Três
Três vezes na semana, às segundas, quartas e sextas-feiras, Beatriz passava o dia inteiro atendendo em seu consultório. Não ficava muito longe de sua casa, e ela adorava atender ali. Parecia quase uma extensão de sua casa – certamente era de sua vida. Sua reputação era boa o suficiente para fazer com que dificilmente tivesse horário vago. A espera de novos clientes era grande e todos eram submetidos a uma espécie de triagem: somente aqueles diagnosticados como mais graves conseguiam marcar consulta com ela – sempre para, no mínimo, dali pelo menos 15 dias. Exceto nas emergências, claro. Sempre tinha, uma ou outra.
Ela gostava dos casos mais complexos, aqueles que exigiam mais dela, que lhe desafiavam de alguma maneira. Gostava de se ver confrontada com uma dificuldade, com pessoas apresentando comportamentos realmente incomuns, que a faziam ficar pensando depois, nas suas atividades cotidianas. Estava lá na fila do mercado, ou esperando para pagar o almoço no restaurante, e ficava pensando na pessoa. Alguns depois de um tempo eram usados como estudos de caso, mesmo, e havia atendimentos que viravam assunto de algum artigo científico que ela escrevia e publicava em revistas especializadas. Beatriz era uma pesquisadora atuante, conhecida e respeitada no meio acadêmico, da psiquiatria, especialmente. Tinha concluído o pós-doutorado no ano anterior (uma das mais jovens a chegar até ali, uma das poucas mulheres, também). Era gabaritada.
Para auxiliar no serviço, Beatriz contava com a ajuda de Fernanda, uma médica recém-formada que tinha iniciado recentemente sua especialização em psiquiatria. As duas se entendiam bem e Beatriz confiava cegamente no diagnóstico oferecido pela colega. Fernanda, além de boa médica, era uma pessoa dessas de bom coração. Tinha bastante empatia com os pacientes – os “consulentes”, como ela os chamava. Era muito competente e humana.
Beatriz ainda estava em processo de admitir para ela mesma a admiração que sentia pela colega. Não era ainda um assunto que tinha entrado na sua fila de análise. Mas estava ali, bem perto. Em vias de.
A verdade é que ela não tinha muito tempo para pensar nisso, estava sempre ocupada com o trabalho, com algum artigo que achava que deveria ler, algo para estudar, pois sempre se considerava em atraso com relação às atualizações da medicina (que se atualizavam a cada respirada que ela dava). Beatriz considerava que esta autocobrança, em particular, era benéfica para ela, então se permitia ser cobrada. Se forçava a ficar ocupada e quando notava eventualmente que sua mente estava despendendo tempo, por exemplo, para listar as belezas de Fernanda (suas mãos firmes, o cheiro que vinha dela, a piscadinha que ela lhe dava quando se deixava ser mais casual), automaticamente Beatriz voltava ao prumo. O que teriam a acrescentar sobre isso Freud, Jung e Lacan? Voltava aos estudos.
Mesmo com a dificuldade em aceitar novos pacientes, a clínica sempre conseguia encaixar casos realmente urgentes (em partes graças à ajuda de Fernanda, tão competente), ou ainda aqueles em que ela própria se oferecia para atender: em geral pessoas conhecidas de Cícera.
E Cícera sempre conhecia alguém aqui ou ali que precisava de um acompanhamento especializado, era impressionante. Beatriz sabia bem que a mulher tinha um dom nato que a permitia “sentir” o desequilíbrio alheio. Algo assim, tipo bruxaria (e ela constatava isso sempre dando um sorrisinho). Não sabia explicar como Cícera conseguia esse feito – mas nem por isso desacreditava. Sua margem de erro era insignificante. Ela tinha uma precisão digna de estudo.
Beatriz mesmo era um caso que podia ser usado como exemplo. Praticamente tinha sido criada por Cícera; seu pai nunca estava em casa, ela perdeu a mãe cedo. E aquela mulher a conhecia de cabo a rabo, até do lado do avesso, se duvidasse. Parecia sempre saber até o que ela pensava, como se sentia, e mais: Cícera era bem premonitória. Cantava umas bolas certinhas. Previu até uma crise renal que ela teve, quando mais nova. Bruxaria!
