"Ciúmes"
"Ciúmes"
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...
Chegamos em Manaus, enfim. Ao contrário do que eu imaginava, é uma linda cidade, cidade mesmo. (Sim, eu tinha esse pré-conceito de ser um lugar horrível, atrasado e cheio de gente pelada. Tinha. Me perdoem. Passou, passou.) Lugar lindo. Pessoas bem hospitaleiras. Sotaque gostoso de ouvir, mas com muitas expressões que nunca vi.
***
Para a sorte do Senhor Jair, encontramos um "amigo-piloto/Moacir" (dono de um bimotor) que se prontificou em levá-lo para casa em Pacaraima-Roraima, depois fariam de tudo para resgatar o corpo do irmão no meio da mata. Moacir foi resolver algumas coisas, voltaria dentro de 1 hora. Deu tempo de almoçar/jantar juntos com Sr. Jair, no hotel onde nos hospedamos mesmo. Nosso vôo para São Paulo seria só no dia seguinte.
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--Não podem viajar desse jeito, gente. --Falou Nina olhando para nós após o almoço. Concordei na hora.
--Não está tão ruim..
--Como não, Seu Jair? Já pensou no impacto que sua família terá quando o ver? Pode não achar, mas a roupa ajuda um pouquinho. --Ele assentiu sem jeito.
Fomos direto a um shopping, próximo ao aeroporto. Graças a Deus, Nina tinha como nos ajudar com tudo. Depois devolveria tudo a ela.
Nem preciso dizer que Yaya foi "atração" por todo caminho, né! Bah. Mas que guria teimosa, (Já estava me estressando) recusou se vestir (para meu desespero). Foi proibida de entrar nas lojas, ficou brava e esperou em uma pracinha próxima.
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De volta ao hotel..
Senhor Jair agradeceu muito à Nina antes de partir, mas quando foi agradecer a Raíra quase não saiu voz.
--Nem sei como te agradecer, menina. Serei eternamente grato, você sabe. Não sei o que seria de mim se v.. -Se emocionou.
--Não deixaria o senhor lá.- Enfim falou (tímida). Se cumprimentaram (pegando no antebraço).
--O que vocês precisar.. --Falou nos olhando com a voz carregada.
--Um dia eu vou na sua casa, Sr. Jair. Meu amigo. --Disse Mari dando um abraço nele.
--Minha netinha vai adorar.. --Respondeu a Mari fazendo cócegas nela. Trocando telefones para manter contato. (Depois me lembrei que nem telefone eu tinha mais) Raíra e Nina se entreolharam depois que ele partiu, Mari foi brincar no playground com outras crianças.
--Vou subir para tomar um banho. --Parecia que precisavam conversar a sós.
--Já subimos. --Falou Nina sorrindo e dando uma piscada pra mim. Yaya estava séria em pé próxima a calçada.
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Após um banho rápido, deitei para assistir enquanto esperava por elas. Fechei os olhos por algum tempo, me senti quentinha como se alguém tivesse me coberto. Nina me chamou de repente, já estava pronta, indo comprar não-sei-o-quê e logo voltaria para fechar a conta. Dei um pulo da cama. Raíra e Mari ficaram em outro quarto (Acharam melhor assim). Só deu tempo de tomar um banho rápido, me trocar e Nina já estava de volta, falando que as meninas iriam depois, Raíra tinha algumas coisas a resolver. Não entrou em detalhes, também não perguntei. (Mas quase morri de curiosidade)
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Aeroporto..
Almoçamos. Esperamos cerca de uma hora e meia até avistar Mari correndo em direção a Nina.
--Oh, Mãe, a dinda deixo' eu escolher a roupa dela. --Dizia Mari toda contente!
Logo atrás.. Raíra! Bah! Maravilhosamente tri-linda (calça jeans clara, camiseta branca, jaqueta preta e bota rasteira cano médio. O rosto ainda pintado, cabelo solto e o colar de presa. Seu olhar era determinado/focado. Parecia aqueles filmes em que tudo em volta para e a estrela de Hollywood vem caminhando devagar, sabe? Bah! Tri.. Linda.
