Boa leitura!
Capitulo 22
A cada passo que eu dava em direção aquela pequena sala no final do corredor, sentia uma pontada forte socando meu peito. Minhas mãos suavam e o medo se fazia cada vez mais presente em mim. Assim que alcancei a porta, inspirei fundo antes de finalmente encontrar coragem para entrar. Não sabia o que dizer, o que fazer ou o que pensar. Aquela Alice corajosa que enfrentava o mundo de cabeça erguida, agora havia dado lugar a uma Alice que eu nem sabia que existia. Quando o assunto era a professora Helena, eu não tinha confiança nas minhas atitudes, não tinha forças pra enfrentá-la e sequer coragem pra fingir que eu estava bem. Sequei o canto dos meus olhos dizendo pra mim mesma que eu não iria chorar, quando finalmente consegui entrar.
- Ah, finalmente - Helena me aguardava ansiosa. Andava de um lado pra outro quando entrei, apertando os dedos das mãos.
- O quê você quer? - perguntei. Estava ansiosa pra vê-la, embora soubesse que muito provavelmente não ouviria coisas boas em relação a nós.
- Senta - ela apontou para um lugar e se sentou em minha frente. Passou as mãos nos cabelos algumas vezes, respirou fundo em outras... - Alice eu queria conversar com você - sua voz era calma - Ontem na sua casa eu... O quê deu na sua cabeça pra fazer aquilo?
- Te beijar?
- Fala baixo - ela correu até a janela pra se certificar se alguém poderia ter escutado o que eu disse. Revirei os olhos
- Ah qual é? Você sabe que não tem ninguém além de nós duas aqui.
- Cuidado nunca será demais - se sentou novamente - Olha, ontem eu tentei falar com você, mas você fez aquilo e...
- Eu te beijei Helena - ela abriu a boca tentando contestar mas eu continuei - Por que é tão difícil pra você dizer isso? Eu te beijei - repeti
- Dizer em voz alta me faz ter certeza de que foi real.
- Mas foi real
- Mas não poderia ter sido. Alice você é uma menina ainda, está confundido as coisas e logo entenderá isso. Percebe as coisas que estam em jogo aqui?
Me levantei nervosa. Eu estava sofrendo por ela sim. Mas em hipótese alguma eu deixarei ela diminuir ou menosprezar meus sentimentos.
- Então é com isso que está preocupada? Com as consequências que poderia sofrer caso alguém soubesse?
- Me preocupo com você também menina. Me preocupo porque eu sei que nessa idade as coisas que sentimos parecem ter proporções gigantes, quando na verdade não passam de besteiras.
- Voce não tem o direito de falar assim comigo.
Ignorando o que eu disse, ela continuou:
- Mas claro que também me preocupo se esse assunto chegar no ouvido de outras pessoas. Achariam que eu te seduzi e eu poderia sofrer consequências graves. Já parou pra pensar nisso?
Engoli seco e fiquei em silêncio, olhando para o chão. Já podia sentir as lágrimas nascendo em meus olhos, me virei de costas pra ela e caminhei até a janela pra enxugá-las disfarçadamente.
- Se pelo menos entendesse o quanto gosto de você - sussurrei
- Alice - ela se aproximou mais - Sei que gosta de mim, e eu fico feliz em saber disso - tocou meus ombros - Mas acredito que esteja interpretando errado esse seu gostar. Eu sou velha e você ainda uma menina que ain...
- Para de falar isso - virei pra ela e a encarei nos olhos - Você não tem o direito de rotular o que eu sinto assim, já te disse isso uma vez e agora eu repito. Se não me quer, tudo bem. Mas não vou deixar você fazer com que eu me sinta uma criança confusa, porque eu tenho certeza que não sou nem uma, nem outra.
- Você me admira, me acha legal, divertida. Mas isso é só o que eu deixei que você visse. É o que eu mostrei pra vocês na sala de aula. Se me conhecesse fora daqui, tenho certeza que deixaria de gostar de mim rapidinho - ela sorriu fraco.
- Pois eu acho que conhecer seus defeitos, me deixaria ainda mais apaixonada. - me aproximei devagar sem desgrudar nossos olhos.
- O quê voc.. - segurei seus dois pulsos - Para Alice, me solta.
- Você não sente nada por mim? - perguntei ignorando seus comandos.
- Eu falei pra você me soltar agora.
- Então responde.
- Alice, eu não estou de brincadeira. Me solta - ela estava ficando cada vez mais nervosa.
Ainda a segurando pelos pulsos, a encostei na parede.
- Por quê é tão difícil aceitar que eu estou apaixonada por você? - seus olhos agora me encaravam arregalados e sua respiração já se encontrava levemente alterada.
- Por que isso é errado!
- O amor jamais poderá ser chamado de errado Helena.
- Você não sabe nada da vida. Não sabe como as pessoas podem ser cruéis com quem não vive um padrão heterosexual.
- Eu quero que os outros se fodam. Jamais deixaria de se feliz por causa da opinião de terceiros.