Duas vezes na semana, às terças e quintas-feiras, Beatriz atendia pela manhã pacientes da rede pública de saúde. Ia ao hospital e ficava por lá até que todos tivessem sido assistidos. Na parte da tarde destes dois dias ela se dirigia à biblioteca da Universidade em que estudara e continuava tendo passe livre (talvez para sempre. Ela desejava isso!). Sempre tinha coisas para estudar, e ali era um local que emanava conhecimento. Um lugar de paz.
Quando perguntada, não sabia dizer qual das tarefas mais lhe dava prazer: atender às pessoas que tinham condições financeiras de pagar por uma consulta, ou aquelas que eram submetidas ao atendimento público, muitas vezes internadas pelas famílias, que perdiam o controle sobre aquele parente. Em ambos os casos ela atendia com dedicação, sempre fazendo valer o juramento que proferira anos antes, na sua formatura; mas era perceptível, entretanto, a maneira distinta como os dois tipos de pacientes encarava seus desequilíbrios. No consultório, cerca de 80% dos clientes que a procuravam se apressavam em se “autodiagnosticar”. Já no hospital, quase a mesma porcentagem precisava se “convencer” de que de fato possuía determinado distúrbio. O acesso à informação por parte de um público, e o pré-conceito instaurado na mentalidade de outro, influenciavam na descoberta e no tratamento da doença. Havia pesquisas que falavam disso, dessa relação. Ela já tinha lido.
Mas em todos os tipos de atendimento era proporcionado à Beatriz o prazer de exercer sua profissão, que ela amava. Tinha nascido para isso. De fato, se excitava em “invadir”, com permissão, mentes alheias e analisar de maneira fria e imparcial seus medos e anseios, suas angústias, de onde vinha tudo aquilo, os gatilhos. Era fascinante observar como o pensamento muitas vezes era o causador de uma doença, e a redenção para outra.
Claro que era muito mais complicado, mas simplificando poderia ser explicado exatamente assim: o pensamento humano é o combustível que deve ser usado de acordo com a potência do motor, que é o cérebro. Quando utilizado de forma incorreta, pode ocasionalmente causar uma espécie de “pane” no sistema. Dar “petê”, como os mais jovens falam.
- Oi! Me chamou, Beatriz? – pergunta Fernanda, entrando na sala depois de dar duas batidinhas na porta. Só de ela aparecer ali Beatriz já sentia o seu cheiro, doce.
- Sim, sim – ela responde, sem olhar para a colega. Remexia incessantemente em uma pilha de papéis e só parou quando pareceu encontrar o que procurava, um papel amarelo. Anotou alguma coisa nele – Você se lembra-se do Jorge? Entra, por favor, senta.
O consultório de Beatriz era aconchegante, em geral ficava um pouco à meia-luz, tinha alguns abajures espalhados que quando acesos deixavam o clima meio intimista. Mas naquele momento estava com as luzes de cima acesa, brancas, frias, e quase parecia outro lugar. Beatriz estava sentada atrás de sua mesa, que era de madeira escura, parecia antiga, e tinha alguns poucos objetos em cima. A cadeira que ofereceu para Fernanda era bem macia e confortável, tinha o apoio para os braços bem alto. Propícia para se abrir o coração.
- Jorge do TOC? – Fernanda pergunta, se sentando. Ficava sempre um pouco intimidada quando era chamada ali. Beatriz a intimidava.
- Não – Beatriz olha para ela por um instante, mas desvia novamente o olhar, voltando a atenção para os papéis – Da síndrome do pânico. Jorge Cunha.
- Sim, lembro dele. Que tirou a barba e a esposa brigou, né?
- Esse! – Beatriz achou curiosa a lembrança, e levantou levemente uma sobrancelha. Fernanda percebeu – Você acredita que ele veio hoje, durante a consulta, com uma história tão maluca que me deixou estarrecida?
Quando Fernanda abriu a boca para responder, o telefone na mesa de Beatriz começa a tocar. Ela pediu desculpas, licença e depois de atender e falar com Cíntia, a secretária, pediu novamente licença para atender à ligação. Batia os dedos compridos no tampo da mesa enquanto aguardava a transferência da ligação. Era irritante quando definitivamente não conseguia controlar sua ansiedade e isso se tornava perceptível para as pessoas. Detestava se sentir observada, e sentia os grandes olhos de Fernanda pousados nela.
