conta".

- Já estamos chegando.

"Onde mesmo"?

- Toda curiosa, tenta adivinhar?

"Não faço ideia".

Apontei para o alto da ilha, visando diminuir a desinquietação dela.

"Ainda não entendi".

Ela comentou, mas, em seguida avistou o forte e me olhou com curiosidade.

"Sempre tive vontade de conhecer a fortaleza, é tão protegida que nunca subi, mas, desde criança tinha vontade de olhar toda a ilha lá do forte".

- Deveria ter me dito e eu já teria lhe trazido.

"Obrigada"!

Assim que chegamos Ilí ficou admirando tudo atentamente.

"Mal posso esperar para amanhã conseguir ver tudo daqui de cima".

- Meu bem, teremos o final de semana todo e você vai poder aproveitar.

"Adorei a surpresa".

- Na verdade só está começando (falei a puxando para dentro).

Assim que entramos deparamos com uma faixa escrita pela minha madrasta.

"Safo: um cometa em forma de estrela cadente que nos recorda a essência do amor como necessário e urgente acontecimento".

Terminamos de ler e com cumplicidade nos beijamos. Decidi aproveitar do momento para me ajoelhar, estendi em sua direção o anel que encomendei e comprei para ela.

- Prometo ser para sempre sua!

"Oh! Pelos deuses todos, eu também. Levanta, não precisa se ajoelhar não".

- Eu te amo tanto!

"Também te amo, que anel mais lindo".

Coloquei em seu dedo anelar da mão esquerda e em seguida beijei. Ela fez o mesmo, quando mostrei para ela o anel que pertencia a minha falecida mãe.

Como tinha me dito, Lacedemônia preparou um jantar a luz de velas.

"Que belo, tudo dourado".

- Confesso que pedi a ajuda da minha madrasta, ela perguntou tua cor favorita e me auxiliou com tudo.

"Quando retornarmos vou agradecer, tem até salada de flores comestíveis".

- Tudo para você minha linda.

Jantamos, estava delicioso e tinha de tudo um pouco.
Assim que terminamos Ilí quis conhecer a casa, circulamos por todos os cômodos, até que chegamos em um dos quartos que assim como a sala estava todo decorado em dourado.

- Lacedemônia não tinha me avisado desta parte, isso é uma surpresa para nós duas.

"Ela adora decoração, pensa em cada detalhe".

- Verdade, olha as pétalas na cama, que belo!

Ilíone me abraçou e me beijou com paixão. Começamos a retirar cada peça que estávamos usando. Quando ficamos nuas estremeci e senti excitação.

- Ilí, você quer isso? (Perguntei aos suspiros).

Com a sua face bem próxima da minha, olhando profundamente nos meus olhos e com o objetivo de que eu fizesse uma leitura labial pediu:

"Faz amor comigo"!

- Sim, claro, quero muito. Eu te amo.

Falei tudo sentindo meu corpo latejar.

- É a noite mais sensual da minha vida.

"A minha também".

- Seu corpo é muito suave e macio. Você é perfeita.

Comentei acariciando o corpo dela e deitando-a sob as pétalas na cama.

- Sinto uma urgência por ti que não entendo muito bem, estou excitada e um pouco nervosa.

"Vamos relaxar e saciar as nossas vontades".

Voltamos a nos beijar de forma intensa, as nossas bocas estavam quentes, a língua dela deslizou e se juntou a minha.Nossos corpos começaram a se mover em perfeita harmonia, enquanto as nossas respirações, totalmente ofegantes.
Quando ela começou a acariciar meus seios fiquei inebriada, primeiro ela usou as pontas dos dedos, tocando cada aréola, em seguida pegou com firmeza e eu gemi. Repeti da mesma forma nela. Ilí sorriu e se tornou muito provocante, arqueando na minha direção, colando os nossos corpos, me encorajando para continuar aquele ato romântico e delicioso. Desci a minha mão direita para o baixo ventre dela e toquei a sua intimidade.

- Ilí (chamei contra os lábios dela) tudo bem?

Ela confirmou, abriu as pernas e continuei. Senti a sua umidade e calor. O corpo dela me acolheu e foi incrível tocar no seu íntimo. Quando ela começou a se balançar de forma rápida, intensifiquei o ritmo, levando-a a euforia. Ao movimentar meu dedo dentro dela, no ápice do nosso entrosamento, senti uma energia boa percorrendo toda a minha coluna e em seguida desabamos juntas.
Os olhos da Ilíone ficaram vidrados e ela vibrando. Depois de um tempo recuperando as suas forças, ela inverteu a posição, ficando por cima e me levando a loucura.

"E se inclina perto pra ouvir tua doce 

Voz e teu riso 

Pleno de desejo.

Ah, isso, sim, 

Faz meu coração ‘stremecer no peito. 

Pois tão logo vejo teu rosto, a voz 

Perco de todo. 

Parte-se-me a língua.

Um fogo leve 

Me percorre inteira por sob a pele. 

Com os olhos nada mais vejo.

Zumbem 

Alto os ouvidos. 

Verto-me em suor.

Um tremor me toma Por completo".

(Poema de Safo)

Fim do capítulo