- As coisas são lindas na teoria, mas na prática não são tão simples assim.
- Tem razão - forcei um sorriso - Mas pelo menos tenho mais coragem que você.
Eu sabia que dificilmente teria outra oportunidade pra confrontá-la. Por isso decidir arriscar e dei lugar pra Alice debochada aparecer e dominar a situação.
- Isso não é verdade Alice. Não me chama de covarde por estar pensando com a cabeça ao invés do coração.
- Então quer dizer que tenho chances com voce? - sentia meu coração querer sair pela boca.
- Não - ela deu uma meia gargalhada - Não foi isso que eu disse.
- Foi isso que eu entendi.
- Você é muito presunçosa garota - ela tentou me afastar - Me solta, já perdeu a graça sua brincadeira.
- Não estou brincado e já deveria saber isso. - Mas tudo bem, pode ir embora se quiser. - a soltei e me afastei - Fuja como está acostumada a fazer - ela me olhava de boca aberta
- Eu não sou uma covarde e é exatamente por isso que eu tive a coragem e a decência de te chamar aqui pra que pudéssemos resolver essa confusão toda. Mas vejo que você é uma criança mimada que quando não tem o que quer faz birra.
Quando ela disse isso acabei perdendo a cabeça. Eu odiava que me chamassem de mimada, porque isso é tudo que não sou. Novamente a segurei, só que agora agarrei em um braço seu e a puxei perto o suficiente pra que nossas respirações se fundissem uma na outra.
Ela me encarava em silêncio com a respiração pesada e o peito arfando. Aproximei minha boca do seu ouvido...
- Eu sou completamente apaixonada por você - sussurrei com os lábios colados em seu ouvido. Pude sentir seu corpo estremecer bem leve. - E o fato de não concordar com o que você diz, não faz de mim uma garota birrenta professora Helena.
Quando me afastei um pouco, percebi que ela mantinha os olhos fechados. Seu peito subia e descia rapidamente. Ela estava nervosa. Imediatamente uma pequena luz de esperança nasceu dentro de mim. Tive esperanças de que talvez nem tudo estivesse perdido.
- Fala pra mim Helena - colei nossas testas uma na outra - Fala pra mim que acredita nisso, que acredita que eu esteja sendo sincera.
Ela abriu os olhos e nesse momento percebi que estavam marejados.
- Alice - ela forçou minhas mãos me fazendo soltá-la. Pensei que ela me afastaria, mas não. Ao invés disso ela tocou meu rosto - Eu acredito - Uma lágrima escorreu pelo meu rosto nesse momento. - Mas isso não muda as coisas. Não vai acontecer nada entre nós - agora ela também tinha o rosto molhado por lágrimas
Suspirei alto, sentindo minhas esperanças irem embora.
- Eu não tenho chance nenhuma? - perguntei
- Não - ela me olhava diferente, não conseguia enxergar desdém ou pena nos seus olhos. Ela me acariciava com carinho e ternura e eu fechei os olhos pra aproveitar melhor seu toque. Seus dedos agora enxugavam minhas lágrimas.
Ela se afastou um pouco e eu aproveitei pra segurar suas mãos e entrelaçar nossos dedos. Fiquei surpresa em não ser afastada novamente e tomei coragem pra continuar. Eu precisava falar pra ela, aproveitar essa chance.
- Você é tão linda - acariciei seus lábios.
Ela me ouvia em silêncio, me olhando fundo nos olhos. Estávamos praticamente grudadas, encostadas na parede.
- Não consigo mais comer, estudar, me concentrar porque penso em você o tempo todo - ela abriu os lábios, ia falar alguma coisa. Nesse momento eu fiquei com medo dela me afastar, me pedir pra ir embora, e sem pensar em mais nada eu a beijei.
Assim que senti seus lábios grudarem nos meus, pedi passagem com a língua e por incrível que pareça ela me deu. Esse beijo foi ainda melhor do que o outro, simplesmente porque não foi interrompido. Minha língua tocava a dela em sincronia, como se juntas estivessemos dançando a mais romântica das canções. Suas mãos pousaram em minha cintura e em seguida senti um leve apertão acompanhado de um pequeno suspiro. Envolvi uma mão em seu quadril e a puxei ainda mais pra perto. Com a outra mão, segurei seus cabelos ruivos com posse. Me sentia nas nuvens e tinha medo desse momento acabar.
Apenas quando estávamos sem ar nos afastamos. Ela tinha os lábios vermelhos e respirava com bastante dificuldade.
- Ainda tem certeza que eu não tenho chances? - sorri feliz.
Por alguns torturantes segundos ela se manteve calada apenas me encarando, e no instante seguinte avançou sobre meus lábios com um desejo tão grande quanto o meu.
Fim do capítulo
Espero que tenham gostado. Me contem aqui nos comentários o que acham que irá acontecer agora. Obrigado pela leitura!
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 02/10/2020
Lua...
Sério que espera que tenhamos gostado? Eu te pergunto tem como não ter gostado? Adorei que beijo foi esse?
Beijo
Rosa
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]