Sem saber se deveria permanecer sentada, ou se seria mais educado sair da sala para deixá-la mais à vontade, Fernanda ameaçou levantar-se, mas Beatriz faz um sinal para ela esperar. Prometeu que seria breve.
Fernanda pegou um livreto que estava ali ao lado e deu uma breve folheada. Beatriz conversava com alguém num tom amistoso, não parecia falar com paciente. Ela se perguntou se alguma outra vez tinha visto a mulher assim, à vontade. Ela sempre parecia meio máquina, sei lá. Parecia um robô às vezes. Do tipo sem emoção, sei lá. Meio esquisita.
Com um sorriso, Beatriz desliga o telefone após alguns poucos instantes.
- Me desculpe. Era o Renato, um velho amigo. O que você vai fazer hoje à noite? – questiona, desviando o olhar no final da frase.
- Hoje? – pergunta Fernanda, pega de surpresa. Ficou olhando para a médica, que ainda sorria um pouco. Era mesmo um sorriso?
Apesar de trabalharem juntas há alguns meses, eram raras as vezes em que conversavam sobre algo que não fossem pacientes ou doenças. Fernanda não sabia explicar ao certo, mas Beatriz a deixava com a mesma sensação que ela tinha quando era adolescente e ficava diante de uma mulher que despertava nela algum tipo de sensação (qualquer que fosse, ainda que o desconforto). Se sentia realmente intimidada por Beatriz, de uma maneira que não conseguia explicar. Ela tinha um olhar penetrante, mas ao mesmo tempo sempre fugia com os olhos, quando tratava de assuntos assim, mais pessoais, mais casuais. E aí Fernanda sentia uma coisa esquisita que parecia que formava um buraco na parte de baixo da sua barriga sempre que estavam juntas. O ar passaria por ali, se duvidasse.
- Não sei. Não vou fazer nada em especial, eu acho! Geralmente fico em casa às sextas-feiras. Gosto de aproveitar uma das únicas noites da semana em que o silêncio predomina lá em casa para estudar, ler algum artigo, fazer algo de útil.
Com um suspiro, Fernanda desmente-se em pensamento. Não sabia ao certo o porquê de ter dito aquilo, quando na verdade aproveitava a casa vazia para se jogar no sofá e se entregar, sem culpa, ao ócio. Gostava de ficar de bobeira na frente da tevê, sem ter que disputar com ninguém o controle, ou a programação. Beatriz de fato a deixava confusa.
- Se quiser mudar os planos e dar um pouco de risada... Hoje à noite vou reunir alguns amigos da faculdade no meu apartamento. Pouca gente, só os mais íntimos, mesmo. Vamos comer uma massa, tomar um vinho. Falar amenidades.
- Não sei, Beatriz...
- Pode levar seu namorado, se quiser! – apressa-se em dizer. Gostava de Fernanda e queria aproveitar aquela ocasião para conhecer melhor a pessoa que facilitava cada vez mais seu trabalho na clínica. Ou ao menos era isso que ela se dizia.
- Meu namorado? – pergunta, com um sorriso (pareceu de deboche).
Por uma fração de segundos – que deu a impressão de se estender por horas – as duas se encararam, olhando-se nos olhos. Não disseram uma única palavra, mas naquele momento a comunicação entre elas foi perfeita. Se sorriram, foi sem mexer um músculo sequer.
- Não tenho namorado – prossegue Fernanda, apenas para deixar explícito o que tinha sido dito, mas desviou o olhar quando a mulher a encarou. Pela primeira vez prestou atenção na foto que tinha sobre a mesa de Beatriz. Imaginou que aquele homem grisalho sorrindo ao seu lado fosse seu marido, quem sabe.
- Meu pai – sorri Beatriz, seguindo o olhar da colega até a fotografia – Faleceu há três meses.
- Sinto muito.
- Tudo bem, grata – suspira Beatriz, voltando a olhar para a médica à sua frente. Não tinha certeza do que exatamente estava acontecendo, mas gostava daquele arrepio que lhe percorria o corpo – O que me diz do convite? Aceita?
