Capitulo 4 - Rolando os dados
Após sentir o corpo entorpecido pelas emoções, Isadora resolveu pegar a estrada novamente, indo em direção à sua casa, nesse momento só queria afundar a cabeça no colo da mãe e chorar até se sentir melhor, recomeçar a vida não seria fácil sem Laura, mas, tinha certeza que logo conseguiria superar, enquanto dirigia pensava em estratégias de como iria ocupar todo o seu tempo de forma a não sofrer de saudade. Enquanto vislumbrava os próximos dias, desceu os olhos para observar um cd, que caiu do porta luvas para o chão do carro, foi apenas uma fração de segundos, no entanto, quando subiu os olhos ainda conseguiu ver mesmo que de relance a imagem de um carro desgovernado que vinha em sua direção, não conseguindo manobrar a tempo de evitar a colisão...anos depois, vez por outra ainda repassava a cena do acidente em suas lembranças e sempre fazia uma oração agradecendo a espiritualidade a sorte que o outro motorista alcoolizado não teve.
Após a batida, Isadora acordou em um hospital, ainda estava sonolenta quando viu um rosto delicado e grandes olhos azuis que lhe fitavam de uma maneira extremamente acolhedora.
- Oi, sou a Dra. Patrícia, te socorri no acidente, você sabe o seu nome, onde mora?.
- Olha Dra. Patrícia, eu posso não estar muito bem, mas, não ao ponto de perder a razão, sou Isadora Viana Leoni, moro em Curitiba com minha mãe Doralice, e namoro, ou namorava uma bandida de nome Laura.
A médica sorriu e continuou a fala mesmo após a resposta mal criada de Isadora.
- Mocinha, vejo que está muito bem - disse a médica sorrindo abertamente, para a seguir dar uma pausa curta e voltar a falar.
- Sabe, estava aqui pensando...se está lembrando de tantos detalhes de sua vida, inclusive de uma bandida, está ótima...agora falando sério, me desculpe a brincadeira, queria apenas descontrair, sei muito bem que é chato conversar quando estamos assim...tristes como vejo que está, é muito ruim ter que responder qualquer coisa que nos perguntam quando tudo o que queremos é o silêncio, mas infelizmente, tudo faz parte do procedimento, você me entende e perdoa?.
Isadora baixou os olhos envergonhada, sorriu tristemente e preparava-se para responde-la quando Doralice entrou no quarto esbaforida, abraçando a filha fortemente, encostando-a no peito enquanto perguntava "o que foi?, o que fizeram com minha filhinha?". Foram as palavras que precisavam para Isadora desabar, entre soluços chorou e encontrou forças para contar tudo o que havia ocorrido, desabafando assim toda a dor que carregava no peito, logo depois lembrou da médica e passou a procura-la no quarto do hospital.
- Mãezinha, eu fui tão grosseira com a médica que me salvou, ela deve ter saído do quarto quando a senhora entrou. Ela estava com uma touca verde na cabeça, é branquinha, loirinha e tem os olhos bem azuis.
- Que médica?, você estava sozinha, deve ter é sonhado, ou eu estava tão nervosa que não vi médica nenhuma, mas, me conte, você já estava atrás de outro rabo de saia?, Isadora Leoni, você estava de paquera com a doutora?.
- Não Maaaaaaaãe!
- Calma filha, dorme um pouco, a mãe estava brincando para descontrair, já que está de observação, vamos manter a calma.
Doralice, canta "dorme, dorme meu anjinho", e reza para sua orixá Nanã, curar o corpo e principalmente o coração de sua filha.
No outro dia, uma enfermeira bateu suavemente na porta, trazendo o café da manhã para a paciente e sua acompanhante.
- Bom dia, como acordou hoje querida?, sou a enfermeira Bárbara, mas, pode me chamar de Bibica.
Isadora olhou com carinho a enfermeira que para ela mais parecia a imagem da sua orixá Iansã, sua pele era negra e brilhante, os olhos eram vivos e fortes, irradiando amor e realeza, da mesma forma, que a sua energia parecia iluminar todo o quarto.
- Oi Bibica, estou bem melhor...obrigada por trazer o café da manhã, depois você pode chamar a Dra. Patrícia, por favor?, gostaria de agradece-la e pedir desculpas, ela me salvou no acidente e fui muito grosseira ontem, ela nem tinha culpa de nada.
