Capitulo 8 - RAZÃO E SENSIBILIDADE.
Amanheceu!
O Noah ia embora à noite, passamos o dia inteiro juntos. Estive durante meia hora no escritório, mas saí logo, não queria ver ninguém, muito menos a Jaiden.
Conversei bastante com o Noah, ele era meu amigo antes de qualquer coisa, era bom conversar com ele. Passeamos pela cidade de mãos dadas, mas eu não estava lá, o meu pensamento estava solto, vagava de um extremo a outro sem focar em nada. Eu me sentia perdida num turbilhão de emoções.
Fui levá-lo ao aeroporto às 10 da noite e na despedida ele me abraçou e disse para eu me cuidar e que queria que eu fosse muito feliz. Retribui o abraço, mas não entendi o que ele quis dizer.
O avião partiu, eu queria ter ido junto, não com o Noah, queria fugir dali, fugir de mim. Logo eu que era tão corajosa e destemida...
Cheguei em casa com uma sensação de vazio. Fiquei acordada até bem tarde e quando dormi tive sonhos desconexos.
Fui ao trabalho na manhã seguinte decidida a esquecer qualquer sentimento dúbio que pudesse ter pela fotógrafa. Evitei o máximo que pude chegar perto do Set, mas ao final da tarde tive de lá ir. Eu senti um frio na barriga ao vê-la de costas a preparar uma das cameras.
Meu Deus, como ela era linda. Tinha uma aura de mistério e ao mesmo tempo era transparente. Eu devo ter ficado pelo menos 5 minutos olhando com todo o interesse do mundo para outra mulher. Isso definitivamente não estava a acontecer comigo.
Ela percebeu a minha presença, largou a camera e veio até a mim com aquele sorriso capaz de derreter o Himalaia, deu-me um abraço tão efusivo que senti o meu coração na boca. Ela olhou-me nos olhos por alguns segundos e depois disse-me que queria que eu fosse à casa dela, tinha algo para me mostrar.
Era tudo o que eu queria, mas a minha sanidade ou o que restava dela mandou-me responder que aceitava sem demonstrar o que realmente sentia. Fui para casa e fiquei pensando se aquilo tudo existia ou se era fruto da minha mente privilegiada. Não encontrei resposta, tomei um banho e fui à casa dela.
Eu adorava a decoração daquele apartamento. Ela foi buscar alguma coisa e eu fiquei vendo aquelas fotos pelas paredes, tinha foto de tudo, cada uma mais linda do que a outra. Eu estava apaixonada por toda aquela beleza. Estava parada numa das paredes a observar a foto de um velho aborígene quando ela bem atrás de mim disse que aquele velho era um sábio. Eu tive uma descarga elétrica ao ouvir a sua voz atrás da minha orelha, tive receio de virar e denunciar o meu nervosismo. Permaneci de costas e ela pediu-me que entrasse numa espécie de studio.
Eu nunca tinha visto tanta parafernália fotográfica junta, estava deslumbrada e ela se deliciava com o meu encantamento. Arrastou uma cadeira para que eu me sentasse, apagou as luzes e numa das paredes deu inicio à exibição do melhor spot publicitário que eu jamais vira. A fotografia era perfeita, nós já tínhamos ganho aquilo, eram escassos minutos de pura perfeição.
Vimos o spot durante vários minutos, eu estava extasiada e extremamente realizada. Ninguém conseguiria fazer algo melhor do que aquela obra de arte.
Por breves segundos ela ficou olhando para mim sem dizer uma única palavra. Tive vontade de beijá-la, abraçá-la, mostrar o quanto estava feliz com o trabalho dela, o quanto estava feliz por ela existir..., mas não fiz nada disso. Morria de medo que ela não entendesse a minha atitude, aliás eu tinha quase certeza que o desejo que me consumia não era recíproco.
--Gostou do resultado final? - Ela perguntou com aquele brilho no olhar que me encantava.
-- Acredito que perfeito não faça total justiça ao que acabas de me apresentar. Está imbatível Jaiden. - Disse com toda a sinceridade possível.