- Aceito – responde Fernanda, sorrindo também com os olhos.
Combinaram os detalhes e, pacientemente, Beatriz explicou-lhe como fazer para chegar até o seu prédio. Fernanda achou fofo, mas sabia que jogaria o endereço no Waze – isso se não fosse de Uber. Calculou mentalmente mais ou menos a distância e constatou que levaria cerca de uma hora para chegar até lá. Se não pegasse nenhum congestionamento durante o trajeto.
Nenhuma das duas lembrou-se do motivo pelo qual Fernanda havia sido chamada há pouco. Sabiam que, agora, isso era apenas um detalhe. Outra hora voltariam ao assunto.
Logo que se despediram, Beatriz ligou para Cícera pedindo-lhe que comprasse os ingredientes necessários para o jantar. Passou a lista por WhatsApp. Ficou grata por ter tido a ideia de dar-lhe de presente no último natal um celular novo. Como trabalhava apenas meio período – recebendo, porém, o dobro do que recebem as diaristas que trabalham em período integral –, Cícera estava naquele momento batendo papo na casa de uma comadre.
Ela a princípio ficou preocupada com a ligação naquele final de tarde, mas ao saber que naquela noite seria servido um jantar na casa de Beatriz, sorriu aliviada. Quem sabe não seria naquela mesma noite que ela finalmente desencalharia? Estava na hora, Beatriz ainda era moça, e era um bom partido. Cícera achava!
Para agradá-la, e também colaborar para que nada saísse errado, Cícera chama Ana Maria, sua comadre, para auxiliá-la no preparo do jantar. E as duas estavam na cozinha quando Beatriz chegou em casa, algumas horas depois.
- Boa tarde, meninas – cumprimenta, apoiando no balcão ao lado da pia algumas sacolas. Os óculos escuros estavam prestes a cair de sua testa, rumo ao chão – Comprei queijo para fazer como tira-gosto, Cícera. Você lembra como eu gosto deles, né?
- Lembro sim, Bia. Fica tranquila porque, se depender da gente, a sua noite vai ser perfeita.
- Ótimo, querida. Eu quero mesmo que essa noite seja perfeita! – fala, virando-se e caminhando até a escada – Agradeço muito pela ajuda de vocês!
Cícera imaginava que, de certo, Beatriz já tinha em mente alguém em potencial. E prevendo que aquela seria uma noite importante para ela, trouxe de casa alguns galhos de arruda, que já tinha colocado atrás da porta. Não queria que nada estragasse aquele jantar.
Sabia bem que Beatriz não acreditava muito no poder de plantas e ervas – como também sabia que, mesmo sem acreditar, a moça respeitava o misticismo encontrado em elementos da natureza. E Cícera tinha total liberdade para queimar incensos e jogar sal grosso em determinados pontos do apartamento; Beatriz nem questionava.
Na verdade, ela se encantava sempre que observava as mãos de Cícera prepararem um chá ou uma pomada, que tinham efeitos indiscutivelmente positivos. Gostava de analisar a destreza e a firmeza de seus dedos e toda a sabedoria naquela manipulação. Cícera parecia mesmo uma bruxa, e Beatriz amava isso nela. Seus dedos, calejados, mostravam ali um acúmulo de sabedoria também.
Cícera estava tirando as compras das sacolas quando, no andar de cima, Beatriz entrou no ateliê. Pensava na sustentação que seu olhar tivera nos olhos de Fernanda, enquanto admirava a estátua esculpida na noite anterior. Gostou da sua impulsividade (quase ousadia!) em convidá-la para o jantar. Gostou de saber que ela não namorava (e nem homens, estava claro). Ela nem tinha programado nada, e agora constatava de que tinha sido uma iniciativa maravilhosa.
Santo Renato! Estava grata pela ideia do amigo, em jantarem naquela noite.
Sentou-se em sua antiga poltrona verde e olhava distraída para a janela, tendo em suas mãos uma garrafinha de água com gás. Era sempre prazeroso concluir um trabalho e ela sempre relutava contra o sentimento brando de abandono que sentia ao ver uma peça pronta. Era mais ou menos o mesmo que sentia sempre que se despedia terminantemente de alguém querido (ou pior, ela constava só para ela). Não tinha mais nenhum controle a partir dali sobre aquela obra, ela era responsável por si mesma, e seu destino só a ela pertencia. Isso tocava Beatriz, ela se emocionava de verdade. E tinha algo em torno daquela estátua (aquela, específica), que fazia o apego ser maior, diferente, de alguma forma. Passou o dedo sobre a cabeça do menino, como se despedindo.