- Dra. Patrícia?, você não se enganou?, quem estava dirigindo o plantão de ontem era a Dra. Eleonora, mas, a chamamos de Léo...espere um instante...lembrei uma coisa...no prontuário está explicando que você veio trazida por dois socorristas que estavam voltando de um atendimento, foi muita sorte que teve meu bem. Agora vamos já fazer uns exames e se estiver tudo ok, será liberada em breve, olha que benção!.
Bibica saiu a seguir, deixando que Isadora e Doralice tomassem o café calmamente, voltou cerca de quarenta minutos depois, trazendo consigo uma cadeira de rodas, antes que Isadora pudesse falar algo, se antecipou dizendo entre risos "Senhorita Isadora nem adianta dizer que não vai precisar dessa cadeira, é o procedimento, e vou leva-la assim mesmo para fazer seus exames". A ruiva deu um risinho sem graça e sentou na cadeira fazendo uma reverência meio contrariada, depois seguiu o caminho com a mão no queixo, estava calada até avistar na parede do corredor um enorme quadro que compunha o ambiente, Isadora apontou triunfante "olha, eu não disse, é essa a Dra. Patrícia".
A enfermeira sentiu um calafrio na coluna, colocou as mãos da cintura, respirou fundo e aproximou a cadeira do quadro e disse, "olhe mais de perto, querida". Embaixo da foto da médica de grandes olhos azuis acolhedores estava escrito "Dra. Patrícia Diná Toledo de Sá Montese (Porto Alegre, 01/02/1961 - Curitiba, 12/06/1995).
Isadora disfarçou, mas, o corpo inteiro tremeu, e logo os olhos se encheram de lágrimas, Bibica percebendo o susto da moça, agachou, segurou suas as mãos e relatou.
- Dizem que Patrícia era uma médica muito amorosa, e também ativista do movimento LGBT, ela e a namorada estavam morando juntas depois de enfrentaram muito preconceito, a família da outra não aceitava de jeito nenhum, quando já estava tudo certo, Patrícia a pegou no flagra, entende?, enfim, ela que nunca teve nada no coração, morreu de um infarto fulminante no dia dos namorados. Mas, se quiser saber a história todinha, tem uma outra médica que escreveu um livro sobre a Patrícia, a médica se chama Dra. Vivian Lanz.
- Essa médica também dá plantões por aqui?.
- Dá, mas, não é sempre, ela não se dedica muito a Medicina, entende?, ficou como uma espécie de hobby depois que ela abriu uma editora, assim ela passou a ser médica nos tempos vagos, sei que ela publicou os livros dela por lá, mas, esse livro específico sobre a Patrícia tem qualquer livraria de Curitiba.
- Como se chama a editora dela?
- BBC, Bells, books and candles.
- Ah, depois vou querer comprar, obrigada pelas informações Bibica.
- Ok querida, vamos aos exames agora?.
- Sim!.
Apesar da pequena cicatriz, tanto da testa quanto do coração, Isadora estava bem, teve alta do hospital dois dias depois, mas, antes de voltar a Curitiba, resolveu deixar flores no túmulo de Patrícia, quando chegou próximo a lápide se assustou com o que viu, havia cerca de doze mulheres que disputavam espaço perto do túmulo, não dava nem para se aproximar, pois elas elaboraram uma espécie de ciranda, enquanto outras cantavam, rezavam o terço e disputavam o lugar, algumas acendiam velas e colocavam em delicados castiçais enquanto falavam: "Viva a Santa Paty...viva", "Sempre em nossos corações...sempre". Isadora recuou um pouco, sem saber o que dizer, perante aqueles atos de fé.
Uma das mulheres que cantavam se aproximou de Isadora, contou que estava com a mãe agradecendo a cura do irmão mais velho que padecia de asma intensa há anos sem solução.
- Oi moça, sei que o espaço está disputado, mas, se aproxime, a Santa Paty, resolve de tudo...desde amores mal resolvidos a doenças incuráveis, até para passar de ano alguns estudantes aparecem por aqui, é a gente pedir e ela vai resolvendo, tudo muito rápido.
- Entendi, mas, eu só vim deixar essas flores...com licença.
Antes de sair, Isadora procurou o administrador do cemitério, queria se informar melhor sobre o fenômeno. Segundo Seu Juca, a história da Santa Paty correu por todo o sul, vinha gente de longe para rezar, pedir e agradecer, assim, a fama de Patrícia corria não apenas no Caiobá, no entanto, o administrador tratou de deixar claro, não era fácil aproximar da família da santinha, eles não aceitavam sua fama, afirmavam que Patrícia tinha um enorme coração, mas, era uma pessoa absolutamente normal.
