Aeoboc por May Poetisa
"Os antigos gregos acreditavam que as fatalidades e os sofrimentos eram inevitáveis e podiam se abater sobre qualquer um. O que realmente importava era a forma como o ser humano se comportava diante das dores da vida", explica Viktor Salis, especialista em fenomenologia dos mitos pela Universidade de Sorbonne, na França, e autor de livros como Mitologia Viva.
14. Ilíone
14. Ilíone
Quando amanheceu eu já estava pronta para sair a procura de Ilíone.Assim que deixei meu quarto encontrei com a Lacedemônia.
- Bom dia! Como você se senti?
- Bom dia! Nada bem. Hoje eu encontro a Ilí ou não me chamo Acalântis.
- Não esperava menos de você, sabia que não ficaria apenas esperando, amuada e toda deprimida, o melhor é mesmo ir a luta, procurar por ela com afinco, você é uma jovem de atitude. Faz bem em não ficar presa no quarto chorando, além disso, quem procura, acha. Isso é para você!
Apanhei o colar que ela estendeu em minha direção e gostei muito do pingente.
- Concordo com os gregos antigos que sempre acreditavam que o amor verdadeiro tem origem nos Deuses e de acordo com as lendas da nossa mitologia, o responsável pelo sentimento é Eros. Então é para te dar sorte.
- Lacedemônia, muito obrigada! Nem mereço depois de tudo que te fiz.
- Já passou e repito quero o seu bem. Se você estiver feliz, o seu pai também estará e vocês são a minha família agora. Compreendo a tua angústia, mas, você não pode sair sem se alimentar, já nem jantou ontem.
- Não sinto fome.
- A paixão faz isso mesmo com os jovens, perdem a fome, só que você precisa estar bem e forte para reencontra-la.
Ela tinha razão mais uma vez, tomei uma xícara de café, apanhei uma maçã e sai comendo, mesmo sem vontade. Andei por vários locais da ilha, passei a manhã toda procurando, perguntando para as pessoas e infelizmente sem sucesso. Por todos os locais que andei, os guardas já tinham passado.No horário do almoço retornei para o castelo, só para tomar um banho, por conta do calor e em seguida retomar as buscas. Quando eu já tinha atravessado a sala de entrada, escuto um alvoroço, rapidamente fui até a varanda, a princípio vi vários guardas e junto deles a minha Ilí. Corri ao encontro dela, que estava com as roupas sujas, cabelo despenteado e um olhar triste. Desci os degraus tão rápido que até tropecei. Voltei a me equilibrar e assim que cheguei na frente dela a abracei.
- Minha linda, fiquei apavorada com o teu desaparecimento, soube de tudo que a Helena te fez, ela foi horripilante, é tudo mentira o que ela disse, não teve massagem alguma, foi só um escalda pés e não a recompensei com nada. Lacedemônia e Lísia já providenciaram a partida dela nesta manhã. Me desculpe, eu deveria ter impedido que você fosse magoada.
Quando terminei de falar ela se soltou do meu braço, me olhou com tristeza e em seguida desmaiou. A segurei firme e chorei preocupada com seu estado de saúde. Ouvi meu pai dar ordens para que os guardas a carregassem para dentro e eu os segui.
- Ela estava no meio da mata do lado oeste, foi necessário fazer um torniquete em seu pé esquerdo, estava sangrando e já é a segunda vez que ela desmaia (relatou o soldado que a encontrou).
- Deve ser só fraqueza, ela vai ficar bem (Lacedemônia disse tentando me acalmar).
Assim que a acomodaram em uma das poltronas, Felipa se aproximou e a fez inalar algum líquido forte que logo a despertou. Ela olhou ao redor e se encolheu. Sequei minhas lágrimas, peguei o copo de água que a governanta carregava, dei para ela com cuidado e rapidamente ela sorveu todo o líquido.
- Já pedi para preparar a tina, um bom banho será revigorante (disse a governanta).
Agradeci, com cuidado auxiliei a Ilí a se levantar e não desentrelacei o meu braço da sua cintura, visando lhe dar suporte e com receio de que ela voltasse a desmaiar.
- Meu bem, sei da tua timidez, mas, não posso te deixar sozinha neste momento, preciso te auxiliar. Lembre-se de quando fiquei doente e você me ajudou tanto na recuperação. Agora é a minha vez de cuidar de ti.
Ela apenas assentiu. Decidi tomar banho com ela, me despi rapidamente e com cautela, depois de pedir licença retirei as peças dela.
- Vou entrar contigo, também preciso de um banho. Se importa?
Ilíone negou, ajudei ela a entrar no grande vaso de pedra, a água estava deliciosa, sentei e a acomodei entre as minhas pernas. Quando a abracei ela começou a chorar e meu coração até se agitou.
- Ilí passou, fiquei desesperada com seu sumiço, te procurei tanto, você deveria ter me procurado, ao invés de ter saído do castelo, mas, eu entendo a infeliz da Helena te falou muitas bobagens. Você já sofreu tanto e mais este problema, perdão por não ter cuidado melhor de ti.
