Capitulo 1 - Despedida de Solteira
É só mais um dia como outro qualquer, pensara Fernanda ao sair de casa pela manhã, mas agora se via envolvida em mais uma armadilha de suas amigas. O que faço aqui? Questionava-se o tempo todo. Vou me casar no próximo sábado. A cada novo striper a euforia ao seu redor aumentava. Na frente de Fernanda, um dançarino vestido de marinheiro dançava sensualmente ao som de Magic de Ladyhawke. A mulher olhava sem nenhum entusiasmo para o rapaz que aos poucos se desnudava a sua frente.
-- Aproveita nosso presente de casamento, Nanda. – Gritou Carla animada.
Fernanda não estava gostando nada daquela situação, mas diante do incentivo da amiga, permitiu que suas mãos iniciassem um passeio por aquele corpo másculo levando as convidadas à loucura. Que mal pode haver? Perguntou-se. É só uma brincadeira. Concluiu sorrindo. A loira então enroscou sensualmente seu corpo no dançarino deixando que a música os embalasse. Ouvindo os aplausos e assovios das amigas, mas o que elas não sabiam era que a loira simulava um interesse que na verdade não sentia. O que tem de errado comigo? Perguntou-se sem ter a mínima ideia da resposta. Fernanda não conseguia entender a inércia do seu corpo que mesmo roçando naquele monumento de homem não sentia nenhuma atração. Torturava-se com isso, quando seu corpo inesperadamente reagiu, não por conta do dançarino, mas sim de alguém que seus olhos deslumbraram passar pela sala. Sentiu seu corpo tremer e em seguida dois braços fortes contornarem sua cintura buscando colar ainda mais os corpos.
-- Acho melhor pararmos por aqui. – Fernanda afastou o marinheiro que não escondeu a surpresa no olhar. Claro. Devia achar que estava gostando. Pensou sem jeito. No entanto a loira não se prendeu muito tempo na reação do rapaz, estava mais interessada, mesmo que inconscientemente em buscar pela pessoa que há instantes atrás fez seu corpo vibrar.
-- Procurando alguém? – Priscila questionou a amiga que até então parecia não ter percebido sua presença. – Está parada olhando para os lados.
-- Estava. – Sorriu disfarçando. – Você e Carla, minhas duas amigas da onça. Vou matar você é aquela ruiva maluca. Onde vocês estavam com a cabeça? Striper? Fala serio.
Priscila soltou uma sonora gargalhada.
No decorrer da noite a loira evitou qualquer tipo de contato com os outros dançarinos contratados, não queria repetir a que fizera com o marinheiro. Passou quase todo o tempo dançando com Carla e Priscila, enquanto seus olhos involuntariamente buscavam pela morena desconhecida que simplesmente havia desaparecido. Fernanda começou a questionar se que aquela mulher não fizera parte de uma fantasia de sua mente desejosa por algo novo em sua vida. Só podia ser isso, mas não entendia porque essa ilusão viera em forma de uma mulher e não de um homem. Assustada, a loira concluiu que era melhor não pensar mais nisso e procurou se divertir com as amigas.
A festa não ser tardou a chegar ao fim, não era nem meia noite quando as convidadas começaram ir embora. Logo ficaram na casa apenas as três amigas conversando, enquanto um pequeno grupo desmontava o som e o palco improvisado no centro da sala.
-- Confessa logo que gostou da sua despedida de solteira. -- Priscila olhava safada para a amiga. – Nem vai adiantar negar Nanda, afinal, nós vimos como se empolgou com o marinheiro.
-- Digamos que não foi ruim. – Fernanda sorriu envergonhada. -- Só espero que Gabriel...
Parou de falar no instante em que seus olhos se depararam com a morena que vira anteriormente. Sentiu o mesmo tremor de horas atrás. Não conseguia desviar os olhos da bela mulher de cabelos curtos que exibia próxima a nuca a cauda de um escorpião tatuado. Teve a sensação de já conhecer aquela mulher, mas foi quando ela se virou e seus olhares se cruzaram que pode reconhecer aqueles olhos cor de avelã. Era Renata, com toda a certeza era ela. Sua amiga desde os tempos da infância e que há anos nada sabia. Sentiu o coração vibrar de felicidade, sem pensar em mais nada caminhou sorrindo até ela.
Renata por sua vez sentiu suas pernas perderem as forças quando os olhares se cruzaram. Fernanda estava ainda mais linda do que se lembrava. Naquele momento teve certeza de que a loira continuava exercendo o mesmo poder de sempre sobre ela. Teve vontade de fugir, mas a outra já se aproximava.
Estavam depois de anos frente a frente novamente. Nenhuma das duas sabia exatamente com agir. Foi Fernanda quem tomou a iniciativa e abraçou a amiga. Uma descarga elétrica se espalhou pelos corpos de ambas. A loira não sabia ao certo o que estava sentindo e julgou a reação do seu corpo aos anos de separação, já Renata conhecia bem aquele sentimento, pois foi exatamente àquela atração avassaladora que a fez passar mais de uma década fora do brasil.