Ainda na porta do cemitério, Isadora fez uma oração silenciosa, pedindo para Patrícia ter paz apesar de tantos pedidos, e foi com o coração mais leve que seguiu de mãos dadas com Doralice. Antes de entrar no carro com mãe, pensou no contato que teve com a médica, sorriu e achou até interessante Patrícia ter virado um fenômeno religioso, agradeceu a Deus pela oportunidade quando sentiu uma brisa suave e um doce cheiro de lavanda lhe esquentar o coração e a sensação de um leve calor em sua bochecha, era o espírito de Patrícia que retribuía a oração com um beijo carinhoso.
Já em casa, Isadora nem deu tempo de lamber suas feridas por Laura, ligou o computador, colocando o nome da médica em um site de busca, a primeira notícia encontrada era referente a uma cura: "Mãe da menina Vanessa atribui a médica falecida a cura da filha", e assim, Isadora ia lendo tudo o que encontrava, inclusive sobre as romarias que eram feitas na frente da casa dos seus pais, em várias madrugadas um grupo de pessoas se reuniam para orar, cantar, aplaudir e reverenciar a médica, fazendo com que a família mudasse constantemente de endereço, onde ficavam em paz até que os fiéis novamente lhes descobrissem, assim, cansados, mudaram para Natal, passando a viver anonimamente. Isadora lia tudo o que encontrava, anotando contatos possíveis para checar informações, não sabia exatamente o que ia fazer com tantos dados, mas, a cada instante se interessava mais pelo caso.
Já era bem tarde quando leu última notícia da noite, passou as mãos nos olhos, sem querer acreditar, em um site antigo de eventos de Caiobá, estava uma foto de anos atrás, era Patrícia ao lado de Laura, embaixo da foto a seguinte nota "A belíssima Patrícia Toledo ao lado da amiga Laura Lefrève, comemoram entre amigos o aniversário das duas". A caneta lhe caiu da mão e pensou "será que Laura seria responsável pela morte de Patrícia?, não acredito...este é de fato um mundo muito pequeno mesmo".
O espirito de Patrícia do outro lado tentava inspirar Isadora, querendo que a ruiva de alguma maneira a escutasse ou sentisse, já que conseguira se plasmar no dia do acidente, "Não Isadora, você a conhece, pense? não foi culpa de Laura, ela não me traiu, foi uma armação".
Ao terminar a frase, ao lado de Patrícia apareceu o seu mentor espiritual.
- Filha amada, ainda não é o momento, vamos?.
- Mahar, eu queria tanto ajudar Laura, tenho certeza que Isadora pode ser o canal para que tudo seja descoberto.
- Sabemos que conseguirá, agora vamos, temos irmãos a receber na nossa colônia hoje.
- Sim Mahar, vamos...
Durante os dias que seguiram, Isadora continuou em suas pesquisas, levantando tudo o que podia sobre a vida da médica, anotando o nome das pessoas que lhe atribuíam milagres, assim como amigos, parentes e conhecidos. Todos os contatos eram checados, e assim, conseguira algumas entrevistas, deixaria no entanto, Laura e a escritora para o final. Doralice apesar de não entender muito bem a obstinação da filha em relação da vida da médica, resolveu ajudar na investigação, era uma maneira de Isadora não pensar tanto no final do namoro tão traumático.
A primeira pessoa que aceitou de muito bom grado dar entrevista foi uma cardiologista que trabalhava no hospital de Caiobá, e que conhecia Patrícia há vários anos, pois eram da mesma turma da faculdade. Isadora marcou a conversa no simpático Café Brigadeiro, pois conhecia as donas, Ely e Nat, que eram casadas há anos e o lugar era um verdadeiro ponto de encontro para o público LGBT, enquanto tomavam um cappuccino com um delicioso bolo de caramelo com baunilha, conversavam sobre Patrícia.
Rose Hiroto, era uma mulher bonita, os anos haviam sido generosos, os cabelos pretos e muito lisos, estavam presos em um coque na metade da cabeça, o que conferia um ar delicado, a razão da conversa mexia com a médica, e por isso, ela passava rapidamente as mãos nervosas nas coxas, enquanto olhava para um ponto imaginário com seus delicados olhos orientais, tentando segurar as lágrimas e a emoção, ela era diferente de todas as orientais que Isadora conhecera, pois tinha olhos cor de âmbar, que marejavam ao falar, e a cada instante apertava ainda mais os olhos, buscando as lembranças do passado e após falar de Patrícia como profissional, percebeu que a médica deixara o melhor para o final, como uma espécie de cereja do bolo.
