5. Natalícios

Ilíone sempre acorda mais cedo, quando desperto ela já até saiu do nosso quarto e tem o hábito de auxiliar no preparo do café da manhã. Porém, no dia do meu aniversário de dezessete anos, assim que abri meus olhos deparei com ela e seu sorriso encantador; em suas mãos ela tinha uma tábua cheia de escritos, estendeu em minha direção, apanhei e logo comecei a ler.

Princesa Acalântis,

Nesta data tão importante, que comemoramos o teu aniversário, já rezei para todos os Deuses e agradeci pela sua existência. És tão incrível que acredito que você deva ser algum pedacinho do Olimpo aqui na terra, de tão preciosa. Agradeço por toda a tua bondade em me acolher e por ser toda cuidadosa. Muita saúde, paz, amor, sucesso e fartura no teu viver. Espero sempre ter a honra de estar ao teu lado, é um grande privilégio ter a tua companhia. Sempre estarei torcendo pelo seu melhor, pois, é merecedora. Que neste teu novo ciclo você floresça como a primavera, lhe desejo toda a alegria e sorte de presente.

Eu a amo! Parabéns e muitos anos de vida, da sua e somente tua, Ilí.

Fiquei muito emocionada, as palavras dela me tocaram profundamente e a abracei demonstrando todo o afeto que estava sentindo. Meu coração ficou acelerado e eu não queria que o abraço fosse desfeito, pois, a sensação de ficar junto dela é maravilhosa, por isso, só me distanciei, quando ela encerrou o abraço. Em seguida ela me auxiliou na escolha de um vestido e penteou meus cabelos. Agradeci e seguimos juntinhas para a cozinha.

- Bom dia! Minha nossa, pelos deuses, quantas coisas, eu disse para o meu pai que não quero festa, é tão recente a morte da mamãe.

- Bom dia e parabéns princesa. Teu pai não ordenou que fosse preparado tudo isso e em respeito a sua vontade não vai ter festa. Quando entrei na cozinha, junto das cozinheiras também ficamos surpresas. Trata-se de obra da tua dama de companhia e bem sei que ela é muito mais do que isso para ti. Como uma excelente amiga não quis deixar passar em branco, acho que ela mal dormiu, deve ter passado a madrugada preparando tudo (contou Felipa).

Fiquei sem saber o que dizer, só soube admirar os bolos confeitados de vários sabores, pães recheados, broas, tortas, doces, salgados e frutas; todos bem dispostos em bandejas.

- Minha filha, parabéns!

- Obrigada papai.

- Alteza, peço desculpas, a mesa do café da manhã ainda não foi posta, a menina Ilíone, preparou tudo isso por conta do aniversário da princesa, queríamos consulta-lo se podemos dispor tudo na mesa da sala principal ou se desejam o desjejum habitual?

- Não me leve a mal, o seu café é ótimo, mas, só se eu fosse um louco para recusar tudo isso. Gostou minha filha?

- Muito e é tanta comida para nós dois, faço questão de compartilhar com todos, o senhor se importa em comermos aqui mesmo?

- Sem problemas, é o teu aniversário e que seja feita a tua vontade.

- Só não se faz necessário festa, sinto muita saudade da mamãe.

- Eu também sinto minha cara e sei que de onde ela estiver, está feliz pela linda mulher que você vem se tornando. Agora vamos conferir se a sua dama de companhia já pode casar.

Ilíone ficou muito vermelha com o comentário e como nem gosto de vê-la constrangida mudei de assunto.

- Ilí, você fez a minha torta favorita de frutas silvestres. Obrigada por tudo!

A nossa manhã foi muito agradável, depois de nos alimentarmos, fiz questão de cortar um pedaço de cada um dos bolos, colocar num prato bonito, apanhar velinhas e levar até a estátua que eu fiz. Ajoelhei, fiz a oferenda, cobri com mel, pois, segundo a tradição, oferecemos para Ártemis bolo de especiarias bem adocicado, de acordo com a mitologia grega, é uma forma de nos comunicarmos com a deusa pedindo proteção no novo ano e foi desta crença que data o surgimento dos bolos de aniversário.

Um pouco antes do almoço, meu pai me chamou para me entregar meu presente de aniversário, um lindo conjunto de joia. Almocei em sua companhia e depois passei o restante do dia ao lado de Ilíone.

Naquela noite antes de dormir eu precisava saber ou ficaria inquieta e até insone.

- Você deseja casar?

Ela ficou me olhando sem entender a pergunta repentina.

- É que meu pai brincou hoje cedo, se você estava preparada para casar e é claro que esta no sentido que ele disse, pois, cozinha muito bem, é toda organizada em tudo e eu fiquei curiosa. Porque a maioria das mulheres da nossa idade já são casadas, minha mãe falava muito disso, eu me acho nova e nunca me interessei por nenhum pretendente que ela me arrumava. Também não tenho este desejo de ter filhos, não sei te explicar, mas, não me vejo, nem sou maternal. Mas, respeito às suas vontades e nem quero que você se sinta presa, impedida de viver a tua vida por minha causa. Compreende?

Ela confirmou e fez sinais me explicando que nunca tinha pensado nisso. Confesso que fiquei aliviada, não quero perde-la, adoro contar com a sua doce companhia.

Dez dias depois, em específico no dia dois de junho ela também completou dezessete anos de idade.

A princípio fingi que tinha esquecido da data, mas, na realidade eu tinha desmarcado a minha aula de música, pois, fiz questão de passar o dia todo em sua companhia. Contei com a ajuda da Felipa para decorar o quarto, preparar um bolo de chocolate, que é o predileto da aniversariante e logo depois do almoço nós comemoramos. Ela ficou toda radiante, dei para ela de presente um quadro, um auto retrato dela sorrindo e belíssima como sempre.

Fim do capítulo