Capitulo 16 - FELICIDADE PLENA NÃO É UTOPIA!
Acordei às 11 da manhã e descobri-me sozinha na cama. O primeiro pensamento que tive foi que estava feliz. Espreguicei-me e ri. Sentei-me na cama, fechei os olhos e revi a maravilhosa noite de amor que tivera com Jaiden.
A realidade superara qualquer imaginação, e eu queria mais, queria muito mais. Fui ao banheiro e ao olhar-me no espelho achei-me linda, os meus olhos brilhavam intensamente, o meu sorriso era pleno. Estava irremediavelmente apaixonada e aquela constatação não me assustou.
Ao sair do banheiro dei de cara com a Jaiden sentada na cama mais linda do que nunca, e com uma bandeja repleta de delícias.
--Estou morta de fome e acredito que a Srta. também esteja. - Piscou com malícia dando uma mordida numa maçã suculenta.
--Morrendo de fome mesmo, mas de sua boca mulher maravilhosa.
Ela surpreendeu-se com a minha desenvoltura, mas ficou ao mesmo tempo encantada com a minha atitude. Deitei-me sobre ela e beijei-a com todo o desejo que me consumia. Em segundos a toalha que cobria o meu corpo nu estava no chão e aquela cama de hotel testemunhava mais um encontro de dois corpos que se moldavam num todo perfeito.
Uma hora mais tarde, totalmente entrelaçadas, Jaiden sussurrou-me aos ouvidos:
--És um perigo Srta. Sara... - Beijou-me as costas com tamanho carinho, que senti-me desfalecer.
--Hmmm, porquê? - Perguntei manhosa, enroscando-me mais nela.
--Acho que até o mais insensível dos mortais não conseguiria ficar imune aos teus encantos. És um perigo mulher, um perigo...
Virei e fiquei de frente para ela. Os olhos tinham um brilho que jamais vira igual, como a Jaiden era linda, irresistivelmente linda.
--Isso é um elogio ou nem por isso? - provoquei - Preciso ficar em alerta máxima para não causar danos já que sou um perigo. - Ri das minhas palavras, e ela olhando-me nos olhos e beijando-me disse:
--Não se preocupe meu amor, os danos já foram causados e a culpa não foi tua.
Meu amor...ela me chamara de meu amor, aquelas simples palavrinhas tiveram um efeito incrível em mim. Tive vontade de gritar que queria ser o amor dela para sempre, já que para mim seria totalmente impossível esquece-la. Eu amava aquela mulher como jamais amara alguém em toda a minha vida. Era bom descobrir aquilo, mas ao mesmo tempo eu receava o futuro, se é que esse existiria para nós duas. Não me preocuparia com aquilo, pelo menos não naquele momento. Queria aproveitar ao máximo aqueles breves momentos de felicidade plena.
Saímos daquele quarto às duas horas da tarde com nossos estômagos completamente em guerra com o resto dos nossos corpos. Além de comer eu precisava passar no hotel da irmã da Nahima para mostrar que estava viva.
Comemos no bar do hotel e fomos para a pousada dos Navegantes. Encontrei Nahima na varanda tomando sol.
--Eu não acredito que deu tudo certo. - Gritou Nahima dando um pulo da rede em que estava e correndo para me abraçar.
--Tudo o quê sua doida? - Perguntei sem entender nada. Olhei para a Jaiden que sorria cúmplice.
--Eu explico, minha querida. Lembras que me mostraste uma foto da Jaiden quando ainda estávamos em Porto Seguro?
Assenti.
--Então, fui com o Jonas para o Hotel Oásis e dei de cara com a Jaiden sentada numa mesa com ar de perdida, não pensei duas vezes em abordá-la para ver se era mesmo a pessoa de quem fugias, e não é que era ela mesma.
A Nahima era uma atriz nata, contava aquilo fazendo uma encenação incrível.
--Ah meu amor, eu não perco tempo quanto mais quando o destino resolve dar uma ajuda. Falei com ela, que por sinal foi muito simpática se levarmos em conta que era uma total desconhecida. Quando disse que te conhecia e que estavas aqui, essa tua Jaiden maravilha quase teve uma síncope, isso é que é amor.
Eu estava morta de vontade de rir das loucuras da Nahima e ao mesmo tempo transbordando de felicidade, só agora entendia aquele encontro misterioso no pier. Que amiga maravilhosa a vida me presenteara.
--E aí garota, tirou o atraso? - Nahima provocou rindo da minha cara vermelha.
--Obrigada Nahima, essa tua amiga é um perigo que estou disposta a correr em todos os sentidos...
Foi a vez da Jaiden falar, ao mesmo tempo que segurava a minha mão.
--Wow, vejo que estamos bem, fico tão feliz que a minha vontade é sair voando por aí.
Eu não conseguia dizer nada, estava feliz demais para dizer algo, era melhor sentir.
Peguei as minhas coisas e levei para o Hotel da Jaiden. Ficaríamos por pouco tempo em Pipa e então nada era mais oportuno do que ficarmos juntas.
