CAPÍTULO 27 - A dois passos do paraíso??

          Quando abri meus olhos de forma preguiçosa percebi que da caixinha de som saia "Nocturne in E-flat major, Op. 9, No. 2" de Chopin, subi um pouco a cabeça para admirar o céu, a noite estava magnífica, o escuro da noite contrastava com apinhado de estrelas e pela janela parecia que todas estavam piscando para nós, sorri e aconcheguei Stella junto a meu peito sentindo o calor que emanava do seu corpo, escutei sua respiração mais forte quando vi uma estrela cadente, sua luz era forte e intensa, e desceu como um raio branco do céu, sorri e apontei em sua direção.

         - Olha amor, que estrela cadente mais linda, fez o seu pedido?.

         Escutei o seu silêncio e esperei que ela respondesse o que havia perguntado.

         - Stella?, amor?, você está me ouvindo?.

         Virei seu corpo e vi que ela não se mexia, a sacudi pelos ombros, e senti que grossas lágrimas queimavam minha face, estava desesperada, e foi com muito medo que encostei minha cabeça entre seus seios e ouvi novamente o som do silêncio, não escutei nenhuma batida, apenas o silêncio absoluto, e no seu rosto estava a paz, já ia buscar o celular quando ela espreguiçou lentamente, abrindo os lindos olhos cor de mel, sorrindo delicadamente para mim.

         - O que foi amor?, estava dormindo profundamente, o remédio para arritmia me faz dormir pesado.

         - Ai Stellinha que susto, pensei que tinha te perdido, que desespero, desculpa ter te acordado.

         Ela sorriu novamente e disse com aquela voz sedutora em meu ouvido "vou ter que provar que estou bem viva", suspirei alto ao sentir sua mão deslizar por minha coxa, rapidamente ela também tirou nossas camisolas e puxou algo que inicialmente não vi o que era, mas, pelo espirro que deu devia estar escondido debaixo da cama há muito tempo, e foi com muita agilidade que ela amarrou minhas mãos na cabeceira da cama, rindo daquela maneira que tanto gostava de ouvir.

         - Então Mari, advinha quem está no comando?.

         - Stellinha, me desamarra, vai...eu adoro sentir seu corpo junto a meu.

         - De forma alguma, fica quietinha ai meu amor, a sua Stella já volta.

         Ri alto quando ela voltou só de calcinha box, escondendo algo com as mãos para trás, só depois vi que era uma taça.

         - Stella, só não me meleque com doce, por favor...

         - Bobeira, se fosse doce era só trocamos a roupa de cama depois e tomar banho, mas, não....não é doce, é outra coisa, hoje vamos de body shot.

         - O que é isso amor?.

         - Já esqueceu?, body shot é uma maneira um tanto quanto peculiar de saborear drinks, utilizando o corpo humano de copo, sempre achei uma delícia e tinha esquecido essa prática deliciosa, agora fica quietinha, vai...

         Stella se aproximou e derramou o líquido gelado em meus seios e saiu percorrendo todo o caminho com sua língua, era delicioso o contraste do líquido gelado com meu corpo já quente, ainda busquei ar para falar.

         - Amor, você...nã...não pode be...ber.

         - Calma princesa, é água de coco, só relaxe e aproveite.

         Estávamos nuas, abraçadas e olhando as estrelas naquele estado de completude que dá após fazer amor quando adormecemos felizes da vida, acordamos já de manhã com Cumbuquinha raspando a porta do quarto querendo entrar, ao abrir vi aqueles olhos enormes me olhando com todo amor e balançando o pequeno rabo da maneira mais simpática possível.

         - Quem é o menino lindo das mamães?, quem é?, aposto que está querendo papar, não é?, espera só um minutinho que a mamãe Mari vai tomar um banho e preparar algo delicioso pra você.

         Dei um beijinho em Stella e seguimos para tomar um rápido banho, depois coloquei um vestido floral, prendi os cabelos e descemos juntas, antes dei a ração do Cumbuquinha, misturando um pouco dos grãos com o sachê que ele tanto gostava, estava pensando em preparar algo para comermos quando percebi que Pedro Henrique já havia preparado a mesa do café da manhã com tudo o que mais gostávamos, além do enorme bolo confeitado, tinham vários tipos de pães e bebidas, como sucos naturais, iogurte, leite, café, chás, além de ovos, biscoitos e waffles.

         - Oi, bom diaaaa...parabéns para as mamães mais lindas do mundo todinho...e feliz aniversário de casamento para vocês.

         Olhamos uma para a outra sem acreditar, depois de anos havíamos esquecido pela primeira vez o nosso aniversário de casamento, nos abraçamos a Pedro e agradecemos a Deus pela família maravilhosa que constituímos, nosso filho se afastou delicadamente do nosso abraço, nos entregando um lindo buquê de flores que havia deixado em cima do sofá da sala, dizendo a seguir.

