Barões do Vale
Isabel
Há dias estava com problemas na plantação de cana da fazenda de Águas Claras. Eu não sabia o que estava acontecendo, um dia eram as pragas, no outro alguns problemas nas máquinas de moer... Eu não tinha plantações de cana antes, na fazenda do meu pai, tínhamos o café e o tabaco e com a aquisição da outra fazenda, passei a trabalhar com a cana. Comprei máquinas modernas para o processo de moer e transformação em açúcar. Não queria ficar no processo de produzir apenas aguardente ou o açúcar nos antigos métodos. Eu sempre gostei de pensar na frente e sabia que deveria me adequar às novas invenções, principalmente aquelas vindas da Inglaterra. Investi uma boa parcela de dinheiro nesse progresso e aos poucos começava ver o seu retorno. Eu consegui triplicar meus lucros e isso causava muita inveja. Desde o momento que comprei Águas Claras eu já mexi com o orgulho de muitos Barões do Vale. Eu me arrisquei e fiz o que todos tinham medo. Agora começo a ter problemas seguidos no negócio que me fez ser reconhecida como a maior Baronesa do Vale do Paraíba.
Eu chegava em casa e tentava a todo custo disfarçar minhas preocupações para Carmen não se afetar com esses problemas. Eu tentava, mas sabia que no fundo não enganava a mulher que dormia ao meu lado.
Margot esteve na fazenda e Carmen murchou um pouco durante alguns dias. Eu não fazia ideia do que tinham conversado. Sabia que eram como mãe e filha e seus assuntos não cabiam a minha pessoa. Por isso, quase nunca perguntava nada a ela.
Hoje teria mais uma reunião dos Barões do Vale. Era como um jantar com velhos chatos e ricos que se reuniam pelo menos de dois em dois meses para tratar de assuntos sobre o comércio e as plantações do Vale. Na minha opinião, era só uma espécie de competição imbecil sobre qual era o mais rico e mais próspero. Meu pai odiava essas reuniões, ele nunca pode me levar, só era permitida a entrada de Barões. Ele sempre chegava aborrecido em casa e praguejando metade do Vale, não entendia na época, mas depois que assumi seus negócios e seu título eu o entendo perfeitamente.
Fiz muito velho engolir a seco minha presença. Era a única mulher nas reuniões e eles sempre deixavam claro que não eu era bem-vinda. Porém, nada podiam fazer. O Barão de Vassouras não teve um filho homem e sua única herdeira era uma mulher.
Quando libertei os escravos da minha fazenda quase fui expulsa, mas eles precisavam de mim, precisavam do bom nome da minha família. As gerações dos Barões de Vassouras pertenciam a uma das mais importantes famílias da região e do Império. Meu avô era amigo íntimo do antigo Imperador Dom Pedro I e frequentava todos os bailes e eventos particulares do palácio da Quinta da Boa Vista. Ter a família Albuquerque de Castro como aliada, era sinônimo de bons investidores e boa reputação com o Império. Eu era a pedra no sapato dos velhos Barões e mesmo sem querer também seu maior trunfo.
Estava ajeitando a camisa quando Carmen se aproximou me ajudando com a gravata. Eu não gostava muito daquelas roupas formais, meu estilo estava mais para roupas da fazenda.
– Déjame ahydar tu... - Falou fazendo com perfeição o nó na gravata.
– Obrigada, meu amor! - Falei beijando sua testa. Me afastei pegando a cartola que estava sobre a cama.
– Por que andas tão séria, Isabel? Me conta o que está acontecendo? - Disse se agarrando a minha cintura.
Eu realmente precisava desabafar, mas aquela não era a hora para isso.
– Não és nada meu amor, não se preocupe com isso! - A beijei delicadamente nos lábios.
– ¡Odio cuando me mientes! - Disse irritada.
A segurei mais firme pela cintura.
– Fique calma, não quero vocês dois nervosos... - Disse colocando minha mão sobre sua barriga. - Prometo que quando voltar conversaremos. - Ela revirou os olhos ainda irritada mas acabou concordando.
Me afastei um pouco e coloquei a cartola.
– Como estou? - disse rindo.
