Bom final de semana com mais um capítulo!
Obrigada pelos comentários e pelas leituras!
Capitulo 21: De novo
Demorou para que Cate entendesse que aquela era uma ligação de Érika, portanto, mesmo depois de atender, sua voz simplesmente não saía. Foi preciso que a gerente perguntasse mais de uma vez se estava sendo ouvida, o ruído da banda e a conversação animada das pessoas na festa quase encerraram mais cedo a chamada.
- Alô, Cate? Está aí? Cate?
- Alô? Alô?
- Você me ouve? Está muito barulhento aí, te atrapalho?
- Espera, tô indo pra um outro lugar... melhorou?
- Sim, está me ouvindo bem?
- Aham, e você?
- Está melhor. Desculpa, acho que você estava numa festa, né?
- É uma festa da escola, mas acho que vou embora daqui a pouco.
- Entendo... liguei pois... queria saber como você está...
- Respondo assim que me disser como está primeiro.
- Estou bem. Perdão, Cate, por ter saído da sua casa daquele jeito...
- Não tenho o que perdoar, Érika.
- Não foi a melhor forma de encerrar a nossa conversa... Agora, por favor, me diga como você está...
- Quer uma resposta sincera ou vai se conformar com "estou bem também"?
- Com certeza a resposta sincera.
- Então, responda sinceramente...
- Te respondi sinceramente. No momento, estou bem. Catarina, viver na mentira dói muito mais do que enfrentar esses demônios. Por isso, sou grata por ter me contado tudo aquilo e gostaria que me dissesse como está se sentindo, é importante pra mim.
- Conseguiu enfrentar os seus demônios?
- Os meus, sim... Infelizmente, nesta história, as raízes dos problemas são os demônios dos outros.
- Eu sei, mas estou feliz agora, porque você me ligou. Achei que nunca mais fosse ouvir sua voz de novo. Não tenho como ser mais sincera.
- Fico feliz ouvindo isso também...
- E seu pai? Continua melhorando?
- Sim, está reagindo melhor à mudança de medicação, obrigada por perguntar. Eu... acho melhor desligar... para você voltar pra festa e...
- Espere, Érika...
- Pode falar.
- Não quero sumir. Não quero que suma também.
- Nunca foi minha intenção. Obrigada por me deixar ficar, mesmo que...
- Não termine a frase.
- Tudo bem. Até outro dia, Cate...
- Até outro dia...
Catarina olhou para a palma das mãos, vermelhas e marcadas pela pressão que fazia com as unhas enquanto falava naquela ligação. Sentia-se enrolada num arame farpado, que a envolvia do peito aos pés. Haveria "outro dia" para Érika e ela? Não sabia. Não distinguia mais se queria outro dia como uma simples amiga ou vários como a "filha de Rodolfo", era impossível mensurar o que doía em maior intensidade.
Aos trancos e barrancos voltou à mesa, mas a ideia configurou-se infeliz demais. Por alguma razão que nem os melhores videntes e sensitivos explicariam, a banda tocava Amado, uma canção de Vanessa da Mata. Catarina chegou exatamente num dos versos mais romanticamente melancólicos da música:
Como pode ser
Gostar de alguém
E esse tal alguém
Não ser seu...
- Mas que merd*... - Porém, ao invés de chorar, Cate ria da infeliz coincidência, balançando a cabeça em negativo. Pelo menos, Pedro Henrique estava dançando com Audrey. Piscou o olho para o amigo na primeira oportunidade, recebendo um sorriso tímido em troca. Ficar feliz pelos amigos é uma dádiva para poucos.
Não havia mais comida nos pratos e não restava muita coisa a fazer, além de observar o clima de romance proclamado pelos músicos e pela intérprete da torturante canção. Audrey e Pedrinho num canto, Júnior e a esposa no outro, alguns casais dos terceiros anos, mais alguns de ex-alunos, Richardson e uma pobre alma do segundo ano, a coordenadora Elizete e o professor de história, colegas de sala. Tão logo colocou a mão no queixo, um garoto do terceiro F convidou-a a dançar também, mas foi educadamente dispensado. Mesmo feliz por seus amigos, sentiu que precisava respirar fora daquela atmosfera e saiu novamente, a fim de caminhar em um lugar mais tranquilo e isolado.
Foi assim que andou em direção ao campo de futebol, cruzando-o, sem se importar com a distância que se formava entre ela e todas as outras pessoas. De repente, se viu na beira da piscina, e como não pretendia passar mais tempo na festa, tirou as sandálias, afundando os pés na água gelada. Naquela parte da escola, não havia a ostentação da decoração arrojada criada para o evento, só Catarina e seus sentimentos, destroçados pela ausência da pessoa amada. Um amor pelo qual a jovem não poderia lutar, que já viera fadado ao fim, embora ainda estivesse em seu começo. Talvez estivesse distraída demais, pois não notou a presença de Raga, sentada numa das cadeiras destinadas aos salva-vidas.
- Por que está indo para os mesmos lugares que eu ultimamente? Essa escola é maior que isso.
- Não foi de propósito, nem te vi aí, quer que eu saia?
- Não sou dona da escola, pode ficar. Quer que eu saia ao invés disso?
- Não. Podemos compartilhar a noite, por mim.
- Como está a água?
- Quer sentar aqui e ver por conta própria? Pra mim, está fria, mas pode ser questão de ponto de vista.
