Recomeço - Capítulo 82

Dias depois...

Raquel estava sentada à mesa tomando seu café-da-manhã quando Sófia chegou a abraçando por trás.

— Senti sua falta na cama – Beijou o pescoço da morena e depois inspirou o cheiro.

— Acordei cedo. Quase não consegui dormir. Estive pensando no encontro com meu pai hoje. – Sentiu as mãos de Sófia pousarem em seus ombros.

— Amor, imagino que você esteja com medo do que ele vai dizer. – Sófia se sentou na cadeira próxima a Raquel e começou a colocar o seu café.

— Sim, mas é medo de saber que ele mentiu para proteger meu irmão. Parece que Ricardo não pode assumir seus erros, mas eu sim – disse com certa mágoa.

— Bom... seus pais parecem proteger o seu irmão.

— Isso que me mágoa, saber que meu irmão pode aprontar todas que ninguém vai se importar. – Deu uma pausa. – Sendo sincera com você, amor, se tudo isso for verdade, eu prefiro me manter distante de minha família. Não vou ficar apegada a pessoas que não me apoiam.

— Amor... – Sófia percebeu que a amada estava tomando uma decisão precipitada.

— Eu cansei, amor, eu sei que agi errado no passado. Mas me crucificaram eternamente. Será que ter ficado com Paola foi pior que quase matar a nossa mãe?

— Bom... nisso você tem razão. – Deu uma pausa. – Onde você vai conversar com seu pai?

— Em casa, ele disse que minha mãe terá que sair cedo para passar no médico e que poderíamos conversar lá mais à vontade.

— Acho que você não deve estar se sentindo bem por ir lá, por isso que está tão pensativa – Sófia comentou.

— Sim, tem a possibilidade de encontrar a minha mãe e não sei como vai ser. – Abaixou o seu campo de visão, estava pensativa.

— Amor. – Sófia tocou uma das mãos da amada. – Não fique dessa forma, ela não merece seu sofrimento. Eu que gostaria que fosse diferente, mas como não é, não deixe que isso te entristeça.

Raquel forçou um sorriso.

— Você está certa. – Acariciou a mão de Sófia com seu polegar. – Quando vai começar a trabalhar comigo?

— Hoje, eu vou terminar uns trabalhos que não podem ficar atrasados na empresa. Já conversei com seu pai sobre. Semana que vem, eu serei toda sua.

— Toda minha é? – Raquel perguntou e Sófia sentiu algo esquentar em seu íntimo.

— Sim, mas não da forma que está pensando. — Riu, tentando não demonstrar o quanto estava mexida naquele momento.

— Eu sei que é da forma que estou pensando.  — Raquel piscou e depois se levantou. – Amor, já vou indo, preciso resolver logo isso. – Deu um beijo nos lábios de Sófia e sentiu uma de suas mãos sendo segurada. – Precisa me dizer algo?

— Sim, não sei como será a conversa hoje, mas não quero que você se deixe abalar. Você não está sozinha. Você tem a mim.... Nino... Nina... Norma e Laura.

— Eu sei, amor, pode ficar tranquila. Ficarei bem. – Depositou um beijo na testa de Sófia e foi terminar de se arrumar.

Ao estar tudo pronto, Raquel foi para a casa de seus pais. Estar naquele local fazia com que um leve medo dominasse seu corpo. Talvez ainda tivesse medo de receber o olhar duro de sua mãe.

— Não deixe isso te abalar, Raquel – pensou ao tocar a campainha da casa.

Após alguns minutos de espera, Rogério apareceu todo sorridente.

— Bom dia, minha filha! Você realmente perdeu o costume de usar a sua chave – Rogério disse ao colocar a sua filha entre seus braços, dando um abraço caloroso.

— Bom dia, pai! Não me sinto a vontade para isso – falou sentindo todo seu corpo tenso, pois o assunto que iria tratar ali não era nada agradável.

— Entre. – Deu passagem para a sua caçula. — Você sabe que não precisa disso, minha filha. Aqui também é sua casa, mas me diga, o que você quer falar comigo? Parece ser algo importante. Aconteceu algo? – Notou a sua filha com um comportamento diferente.

— Pai, será que podemos conversar no escritório? – Olhou para os lados e parecia que a qualquer momento sua mãe iria aparecer naquele local e iria lhe colocar para fora da casa.

— Ela não está aqui – Rogério avisou. – Ela está diferente, filha.

Raquel não importou com o fato do pai dizer que a mãe estava diferente, já que Rita não parecia querer mudar de comportamento.