– Linda como siempre, mi amor! - Se agarrou ao meu pescoço. - Se não estivesse atrasada, te agarrará ahora! - Disse me fazendo rir.
– Não faça isso comigo, mulher... És muito mais interessante do que um monte de velho chato. - Falei fazendo Carmen rir alto.
– Me deixa louca vestida así! - falou beijando meu pescoço. Fui me deixando levar pelas suas carícias.
– Tu gostas? - Falei de olhos fechados só sentindo seus lábios.
– ¡Me gusta mucho! - Carmen me beijou intensamente e sem conseguir me conter a peguei no colo e levei para a cama. Coloquei-a deitada e me encaixei com cuidado em cima do seu corpo, entre das suas pernas. Ela jogou minha cartola longe e me puxou pela gravata. - Faça amor comigo, Cariño.... - Disse tirando uma alça do seu vestido e deixando visível um dos seus seios. Minha boca foi direto nele. Carmen gemia me deixando louca. Levantei seu vestido aos poucos, minha mão acariciando boa parte de sua coxa e subindo até a intimidade, quando minha mão alcançou sua roupa de baixo ela gem*u alto. Estava preparada para penetrá-la, quando escutamos batidas na porta.
– Baronesa, a carruagem já está pronta! - Era um dos empregados. Certamente para me avisar que o cocheiro já esperava por mim a algum tempo.
– ¡Hijo de una puta! - Carmen soltou me fazendo rir.
– Me perdoa amor, mas tenho que ir! - Ela revirou os olhos e concordou ainda irritada. - Prometo te compensar mais tarde.- Carmen se levantou e ajeitou o vestido.
– Não precisa nem prometer, usted irá me compensar! - Disse me puxando novamente pela gravata e dando um beijo gostoso em meus lábios, ajeitou o nó e colocou a cartola em minha cabeça. - Está pronta, Baronesa!
Carmen enlaçou seu braço no meu e me levou até a porta.
– Até mais tarde, mi amor! - Me deu um beijo me fazendo sorrir boba.
Entrei na carruagem e parti pronta para enfrentar qualquer coisa. Quando cheguei a bonita casa amarela no alto de uma das colinas do Vale, escutei as risadas e o cheiro do charuto. Suspirei e ajeitei minha roupa. A sala estava cheia e os olhares se voltaram para mim quando passei pelo portal de entrada.
– Isabel, minha querida! Achei que não viria! - Um dos velhos veio ao meu encontro. Era o Barão de Paty de Alferes. Um conhecido de meu pai e eu uma velha conhecida de sua filha.
– Tive alguns contratempos, mas não ousaria faltar! - Falei fazendo um cumprimento de leve com a cabeça.
– Como andam as tuas fazendas? - Falou me puxando delicadamente pelo braço até o bar elegante da casa.
Aquela residência pertencia a ele e era simplesmente uma das mais lindas do Vale. Um escravo bem vestido nos serviu de uísque.
– Obrigada. - Agradeci recebendo um sorriso de volta. O Barão ao meu lado simplesmente pegou o copo e virou as costas. - Tudo correndo muito bem! - Disse bebendo.
Eu jamais falaria a qualquer um deles ali que estava com problemas nas plantações. Era tudo que queriam ouvir, que a Baronesa intrometida não teve êxito. Ele forçou um sorriso, sinto que o decepcionei com minha resposta.
Me levou até outros Barões que discutiam sobre a atual situação do comércio de café para além do Império e aos poucos fui entrando na conversa e dando opiniões aceitas pela grande maioria. Eu gostava de deixá-los mudos e sem argumentos. Era a melhor parte daqueles encontros. Logo estávamos todos sentados em uma grande mesa sendo servidos das melhores comidas da região. Era sempre assim, uma conversa mais informal, o grande jantar e logo depois nos reunimos para falar de fato de negócios.
O jantar foi agradável apesar de pouco falar. Na realidade não via a hora daquilo acabar para voltar para Carmen. Já bem alimentados, nos reunimos em uma sala improvisada com muitas cadeiras bem organizadas. O Barão de Alferes se colocou de pé a frente de todos e deu início.