A Nahima dava pulos de exultação, encontrara uma amiga de verdade.
Aproveitamos o resto do dia para passear por aquela praia maravilhosa. Andámos de barco, Jaiden fez fotos maravilhosas. Rimos de tudo, fizemos amor numa praia onde só estávamos nós, o sol, o mar e o tesão avassalador que nos consumia. Estava num sonho do qual não queria acordar nunca mais.
Por volta das sete da noite voltamos para o hotel e fomos imediatamente jantar, todas cobertas de sal e queimadas de sol. Durante o jantar fui abordada por um cliente da empresa, um chato que resolveu aparecer justamente onde não devia.
A Jaiden ficou a esfregar as pernas dela nas minhas e eu quase perdi o controle. O chato foi embora e eu quase a beijei ali mesmo naquele restaurante repleto de gente. Na minha opinião qualquer um que depositasse os olhos em mim perceberia que eu estava apaixonada pela mulher ao meu lado, não conseguia tirar os olhos dela.
Após o jantar, Jaiden subiu para o quarto e disse-me que voltaria em segundos. Eu sentia um clima de mistério no ar, mas estava amando. Alguns minutos depois ela voltou com uma mochila nas costas e disse-me que preparara uma surpresa e que torcia que eu gostasse.
Já gostara!
Fomos de carro para uma praia um pouco distante e vi uma espécie de cabana abandonada. Ao parar o carro percebi que aquele era o nosso destino. A cabana abandonada na realidade era um perfeito ninho de amor. Era uma casa de madeira completamente rústica, cheia de velas aromatizadas, flores secas pelo chão, a cama era suspensa no ar, os lençóis tinham ondas de um mar de águas transparentes, e lá fora ouvia-se o barulho das ondas.
Eu fiquei pasma.
Já tivera romances com homens sofisticadíssimos, mas nenhum tivera uma ideia tão maravilhosa como aquela. Não conseguia dizer uma única palavra, fiquei encostada numa parede morrendo de medo, pois mais uma vez percebi que amava aquela mulher, tudo nela era perfeito.
--Gostaste da surpresa meu bem? - Perguntou-me com aquele olhar que me hipnotizava.
--Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo neste momento...está tudo tão perfeito que parece irreal.
--Isso parece-te irreal? - Ela abraçou-me e beijou-me a princípio com suavidade, seguidamente com tamanho desejo que fiquei sem ar. Ficámos presas naquele beijo durante largos minutos.
Fiz um jantar rápido enquanto a Jaiden arrumava as parafernálias dela, claro que ela levara os seus instrumentos de fotografia.
Eu estava impressionada com a funcionalidade daquela que à priori me parecera uma simples cabana abandonada. O pequeno espaço que funcionava como cozinha estava muito bem equipado e não tive problemas em preparar uma massa para o nosso jantar.
Após o jantar abrimos uma garrafa de champanhe que foi devidamente apreciada. Fomos para a praia passear e conversamos durante horas. Eu sempre gostara de conversar com a Jaiden, e gostava cada vez mais.
Pela primeira vez ela falou da vida sentimental dela, aquele assunto até então tinha sido resguardado. Disse que sempre se relacionara com homens até que aos 25 anos viu-se apaixonada por uma mulher. Como nunca tivera medo de nada e era adepta da teoria que qualquer experiência é válida desde que não prejudique ninguém, viveu o romance enquanto este teve forças.
O romance havia terminado pois não resistira ás inconstâncias temperamentais da outra e muito menos ás inúmeras viagens dela.
O nosso, provavelmente não resistiria também, mas não iria preocupar-me com aquilo, não naquele momento.
--E a Srta. devoradora de corações masculinos não abriu excepções ao longo da vida?
Ela ria das próprias palavras. A impressão que eu tinha era que ela tentava dar menos importância aquele assunto, do que realmente tinha.
--A minha única excepção é a Srta. fotografa maravilha, e não sou nenhuma devoradora de corações. - Disse dando uma sonora gargalhada.
--Ah és minha querida, tanto és que devoraste o meu pobre coraçãozinho.
A Jaiden e o sentido único de humor. Ela disse aquela frase fazendo uma encenação dramática arrancado gargalhadas minhas.
--Vou fazer uma pergunta que é no mínimo idiota, mas sou assim mesmo, pergunto tudo, não te rias de mim ok?
Fiz cara de drama e a Jaiden riu muito.
--Essa tua faceta dramática eu ainda não conhecia, minha querida. - Disse aquilo me abraçando forte e me beijando na face.
--O que te chamou atenção em mim?
--Só podes estar a brincar, mulher tu és linda, L-I-N-D-A, deliciosamente linda.
--Não falo disso sua boba, e sabes muito bem a quê me refiro. Eu passo a vida rodeada de mulheres lindas e no entanto nunca olhei mais de duas vezes para nenhuma delas, até que a Srta. apareceu...