- Patrícia foi o grande amor da minha vida, mesmo já casada há tanto tempo, ainda me sinto mexida só em falar dela. Eu me apaixonei na primeira vez que a vi, ela parecia um anjo, linda e com um coração maior do que ela, infelizmente ela estava namorando a Laura, e eu não sabia, um belo dia declarei o meu amor, ela sorriu docemente, disse que se sentia honrada, mas, era comprometida, mesmo assim prometeu rezar para que eu encontrasse a minha metade. Sei que ela morreu tristemente ao flagrar Laura com outra, ao menos foi isso que espalharam, até onde sei Laura nega a traição, mas, ninguém sabe de fato o que aconteceu.
- Obrigada Dra. Rose, tem algo mais que queira falar?.
- Bom, já falei tudo o que sabia de Patrícia, mas, se fosse você eu procuraria a governanta e o motorista que trabalhavam na casa de Laura, ah, tinha também uma jornalista de um tabloide de fofocas da época, de nome Elisa Soares, não me pergunte como...mas, o fato é que ela sabia muitas coisas, vivia insinuando malícias sobre a família e supostos amantes de Dona Amália, ela inclusive insinuava que a mãe de Laura sempre dava um jeitinho de minguar as relações da filha, comprando suas namoradas por um preço bem alto para sumirem, acho que na tentativa...sei lá...de mudar sua sexualidade, ou só por maldade, não sei, bom, mas, isso tudo são especulações, no entanto, creio que seria importante averiguar.
Ao longo da conversa, Rose também comentou que achava muito estranho esse processo de santificação de Patrícia e todo esse mito que se criara em torno dela, assim como e os milagres atribuídos, também lamentava todo o incômodo que a família passava, tendo que mudar de casa tantas vezes para evitar os romeiros, até a confusão ser tão grande, a ponto de mudarem não apenas de cidade, mas, de região.
Tanto para Isadora quanto para Rose, foi uma tarde bastante agradável e proveitosa, Isadora conseguira recolher e anotar muitas informações sobre a personalidade da médica e Rose matou um pouco da saudade que lhe acompanhava há dias.
Assim começou a investigação de Isadora sobre a vida de Patrícia, estava disposta a encontrar todos que pudessem dar nem que fosse a mínima pista para encontrar sua resposta, qual o motivo do final tão triste de Patrícia?.
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Curitiba, 09 de fevereiro de 1995
O interfone toca na enorme mansão, Dona Inês segue com seus passos lentos, estava sentindo o peso dos anos em seus joelhos, e vai gritando "já vou, já vou", como se a pessoa do lado de fora pudesse ouvi-la. O toque não mudava o seu andar, ia tartarugando exatamente na mesma maneira, seguia lenta e entediada, há tempos já não aguentava o trabalho, que só crescia, da mesma forma com que as obrigações aumentavam, só o salário de governanta que permanecia o mesmo, às vezes pensava em procurar outra casa de família, mas, com a sua idade era difícil, e apesar das contrariedades, o salário ainda estava compensando, depois tinha uma filha que dependia totalmente dela.
- Eita agonia, diga!?
- Boa tarde, aqui é Verônica Castro, sou modelo e atriz, quero falar com a Amália.
- Moça, não são nem 9h, a Dona Amália não acorda essa hora não, quem sabe voltando daqui a uma hora ela atende?
- É urgente, a senhora por favor, avise que estou esperando aqui fora, é um assunto do total interesse dela. Só saio daqui depois que conseguir falar, fico nem que seja o dia todo por aqui.
- Ai moça, você vai me colocar em uma encrenca, mas, como diz que é importante, vou lá.
Dona Inês bate na porta o mais leve e delicado que consegue.
- Dona Amália? Dona Amália?
- O que você quer Inês?, espero que seja um assunto urgente.
- E é, tem uma moça chamada Verônica no interfone, ela disse que é modelo e atriz, está dizendo que o assunto é do interesse da senhora, e que passaria o dia todinho aqui se fosse preciso.
- Verônica está aqui?, não acredito!!, como ela teve a audácia?.
- Pois teve, devo mandar embora?.
