Capitulo 2 - Desejo!?
Renata estava em São Paulo há aproximadamente dois meses e embora tivesse saudades de Fernanda não tinha a intenção de procurar pela amiga. Não saberia o que dizer a ela, mas o destino acabou lhe pregando uma peça. Saiu de casa naquela noite apenas para conseguir alguns trocados e acabara reencontrando o amor de sua vida. Renata não pode deixar de pensar no abismo que atualmente existia entre elas. Fernanda se transformara numa mulher elegante, extremamente feminina e aparentemente muito bem sucedida, enquanto ela se tornara uma pessoa destruída pelas escolhas erradas que fizera na vida. Era impossível negar que as duas se encontravam em dois extremos diferentes, uma claramente realizada e a outra lutando consigo mesma por uma nova chance de seguir em frente e esquecer o passado. A morena teve seus pensamentos interrompidos pela a aproximação da loira, e sem resistir mergulhou naquela imensidão que eram os olhos verdes de Fernanda.
-- Então podemos ir?
Renata apenas maneou a cabeça dizendo que sim.
Saíram em silencio e assim permaneceram durante todo o trajeto. Cada uma perdida em seus próprios pensamentos e sentimentos. Em alguns momentos se olharam e sorriam uma para a outra, mas o embaraço era visível de ambas às partes.
Renata ficou impressionada ao adentrar o apartamento da loira. Seu peito inflou de orgulho da amiga. O apartamento era uma cobertura de dois andares, com uma decoração arrojada e um toque moderno, mas sem perder a sofisticação. A morena adorou a integração da sala com o jardim da área externa. Percebeu que dali dava para ver boa parte da cidade.
-- Gostou? – Fernanda não sabia o porquê, mas a opinião da outra era importante para ela. – Eu mesma que projetei e decorei. A maioria dos moveis são assinados por mim.
-- Eu amei. – Disse sincera. – Você se especializou em arquitetura de interiores?
-- Sim. Projeto e decoração de interiores sempre foi minha vocação.
-- Eu sei, o meu quarto sempre foi vitima dessa sua vocação. – Provocou.
-- Boba, mas bem que você gostava quando dava um trato nele.
Os olhares se cruzaram causando um choque em ambas as mulheres. Renata imediatamente fugiu daquele verde que era a sua perdição. A morena ficou de costas e dirigiu sua atenção para a bela vista panorâmica da enorme metrópole.
A loira não sabia exatamente o que sentia quando olhava para morena, mas estava adorando poder ficar admirando-a a sua frente. A beleza do seu corpo era inegável, parecia ter sido esculpido pelos deuses, tamanha a perfeição de seus contornos. Novamente viu a parte exposta da tatuagem, aquela visão exerceu o poder de atração de um imã lhe puxando para perto. Aproximou-se devagar e instintivamente tocou a figura, mas retirou a mão segundos depois com o sobressalto de Renata.
-- Acho que te assustei. Posso ver? – Sem esperar pela reposta, Fernanda levantou com cuidado a regata da morena. – É linda. – A mão da arquiteta percorria toda a extensão do desenho de um escorpião. Sentiu a pele da morena quente e para sua surpresa constatou que seu próprio corpo também queimava, mas ao invés de se afastar juntou os corpos abraçando Renata pelas costas.
Renata quase perdeu o controle com aquela proximidade, precisava afastar-se urgentemente senão cometeria uma loucura.
-- Cuidado, escorpiões são traiçoeiros. – Avisou retirando delicadamente as mãos que envolviam sua cintura e colocando uma distancia segura entre elas. – Estava bem soltinha. Seu noivo não sente ciúmes?
-- Ah? – Perguntou a principio sem entender, só depois concluiu que Renata deveria estar falando sobre a festa. – Não, ele confia em mim.
-- Coitado.
-- O que está querendo dizer Renata? – O deboche na voz da morena irritou Fernanda. -- Não sei com que tipo de gente você se misturou, mais saiba que sempre fui fiel. -- A loira foi surpreendida pelo olhar penetrante da outra. O que fez com que falasse mais suave. -- Gabriel foi à única pessoa com quem me deitei. – Confessou.
-- Por que está me contando isso? – A voz de Renata saiu ferida.
-- Porque não quero que me julgue pelo que viu naquela festa. Aquilo tudo foi uma grande brincadeira. Não quero que pense que sou assim.
