Boa leitura!
Capitulo 20 - O quê eu faço?
Helena
Sentia minha cabeça rodar quando a empurrei com todas as minhas forças.
- Você tá louca!
Meu peito subia e descia com rapidez. Meu corpo trêmulo parecia ser incapaz de me manter em pé, e eu mal conseguia pensar com clareza. Passava a mão sobre meus lábios, ainda tentando digerir o que acabara de acontecer.
- Helena e-eu... - ela parecia tão confusa quanto eu, e quando deu dois passos na minha direção e eu me afastei ainda mais.
- Não chega perto de mim - apontava o dedo, temendo sua reação. Precisava de distância
- Desculpa eu...
- Nunca mais faça isso - a encarei por alguns poucos segundos e sai do seu quarto com pressa. Enquanto descia as escadas, encontrei a moça simpática que tinha me permitido subir, a coitada ainda me perguntou alguma coisa que não pude entender com clareza, passei por ela feito um vulto e corri dali o mais depressa que pude. Quando por fim me vi dentro do meu carro, me recostei no banco e puxei o ar com toda força que consegui.
- Que merd* foi essa? - perguntava a mim mesma na esperança de que falando em voz alta, uma explicação divina cairia em meu colo. Olhei mais uma vez para aquela casa e pisei fundo no acelerador rumo ao hotel a qual eu estava hospedada.
Assim que abri a porta do meu quarto, já fui arrancando minhas roupas sem nenhuma delicadeza. Me sentia suja ao mesmo tempo em que me sentia viva, revigorada, e isso de certo modo me assustava.
Liguei o chuveiro na água bem gelada, sentia meu queixo tremer de frio, mas aguentei firme. Precisava de um impulso, um sacode ou algo assim pra tentar fazer com que meus neurônios me guiassem para uma saída. Como pude ter a vida virada em 180°graus assim, do dia pra noite?
Mas de todos os meus problemas, sem dúvida o que mais me deixava em pânico era o que acabara de acontecer com Alice. Ela me beijou. Me beijou, meu Deus.
Uma garota que mal saiu das fraldas me beijou. Ainda não entendia o que isso significava e por mais que eu quisesse, não poderia tentar descobrir. Lá no meu íntimo eu sabia que a partir de agora minha vida mudaria pra sempre, só não sabia se seria pra melhor ou pior.
Queria sumir, mas não podia. Não podia simplesmente fazer minhas malas e desaparecer do mapa como se fosse uma jovem irresponsável. Eu tinha uma carreira, um trabalho, uma filha, eu tinha responsabilidades e arcaria com todas. Mas uma coisa era certa, me afastaria da Alice.
Pra mim já deu. Tudo isso já passou dos limites e eu não me deixaria levar pelas loucuras dessa menina. Quando saí do banho, me sentia um pouco mais calma. Meus músculos pareciam congelados, mas isso foi o que me trouxe de volta pra realidade. Depois de me trocar, peguei meu telefone e passei horas conversando com a Simone. Minha irmã era minha melhor amiga e eu sempre pude contar com ela pra tudo. Ela sempre foi minha outra metade, meu tudo.
- Sinto muito que tudo isso esteja acontecendo com você Helena.
Suspirei.
- Eu não merecia passar por isso Simone, não merecia.
- Eu sei que não. - ela ficou um tempo em silêncio, como se estivesse pensando nas palavras certas a me dizer. - Você acha que isso mexeu com você?
- Claro que sim. Você ouviu o que eu te disse? Ela me beijou. Como isso não me abalaria?
- Não é nesse sentido que estou falando Helena.
- Não acredito que esteja insinuando que eu possa ter gostado do que houve.
- Não estou insinuando nada. Só quero saber ao certo todos os fatos. Como poderei te ajudar se sinto que não está sendo totalmente sincera comigo?
- Eu estou sendo sincera.
- Ok, não vou insistir mais. Só quero que se lembre que sou eu aqui, sua irmã, e que não importa o que esteja acontecendo com você, jamais te virarei as costas. Muito menos te apontarei o dedo.
- Obrigada - uma lágrima involuntária desceu lentamente pelo meu rosto - Sou a professora dela mana, o que farei agora? - Simone permanecia em silêncio apenas me ouvindo, sabia que a pergunta era retórica e que eu precisava desabafar, e eu era grata por isso - Sou a professora dela, sou uma mulher, sou... - me calei
- Entendo que esteja confusa e até mesmo com raiva dessa situação toda. Sei que ela é sua aluna, que isso pode parecer errado no colégio, mas se vocês duas quisessem, o fato de serem mulheres não é um problema. Sabe disso né?
- Pra mim isso é um problema sim, e dos grandes.
- Não sabia que era preconceituosa Helena.
- Não sou! Mas também não sou obrigada a aceitar outra mulher me beijando a força.
- Eu sei que não. Mas poxa, leva em consideração que ela é só uma garota. Ainda está descobrindo a vida, se descobrindo...
- Não vou fechar os olhos para as atitudes impulsivas dela. Preciso por um ponto final nessa história de uma vez por todas. Ela precisa entender que eu não quero e não vou ter nada com ela.
- O quê tá pensando em fazer?
- Vou parar de dar aulas extras pra ela.
- E o que vai dizer pra diretora do colégio, já sabe?
Soltei mais um suspiro enquanto passava as mãos pelo meu cabelo, estava nervosa.