– Quero agradecer a todos pela presença e dizer que é um grande prazer abrir as portas da minha casa para mais uma reunião dos Barões do Vale do Paraíba. - Todos aplaudiram e eu me limitei a somente revirar os olhos. - Como sabem, nossa Baronesa de Vassouras, Isabel Albuquerque de Castro comprou a fazenda Águas Claras, propriedade do saudoso amigo Barão Inácio Villela. - Todos me olharam. Filho da mãe. Fez de propósito, ele queria que eu fosse o foco da reunião. - Isabel se tornou a maior Baronesa do Vale. - Todos aplaudiram mesmo que a contragosto. Vi algumas caras de desprezo e outros olhares curiosos. - Venha até aqui Baronesa Isabel! - O Barão me chamou até a frente do salão. Eu odiava falar em público, mas não me deixaria abater. - Nos diga, o que a fez ser tão ousada e assumir a fazenda Águas Claras?
Ajeitei minha postura e falei o mais firme possível. Sendo a única mulher ali eu não poderia demonstrar fragilidade e nem medo diante deles.
– Meu pai tinha um sonho de cultivar cana, mas nossa fazenda antiga já tinha quase toda sua extensão ocupada pelo café e tabaco, nós precisávamos de mais acres de terra...
Ele me interrompeu nessa hora.
– Saudoso Jorge Albuquerque de Castro! - Falou pensativo. - Vamos dizer que a morte do antigo Barão veio a calhar para a senhorita... - Disse rindo alto e levando a plateia a rir junto. Fechei o semblante. Eu sabia bem onde ele queria chegar.
– De maneira nenhuma, Barão! Ficamos sentidos pela morte do Barão Inácio. Era um amigo de longa data de meu pai. Fiz o que estava disponível para todos fazerem e comprei a fazenda. Se tratou de uma questão de coragem. - Todos se calaram e o Barão de Alferes bufou disfarçadamente.
– Sempre muito ousada, minha querida! Desde o momento que assumiu os negócios e libertou seus escravos nós reparamos que não era uma mulher como as outras... Como posso dizer suas atitudes e preferências são... Peculiares. - Disse sarcástico. Eu sabia que não estava se referindo somente ao fato de ser uma abolicionista, mas também de preferir a companhia de mulheres.
– Tua filha que o diga Barão... - Disse fazendo alguns soltarem altas risadas e o velho ficar vermelho como um tomate. E continuei: - Digo porque casou com um político da capital e não com um Barão para continuar os negócios da família, é claro. - Ele me olhou bem irritado. O Barão de Alferes tinham ciência de que andei pelas saias de sua filha.
– A Baronesa pode nos contar como foi todo o processo de reestruturação da nova fazenda? - Um Barão mais ao fundo perguntou. Ele não era tão velho quanto os outros. - Escutei que comprou máquinas vindas da Inglaterra.
Eu me animei um pouco, ainda bem que fizeram uma pergunta que merecesse minha presença naquele lugar. O Barão de Alferes ainda se ajeitava tentando disfarçar a irritação comigo. Me virei ao dono da pergunta e respondi suas dúvidas e as outras que surgiram logo depois. Quando percebi, já estava discursando e sendo aplaudida com entusiasmo. Foi a primeira vez que me senti aceita naquele lugar. Me sentei logo depois, recebendo olhares amistosos desta vez.
O Barão de Alferes continuou a fazer mais considerações por longos minutos e meu tédio voltou. Puxei o relógio de bolso, já passavam das nove da noite. Só conseguia pensar em Carmen e em como queria terminar o que comecei mais cedo. Escutei aplausos. Estava distraída e não reparei que o Barão estava fechando a reunião.
"Até que enfim!"
Algumas pessoas vieram me cumprimentar e sorri agradecida a todos. O Barão que me fez a primeira pergunta se apresentou.
– Muito prazer, Baronesa! - Disse me cumprimentando com um forte aperto de mão. - Sou Marcos Beaumont, Barão de Campo Belo.
– O prazer é todo meu, Marcos! - O chamei pelo nome o que fez o homem sorrir ainda mais.
– Obrigada pela resposta esclarecedora, sou muito curioso com relação às novas invenções inglesas e quero implementar algumas em minhas fazendas. Fiquei bastante contente em saber que a senhorita é a favor do progresso! - Disse me fazendo rir.