Lavei seu cabelo, enquanto ela lavou o seu próprio corpo. Ficamos por um bom tempo nos banhando. Quando sai da tina, me sequei rapidamente e coloquei uma túnica. Em seguida fiz questão de ajudá-la, sequei seus cabelos e penteei.
- Pensando no conforto da Ilíone, achei melhor mandar servir o almoço de vocês aqui no quarto, espero que não se importe Acalântis.
- Lacedemônia, agradeço pela atenção.
- Se vocês precisarem de algo é só mandar me chamar (avisou e se retirou).
- Linda, você deve estar com fome, comece a se alimentar enquanto faço um curativo no seu pé e logo já te acompanho.
Ela estava mesmo faminta. Cuidei do ferimento, limpei e enfaixei.
- Tem algum outro machucado?
Ilí negou, lavei minhas mãos e almocei em sua companhia. Assim que terminamos deixamos a mesa e nos deitamos.
- Minha querida, eu te amo tanto, fiquei com muito medo de te perder. Agora você precisa descansar.
Fiz cafuné nela, que logo adormeceu, rezei para todos os Deuses e agradeci muito. Eu também estava cansada e dormi abraçada nela.Acordei com ela se debatendo e levei até um sopapo.
- Ilí, calma, é um pesadelo.
Quando ela abriu os olhos me abraçou apertado.
- Já passou, foi só um sonho ruim, devido a todo esse desgaste.
Ficamos por longos minutos abraçadas, observei que o sol ainda estava iluminando o dia, então nem tínhamos dormido muito. Quando se soltou dos meus braços, ela se levantou e foi usar o banheiro. Ao retornar não voltou a deitar, ficou sentada olhando para o nada.
- Quer me contar o que está sentindo ou pensando?
Nenhuma resposta, somente abaixou a cabeça, observei que ela não estava disposta para conversar, a respeitei e não insisti.Um bom tempo depois ela apanhou uma das madeiras que usava para conversar comigo. Rapidamente escreveu e estendeu em minha direção.
Princesa, é melhor que eu fique junto dos outros funcionários, não sou uma boa dama de companhia para a senhora, agradeço por tudo que já fez por mim, sou muito grata pela tua compaixão, mas, não sou digna de ficar ao teu lado.
- Não, meu amor, nada disso. Entendo que as coisas ruins que você infelizmente ouviu te fizeram muito mal e sinto muito. Por favor, não acredite em nada que te disseram para te ferir e te afastar do amor que nós temos. Lacedemônia conversou bastante comigo, me fez enxergar que se todos soubessem do amor que tenho por ti, ninguém a trataria da forma que fizeram e te devo desculpas. Vou reparar tudo isso. Você não vai ficar junto dos outros, não quero você se sentindo como uma funcionária qualquer, tendo tantas responsabilidades e fazendo trabalhos desgastantes. Seu lugar é sim ao meu lado, você é a mulher que eu amo!
Ilíone começou a chorar e eu chorei junto dela, no meu caso era arrependimento por não ter esclarecido tudo antes, voltei a abraça-la e sequei as suas lágrimas.
- Posso te beijar?
Ela me respondeu com um selinho e eu correspondi a beijando muito.
Ilíone estava de volta e a minha paz também. Agora eu só quero saber de fazê-la feliz. Ficamos por algumas horas nos curtindo, aos beijos e abraços. Quando escureceu nos arrumamos para o jantar.
- Ilíone não suma mais, Acalântis ficou desesperada, me disse que não consegue mais viver sem você e me fez colocar os melhores soldados a sua procura.
"Rei obrigada".
- Não precisa agradecer, a minha filha está cuidando bem de ti?
"Sim, senhor" (respondeu ficando toda vermelha e sem jeito).
- Papai, ela é tímida, pare de gracinhas e também agradeço por não ter medido esforços para que ela fosse encontrada.
- Faço tudo por você minha princesa.
- Ilíone, você é muito bem-vinda de volta.
"Rainha agradecida".
O jantar foi agradável e como sempre Lacedemônia toda falante.Assim que terminamos a sobremesa, decidi que era hora de nos recolhermos.
- Com licença, precisamos descansar. Boa noite!
No corredor percebi que Ilíone estava mancando.
- Linda, deixa que te ajudo, pode se apoiar.
Já no quarto e sentada na cama, ela fez sinais que estava sentindo dor no pé.
- Ainda não parou de sangrar, vou pedir ajuda e já volto (avisei depositando um beijo singelo em sua testa).
Corri até a cozinha e voltei com a Felipa.
- Meninas, o sangue é por conta do furo, mas, não é profundo não, fizeram bem em higienizar direitinho, vou aplicar este emplastro e logo já vai passar a dor. É só cuidar nos próximos dias e não forçar muito. Hoje é bom deixar o pé um pouco mais elevado.
- Felipa, muito obrigada. Pode deixar que finalizo com um novo curativo.
Nos despedimos dela, voltei a enfaixar, cobri bem o machucado e dobrei uma manta para ela apoiar seu pé.