- Não, pode deixar entrar, diga que me espere na sala de leitura que em breve converso com ela.
Verônica segue Dona Inês, acompanhando seus passos lentos até a sala, a governanta percebeu que a atriz estava impressionada com a beleza da casa e do jardim, mas, nada comentou.
- Pode entrar, fique à vontade moça, tem uns chocolates neste pote em cima da mesa, se tiver vontade pode comer. Dona Amália deve demorar, foi tomar banho e vai ainda tomar o café da manhã. Com licença...
- Toda...
Quando Dona Inês abre a porta da sala de leitura, Verônica não consegue deixar de dizer "uau", a sala era ricamente decorada, como tudo na casa, os livros eram arrumados impecavelmente nas estantes de jacarandá que preenchiam todas as paredes da sala, os livros impecáveis eram separados pelo nome do autor, e no final de algumas prateleiras havia um cavalo de prata bastante pesado a segurar os livros, se houvesse algum tipo de espaço sobrando. No centro da sala, uma enorme e pesada mesa era feita de Lignum Vitae, uma madeira rara e muito cara, obtida de uma árvore que tem o crescimento muito lento, por isso, a mesa da sala seria tão valiosa, sua coloração marrom escuro mais parecia uma pintura, da mesma forma que a pesada cadeira trabalhada era da mesma madeira, com estofados envolvidos por couro, o que ajudava a compor o visual entre o luxo e a sobriedade excessiva, ao lado da mesa, mais afastado, havia uma namoradeira de couro, e em sua frente uma mesinha de centro com alguns objetos de decoração e os chocolates mencionados por Dona Inês.
Era um pote de cristal, com vários chocolates, em alguns deles escrito "Godiva", e em outros, envolvidos com um papel dourado tão bem embalados, que mais pareciam joias, estava escrito "La Madeline au Truffe". Sem entender nada do idioma, Verônica pronuncia cada palavra aportuguesando todas.
- Esse chocolate deve ser é muito chique, vou comer mesmo, comer um de cada tipo, é bom sentir como é ser tão rica. Humm, isso é tão bom, humm, que delícia...
Já estava no quarto chocolate quando Amália entra na sala.
- Esses chocolates são para degustar, chocolate não é refeição, mas, eu entendo você, nunca deve ter saboreado um Godiva em sua vida, imagine um La Madeline au Truffe, não é verdade?.
Amália estava imponente, apesar de estar vestida de uma forma até bastante simples comparado aos outros encontros, parecia uma marinheira aos olhos de Verônica, com uma calça azul e uma blusa listrada branca e vermelha, enquanto um lenço azul do mesmo tom da calça enfeitava o longo pescoço branco. A sala com a presença de Amália parecia um pouco mais fria e sombria, o ambiente, antes bastante confortável, não parecia mais acolhedor. Olhando Amália com os braços entrelaçados em frente as prateleiras de livros, parecia mesmo que ia a qualquer momento ser engolida, na sua imaginação, os livros criavam dentes a devorar quem estivesse na frente, e todos eles sendo comandados por sua dona com um chicote na mão.
- Então, sabe o que gostaria muito de entender?, o que fez para ter coragem de vir até a minha casa sem ser chamada.
- Não usei nada dona, eu já disse que me livrei do vício. Acontece que a senhora ficou de pagar a segunda parcela do prometido, e como não depositou até agora, vim pessoalmente para receber. Também queria perguntar pelo papel na próxima novela das 18h, estou esperando para fazer o teste, até faço ensaio toda noite, cada dia uma cena diferente de um filme famoso, estou muito ansiosa...é meu sonho.
A risada ecoou estremecendo as entranhas de Verônica.
- Pois não é que alguém na vida teve a coragem de cobrar Amália Lefrève. Estou impressionada com sua ousadia. Como te pagar a segunda parcela do nosso trato, se você é uma incompetente e não conseguiu fazer o que pedi?. Era algo tão simples, só pedi que seduzisse aquela médica com um jeitinho másculo que sai por ai dizendo ser namorada da minha filha, quero mantê-la longe de Laura, mas, nem para isso você serviu, uma hora dessas sabe onde minha filha está? pois te digo, está na casa da sapatão...
- Acontece Amália que essa médica me dispensou, foi educada, mas, me deu o maior fora, quer saber?, ela gosta mesmo da sua filha, pelo visto não vai ter como a senhora terminar esse namoro. Depois, como eu ia aparecer no consultório dela se nem estou grávida?.
