Belle Ximenes era de estatura baixa, tinha olhos pretos e três anos mais velha que Nati. Tinha ambição pela vida acadêmica, por pura prepotência. Inserida na faculdade ela teria uma desculpa para sair de casa, pois sua convivência familiar era uma espécie de prisão em Alcatraz.

Sua vida era rotineira e sem projetos plausíveis, pois era muito rebelde e relapsa e ao contrário da Nati, Belle não carregava consigo o orgulho LGBT. Auto intitulada como heterossexual, ela conheceu o Willas Jacob, que era alto, bonito e usava óculos, mas também era sem simpatia do jeito que Belle gostava. Eles começaram a namorar e ao decorrer do tempo ele a pediu em casamento e como ela gostava dele, aceitou o pedido. Enfim, noivos. Alegria nas famílias, mas por incrível que pareça eles não deram um sorriso sequer.

Belle tinha boa condição financeira, pois seu pai morrera e deixou uma poupança exagerada. Mas ela ainda sofria muito com a perda do pai, que a deixou com 10 anos de idade. Numa tarde ensolarada no continente da sua cidade natal, Fredd estava nadando tranquilo no rio, enquanto Belle estava na margem olhando os mergulhos geniais de Fredd. E nas lamas daquele rio, havia um jacaré. O jacaré abocanhou de tal maneira que decepou seu órgão genital. Ele perdeu muito sangue e o socorro foi tardio. Belle presenciou a morte lenta e dolorosa do seu pai. Desde então Belle tem pesadelos constantes. Cresceu depressiva e ansiosa, atordoada e de cara muito fechada.

Quando Natila olhou Belle, sentiu a energia negativa fluir, mas sentiu também a esperança e o clarão benéfico que volitava em torno da Belle. Desde do início sentiu a antítese tomando conta do seu ego, e fazendo-a delirar.

Willas tinha a mesma idade que Belle, eles já falavam em ter filhos, cachorro e ficar juntos para a eternidade, - essas frases clichês e bregas que casais proferem um para o outro. Mas Belle não estava totalmente segura a respeito dessa situação, logo ela propôs time, para que eles esperassem mais um tempo para poder concretizar a união. Num primeiro momento ele se opôs, mas logo cedeu.

Foi naquela manhã que as duas foram juntas ao banheiro, que Nati ficou sabendo do noivado de Belle. As duas conversavam sobre a Jhennyffer Rose, o quanto ela era linda e havia rumores que ela estava de casamento marcado, mas era só conversa fiada. Jhennyfer era lésbica e estava perdidamente apaixonada pela Natila.

A Belle contou para Natila que também iria se casar. Nati ficou triste com aquela noticia pelo simples fato de já imaginar uma vida ao lado da sua princesa cara fechada, "até porque ilusão não é crime". Nati absteve as lágrimas e como um soldado vestido para guerra, usou a camuflagem para esconder seus sentimentos.

E por debaixo da maquiagem fictícia que Natila usava para manter em segredo o amor que ela sentia por Belle, tinha também uma explosão de decepção ao concluir que elas em hipótese alguma poderiam ficar juntas. Algo que já é esperado quando se trata de uma lésbica se apaixonando por uma garota heterossexual. O coração amolece, dilacera e é cercado por todos os sentimentos negativos.

No dia em que a Nati descobriu sobre o possível matrimônio, ela sentiu-se o fracasso em vida, e saindo da faculdade foi para o bar. Numa tentativa frustrada de alapar os sentimentos, ela não hesitou em beber todas bebidas fortes que ali estavam, desde a bebida mais sofisticada, à mais tenaz. Depois de vários goles impiedosos de álcool que percorreu pelo seu organismo e pelo seu sangue vermelho e quente, ora de raiva , ora de amor, a chamada desilusão subiu ao seu cerebelo e penetrou no cérebro central, onde foi ativada a memória da sensibilidade, e nesse exato momento Natila não conseguiu mais conter as lágrimas e se debruçou na mesa do bar, começou a chorar e falar:

- Oh minha princesa cara fechada, por que fizeste isso comigo? Meu sentimento é o mais verdadeiro e sagaz, quero faze-la sorrir por idiotices, dar-lhe até o céu se possível for.

E como um belo sussurro, Natila cantou:

- Sério, quando a gente se apaixona o caso é sério/

Felicidade vem à tona e nos faz sonhar/

Quero, estar nos seus braços sempre eu quero/

Todo o seu charme me faz delirar/

Ah, queria estar com você/

Vou até te prometer ...

Eu te prometo um pedacinho do céu/

E para você sempre serei fiel/

Vem amor da minha vida, comigo fazer planos/

Mostrarei para todos que te amo.

Ainda debruçada na mesa, o estrondo do eu te amo saiu mais alto do que o som que tocava no bar, semelhante a um trovão, mais ou menos assim: EEUU TEE AMOO. Nessas alturas ela já estava soluçando, em consequência disso, o barulho do eu te amo saiu estrondoso.

Nati chamou o garçom, pediu a conta mesmo falando enrolado numa mistura de Latim, Grego e Inglês. Levantou-se para ir embora cambaleando, e por ironia das SEIS CORES, Jhennyffer Rose aparece toda apaixonada e já munida de informações sobre a localização da sua paixonite, decide levá-la para sua casa, pois Nati estava num porre tremendo e não tinha condições de andar por aí sem ajuda.

Como Jhennyffer morava sozinha no apartamento, ficou facilitada a estadia de Nati no seu lar. Não era como Jhenny planejara, mas foi extremamente prazeroso. A voluptuosidade estava mais ardente do que nunca.

Nota: O "eu te amo" em letra maiúscula é para aproximar a sensibilidade do leitor, ou seja, é a impressão de "grito" no mundo digital.

Escritora: Jessica Cantanhede

Revisão: Khatianne Maria M.S Pereira

Fim do capítulo