"Desculpa por te dar trabalho".
- Não se preocupe, nem é trabalho algum. Gosto de cuidar de ti.
"Senti a sua falta".
- Eu também senti e sofri com a tua ausência. O que importa é que agora estamos juntas e ninguém vai nos separar.
"Fiquei com medo".
- Quer conversar? Somos amigas, pode desabafar.
"É verdade que você beijou a Helena e fez dela sua mulher"? (Perguntou com os olhos cheios de lágrimas).
- Não, é tudo mentira. Ela nem mesmo me fez massagem, não tocou em mim e eu muito menos nela. Naquela noite eu estava cansada, dormi enquanto fazia o escalda pés. Quando acordei a camareira já não estava mais no quarto, sequei meus pés e voltei a dormir. Desculpa por ter dado risada quando você ficou contrariada, fui ingênua, pensei que era apenas ciúmes da sua parte. Nem imaginava as consequências.
"As minhas mãos são muito ásperas para a tua pele"? (Perguntou receosa).
- Claro que não, são maravilhosas. Tudo que a Helena te disse é mentira. Linda olha para as minhas mãos, tenho calos por conta dos instrumentos que eu toco e tanto gosto. Por conta das esculturas ficam ressecadas. Então não se prenda a isso.
"Eu não falo" (lamentou e colocou uma mão na ferida em seu pescoço).
- Infelizmente, por uma fatalidade, gostaria muito de ouvir a tua voz. Mas, isso não é um problema para nós. Conversamos muito bem, compreendo todos os seus sinais e logo que te conheci notei que teus olhos falam comigo. Você é muito comunicativa ao seu modo e eu amo cada particularidade sua.
"Mesmo"?
- Claro. Vou te ajudar a superar as suas inseguranças e medos. Qualquer problema ou dúvida é só me perguntar. A gente conversa e tudo se resolve. Durante o tempo que ficou sumida, fiquei muito preocupada, sem saber se você estava bem e segura. Ninguém mexeu contigo ou tentou te machucar?
"Não, fiquei no meio do mato, nem encontrei com nenhuma pessoa".
- Por isso, quando perguntei por ti, ninguém soube dizer e nem dar notícias. Seus braços e pernas estão com alguns arranhados dos galhos.
Ela bocejou com um semblante exausto.
- Minha flor agora você precisa descansar.
Ela me olhou querendo dizer mais alguma coisa.
- Diga, pode perguntar tudo o que você quiser.
"Sobre o que o rei disse".
- Pedi para o meu pai incumbir os guardas para te procurarem e revelei para ele que não sei mais viver sem você (confessei).
Nada mais precisou ser dito, ela me puxou, me beijou docemente e adormeceu nos meus braços.
Fim do capítulo
Olá! Feliz semana! Recadinho: já tinha avisado que a história não seria longa e este foi o nosso antepenúltimo capítulo, reta final e ainda neste mês finalizo este conto. Beijos, May.
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 21/10/2020
Ola querida May
Cheguei chegando kkkkk
Gostei muito e Acalabnta é lesada esta na hora de assumir a Ilione. Kkkk vc e seus nomes difícil de escrever.
O amor delas fui se construindo muito lindo e só faltou mesmo diálogo para a Ili não fugir por causa de Helena.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá! Querida amiga Mille, senti saudades de ti e obrigada por comentar. Já imagina como será o nome do meu filho né kkk vou querer bem diferente e único =D adoro um nome curioso, fiz uma viagem para a Grécia antiga em busca destes nomes hahaha Beijinhos e até breve!
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Rain
Em: 20/10/2020
Olá!
Tem alguns meses que venho maratonado todas as suas histórias. Tem três dias que estou lendo essa e só posso dizer que estou apaixonada. Por todas elas!
Você escreve muito bem, todas elas são muito fofas e cheias de amor. Lindas!
" Tabata" foi a primeira que li e amei. De todas elas " Tatiana" foi a que me deixou...vamos dizer assim... Chocada! Não achei que Tatiana fosse uma menina tão...pervertida.
E agora, Acalântis e Ilíone são muito fofas, lindas e apaixonada. Amei!
Obrigada, May pelas belas histórias.
Bye!
PS: Só é uma pena ela já está no finalzinho. Mas, tenho certeza que vão vim muitas outras incríveis, não é? Rsrsrsrsrsrs
Resposta do autor:
Olá! Como vai? Uau, nem imaginava, eu adoro maratonar séries e livros, gosto muito de devorar coletâneas, fiquei feliz em saber que você está maratonando as minhas histórias, é uma honra!
Que bom que as histórias estão te agradando. Grata por cada elogio, saiba que cada palavra me motiva e é muito bom receber feedback. São vários romances e cada qual com a sua particularidade. Tabata foi lindo de redigir e tmb amo rs a irmã dela Tati tem hot e é toda ousada kkk e concordo Acalântis & Ilíone são muito fofas juntas, um dengo! Não precisa agradecer, disponha! Sim, que assim seja, que tenhamos muito mais, não me faltando ideias, continuarei postando. Beijos e abraços, May.
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