- Claro que não poderia estar grávida criatura, como uma mulher engravidaria de uma outra? Com os dedos? Com a língua? Com o sex*?.
- Não me diga que a senhora sabe...
- Não ouse perguntar da minha vida, mas, que absurdo, saiba que não me dou ao desfrute, sou uma mulher casada e bem casada com um homem maravilhoso.
Verônica riu, colocando a mão na frente da boca, enquanto Amália a olha inicialmente com desdém, passando a olhar duramente logo após, de tal forma que a aspirante a atriz se calou, Amália continuou a observar, de fato era uma moça bonita, mas, o que sobrava de beleza, faltava em inteligência, de forma que realmente, não tinha como ser páreo para Laura na disputa pelo coração de Patrícia, era natural que realmente tivesse sido dispensada. No entanto, resolveu mudar de estratégia de última hora, pensando que a história podia chegar até a filha, que não a perdoaria jamais.
- Escuta aqui, eu vou pagar você, me dá o número da sua conta que prometo que vou depositar, também irei cumprir o que prometi e vou te dar uma carta de recomendação para que leve ao dono da emissora, conheço o francês há muitos anos, Érick Jacquer me deve alguns favores, leve amanhã mesmo esse bilhete que dá tempo de entrar na próxima novela, e esqueça que um dia me conheceu.
Verônica agradece, anota o número da conta e entrega a Amália, recebendo o envelope, que abre sutilmente, sem no entanto, entender o conteúdo, as letras pareciam saídas de um caderno de caligrafia, e seguiu feliz, devia ser um elogio a sua beleza e talento, já estava imaginando aparecer na próxima novela, sem saber que escondido sob a elegante letra em francês estava um pedido "Érick, livre-se dela para sempre querido e queime essa carta, fico te devendo mais essa, sua, Amália".
Quando Dona Inês estava quase fechando o portão, vê Verônica se benzendo três vezes, para logo depois levantar o dedo do meio gritando "Nojenta". Escondida na porta Dona Inês ria solto "ainda saio daqui e faço o mesmo gesto para Dona Amália".
Fim do capítulo
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Andreia
Em: 12/12/2020
Vai me dizer que Verônica foi morta a pedido da mãe da Laura e Isadora descobriu com ajuda da Patricia.
Quem diz onde tem muito dinheiro tem sempre alguma sujeira por trás de tudo.
Tomara q Isadora acredita na Laura na hora que ela for conversar com ela sobre a Patricia.
Bjs
brinamiranda Autora da história
Em: 19/10/2020
Gabi, depois entram outros fantasminhas, não tão camaradas assim hahahaha....acho que deve ser a minha assinatura, sempre tem algo "sombroso" kkkkk
bjssss
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Gabi2020
Em: 19/10/2020
Muito interessante! Quer dizer que a doutora Patrícia é um fantasminha camarada?!
Beijos
Ps. Mas esse fantasminha passou por muita coisa!
Resposta do autor:
Ihhh Gabi, a Patrícia é uma personagem totalmente do bem...é isso, uma fantasminha camarada tentando fazer com que Isadora perceba que ela não estava conseguindo ver os fatos como eles são...mas, não tinha como ela pensar diferente, não é? rsrs
bjsss
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brinamiranda Autora da história
Em: 17/10/2020
Mais adiante você vai ver que a Patrícia luta para provar que não foi traída, fica a dica ??‘?????
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Rain
Em: 17/10/2020
Oi! De novo!
Cara, eu não to sabendo para que caminho essa história vai se encaminhar não. Rsrsrsrsrs Que confusão! Como assim Laura namoro Patricia? Quantos anos Laura tem? Laura não triau a Isa de " propósito"?
Essa história está muuuuito interessante. Que louco bicho!
Amélia é uma completa megera do mal. A mulher não se importa com a felicidade dos filhos. Essa vai dar um dor de cabeça.
Talvez, nos próximos capitulo eu me desculpe com a Laura pelo comentário anterior.
Ah, doutora Patricia me fez lembrar da Paty de " caminhos .... " dar uma saudade.
Bye!
Resposta do autor:
Oi oiê...essa minha história vai e volta por isso dá uns nós na cabeça, sim, a Laura namorou a Patrícia...ela era novinha na época, quando conheceu a Isadora ela tinha pouco mais de 35, vai continuando a história das meninas que você vai juntando as peças...ahhhh a Dra Patrícia é um espírito muito do bem...
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