         - A surpresa não termina aqui, esperem que volto já.

         Pedro Henrique voltou logo, trazendo o violão, e enquanto cantava e tocava "The way you look tonight" nos abraçamos e dançamos coladinhas, como tantas vezes ele nos viu dançar na sala quando bem pequeno, éramos simplesmente uma família feliz.

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...

         Olhei no despertador e já havia passado das 3h, dei um beijinho em Nick e desci para buscar água no andar de baixo, foi quando encontrei Maria Luiza literalmente com a boca na botija.

- Maluuuuuu...o que você pensa que está fazendo no meio da sala?.

Minha filha levantou em um sobressalto, passando a mão na boca e vestindo o pouco de roupa que encontrava por perto.

- Ah mãe, para, como eu ia saber que alguém ia descer uma hora dessas?, antes de tudo deixa te apresentar, essa é a Lela, minha namorada, ela é DJ.

         Enquanto a loira cheia de curvas e dreads rapidamente vestia suas roupas, senti todo o meu rosto corar, era uma situação muito constrangedora.

- Desculpe tia, a Malu disse que não teria ninguém em casa uma hora dessa...eu...eu...queria muito que isso não tivesse acontecido, céus....estou com muita vergonha, mas, a senhora deve saber como sua filha é impossível...eu...nã...não consegui resistir, foi mal.

        Olhei atentamente a moça que não devia ter mais do que vinte anos, mesmo timidamente falei que não tinha problema algum, mas, que poderiam ter subido para o quarto de Malu, pois foi pensando na privacidade dos meus filhos que construí um quarto para cada um e com isolamento acústico, mas, estava tudo bem, afinal conheço muito bem a minha filha e sei o tanto que ela pode ser persuasiva quando deseja algo.

        Malu riu baixinho e seguiu com a namorada para o seu quarto, com certeza iam continuar a farra em um local mais adequado.

        No dia seguinte, Malu e sua DJ acordaram quase na hora do almoço, estávamos sentadas em volta de uma lasanha maravilhosa preparada por Nick, quando vi as duas desceram, seguidas por Maria Clara que parecia estar apreensiva com algo, a loirinha torcia as mãos como sempre fazia quando estava nervosa, pedi que Dona Inácia recolhesse a louça e fui buscar a sobremesa e as taças, servindo todas a seguir.

- Maria Clara, está tudo bem filha?, estou percebendo que está nervosa...

- Ai mamãe, eu estou com um enorme problema e espero que vocês me entendam...então, eu e o João...então, nós...nós fizemos amor pela primeira vez.

        Maria Clara ficou vermelha que tem pimentão e Malu seguiu até a irmã gritando.

- Uhulllllllll...valeu irmãzinha, arrasou...até que enfim, pensei que fosse deixar a bu...calma mãe, eu não completei a palavrinha hahahaha...agora, fazer amor é o fim de dizer, né não?, diz trans*r, tre...

- Maria Luíza, já chega, deixe por favor sua irmã continuar.

- Ai que sem graça.

- Então, o problema é que nós esquecemos de nos cuidar, completamente, foi uma única vez e...bem...

- Você está grávida minha filha, é isso?.

- Sim Mãe Paty, estou.

        Malu gritou circulando a mesa toda, fazendo uma dancinha bem ridícula com os braços para cima.

- Uhullllll ch*paaaaaaa....eu vou ser tia...é menino?, é menina?.

- Ainda não sei, é cedo para saber.

- Malu se comporte, estamos conversando algo muito sério.

        Nick quebrou o assunto e fez aquele discurso materno, dizendo que um filho sempre é um presente, uma benção e apenas se preocupava com a faculdade de Maria Clara e com as responsabilidades de ser mãe tão cedo, mas, depois disso a abraçou com carinho e pediu apenas que João viesse ter uma conversa familiar e trouxesse consigo os seus pais, o fato foi que em menos de quinze minutos o engomadinho chegou ladeado pelos pais com o intuito de discutir a questão, foi tudo rápido e indolor, em conjunto foi decidido que como os dois estavam no início da faculdade e não tinham a menor condição de se manter, ambos permaneceriam na casa dos pais, e mais tarde se o namoro continuasse poderiam morar juntos e se assim desejassem haveria um casamento, como Maria Clara e João concordaram com tudo, ficou tudo certo.

        A noite, depois que todos foram embora, abracei Dominique e pedi da forma mais manhosa que consegui.

- Amor, eu preciso relaxar, vamos tomar um banho delicioso na jacuzzi?, estou realmente precisando muito.

- Claro minha gatinha, vou preparar, fica deitadinha ai que a sua Nick vai preparar um banho delicioso para nós.