12 anos atrás
Renata tinha recém completado dezoito anos quando disputou uma bolsa de estudos para estudar engenharia civil em Londres. A jovem mal pode acreditar que conseguira tal feito. Sentia-se orgulhosa, afinal toda sua dedicação tinha valido a pena, mas diante do choro sofrido de Fernanda teve duvidas se realmente deveria partir. Sabia que morreria de saudades da sua linda amiga loira de olhos verdes penetrantes, mas a vontade inicial de mudar-se para Londres se dera justamente pela necessidade de sufocar o desejo que desde muito cedo nutria pela amiga. Não suportava vê-la aos beijos com os rapazes quando era ela que deseja estar no lugar deles, isso a estava deixando maluca. Sua única saída era ficar bem longe daquela que lhe dava tanta alegria, mas que também lhe roubava a paz. Foi assim, dividida entre a razão e a emoção que a morena partiu em busca de novos horizontes.
Foi na Inglaterra que Renata acabou descobrindo o quanto uma mulher podia ser deliciosa. Encontrou o prazer nos braços de uma inglesa e finalmente conseguiu entender o que sempre sentiu pela amiga. Apesar da descoberta quis acreditar que com o passar do tempo conseguiria tirar Fernanda do coração, mas o sentimento só aumentava. Houve épocas que achou que não aguentaria de saudades da amiga, sentia-se perdida, sem saber o que fazer. Nada, nem ninguém eram capazes de afastar a loira dos seus pensamentos e muito menos do seu coração.
Foram três longos e torturantes anos lutando para tentar esquecer aquela que desde que conhecera tomara conta de todo seu ser. Cansada de sofrer e de brigar com seu próprio coração, desistiu da luta e resolveu deixar que os sentimentos determinassem o rumo da sua vida. Decidida comprou uma passagem para o Brasil.
A morena não podia negar que estava morrendo de medo da decisão que tomara, mas também estava feliz com a possibilidade de rever a loirinha. Agora precisava contar a novidade para Fernanda, então com as mãos trêmulas pegou o telefone e ligou para a amiga.
-- Alô. – Atendeu Fernanda, tendo como resposta o silêncio.
Renata sentiu o coração pular como louco no peito ao ouvir a voz da loira do outro lado da linha.
– Quem fala? -- Fernanda tentou mais uma vez tirando Renata da inércia.
-- Sou eu, Nanda. -- Renata tentava passar naturalidade.
-- Renata? Eu não acredito! Você me liga tão pouco que quando isso acontece acho que estou sonhando. – Era evidente a felicidade da loira. -- Onde você se meteu? Faz alguns meses que você sumiu. Continua em Londres?
-- Calma. – Pediu Renata enquanto ria da avalanche de perguntas da amiga. -- Respondendo. Sim, sou eu Renata. Sim, continuo em Londres e não sumi. Infelizmente a correria do dia a dia não me permite ligar tanto quanto gostaria. Pensa que é fácil fazer duas faculdades? Sobra pouco tempo e dinheiro para me comunicar com os amigos, mas saiba que você continua aqui. -- Falou colocando a mão no peito. -- No meu coração. Eu te amo. – Declarou-se.
-- Eu também te amo amiga. -- Disse Fernanda com toda a sinceridade. -- Sinto tanto a sua falta. Tenho tantas coisas para te contar.
-- Vai poder contar. -- Renata não conseguia disfarçar a alegria. -- Vou para o Brasil.
-- Quando? -- Gritou uma eufórica Fernanda do outro lado da linha. – Vai vir nos visitar ou para ficar?
-- Visitar, mas no segundo semestre do próximo ano termino meu ultimo curso, ai volto para casa em definitivo. – Renata não via a hora de rever a amiga. – Chego ao aeroporto de Guarulhos no sábado às onze da noite. Pode ir me buscar?
-- Estarei lá com toda certeza. -- Fernanda estava vibrando. – Sabe Rê, agora minha felicidade vai estar completa. Tenho uma coisa para te contar, não te falei antes porque não queria gastar o pouco tempo que tínhamos no telefone falando sobre esse assunto, mas estou namorando há dois anos. Acho até que vou me casar, mas mesmo estando apaixonada não consigo ser totalmente feliz. Falta você na minha vida Renata.
Toda a alegria da morena se dissipou.
-- Você vai se casar? -- Conseguiu perguntar com a voz embargada.
-- Não é pra já, mas acho que encontrei o pai dos meus filhos. -- Respondeu Fernanda sem perceber a mudança na voz da amiga. -- Tenho certeza que você vai adorar o Gabriel, mas vamos deixar essa conversa para depois. Queria muito continuar aqui com você, mas já estou atrasada para a faculdade. – A loira não queria desligar, mas teria prova na primeira aula. – Beijos e mais beijos, te vejo no sábado, Rê.
-- Beijos. -- Respondeu mecanicamente antes de desligar.