-- Então vamos comemorar? Estás convidada para um jantar amanhã com todo o pessoal da produtora. Eu convido, mas tu pagas. - disse rindo do próprio comentário.
Eu simplesmente amava o sentido de humor apurado daquela mulher.
Dei uma gargalhada e assenti. Aquilo merecia varias comemorações. Ela saiu do studio e disse que voltava em segundos.
Eu fiquei parada vendo ela se afastar, admirando cada detalhe por menor que ele fosse daquela mulher maravilhosa.
Voltou com uma garrafa de champanhe nas mãos e levou-me a uma espécie de terraço. Estava uma noite linda, nem parecia o céu de São Paulo. Brindámos com champanhe e eu senti-me em perfeita sintonia com a felicidade. Conversámos sobre vários temas, ela contou-me as aventuras que vivera ao redor do mundo devido à profissão que escolhera. Falava com tanto entusiasmo e eu simplesmente ouvia e me deliciava.
-- Falo demais, eu sei, podes mandar-me calar a boca - disse rindo.
-- Podes falar a noite inteira que escutarei com interesse - Respondi involuntariamente.
Nem sempre a razão prevalece e dessa vez ouvi o meu coração ao fazer aquele comentário. Sinceramente, não me arrependi.
--Hmmm, pelo menos gostas do que eu digo, já é um bom sinal, não é muito fácil saber o que agrada à senhorita. - Piscou um olho e deixou aquela frase martelando na minha mente.
Será que ela queria me agradar? E porquê? A estrela era ela...ah eu não entendia mais nada. Será que ela sentia o mesmo que eu? Às vezes, tinha a sensação que o seu olhar tinha um brilho diferente quando falava comigo, mas poderia ser pura simpatia e educação, além de que, ela não me parecia uma mulher que gostava de outras mulheres.
Mas que sabia eu de mulheres que gostavam de outras mulheres? Isso normalmente não aparecia escrito na testa de ninguém, o que eu tinha era um monte de ideias pré-concebidas. Entrava num universo novo e estava muito assustada.
Bebemos a garrafa toda e eu, claro, já estava para lá de alegre. O meu raciocínio lógico estava a 25%...ela me olhava com aqueles olhos que pareciam estar sempre húmidos, que olhos lindos, pareciam duas esmeraldas.
Sentei-me numa cadeira e me encolhi toda, adorava fazer aquilo na minha sala de vídeos, ficava horas assim pensando na vida. Mas eu não estava sozinha e muito menos na minha casa...estava completamente relaxada com uma quase estranha.
Ela perguntou se eu queria ver umas fotos. Claro que queria, tudo era pretexto para ficar mais um pouco na companhia daquela criatura encantadora. Ela foi buscar as tais fotos e eu fiquei entregue aos meus pensamentos. De repente ouço a minha banda favorita a tocar na sala, Coldplay, X&Y, sonho ou realidade?
Ela voltou com as fotos.
--Gostas dos Coldplay? -Perguntou.
Não era sonho.
--Adoro! É a minha banda favorita.
--Temos algo em comum? - Perguntou rindo.
Eu queria ter muito mais em comum contigo, apenas pensei, mas o som não saiu, graças a Deus. Precisava ir para a minha casa antes que caísse nos braços daquela mulher...
O pior ainda estava por vir.
Ela sentou-se na mesma cadeira que eu, só tinha essa. Ficamos coladas uma na outra. Eu ia morrer, tinha a certeza absoluta. Ela agia com tanta naturalidade e aquilo me desconcertava mais ainda. Começou a minha tortura. Ela me mostrava foto por foto explicando tudo, desde detalhes técnicos a momento, lugar enfim tudo.
Vi uma foto dela a preto e branco encostada a uma janela. Aquilo não era real. Era pura fantasia, ninguém podia ser tão lindo assim.