        Fiquei exatamente onde estava, enquanto isso ouvia Nick assoviar uma música qualquer, fazendo barulhinhos que vinham da porta do banheiro e cerca de quinze minutos depois ela veio me buscar completamente nua, olhei aquele corpo maravilhoso, e a tatuagem de flores que fez por cima da cicatriz deixada pela cesariana e babei, aos 54 anos, Nick continuava a mesma mulher deliciosa de sempre, ela sorriu e fez questão de tirar toda minha roupa, me enchendo de beijinhos nos lugares que sabia que me excitava.

- Vem minha Paty, está tudo pronto...

        Inspirei o cheiro maravilhoso que vinha da jacuzzi e fechei os olhos embevecida.

- Hummmm amor, que delícia, que cheirinho é esse?.

- Esse banho é especial...ele é chamado de "O oitavo oceano", e para fazê-lo são usados produtos de várias partes do mundo por isso mesmo ele é tão inovador e gostoso, eu tinha separado tudo para o fim de semana, mas, você está merecendo agora mesmo.

- E o que tem nele...de tão especial?. - Falei piscando o olho e sorrindo da maneira mais sexy que consegui.

- Tudo começa com a mistura de sais que já estão dentro da jacuzzi, esses sais vem direto do Havaí, daí a mistura de cheiros que está sentindo, depois que terminarmos o banho, vou fazer uma massagem em você com um tipo de creme de mel muito raro, produzido na península arábica, logo após vou passar no seu corpo alguns produtos feito a base de manteigas hidrantes da Ásia e da Floresta Amazônica, e por fim, vou usar um óleo corporal de plantas de Israel, e para finalizar vou passar nesse seu corpo delicioso um creme hidratante que deve ser passado dentro da água.

- Humm, tudo isso parece ser tão delicioso Nick, vamos logo começar que já estou pensando no depois.

- Tarada...Hahahahah

- Por você meu amor, por você...

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...

        Estávamos na aula de Bioquímica quando Miguel olhou para mim e sorriu da forma mais irônica que conseguiu, depois levantou a mão para fazer uma pergunta ao professor.

- Vinícius, na aula passada você estava dizendo que alguns animais...

        O ruivinho falou reforçando intensamente essa palavra, depois deu uma pausa, olhou para mim de forma debochada e continuou a fala.

- Bem, você estava falando na última aula que alguns animais são notoriamente homossexuais, certo?, e que apesar de existir esse tipo de comportamento gay entre os animais há milhares de anos, pouco ainda se sabe sobre isso, principalmente por conta das repressões sociais dos homens, que não consideram a prática como sendo natural, correto?.

- Sim, continue...quero ver como finaliza esse pensamento, estou curioso.

- Então, eu queria saber se essa questão é ligada apenas a fatores bioquímicos e sociais ou é fruto de um profundo mau gosto mesmo?.

        Escutei o silêncio da sala e senti uma gota de suor descer por minha coluna e indo se alojar no cós da minha calça, logo após a fala de Miguel, uma garota falou para quem quisesse ouvir "que cara mais babaca", só assim a turma começou a rir, não de mim, mas, de Miguel, fiquei até emocionado com essa atitude, afinal na escola eu acabava virando motivo de deboche, só não entendi quando o professor pediu silêncio e falou.

- Por favor turma, vamos silenciar, estou querendo que o Miguel explique melhor a sua dúvida.

- Vou tentar explicar melhor, embora eu seja hetero...confesso que gostaria mesmo de entender, sabe professor...será que o homem, o macho, assim como os animais, viram "veados" por conta da sua constituição bioquímica?, ou é só por mal gosto mesmo?, pode ser também a falta de alguma coisa na vida, talvez um bom chá de bubu....vc me entende, não é? Hahahahah e por fim, será que esse comportamento tem jeito?.

- Sabe, não sei sinceramente se você vai conseguir ter maturidade e capacidade cognitiva de entender o quão preconceituoso é o seu discurso, nenhuma dúvida da matéria justifica o que disse, como assim, "mau gosto"?. Você, como pessoa que obviamente se considera heterossexual, não conhece em nada a fragilidade da vida pela qual um LGBTQI como eu passa. Miguel, você pensando desta forma, está concordando que eu, gay, posso sofrer violência física, simplesmente pelo fato de você e muitos outros considerarem meu desejo por outros homens algo que beira ao mau gosto, vá pesquisar sobre o assunto e volte com uma dúvida madura e assim te responderei.

- Eu...eu...não sabia, me me me desculpe, professor.

        Miguel foi vaiado e pediram que ele sentasse e calasse a boca. Depois dessa o ruivinho passou o resto da aula em completo silêncio.

Fim do capítulo