Sou mesmo uma idiota, ela namorando e eu querendo me declarar. Pensou
Naquela noite Renata saiu de casa querendo esquecer a conversa que tivera com Fernanda. Vai se casar? Foda-se, mulher não vai me faltar. Foi com esse pensamento que entrou numa badalada boate GLS da cidade. Se soubesse o que aconteceria com sua vida a partir daquele dia nunca teria entrado naquele lugar.
Momento Atual:
O abraço se desfez e Fernanda sem controle começou a desferir pequenos golpes contra a morena. Estava colocando naqueles leves tapas todas as magoas e preocupações que sentira durante todos aqueles anos. Não conseguia entender porque Renata a havia abandonado daquele jeito. Durante muito tempo chorou achando que algo de muito ruim havia acontecido com a amiga. Agora ela estava ali na sua frente intacta. Estava morrendo de raiva e eufórica de alegria ao mesmo tempo. Fernanda chorava, enquanto batia e abraçava Renata.
-- Nanda, calma. – Pediu com delicadeza.
Fernanda sossegou e então percebeu que os olhos de Renata também estavam encharcados. As duas se abraçaram novamente colocando naquela junção dos corpos toda saudade que sentiam.
-- Está tudo bem? -- Perguntou Priscila sem entender o que acontecia com a amiga e a morena desconhecida.
Só então as duas se deram conta de que não estavam sozinhas.
-- Com licença, preciso voltar ao trabalho. – Renata ficara desconfortável na presença das atuais amigas de Fernanda. Já ia se afastando quanto sentiu o toque das mãos da mulher que ainda amava.
-- Podemos conversar? -- Diante da indecisão da morena a loira completou. -- Você me deve uma explicação, Renata.
-- Tudo bem, mas agora preciso trabalhar.
-- Eu espero.
Enquanto aguardava pela morena, Fernanda foi bombardeada pela curiosidade das duas amigas. Carla e Priscila ficaram intrigadas pela forma efusiva com que a loira tratara à morena, afinal Fernanda era a discrição em pessoa. Nunca fora mulher de beijos e abraços, era reservada até mesmo nas suas demonstrações de carinho com Gabriel. Mal sabiam elas que quando se tratava de Renata a loira sempre agira de maneira diferente. Sempre fora intensa com a morena, junto dela permita que as emoções viessem à tona.
-- Então? Vai nos contar quem é ela? – Perguntou Priscila curiosa.
-- Renata. – Disse entusiasmada. – Já falei dela pra vocês, nem acredito que ela esta aqui novamente. Achei que nunca mais fosse vê-la.
-- Essa é a famosa Renata? -- Carla parecia não acreditar. – Juro que fazia outra imagem dela. Achei que tivesse um estilo mais parecido com o seu. – A ruiva olhava atenta para uma morena, bonita, atlética e que se vestia de maneira totalmente despojada, diferente do jeito sofisticado da amiga. -- Você tem certeza que eram apenas amigas? -- Perguntou ao notar a intensidade dos olhares trocados.
-- Como assim, Carla?
-- Nanda. – A ruiva não tinha ideia de como Fernanda reagiria a sua suspeita, afinal a loira sempre fora uma incógnita em relação a esse assunto. – Veja bem, não estou dizendo nada referente a você, mas tenho certeza que sua amiga de infância é lésbica. E como sei que vocês eram muito próximas...
-- Endoidou? – Questionou interrompendo a frase. – Carla, eu não acredito que você esteja insinuando que existiu “algo” entre mim e Renata.
-- Não estou insinuando nada. -- Disse Carla. -- Apenas estou dizendo que sua amiga é sapa, bolacha, entendida ou como queira chamar. – Disse Carla. – Que saco, Nanda. To falando numa boa. – A ruiva se irritou. – Só estou tentando dizer que o motivo de sua amiga ter se afastado pode estar estampado na sua cara, mas você se recusa a ver.
Fernanda continuava sem entender aonde Carla queria chegar com aquela conversa.
-- Há muito tempo que não sei nada sobre Renata, entretanto não acredito que seja lésbica, mas isso também não me importa. – No fundo Fernanda sabia que importava. – Então me poupe dos seus comentários maldosos.
-- Comentários maldosos? – A ruiva balançou a cabeça de forma negativa. -- Às vezes me pergunto se você é burra ou se faz. -- Carla desistiu de expor sua opinião, conhecia bem Fernanda e sabia que a loira não estava preparada para aquela conversa.
-- Hoje você está insuportável, Carla.
-- Quer saber? Cansei de você, Fernanda. – Disse Carla fazendo fosquinha. – Vou pra casa. Vejo vocês amanhã meus amores. - Despediu-se a ruiva.
Fernanda jamais admitiria na frente de Carla, mas suas palavras a deixaram intrigada.
-- Pri. – Chamou à amiga. – Você também acha que Renata seja gay?
-- Não acho nada, amiga. – Disse na defensiva. – No entanto, Carla costuma sempre ter razão.
-- Será?
Fim do capítulo
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