Antes que o sentimento a sufocasse, Beatriz levantou-se e após dar uma última longa olhada para a estátua, foi para seu quarto tomar banho. Não se demorou escolhendo roupa; não pretendia parecer sofisticada demais, e muito menos relaxada, descuidada. A melhor maneira, então, de aparentar casualidade, era pegar a primeira roupa que lhe viesse em mente, ou pulasse diante dos olhos. Estava animada por encontrar seus amigos. E Fernanda.
Um tempo depois desceu, usando um vestido delicado, florido, e autorizou no interfone a entrada de Bernardo e Mariana, sua esposa. Ele fora seu colega na faculdade e logo após a formatura tinha se casado com a arquiteta que era sua namorada desde o ginásio. Era um casal ótimo, ficavam sempre muito divertidos depois da segunda taça de vinho. Perdiam um pouco o freio na língua e pareciam uma dupla de comediantes de stand up.
Cícera servia os convidados quando chegaram Luísa e seu namorado, Igor. Ela também era médica e ele era professor de educação física. A maneira como Priscila o encarava deixava claro o que os unira. Beatriz se perguntava se mais alguém naquela sala sentia no ar a testosterona em ebulição emergir do forte professor.
Chegaram ao mesmo tempo Renato e Roger. Irmãos gêmeos, ainda crianças haviam combinado se formarem um dia médicos. Cumpriram com a promessa, mas hoje atuavam em segmentos distintos: Renato se especializara em oncologia e Roger era pediatra. Roger trouxe a namorada, Joana, que era publicitária e Renato, como sempre, veio desacompanhado. Mas tinha trazido um vinho bom, que ela sabia que tomariam só os dois, possivelmente mais tarde.
A conversa seguia animada quando Maurício ligou. Estava preso no trânsito e, irritado, tinha decidido dirigir somente até sua casa. Àquela altura, imaginava que o trânsito também havia impedido a chegada de Fernanda, mas ela não tinha mandado nem mesmo uma mensagem.
Era uma pena. Beatriz tinha ficado realmente empolgada com a expectativa de encontrá-la fora do ambiente de trabalho, imaginava até que, quem sabe, poderia rolar um flerte. Ela sentia alguma tensão vinda de Fernanda. Alguma receptividade, também, apesar de uma notável resistência, sei lá, um certo bloqueio. Pensava nisso quando foi até a cozinha verificar seu tudo estava OK com a janta, e Cícera a intimou.
Ela estava em frente ao fogão e Beatriz percebeu que sorria. Não ousou perguntar o motivo da felicidade; sempre que não conseguia controlar a curiosidade e indagava o porquê de determinadas coisas, Cícera dava respostas enigmáticas. Em geral, Beatriz ficava mais confusa do que antes de perguntar. Aquela senhora era mesmo uma figura.
- Todos os seus amigos estão acompanhados, Bia?
- Não, Cícera – sorri Beatriz, tirando o plástico que envolvia o buquê de rosas trazido por Renato, ajeitando as flores numa jarra com água. Antes cortou a pontinha do caule e colocou açúcar na água, uma colherinha.
Não se conteve e cheirou uma das rosas, com os olhos fechados. Amava aquele aroma, a remetia a alguma lembrança boa que ela não sabia especificar direito. Há quanto tempo não ganhava um buquê de presente? Há quanto tempo não ganhava um buquê de alguém especial? Já tinha ganhado, alguma vez? Buscou na memória. Já, uma vez, há muito tempo, nem valia a pena lembrar de quem. Voltou a atenção para Cícera. A senhorinha ainda a encarava com um ar de gracejo no rosto. Parecia assistir aos pensamentos de Beatriz.
- Uma das pessoas na sala está desacompanhada, mas isso não significa nada. Não se empolgue! Meu “príncipe encantado” não está na sala.
- Eu nem estava pensando nisso! – comenta Cícera, dando as costas para ela, escondendo de Beatriz as expressões de seu rosto.
