Obrigada pelas leituras e Naty24 pelos comentários!
Amanhã tem capítulo duplo!
Capitulo 8: Providências convenientes - parte 2
A movimentação nas portas da escola Professor Artur Gagnon representava um dia típico da rotina de uma instituição como aquela. Vai e vem de carros importados, apressados demais para serem estacionados, garotos com acne e cabelos pegajosos descendo, empurrando maletinhas azuis, garotas ajeitando o rabo de cavalo antes de passarem pelas catracas. Dentro das salas, pouquíssimos estudantes, a sirene não havia tocado ainda.
O ambiente das salas antes do toque era perfeito para os mais tímidos que se escondiam atrás das próprias mochilas. Quase todos os dias o cenário da escola era o mesmo, exceto para Catarina, que não costumava ficar entre os envergonhados, mas ali estava, olhos fixos na janela.
- Suspeito que você não conseguiu dormir! - Era Audrey, madrugando também.
- Desde às duas da manhã, quando o covarde me acordou, chorando. Dá pra acreditar? Disse que não irá me impedir de dizer a verdade! Jogou em mim a responsabilidade emocional dele... Não diz que avisou, por favor!
- Mas eu avisei. Vi a crise no casamento dos meus pais de perto, esse povo demora várias decepções até deixarem tudo em pratos limpos. Se deixarem.
- Pelo visto os pratos serão limpos por mim. De hoje não passa, sem mais adiamentos...
- Força, Cate! Ih, falo contigo mais tarde, tenho que ir para a minha sala. Dê sinal de vida, viu? Ontem eu esperei, esperei e nada!
- Desculpa, eu e meu pai protagonizamos um dramalhão daqueles, fiquei esgotada depois. Nos vemos no intervalo, te pago um lanche!
Foram interrompidas pela entrada de Pedro Henrique, o aluno mais baixinho do 3⁰ ano. Chegou esbaforido, como se estivesse em uma prova de duzentos metros rasos:
- A Raga... cof, cof... A Raga... voltou... da... suspensão!
- Sai da frente, viadinho! - O pequenino foi arremessado contra a porta por Richardson, um garoto bem mais musculoso e alto - Só quem tem medo dessa retardada são os professores e os otários como você!
- Você não cansa de ser babaca, Richardson? O ano já tá acabando, a realidade batendo. Logo, logo, você não vai mais poder se esconder aqui, nem o dinheiro da sua família vai te proteger pra sempre. Vai acabar morrendo nas mãos dos seus traficantes de anabolizantes, ou dos próprios anabolizantes!
- Olha quem tá falando de se esconder na grana dos pais... Catarina, defensora dos fracos e oprimidos! Quem te vê assim nem imagina nós dois juntos no vestiário do time... Aliás você não reclamou do meu corpo quando estava com a língua enfiada na minha garganta, hein?
- De novo com essa fantasia idiota da gente junto no vestiário? Todo mundo sabe que isso nunca rolou! Deve ser muito frustrante ter que inventar que ficou com alguém, uma masculinidade realmente frágil essa sua... Quer saber, não quero perder meu tempo contigo, eu nunca te beijaria, NUNCA, e ter consciência disso já me deixa vitoriosa. Vem, Pedrinho, se acalme! Também não é pra tanto, a Raga é só uma aluna como a gente, ela nem fala nada, fica só ali no canto dela!
- Sai da frente, escroto! Eu quero ir para minha turma! - Foi a vez de Audrey confrontar o machão.
- Toda licença do mundo, gatinha! Avril, né? Ai, esses pobretões, batizam os filhos com nomes gringos, ahahah, eu racho!
Audrey levantou o dedo mindinho e aproximou-se do rapaz, baixando a voz:
- Calma, não precisa deste espetáculo, o nosso segredinho, aquele bem pequenininho, tá guardado! Não precisa jogar a frustração em cima da Cate, do Pedro Henrique ou do resto do mundo - levantou a voz novamente - E Richardson foi um jogador de um timeco da 3ª divisão, que nome mais criativo, né?
- Vadia, você é uma put... Ah, morram, seus freaks. - Deu a passagem, finalmente.