Raga já estava com pés descalços, e sem demorar muito, sentou-se do lado de Catarina, tão perto como nunca esteve durante todo o ensino médio. Foi a primeira vez em três anos que Cate viu que ela tinha algumas pintas em volta da nuca e no busto. Também foi a primeira vez que percebeu que seus profundos olhos eram, na verdade, azul-escuros, quase combinando com o azulejo da piscina. Dava pra ver que não usava maquiagem alguma. As unhas de seus pés e mãos estavam pintadas de preto, da mesma cor do cabelo de Catarina.
- Está fria. Temos o mesmo ponto de vista, quem diria.
- Pelo menos em relação à temperatura da água.
- Posso te fazer uma pergunta além desta que já estou fazendo?
- Aham.
- Por que você está triste hoje também?
- Hoje também?
- Hoje e nas últimas semanas.
- Como você sabe?
- Olhe seu reflexo na água. É como tenho te visto há um tempo.
- Pensei que você...
- Não olhasse pra ninguém além de mim mesma? Não seria nenhuma novidade...
- Desculpa. É que pensei que não me notasse, e, de fato, vive muito concentrada em seu próprio mundo.
- Meu próprio mundo ou o mundo que a Gagnon criou pra mim? Bem, você ainda não respondeu minha primeira pergunta.
- Posso te devolver com outra pergunta, além desta que estou fazendo?
- À vontade.
- Já se apaixonou?
- Já, várias vezes, por muitas pessoas.
- Por alguém impossível?
- Defina impossível.
- Alguém que você sabe que não vai corresponder.
- Não temos como saber isso ao certo, o sentimento dos outros. Mesmo com a convivência, às vezes as variáveis mudam.
- Por exemplo?
- Às vezes, aquela pessoa por quem nos apaixonamos precisa só de um tempo pra perceber os próprios sentimentos, às vezes não. Outras vezes, acabamos nos apaixonando de novo, por outra pessoa, por pessoas que nem imaginaríamos nos envolver antes... no fim, não existem paixões impossíveis, só paixões mal encaixadas no tempo ou muito difíceis...
- Não existem paixões impossíveis? Alguma das suas paixões foi por uma mulher mais velha, amante do seu pai?
Uma brisa gélida soprou, bagunçando um pouco os cabelos cor-de-rosa de uma e os fios pretos da outra. Catarina sentiu em seu rosto a ponta dos dedos finos de Raga, tirando-lhe um fio solto que ficara entre a bochecha e a orelha:
- Todas elas eram mulheres. Só que eu não tenho mais pai.
Foi a primeira vez também que Catarina soube que ela e aquela garota tinham muito mais em comum do que poderia imaginar.
- Sinto muito. Quer falar de outra coisa?
- De ti. Quero falar sobre você e com você.
- E por quê?
- Não tem porquê.
- É, acho que é assim é melhor. Sem porquê nenhum.
Enquanto a festa prosseguia animadamente, e o clima de romance da pista já se dissipara, na beira da piscina as coisas estavam diferentes. Pelo reflexo da água era possível ver duas garotas, quase da mesma idade, olhando uma para outra, descobrindo que talvez não fosse hora ainda de voltar pra casa.
Fim do capítulo
Iiiiiiih, e agora hein?
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Lii37
Em: 17/10/2020
Olá!!
Hum hum hum... ligando p saber como ta?!... kkkk Só sei que tá ficando cada dia mais interessante!!!
Inspiração p tu. P nos deliciarmos com mais um capítulo. rsrs...
É bom que a Cat ande dando umas treinadas p quando for com a Erika ter um pouco mais de segurança. kkkk Só acho!!! Conhecimento nunca é demais. kkk
Bjs
Lii
Resposta do autor:
Oiê, Lii, obrigada pelo comentário!
Espero que curta o desenrolar que vem aí, kkkkk. Bjss!
malumoura
Em: 16/10/2020
Meu casal (não querendo soar como vitão), é fofíssimo. Senti isso da Raga com a Cat de longe hahahah muito fofinho, amei. Sobre a Érika, deve ser uma barra, né?! Tadinha, o que resta é matar o Rodolfo, o que não seria tão ruim assim. CARA MALA!! Espero que ela perceba lá na frente que gosta da Cat, que já estará com a Raga (Amém? Amém.), e tenha muito mas muito drama :)
Resposta do autor:
Kkkkkk "meu casal"
Acho que você vai gostar muito mais do próximo capítulo, hehehe
Obrigada pelos comentários! Bjss!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 16/10/2020
Oxe o que tá rolando?
Resposta do autor:
Hehehe, nem te conto
Obrigada pelos comentários! Bjss
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Naty24
Em: 16/10/2020
E agora? Eis a questão. Por mais que a Raga e Cate tenham um envolvimento adiante da história,acedido que ñ passará disso um "envolver". Creio avidamente no romance entre a Érika com a Caterina apesar dos pesares.
Fico querendo saber o ponto de vista da gerente diante desse tsunami que virou sua vida. Bem ela ñ está,é uma reação compreensível de sua parte negar o óbvio! Aguardando os passos das protagonistas e dessa brilhante aurora
Resposta do autor:
Naty, você está aqui desde que tudo era mato kkkkk, obrigadaaa mil vezes!
Aguarde e confie, aguarde e confie... espero que goste do que vem a seguir! Bjss!
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