-- Não te julgaria. -- Renata baixou os olhos, pois não conseguia encarar a arquiteta. Como dizer que não a julgara e sim que sentira ciúmes? – Seria hipocrisia minha se o fizesse. Fui pra cama com tanta gente que até perdi as contas.
Aquela confissão entrou no peito da loira como um punhal.
-- Por isso desapareceu? – Havia tristeza no olhar da arquiteta. -- Estava ocupada demais pulando de cama em cama?
-- Me desculpa. – Renata sentia-se envergonhada.
Fernanda ainda esperou que ela lhe dissesse mais alguma coisa, mas diante do silencio da morena não se conteve.
-- Me desculpa!? É tudo o que você tem a dizer? -- Perguntou exaltada. -- Achei que tivesse te acontecido algo. Sofri por você. Quando seus pais faleceram tive certeza que nunca mais te encontraria. Então te encontro vendendo saúde. Quem é você? Que tipo de pessoa é você? Não estou falando por mim, mas que tipo de pessoa abandona a própria família? -- Fernanda foi calada pelo choro sofrido da outra.
A morte dos pais abalou profundamente à morena. Renata sabia que essa ferida jamais se cicatrizaria, além de lidar com a perda irreparável daqueles que mais amava na vida, ainda carregava consigo a culpa pelos anos de distancia. Não que os tenha abandonado como dissera Fernanda, mas também não veio visita-los em nenhum momento.
-- Calma Rê. – A arquiteta aconchegou a morena em seus braços buscando aplacar sua dor. -- Não queria te trazer sofrimento, apenas queria entender por que nos abandonou desse jeito.
Renata não tinha ideia do tempo que ficara nos braços daquele corpo que tanto a perturbava. Queria muito permanecer abraçada aquela mulher, queria tanto que o mais prudente era se afastar, então desfez o abraço com todo cuidado e em seguida secou as lágrimas que insistiam em cair.
-- Acredite! De certa forma aquela Renata está realmente morta. – A morena fez questão de aprofundar o olhar para que a outra soubesse que realmente era assim que se sentia. -- Aquela garota que você conheceu deixou de existir ha muito tempo. Não sou nem sombra do que fui um dia, Fernanda. Por mais que me doa dizer isso, teria sido melhor para você não ter me reencontrado.
-- Por favor, nunca mais diga isso. – Fernanda acariciou o rosto da morena. – Apesar de estar magoada, fiquei muito feliz em revê-la. Quanto a não ser mais a mesma pessoa eu também não sou – Havia sinceridade em seu olhar. – Fica aqui comigo esta noite, vamos descansar um pouco e depois conversamos calmamente.
Renata não conseguiu dizer não aquele olhar suplicante.
-- Será que posso tomar um banho antes?
-- Claro que sim. Vêm, vamos escolher algo para você vestir.
Renata concordou deixando-se ser levada para o quarto.
Fernanda espalhava pela cama camisolas e baby doll, diante de um olhar incrédulo da outra. Falava sem parar descrevendo as peças e deixando claro que Renata poderia escolher a que quisesse usar.
-- Pode parar Nanda. Não vou vestir nenhuma dessas peças. -- Renata ria. -- Nunca usei um treco desse e não vai ser agora que vou usar. Tem alguma camiseta velha?
-- Tem certeza? -- Perguntou sorrindo.
-- Absoluta.
-- Ok. -- Disse jogando uma velha camiseta com a estampa do Pernalonga para ela.
-- Não acredito que ainda a guarda. -- Os olhos de Renata ficaram marejados ao ter nas mãos a camiseta que sempre usou nas noites em que dormira na casa da amiga.
-- Não teria me desfeito dela por nada deste mundo. Essa camiseta é o meu abrigo. Quando a saudade ficava insuportável dormia com ela sobre meu peito. – Confessou.
Renata esboçou um sorriso que deixou a loira fascinada.
-- Agora vamos parar de conversa senão vamos acabar chorando novamente. – Disse Fernanda quebrando o clima que se instalara. – Pode usar o banheiro daqui do quarto mesmo.