Catarina ficou curiosa para saber o que a amiga falara no ouvido do imbecil, mas a outra desconversou. Como se o clima já não estivesse tenso o suficiente, a famosa Raga, o alvo dos comentários do aflito Pedro, chegou. Tal qual a descrição de Cate, a jovem sentou calmamente em sua carteira, vinha comendo um alimento não identificado pelos demais. Ao perceber os olhares curiosos dos colegas de sala, num ato raro, proferiu algumas palavras:
- Engraçado, estamos a dois meses do fim de ano e parece que vocês nunca me viram! Tão olhando o quê?
Imediatamente até o problemático Richardson baixou os olhos. Raga poderia ser calada a maior parte do tempo, mas sem dúvidas era a pessoa mais intimidadora do Artur Gagnon.
***
Sentados nos banquinhos da cantina, Catarina, Pedro Henrique e Audrey comentavam o ocorrido do início da manhã. Os três ansiavam para o fim do ano letivo, quando se veriam livres do estúpido Richardson e da ameaçadora Raga. Cate, porém, precisou levantar antes do fim da história que Pedro contava, sobre como a garota rebelde havia cuspido no rosto de uma aluna do 2⁰ano e ganhado a famigerada suspensão por isso.
- Pessoal, me deem licença um instante, minha mãe já me ligou duas vezes esta manhã, vou ver o que ela quer.
- Sua mãe? Vai logo! Pedrinho, continua!
- Mas Audrey, a Cate vai perder a melhor parte, quando a Raga arranhou o carro do professor Valdir, no dia da suspensão!
- Você resume depois pra ela! Nossa, arranhou o carro de um dos professores? Essa menina deve ter uns traumas ferrados!
Catarina não disfarçou a impaciência ao colar o ouvido no celular, já afastada dos amigos. Débora não estava respondendo, as ligações dela foram feitas no horário da primeira aula, impossível atender. Nervosa, a estudante afastou o rosto do aparelho, pensando o pior: o pai finalmente abriu o jogo e ela não estava em casa para apoiar a mãe! Somente após outras tentativas percebeu que o ícone do aplicativo de mensagens não marcava apenas conversas de grupos, lá estava uma mensagem da sua mãe. Abriu a conversa, leu rapidamente. Releu uma, duas, três vezes, incrédula:
Meu amor, estive conversando com seu pai. Passei os últimos dias tentando respeitar seu espaço, mas é evidente que você prefere ficar em silêncio sobre seus sentimentos, iremos respeitar então. Mais do que isso, iremos te dar um tempo para que sozinha, reflita. Surgiu uma emergência no restaurante de Noronha e tivemos que viajar às pressas. Relutei, mas Rodolfo me convenceu que era melhor eu ir junto e deixarmos você ver que não é o fim do mundo se não passar no vestibular. Não temos data pra voltar, mas vamos entrar em contato todas as noites.
Beijos, te amamos.
Rodolfo fugira, levando Débora consigo. Era evidente que fez isso para atar as mãos de Catarina, que não conseguiria conversar sobre um assunto tão delicado como uma traição por telefone ou Internet. A jovem, porém, não estava disposta a se acovardar totalmente.
- Cate, você voltou! Eu não gosto muito, mas vou repetir a história...
- Pedrinho, essa história vai bem com um suco de laranja, compra pra gente, por favor?
- Beleza! Vai descer melhor com o suco mesmo! - O rapazinho correu para o caixa.
-Audrey, preciso de um favor!
- Manda!
- Preciso que você peça o carro do seu pai emprestado e vá lá em casa hoje à tarde.
- Deu sorte, ele tá de folga hoje. Mas o que rolou? A tua mãe soube? Vamos levá-la a algum lugar?
- Não, não foi isso.
- Então?
- O covarde viajou e a levou!
- Caraca, e agora?
- Agora eu vou conversar com o outro lado da história. Quero olhar para essa pessoa e perguntar por que ela continua saindo com um homem casado. Quero que ela veja meu sofrimento, o fim da minha família! Vou atrás da tal Érika, a amante!
Fim do capítulo
E aí, tão gostando? Espero que sim!
Se puderem, comentem, por favor. Até mais! ;)
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