Estava bêbada, lembram-se? Pois é, acariciei aquela foto, fiquei parada olhando, completamente apaixonada. O silêncio que acompanhou o meu ato foi o coroar da minha loucura. O meu olhar ia da foto que estava nas minhas mãos, à face dela, um milhão de coisas na minha mente. Eu queria aquela foto para mim, se não pudesse ter a mulher, que fosse aquela foto que ficaria grudada em mim pelo resto da vida.
--Queres a foto?
--É linda, quero sim. -Disse num sussurro.
A minha respiração estava alterada...o vinho...
--Sempre lês os meus pensamentos?
Perguntei completamente entorpecida...ela não disse nada, apenas me abraçou e encostou a minha cabeça no seu ombro. Mexia nos meus cabelos, me apertava em seus braços, eu não conseguia fazer nada, não queria fazer nada, queria estar exatamente naquele lugar.
Tive vontade de chorar, não sei porquê. Aquilo nunca me acontecera antes...também era a primeira vez que estava nos braços de uma mulher e desejando ardentemente que ela me beijasse...eu queria que ela me beijasse. Mil coisas passavam pela minha cabeça. O que será que acontecia com ela? Enigmática, essa era a palavra certa para descrevê-la naquele momento.
Uma leve brisa de sobriedade pairou sobre a minha cabeça, eu precisava ir para a casa, caso contrario me atiraria nos braços dela.
--Jaiden, preciso ir para a casa agora, daqui a poucas horas tenho que estar naquele escritório ultimando tudo para apresentar ao cliente.
Fiz um esforço sobre-humano para proferir aquelas palavras.
A bomba!
--Não queres dormir aqui?
Ela fez uma pergunta dessa com a cara mais tranquila do mundo. Para mim, era claro que ela não tinha a menor noção do que me ia na alma, ou então estava a me provocar.
-- Seria o mais sensato dado o adiantado da hora, mas tenho que ultimar alguns dados que estão no meu computador.
--Hmmm, até que essa cadeira cabe nós duas se ficarmos assim.
Ela definitivamente estava a me provocar.
Aconchegou-se mais na cadeira e consequentemente me apertou mais ainda. Ela, além de linda era manhosa, ai meu Deus difícil não se apaixonar...levantei-me um pouco e fiquei olhando nos olhos dela, esses ficaram turvos, um verde-escuro, lindos.
Notei que ela respirava com alguma dificuldade.
"Porque não me beijas?" pensei.
E ela apenas disse:
-- Sara!
E beijou o canto da minha boca, o meu ombro, os meus cabelos...e nada mais, eu não entendia aquela mulher. Ela sabia que eu queria ser beijada, e ela também queria, ou pelo menos eu achava que sim, mas nada. Talvez fosse melhor assim.
Ela levou-me para a casa no meu carro e de lá tomaria um táxi que a levaria de volta. Ela sempre dando cobertura às minhas bebedeiras, que vergonha! Fomos em silêncio, eu pensava em toda aquela situação e o nó na minha cabeça apenas aumentava.
Do carro liguei para um serviço de táxi que já estava à porta do meu condomínio quando chegamos.
--Desculpa-me mais uma vez por esse transtorno. - Disse com uma certa vergonha, já era a segunda ou a terceira vez que ela me trazia para a casa em estado de embriaguez. Logo eu que era tão séria.
--É sempre um prazer, trazer a Sra. Diretora muito séria para a casa, quando ela está meio alegre. - Disse isso com aquele sorriso que me encantara desde o primeiro momento.
--Eu era uma mulher séria, pelo menos no que tocava à minha tolerância ao álcool, mas de há uns tempos para cá comecei a andar em más companhias e me transformei nisso que estás a ver á tua frente. - Resolvi provocar também, mas ela era dura na queda.
--E será que a Sra. Seriedade está aberta a novas mudanças radicais? - Ela fez aquela pergunta com um misto de brincadeira e seriedade...a que mudança se referia? O que quer que fosse não esperou a minha resposta. Deu-me um beijo no rosto, entrou no táxi e foi embora.
Fim do capítulo
Boa leitura.
NH
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]