Quando saiu do banho Renata tinha a pele levemente molhada. A camiseta colada no corpo mostrava perfeitamente o contorno dos seus seios. A loira sentiu todos seus pelos se eriçarem diante daquela imagem. Como ela é linda. Pensou. Seus olhos inconscientemente percorreram toda a extensão daquele corpo bem definido. Meu Deus o que está acontecendo comigo? Perguntou-se diante da excitação que sentiu. Isso é culpa da Carla que colocou minhocas na minha cabeça. Acusou tentando se isentar dos efeitos evidenciados em seu corpo. Correu para o banheiro antes que Renata pudesse entender o que acontecia.
A loira tomou um longo banho, desejando que a água que caia do chuveiro levasse embora pensamentos que ela julgava impuros. Vou me casar. Amo meu noivo. Repetia para si mesma. Mas sabia que nunca sentiu aquele formigamento entre as pernas por ele. Teve vontade de se tocar, mas sufocou o desejo. Isso vai passar. Tem que passar. Isso é apenas saudade da minha amiga. Mas quando saiu do banho uma nova onda de calor invadiu seu corpo diante do olhar invasor da morena. Aquele olhar não deixava duvidas para Fernanda. Carla estava certa, sua amiga de infância gostava de mulheres.
-- Você está linda. – Renata por mais que tentasse não conseguia desviar o olhar. Sua amiga estava irresistível dentro daquela minúscula camisola. O caimento era perfeito em seu corpo esguio. A seda deixava a mostra os biquinhos dos seus pequenos e apetitosos seios.
-- Achei que não gostasse de camisolas. – Brincou Fernanda, tentando fugir daqueles olhos que a devoravam.
-- Não gosto em mim. -- Renata se aproximou a desnudando com o olhar. -- Mas você fica maravilhosa dentro de uma.
Elas estavam próximas o suficiente para perceber que as respirações de ambas estavam irregulares. Renata olhou para os finos e rosados lábios de Fernanda. Não estava mais agüentando de vontade de beijá-la.
-- Acho melhor irmos dormir. – Fernanda interrompeu o flerte.
-- Ok. Onde vou dormir? – Perguntou a contragosto entendendo o recado.
-- Pode dormir aqui comigo, isso é claro se prometer se comportar. – Brincou. – Quero dormir abraçadinha contigo como fazíamos antigamente.
Renata sorri.
-- Só prometo o que posso cumprir. – Disse também em tom de brincadeira, mas seus olhos denunciavam suas palavras.
-- Mais dizem que quando um não quer dois não brincam, portanto vamos dormir.
Fernanda tinha a morena aninhada em seu peito. Era tão gostoso senti-la em seus braços novamente. Quando mais jovens faziam isso com frequência. Às vezes em sua casa outras na de Renata, mas sempre davam um jeito de ficarem juntinhas. Diante da lembrança a loira apertou ainda mais a morena como se quisesse prende-la para sempre junto de si.
-- Eu esperei por você a noite toda naquele aeroporto. – Confessou. -- Tive tanto medo de que pudesse ter lhe acontecido alguma coisa.
Renata correspondeu ao abraço com a mesma intensidade querendo deixar claro que agora estava do seu lado.
Os corpos ficaram grudados sendo inevitável que o desejo se aflorasse. A respiração de ambas começava a ficar descompassada. A morena então beijou o pescoço de Fernanda fazendo-a soltar um leve gemido.
-- O que está fazendo Rê? – Olhou para os lábios carnudos da amiga e sem perceber passou a língua sobre os próprios lábios evidenciando sua vontade.
-- O que sempre desejei e nunca tive coragem. – Sussurrou em resposta.
Renata então toma posse daquela boca tão sonhada e desejada num beijo desesperado, mas também cheio de carinho. No inicio percebe certa insegurança nos lábios de Fernanda, mas logo sente o beijo sendo correspondido com a mesma intensidade.
Fernanda gem* na boca de Renata, mas numa súbita retomada de consciência empurra a morena afastando-a de si.
-- Ficou maluca, Rê? -- Perguntou já se levantando da cama. -- Como ousa se aproveitar dessa maneira? Não me importo de tenha se transformado nisso. -- Disse com cara de nojo. -- Mas exijo que me respeite.
Fernanda não teve tempo de dizer mais nada, pois Renata recolhera rapidamente suas roupas e saiu desembestada porta afora. Sozinha no quarto a loira chorava apavorada, pois sabia que tinha correspondido a outra. Sentia seu corpo ainda quente. Não posso estar sentido isso. Pensou desesperada.
Fim do capítulo
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