--Bah! Linda de cair os butiá do bolso! --Sussurrei..
--Olha a baba, Mika. --Debochou Nina. Yaya passou direto por mim. --Vai começar com o gauchês é? Vamos ver quem entende melhor?
--Quase não entendi o pessoal do hotel, Nina. --Falei rindo. --É que.. ela com tanta roupa me pegou de surpresa.
--Geralmente é o contrário.. --Gargalhou.
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Na fila de embarque, Nina mencionou sobre o ritual (dentre outras coisas): era para ter sorte nessa nova fase da vida. Yaya já ajudou muito aquela tribo, ajudava defender a floresta, lutava mesmo, por isso a chamavam de "abaetê" = Pessoa boa, honrada. (Eu ainda precisava saber o que era 'Kunhã', não me disseram tão logo). A tinta que usaram nela é uma mistura de 'alguma coisa' com jenipapo ou urucum, dura no mínimo uma semana. (As minhas já estavam bem fracas). Não sei como ela aceitou isso! Se bem que ela fica linda de todo jeito, mesmo se fossem permanentes. (Depois descobri que algumas eram tatuagem, realmente.)
***
Yaya chamava muita atenção (um sentimento foi crescendo em mim), não só pela pintura e beleza, mas também por suas belas curvas. Ela é realmente muito ingênua, pois nem notava os olhares, alguns nada discretos que lançavam. Fora as cantadas. (Descobri ali que meu ciúmes era bem maior do que eu imaginava e estava me corroendo por dentro).
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Voô
O voô foi tranquilo apesar dos atrasos, principalmente em Viracopos. Assim que desembarcamos em São Paulo recomeçou a sessão de 'cantadas'/olhares. Raíra permanecia com o semblante fechado, mas o olhar estava cada vez mais triste, não conseguia parar de olhá-lá disfarçadamente. Chamamos um táxi, destino: meu apartamento. Enfim. Torcendo para estar tudo do mesmo jeito.
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Condomínio/Meu apartamento.
--Dona Micaella?! É você mesmo!? - Falou o jovem (Eurico) espantado ('Faz-tudo/filho do sindico' do condomínio.)
--Não, sou um clone! - Me lembro que nunca o tratei bem, mas não sei o motivo exato. Mas tem.
--Co-como pode? Você morreu em um acidente bem feio de avião. Saiu em tudo quanto é lugar: jornal, TV, rádio.. --Me olhava assombrado.. e eu também. --Meu, a senhorita mo.. -Falava com expressão de confusão até ver Raíra e parar.
--Enfim. -- Tentei desviar o olhar dele. --Quero que faça uma coisa.
--O que quiserem! Estou totalmente disponível. - Falou com pura malícia olhando para Raíra que por sua vez olhava para o tamanho das torres do condomínio. Isso só me estressou mais, mas até tentei controlar. Deve ser esse um dos motivos de maltratar..
--Primeiro: providencie que a imprensa fique sabendo que estou viva! Ligue para esse número. --Anotei o número de uma jornalista "conhecida". --Segundo: em hipótese alguma comunique meu pai. Está me ouvindo?
--Não tem um agrado, Dona? --Sorriu malicioso vendo Raíra e Mari se afastarem, "explorando" o ambiente. --E acho que seu pai gost..
--Sem "mas", imbecil! Tu não é pago para achar nada! Faça exatamente o que estou mandando ou comece a procurar um trabalho novo.
--Sim, Senhorita! --Falou ficando sério. --Sua mãe deixou as chaves aqui (portaria). - Falou abaixando a cabeça me entregando as chaves.
--Ah.. Peça para nós o jantar no lugar de sempre!
--Sim, Senhorita. Quatro pessoas?
--Pelo menos sabe contar. - Fui meio grossa, né? Bom, ele que pediu. Perguntei mais algumas coisas do mesmo modo "gentil" para então subirmos.
* * * *
No elevador Nina cochichou com um risinho debochado.
--Tudo aquilo não foi só ciúmes.. ou foi?! - Apenas sorri olhando para Raíra que por sua vez segurava com força a mão de Mari que reclamou.
. . .
Fim do capítulo
Continua..
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