– Certamente que sou! Acho que temos que mudar com o mundo e não ficar parado no tempo, como muitos aqui... - Disse olhando em volta e Baeumont seguiu meu olhar.
– Ainda bem que temos pessoas como tu! - Respondeu apertando novamente minha mão. - Precisamos de mudanças aqui no Vale! Queria convidá-la para um jantar em minha casa, tenho uma menina um pouco mais nova que a senhorita e tão visionária quanto, gostaria que a conhecesse! - Disse me fazendo ficar vermelha. Não era comum ter Barões jogando suas filhas para meu colo.
– Adoraria, Marcos! Mas temo que minha visita seria somente para o início de uma boa amizade, eu já estou laçada! - Disse nos fazendo rir.
– Ah, pois é uma pena... Mesmo assim, o convite está de pé. Leve tua amada, ficaremos felizes de recebê-las! - Ele colocou a cartola. - Até mais, Isabel!
– Até mais, Marcos! - Me despedi e entrei para pegar minha cartola e também partir.
O Barão de Alferes me parou no meio da sala.
– Vi que andava de conversa com o Barão de Campo Belo...
– Me alegra saber que andas cuidando com quem falo, Barão! - Disse debochada.
Ele ficou novamente vermelho de ódio.
– Escute aqui, menina atrevida! - Disse furioso. - Não ouse me enfrentar, ouviu?!! Podes ter te tornado a maior Baronesa do Vale, mas quem manda nessas bandas aqui ainda sou eu! - Disse um pouco alto, chamando atenção de outras pessoas.
– Escute aqui tu, Barão! - Me aproximei ameaçadora e o vi dar um passo para trás. - Eu não tenho nenhum interesse em disputar liderança nenhuma contigo! - Disse aumentando meu tom de voz. Todos os outros na sala me olharam irritados. - Se deixei muitos aqui furiosos porque fiz o que nenhum teve coragem, então acho que possuem mais problemas do que imaginei! Se entendam com seus próprios culhões e não comigo! - Os homens cochichavam irritados e o Barão a minha frente estava com os punhos cerrados.
– Isso não ficará assim, Baronesa! Se pensa que pode vir até minha casa e me insultar, estás muito enganada! Está mais do que na hora de colocar de vez a senhorita em seu devido lugar! Passar bem! - Disse furioso e saindo da sala.
Eu senti seu tom ameaçador. Estava presente em cada uma das suas palavras. Dele e de alguns Barões daquela sala e tive mais certeza do que nunca de que os problemas que estava tendo em minhas plantações não eram por acaso. Peguei minha cartola e sai dali bufando de ódio
Cheguei a casa da fazenda quase a meia-noite. Entrei pela sala e joguei a cartola longe. Fui até o bar e me servi de uísque. Logo Carmen apareceu na entrada do corredor.
– Isabel... - Disse se aproximando. - O que aconteceu? - Segurou em meu rosto preocupada, desviei das suas mãos e me afastei de novo enchendo meu copo. - ¿Qué sucedió? - Perguntou com as mãos na cintura.
– Nada, Carmen! Vá dormir! - Exclamei irritada. A mulher fechou a cara e se aproximou.
– ¡Duermo cuando quiero! ¡Y ahora quiero saber qué pasó! - Falou tirando o copo de minha mão.
Me afastei andando de um lado para o outro.
– Aquele bando de velho acha que pode me intimidar! - Disse alterada. - Só porque eu sou mulher e tenho mais culhões que todos eles juntos!
Carmen se aproximou.
– ¡Eres mucho mejor que todos juntos!
– Sou! E tive a prova disso hoje! - Falei irritada. Me sentei no sofá e Carmen se aproximou me fazendo uma massagem nos ombros.
– No dejes que te quiten la paz... - Gemi com o toque de suas mãos. - Está melhorando? - Disse aumentando os apertos nos meus ombros.
– Muito... - Suspirei me acalmando um pouco. - Não os deixarei me intimidar!
– Me conta, Isabel... O que está acontecendo? - Ela sentou ao meu lado e pegou em minha mão.
Respirei fundo e achei melhor conversar com Carmen, ela melhor do que ninguém me entenderia.