— Mas se você quer, podemos sim, ir ao escritório— Rogério disse e Raquel assentiu.

_*_

Sófia chegou à construtora e se deparou com a sala de Ricardo vazia. Isso estava sendo comum nos últimos dias e não poderia ser um bom sinal.

— Você reparou que Ricardo não está vindo mais a empresa? – Sófia perguntou a Amanda após entrar na sala da amiga.

— Reparei, ele não costuma faltar sem avisar. Além do mais, pensando bem, nos últimos dias, ele não estava muito normal – Amanda disse pensativa. – Será que é realmente aquilo que você comentou comigo?

— Acho que sim, Amanda. Talvez ele esteja se sentindo culpado.

— Bom... a culpa nos faz sentir mal.

— Raquel vai conversar com o pai dela hoje – comentou e começou a ficar preocupada com a possível reação da amada.

— Imagino que não será uma boa conversa.

— Não vai ser. Às vezes, eu temo a possível reação dela. Não sei o que Rogério pode lhe dizer... não sei qual justificativa Rogério vai usar para ter protegido Ricardo.

— Bom, minha amiga, a única coisa que podemos fazer quanto a isso é aguardar.

— Você está certa – Sófia finalizou.

_*_

Após chegarem ao escritório, Rogério se sentou e Raquel fez o mesmo.

— Está tudo bem entre você e Sófia? – Rogério perguntou, pois a forma como a filha estava não era comum.

Raquel respirou fundo.

— Estamos bem, pai, mas não é isso que quero falar com o senhor.

— Bom... pelo visto, é algo muito sério. Mas diga, o que você quer falar comigo? – o senhor perguntou calmamente.

— Quero saber sobre o dia do acidente de minha mãe – disse e viu o olhar de seu pai mudar. – Quero muito, pai, que o senhor seja sincero comigo, pois não sei se lidaria bem com uma mentira sua, mesmo achando que o senhor já tenha mentindo para mim.

Rogério abaixou sua cabeça por alguns instantes. Sabia que muitos desconfiariam do acidente de Rita, mas não achava que logo Raquel iria lhe questionar sobre.

— Filha, fiz o que achei melhor no momento. – Começou a se justificar e viu o olhar de Raquel passar a ser decepcionado.

— Então, o que estou pensando é verdade. Você acobertou Ricardo? – perguntou com a voz trêmula.

— Filha...

— Pai, responda!

— Sim, eu não deixei o seu irmão responder pelos seus atos. Achei melhor ele viver com as consequências do que ser julgado pela sociedade.

— Estou decepcionada com o senhor, pois sei que comigo seria diferente. – Raque se levantou e apoiou as mãos sobre a mesa.

— Não seria diferente, você é minha filha. Vocês recebem o mesmo tratamento.

Raquel balançou a sua cabeça negativamente e sentiu as lágrimas tomando conta de sua face. Aquelas palavras de seu pai não eram verdade, eles não recebiam o mesmo tratamento.

— Não queria discordar de suas palavras, mas Ricardo sempre foi acobertado. Já eu, fui crucificada sempre. Se caso minha mãe tivesse morrido, Ricardo ficaria como? – Raquel perguntou. – O senhor o protegeria?

Rogério ficou em silêncio, pois não soube o que dizer.

— O seu silêncio já diz tudo, pai – Raquel virou o seu corpo e andou em direção a porta.

— Espero que isso não abale a relação que há entre nós. Eu te amo, reconheço que errei muito – Rogério disse e viu Raquel sair pela porta.

Após sair do escritório, Raquel parou um pouco na sala. Precisava entender onde havia errado tanto em sua vida, pois a sua família parecia viver como se ela fosse a única pessoa que deveria pagar por seus erros.

Antes de sair pela porta, ela reparou que em um dos móveis havia a foto de sua família reunida.

Quem visse de fora poderia achar que era uma família unida e feliz, mas Raquel sabia que isso não era verdade.

— Tudo uma mentira – Raquel falou e saiu pela porta da casa.

Antes de entrar em seu carro, viu um automóvel chegar, mas pouco se importou com quem poderia ser.

_*_

— Senhor, quer receber visitas enquanto estiver aqui? – Uma mulher perguntou no momento em que fazia a ficha de Ricardo.

— Não, eu não quero – disse decidido.

— Nem mesmo de sua família?

— Eu não tenho família— Ricardo falou, pois a última coisa que ele queria era que sua mãe soubesse onde estava.

A mulher olhou por alguns instantes para Ricardo, mas resolveu não questionar.

— Tudo bem!

Fim do capítulo