- Ainda não pensei nisso - bufei - Droga.
- Você precisa pensar direito no que vai fazer. Se essa história chegar nos ouvidos de mais alguém, você sabe que não importa o que fale, você vai acabar sendo a única culpada. Vão te acusar de assédio...outra vez.
- É muita sacanagem isso. Eu não fiz nada Simone, eu juro. Não fiz nada que pudesse dar a entender que eu estava interessada nela. Ainda não acredito que isso esteja acontecendo - peguei um copo de água no criado mudo ao lado da cama e dei um longo gole. - Não fiz nada!
- Eu sei que não Helena, conheço você e mais do que isso, eu confio em você. Sei o quanto sempre foi profissional. Além do mais, de nós três, você sempre foi a mais certinha.
Sorri triste.
- Agora vem cá Helena, me diz uma coisa.
- Hum.
- Qual o segredo pra tanto mel assim heim?
- Tá de sacanagem né - ainda não acreditava que essa doida da irmã estava brincando com um assunto tão sério assim. Mas aproveitando que ela não podia me ver, acabei sorrindo, achando graça do que ela havia dito.
- Tô falando sério. Por que será que comigo não acontece isso? Desde que me casei nunca mais recebi nenhuma piscadinha de alguém, nenhum bilhete anônimo, nenhum beijo roubado...
Gargalhei alto agora. Foi impossível não me acabar de rir com as coisas que ela falava.
- Ai Simone, só você pra me fazer rir em uma hora como essa.
- Não disse isso pra te fazer rir, estava falando sério. Mas fico feliz que isso tenha se distraído um pouco.
- Você me faz muito bem mana. Não sei nem o que faria sem você.
- Eu sei que me ama. - ela riu - E eu também te amo. Mas ainda quero saber seu segredo pra enfeitiçar essas molecada de hoje em dia heim. - ela ficou um tempo em silêncio antes de completar - Tô falando sério Helena.
- Ai Simone, para vai.- revirei meus olhos pra ela, mesmo que não pudesse ver. - Acho que vou tentar dormir agora. Amanhã acordo cedo e pelo visto o dia será longo.
- Descansa então mana. Boa noite
- Boa noite. Se cuida.
- Você também, beijo.
***
Ir trabalhar hoje não foi nada fácil. Sentia o coração acelerado justamente porque minha primeira aula seria na sala da Alice. Já tinha feito mais de um milhão de notas mentais de como eu deveria me comportar diante dela, mas tinha medo de que quando eu a visse, me esquecesse de tudo. Ainda não sabia qual seria de fato minha reação.
Por hora preferi não pensar muito sobre, mesmo porque não daria tempo. Cheguei bem em cima da hora e mal tive tempo de falar com os outros professores ou de tomar um café na secretaria. Fui direto pra sala de aula. Antes de entrar eu parei um pouco longe da vista deles e a vi. Ela parecia abatida, triste. Estava quieta em seu lugar mexendo em uma caneta, com o rosto apoiado em uma das mãos, vendo o objeto virar pra lá e pra cá, enquanto a sala toda conversava numa bagunça sem fim. Respirei fundo, tomei coragem e por fim entrei.
- Bom dia classe - Coloquei um sorriso no rosto e tentei agir normalmente. Assim que coloquei minhas coisas na mesa, passei meus olhos sobre a sala toda e a vi me encarando. Parecia tão receosa quanto eu e quando meus olhos encontraram os dela, ela os segurou firme e coube a mim desviá-los.
Depois de um rápido bate papo com eles, inseri uma nova matéria. Passei metade da aula explicando tudo na lousa e depois aproveitei os minutos que restavam para passar alguns exercícios na apostila. Ora ou outra eu a olhava, e quase sempre a pegava fazendo o mesmo. Me senti estranha nesse momento. Acabei percebendo que meus olhos a buscavam inconscientemente, e por um momento me questionei o por que.
Definitivamente eu estava ficando louca. Acho que estava passando por fortes emoções nos últimos dias e isso não estava me fazendo bem. Enquanto aguardava os alunos terminarem, aproveitei para mandar uma mensagem para um advogado que eu tinha conseguido o telefone. Queria agilizar as papelada do meu divórcio o quanto antes. Precisava colocar ordem na minha vida o mais rápido possível, essa inconstância toda estava me deixando com os nervos à flor da pele.
Depois de mais alguns minutos, um por um dos alunos foram terminando suas atividades. Olhei no relógio em meu pulso e notei que a aula já estava no fim. Não demorou muito e sinal bateu. Alguns alunos se levantaram, e o falatório recomeçou.
- Alice, posso falar com você um minuto? - ela saía da sala acompanhada de mais duas outras alunas quando decidi chamá -la. Ela concordou e me acompanhou até o corredor. - Posso te esperar hoje? - ela parecia confusa - No reforço, depois das aulas - completei.
- Ah - ela olhou para baixo mexendo nos dedos - Achei que não ia mais querer me dar aulas.
- Conversaremos melhor depois. - a olhei por uns segundos antes de me despedir. - Até daqui a pouco. - e saí rumo minha próxima turma.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 21/09/2020
Lua...que confusão de sentimentos e pensamentos está a cabeça e coração da doce Helena.
Beijo
Rosa 🌷
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Luciana Ferreira
Em: 21/09/2020
Anciosa para o próximo capítulo...
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