– Estou com problemas nas plantações de cana... - Ela fechou a cara preocupada. - E não queria te contar porque sabia que ficaria exatamente como está agora!
– Isabel, entenda que o que te afeta me afeta también!
– Nos primeiros dias foram algumas pragas que conseguimos reverter e não perder a colheita. Mas eu sei que alguém jogou algo nas plantações, encontramos rastro de cavalos exatamente nos lugares que a praga começou... Depois foram as máquinas no engenho. São novas, mesmo assim, faço questão de estarem em constante manutenção, mas pararam de um dia para o outro! - Levei as mãos a cabeça. - Meu empregado deu certeza que era sabotagem... Encontrou alguns materiais incomuns no meio das engrenagens, só não sabia quem poderia ser. Até hoje a noite! - Disse bufando.
– Acha que é algum Barão da região?
– Acho não, tenho certeza! - Disse me irritando novamente. - O crápula do Barão de Alferes passou a maior parte da noite tentando me prejudicar e quando não conseguiu perdeu razão e me ameaçou.
– Isabel... - Carmen disse preocupada.
Resolvi contar o que se passou naquela noite e ela ouviu tudo sem me interromper.
– Desgraçados! - Disse irritada.
– Não lhe contei tudo isso para ficar nervosa! Sabe que não pode, Carmen! - Falei me levantando.
– Perdón, mi amor... Mas não há como ser diferente! - A abracei forte. Quando estava em seus braços tudo ficava melhor.
– Só me deixa ficar aqui em seu colo e logo melhorarei... - Ela beijou minha cabeça e me apertou mais.
Me soltei dela e fui até o pequeno altar, fiz questão de trazer da antiga casa todos as imagens que um dia pertenceram a minha avó. Ela era uma mulher muito católica e meu avô tanto quanto. Ele era devoto de São Jorge e deu o nome do santo ao filho. Assim como seu pai ele também manteve a devoção e desde pequena passou isso para mim. Me aproximei do altar e acendi uma vela em frente a imagem de São Jorge. Carmen se aproximou e me abraçou por trás.
– Sabe que em todo esse tempo aqui na casa, nunca reparei bem nesse altar... é muy bonito, Isabel! Não sabia que era tão católica.
– Não sou tanto quanto meus avós eram, mas aprendi com meu pai a gostar de São Jorge e pedir a ele proteção. - Segurei o pequeno escapulário que levava no peito com sua imagem.
– Sempre me surpreendendo.- Disse deixando um beijo em meu pescoço. - Vamos para cama. Te farei sentir muito mejor... - me puxou pela mão até o quarto.
E ela fez. Fez tudo passar e minha irritação sumir. Seus beijos, suas palavras de carinho e o tanto amor que exalava dela toda vez que eu a amava me regeneravam de qualquer moléstia ou irritação.
Depois daquela noite eu fiquei mais atenta a qualquer sinal de sabotagem em minhas plantações. Saia assim que o sol raiava e voltava quase com ele indo embora. Passei mais tempo correndo em meus campos ao mínimo sinal de qualquer coisa diferente. Carmen entendeu minha ausência durante aquelas semanas e felizmente nada mais aconteceu.
Aos poucos voltamos a nossa normalidade. A gravidez já estava na reta final, não havia espaço para o bebê crescer mais. Carmen estava linda e sua barriga enorme.
– Do que está rindo? - Perguntou se aproximando da varanda.
Era de manhã, saí da cama cedo e ela me acompanhou. Me perturbou àquela noite inteira porque não encontrava posição para dormir.
Do que eu estava rindo? Do seu jeitinho de andar, Carmen era uma baixinha, bem menor que eu e agora, carregando nosso filho e com a barriga daquele tamanho caminhava como os patinhos que viviam perto do lago na fazenda de Vassouras. Eu pensei em dizer a ela, mas eu tinha muito amor pela minha cabeça e gostava dela assim, presa em meu pescoço.
– Nada, amor... Estava pensando que quero estar aqui quando ele nascer. - Me aproximei dela e abaixei deixando um beijo em sua barriga.
– Hum... - Estreitou os olhos para mim e eu abracei-a disfarçando uma risada. - Este niño necesita nacer em seguida, ¡ya no puedo dormir!