Beatriz riu. Conhecia aquela pequena grande mulher há muito tempo e sabia que sua preocupação era uma manifestação de amor. Ou ela estava vendo algo que os olhos de Beatriz não captavam. Era possível, também.
- Vamos servir o jantar? – ela pergunta, ainda de costas.
- Vamos, sim – autoriza Beatriz, voltando para a sala.
Tinha esperado o máximo de tempo possível, mas não podia mais adiar o momento de servir a massa. Nenhum dos presentes tinha insinuado estar com fome, mas a etiqueta mandava que Beatriz não os fizesse esperar mais nem um minuto. Certamente algum compromisso urgente havia prendido Fernanda e por isso ela não aparecera. Até o final da noite ela ligaria, se explicando e se desculpando.
Todos se encaminharam à mesa de jantar e sentaram-se, de forma animada e pouco ruidosa. Quando Cícera atravessou a sala e abriu a porta, Beatriz mal a notou. E quase não percebeu a figura que, timidamente, olhava apreensiva para os convidados. Só reparou quando Fernanda se aproximou, com um sorriso que iluminou todo seu rosto.
- Peguei um engarrafamento – diz Fernanda, em tom de boa noite.
Fim do capítulo
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Luasonhadora
Em: 01/09/2020
Achei que as bias ficariam juntas.... mas acho que Não, ou talvez sim...ah já nem sei mais kkkkk
Continua, pleaseee
Resposta do autor:
hahaha
As histórias se intercalam, sim, mas daqui um tempo rs Algumas coisas precisam ancontecer antes.
Vou continuar! ♥
Aja Rocha
Em: 28/08/2020
sou a favor de história com muitos personagens, ala cem anos de solidão hehehe.
Beatriz toda sagaz na hora de flertar, né. hehehe bom é assim.
Fernanda se qualquer coisa dê errado vem aqui ta hahahaha. Gostei de fernanda! é um perigo essas coisas de simpatizar fácil.
Cícera conhecedora das mandingas, tem todo meu respeito hehehe. É nós bruxona.
* bem que eu devia ter me preservado a leitura, pelo menos até a metade, aí fico assim, curiosa, atiçada pelo resto. ( ouvi dizer que as autoras ficam felizes com esse sentimento causando nas leitoras) rs*
** grávidas... **
Resposta do autor: Não faz referência ao Gabo que meu coração chega a derreter rs Nessa história tem gente pacarai msm rs A Fernanda é boazinha! ⤠Goste sem medo!rsrs Spoiler: ela tem uma irmã gêmea. Hahaha E CÃcera é bruxona memo! Fico bem contente com animação de leitora msm! Me faz querer postar tudo de uma vez rsrs P.S.: uma gravidez vai gerar todo um rebuliço, mas não sei se do jeito que vc tá pensando rs
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cris05
Em: 28/08/2020
Ainnn...eu não quero que a história acabe, mas estou me consumindo desde o primeiro capítulo com a "psicose" da Beatriz em esculpir grávidas. E esta estátua da mãe com o menino me deixou mais ainda com a pulga atrás da orelha. Cheguei a pensar que tinha alguma ligação com Joaquim (sim, às vezes eu viajo na maionese rsrs) mas já descartei a ideia. Sou péssima em desvendar enigmas. Só me resta tomar chazinho para conter minha ansiedade e curiosidade rsrs.
Autora, concordo com você, a Fernanda é uma fofinha! E a Bia é realmente foda!
Ah, todo mundo devia ter uma Cicera na vida. Eu amo!
Beijos!
Resposta do autor:
Hahaha
Essa história demora um pouco pra acabar rs Tem acho que 50 capítulos. Mas as coisas vão sendo respondidas, outras perguntas vão sendo feitas rs
Lembra que eu falei que tudo tá interligado? Então rsrs
Não descarta ainda suas hipóteses rsrs Segue sua intuição que tá rolando hahaha
Quando esse livro foi escrito eu bebia MTO chá! A Bia Beatriz bebe bastante.
Tá vendo? Vc nem sabia disso hahaha
Eu super queria uma Cícera na minha vida! ⤠Mas acho que estou fadada a SER uma Cícera rs
Beijos!
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