Um pouco mais séria, ela disse:
--Eu te achei atraente no minuto em que coloquei os olhos em ti naquele restaurante. No decorrer da nossa convivência passei a admirar a tua personalidade forte, a tua inteligência, a tua capacidade de lidar com as pessoas, fazendo com que os teus subordinados tenham respeito por ti, admiração e ao mesmo tempo aquele espírito de equipa... e meu amor depois de ter dormido contigo acho difícil esquecer-te...
Aqueles olhos brilhantes de novo, aquela voz rouca...
Não consegui dizer uma única palavra, estava emocionada demais, limitei-me a pegar-lhe as mãos e fomos para a cabana.
Mal entramos, encostei-a numa parede e iniciei um jogo de sedução que nem eu sabia que era capaz de fazer, pelo menos não com aquela desenvoltura. Deitei-a no tapete macio do chão de madeira e dei asas à minha imaginação. O meu desejo pela Jaiden era algo inexplicável, por mim ficaria numa cama com ela a vida inteira. Adormeci com a Jaiden me abraçando por trás e senti-me em paz e totalmente feliz. Ela ficou beijando as minhas costas durante um longo período e eu sentia lágrimas inundando os meus olhos. A minha vontade era gritar que a amava como nunca amara ninguém na minha vida que queria ficar com ela para sempre, mas a minha racionalidade ou covardia (já não sabia ao certo que nome dar aos meus sentimentos) não me permitia.
Eu morria de medo de estar a confundir as coisas, eu sabia que amava a Jaiden, mas e ela? A impressão que eu tinha era que o sentimento era recíproco, mas afinal eu não a conhecia tão bem assim e aquela espontaneidade, aquela entrega toda poderia ser algo inerente à personalidade dela, enfim...
Acordei primeiro e fiquei observando aquela obra de arte que se estendia ao meu lado. Que mulher linda, e dormindo ficava mais linda ainda.
Fui preparar algo para comermos, pois, energias precisavam ser repostas. Comi algumas cerejas e decidi dar um mergulho enquanto ela não acordava. Quando voltei da praia ela estava sentada no chão completamente nua a comer uvas. Aquela imagem era quase irreal, o sol que entrava pela janela dava um reflexo lindo nos cabelos avermelhados dela e os olhos faiscavam. Precisava eternizar aquela imagem. Tirei várias fotos e aquilo tudo terminou numa guerra de uvas e em mais uma deliciosa sessão de amor.
Algum tempo mais tarde o meu telefone tocou, eu não queria falar com ninguém mas dado a insistência resolvi atender. Era o Noah. Eu não me lembrava mais dele, pelo menos não como amante. Conversamos um bocado, afinal ele era meu amigo acima de tudo. Ele perguntou-me onde eu estava, e tive vontade de dizer no paraíso, mas limitei-me a dizer que estava em pipa com a Jaiden.
Ele mandou cumprimentos a ela e desligou.
Percebi que Jaiden não estava na cabana, olhei para a praia e lá estava ela dentro do mar brincando com a água, feliz da vida. Como eu queria que aquilo não terminasse nunca...infelizmente a felicidade já estava na reta final, precisava voltar para São Paulo.
Passámos mais uma noite em Natal, aproveitando as maravilhas da cidade. Embora estivesse completamente feliz, lá no fundo da minha mente algo me dizia que logo ela iria embora para as aventuras dela e eu ficaria sozinha e completamente apaixonada.
Nessa noite fizemos amor com maior entrega. Eu queria ficar com a imagem dela na cama totalmente entregue gravada na minha mente para sempre. Na nossa última explosão de prazer, já exaustas e sem forças, eu olhei nos olhos dela que estavam molhados, e ela me abraçou forte e disse:
-- I love you, Sara!
Eu não consegui dizer que também a amava, tinha medo que aquilo fosse apenas um rompante, uma loucura de férias, tinha medo de sofrer, tinha medo de tudo. Abracei-a, e beijei-a com todo o desejo que me consumia, enquanto o corpo dela estremecia sob o meu.
Eu era racional demais, amava-a, não tinha a menor dúvida, mas como viver o meu amor integralmente? Ela era uma fotógrafa famosa, mundialmente famosa, vivia viajando de um país para outro, de uma selva para outra, de um deserto para outro, era muito requisitada, e embora fosse bem low profile tinha certeza que era muito desejada por gente bonita...
O fato de ser mulher, surpreendentemente não me incomodava, eu estava consciente do preconceito que relacionamentos entre pessoas do mesmo sex* suscitava, mas não me importava nada.
Eu já resolvera aquela questão na minha cabeça e para mim amar a Jaiden ou o Noah era a mesma coisa, o que interessava era o sentimento e não o género. Quem fosse realmente meu amigo e me conhecesse entenderia perfeitamente aquela avalanche que me assolara.
Eu queria tanto dizer que ficava feliz só pelo fato de sentir a sua respiração nas minhas costas, de sentir o pé dela enroscar-se no meu, de vê-la sorrir...
Mas ao mesmo tempo eu ficava com medo que aquilo fosse loucura de uma doida de 33 anos.
Como poderia amar alguém com tamanha intensidade em tão pouco tempo?
Mas não era o amor que possuía regras que só ele entendia?...
Fim do capítulo
Boa leitura.
NH
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