Estava irritada, mas falava com carinho. Deixei um beijo em sua testa e nos sentamos para tomar café da manhã. Ao mesmo tempo que estava ansiosa pela chegada do bebê, eu ficava cada dia mais preocupada com o que Carmen faria a partir daquele momento.
Passei aquela manhã com eles, curtindo o mau humor da mãe do meu filho até ela brigar comigo e me deixar sozinha na varanda.
– ISABEL! - Me assustei e levantei em um pulo da cadeira. - ISABEL!
"Meu filho..."
– ISABEL! - Gritou mais alto.
Fui até a sala, mas não a encontrei e corri para o quarto.
A cena que vi me fez suspirar aliviada e risonha. Ela estava sentada na cama e olhava brava para o leque caído no chão.
– Quer me matar do coração, mulher? - Perguntei caminhando até o objeto, mas sem juntá-lo do chão.
– ¿Por qué tardó tanto? - Disse brava. - Pode juntar para mim, por favor? Essa barriga... Não consigo mais me abaixar.
Juntei o objeto balançando a cabeça, foi impossível não rir e ela arrancou o leque das minhas mãos.
– Saí daqui, Isabel! - Sentou na poltrona devagar e se abanou irritada.
– Me chamou aqui só para juntar o teu leque? - Perguntei fingindo estar brava.
– ¡Si! - Respondeu sem me olhar.
– E não mereço nem um beijinho de agradecimento? - Pedi me abaixando em sua frente e ela me olhou com a sobrancelha erguida. Abusada!
Revirou os olhos e meu deu um beijo sem graça, puxei-a mais para mim e ela logo se rendeu aos meus carinhos. Me lembro de Carmen sempre ter sido caliente em nossas noites na capital, mas a gravidez a deixou insaciável e logo já estava em meu colo gem*ndo meu nome.
***
Era mais uma noite quente e estávamos dormindo abraçadas. Acordei assustada com uma gritaria vindo de fora de casa.
– O que está acontecendo? - Carmen levantou comigo me seguindo até a janela.
– Baronesa! Baronesa! - Um dos meus empregados vinha correndo a cavalo pela estrada.
Fiquei imediatamente aflita e vesti qualquer roupa antes de sair em disparada para a sala. O homem entrou correndo, cheirava a fumaça e tinha o semblante desesperado.
– O que houve, Florêncio? - Disse assustada. Carmen se aproximou e ficou ao meu lado.
– Fo... Fogo! - Disse respirando com dificuldade. O ajudei a se sentar no sofá. - Fogo na plantação de cana, Baronesa! - Arregalei os olhos assustada. - Já pegou a metade!
– Meu Deus! - Falei assustada. - Tem alguém na plantação?
– Todo o pessoal está lá tentando conter o fogo, Baronesa! Vim correndo avisar a senhora!
Quando olhei para trás todos os empregados da casa estavam de pé me olhando aflitos. Carmen estava com os olhos arregalados e preocupada. Por frações de segundos fiquei sem reação. Despertei quando escutei disparos fora da casa. As mulheres gritaram e escutei barulho de cavalos em volta da casa e gritaria. Fui até a janela.
– Vá para o quarto, Carmen! - Disse para a mulher que estava ao meu lado.
– Não a deixarei aqui sozinha! - Gritou nervosa.
– Marta, tira ela daqui! - Disse a empregada que prontamente me atendeu.
– No me voy a lugar nenhum! - disse alto.
Olhei pela janela e vi cinco homens a cavalo correndo em volta da casa. Mais disparos. Deixei todos na sala e corri até o escritório pegando a espingarda de meu pai que trouxe da outra fazenda. Tinham mais alguns revólveres que também levei para sala. José e seu filho mais velho eram os únicos homens que moravam ali.
– Sabem atirar? - Pergunte me dirigindo a eles assim que cheguei a sala.
Os dois concordaram e pegaram as pistolas da minha mão. Coloquei as balas na espingarda. Chamei Florêncio para me seguir, ele andava armado, então não precisei me preocupar.
– Vamos nos dividir! José e Pedro vão pelos fundos da casa! - Os dois prontamente concordaram e saíram. Vi Marta choramingar preocupada, mas não saia do lado de Carmen que correu até onde eu estava quando fui saindo pela porta da frente.
– Tu vens comigo! - Disse a Florêncio que estava ao meu lado.
- ¿Qué vas a hacer, Isabel?! - Dizia me segurando pelo braço. - ¡No sairás daqui! - Disse nervosa.
– Carmen, me solte! - Falei irritada. Escutamos mais dois disparos e em seguida, um pequena troca de tiros. Com certeza eram José e seu filho contra os homens que cercavam a casa, não podia deixá-los sozinhos.
– Marta! - Chamei a mulher para segurar Carmen que não soltava de mim.
– Não sairá daqui! - Repetiu aflita. Eu vi o quanto estava com medo.
– Fique aqui com Marta, eu logo voltarei! - A senhora conseguiu segurar Carmen e finalmente consegui sair da casa.
– ISABEL! - Escutei Carmen me chamar alto da sala da casa.
Florêncio foi por um lado e eu segui para o outro. Avistamos os homens a cavalo vindo em nossa direção, foi quando disparamos e acertei um deles que se segurou e fugiu rápido. Os outros foram corridos por José e seu filho que vinham andando em nossa direção enquanto disparavam contra os capangas. Os cinco correram em direção a saída da fazenda.
– José, pegue o cavalo e vá fazer uma ronda na entrada!
– Sim, senhora! - Disse correndo em seguida.
– Florêncio, vá chamar os homens e verifiquem cada canto da fazenda! - Ele concordou pegou seu cavalo e se foi.
Por sorte outros empregados vinham chegando
– Baronesa, escutamos tiros! - disseram descendo dos cavalos.
– Preciso que vocês protejam a casa, vou até a plantação! - Eles concordaram de imediato e se espalharam pela varanda e a porta da casa. Peguei o cavalo de um deles – Ninguém entra ou sai dessa casa, ouviram?! - Todos concordaram.
Carmen apareceu na varanda da casa chorando e assustada.
– ¿Donde va, Isabel? ¡Vuelve a la casa! - Gritou em meio às lágrimas.
Marta chegou em seguida. Do alto do cavalo escutei ela implorar a Carmen para entrar e se acalmar.
– Por favor, Madame Carmen... Precisa se acalmar! - Ela a segurou pelo braços e tentou fazê-la entrar.
Nossos olhares se cruzaram e vi o medo dela. Eu estava igualmente com medo e preocupada por ela e pelo bebê. Desviei o olhar e sai em disparada, escutando de longe ela chamar por mim.
Minutos depois estava em meio a plantação de Cana em chamas. Mais da metade tinha se acabado no fogo. Desci correndo do cavalo e junto com meus homens tentamos apagar o restante do fogo. Foi inútil. Nesse tipo de plantação o fogo se alastra muito rápido, era quase impossível apagar. Depois de não ver resultado, larguei um dos grandes baldes de água no chão e chorei vendo todo meu trabalho sendo consumido pelo fogo. Eu sabia bem quem tinha atacado a casa e colocado fogo na plantação de cana. Sabia nome e sobrenome e ele me pagaria caro por isso.
Estava quase amanhecendo e o fogo diminuindo, foi tudo destruído. Eu andava a cavalo vendo o tamanho do prejuízo, alguns homens a minha frente e outros logo atrás me protegendo. Segundo eles quem fez isso queria me prejudicar além das plantações.
– BARONESA! - Alguém a cavalo vinha ao meu encontro. Mais perto reconheci ser José. - Baronesa! - Disse parando a minha frente. - Seu filho está nascendo! - Disse sorrindo.
E ali em meio a desgraça eu sorri de verdade. Sai em disparada até a casa da fazenda. Corri como nunca fiz antes. Desci do cavalo e segui para dentro da casa grande, mas paralisei no meio da sala quando escutei o choro forte de criança vindo do quarto.
Meu filho nasceu!
Fim do capítulo
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naoseimeulogin
Em: 28/12/2020
Que ódio desse barão desgraçado. Hijo de puta
Tomara de Isabel bole o troco e beeem bolado.
Que emoção com o baby a caminho *0*
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