"A verdade"
A Verdade
* * *
Raíra não respondeu, só fechou a cara e fez um biquinho lindo, senti uma vontade imensa de desfazer aquele bico com um longo beijo molhado.
--Mika, pode ir deitar. Ou amanhã não acorda cedo.
--Deitar? Na onde? - Eu não poderia deitar na cama.
--Na cama, ué! Mari quase não se mexe. Cabe as três. -- Falou simplesmente assim, como se não fosse nada.
--Mas, e ti?
--Vou cuidar do co-piloto e arrumar as coisas para irmos embora o mais rápido possível. Sua perna já está melhorzinha, não é?
--Uhum.. - Murmurei procurando uma desculpa para não ir deitar: --Eu te ajudo a arrumar as coisas, assim acabamos mais rápido e pode descansar também.
Nina se aproximou de mim com um sorriso maroto, acariciou meu rosto, apertou minhas bochechas e cochichou.
--Não precisa ficar tensa desse jeito, pode ir deitar com ela. Bem pertinho. Sei que está doida pra isso. Virou as costas sorrindo.
Respirei fundo e fui bem devagar. Pensei que Raíra já estivesse dormindo, mas assim que deitei, ela virou para o meu lado. Como se respira mesmo? Nunca tive essa "afobação" por alguém. Não dava pra ver seu rosto direito, o lampião que iluminava próximo a cama Nina pegou para iluminar melhor a rede. No meio daquela penumbra, dava pra ver melhor só os olhos que estavam bem verdinhos, parecia ter chorado.
--Tu está bem? -- Sussurrei
--Humrum. - Suspirou.
--Tem certeza?
--Humrum. --Bufou.
--Ok. Hum.. Me lembrei de quem sou, logo depois que você foi para mata. Me perdoe por ter te dado todo esse trabalho..
-- ... Que tá feito, tá feito, Avatí. não pode ser desfeito. - Falou seca depois de um tempo em silêncio.
--Hum.. O que tu guarda naquela caixa? - Insisti em um diálogo.
--Se fosse pra qualquer um saber não taria guardado. Chega de conversa, dormi. - Finalizou virando de costa para mim. Tenho certeza que Nina se enganou nunca vi alguém gostar e ser tão seco assim .
Dormi depois daquele coice. Ainda assim sonhei com ela, Yaya acariciava meu rosto enquanto dizia que não queria se afastar de mim, se aproximava para me dar um beijo e então.. acordei.
O Sol já estava alto, parecia ser umas onze horas. Me arrumei e desci para sala que só tinha algumas poças d'água, desci pensando que havia virado uma piscina. Nina e o co-piloto (que parecia bem melhor) conversavam.
--Bom dia, Mika! Esse é Seu Jair, o co-piloto.
--Bom dia, Dona Micaella! Que bom revê-la. - Falou estendendo a mão para mim.
--Bom dia! --Falei o cumprimentando. --Desculpe, não me lembro do senhor.. nem de algumas outras coisas. Entre elas o acidente.
--A pancada que aquele desgraçado te deu na cabeça foi forte mesmo, não é?
--De quem o senhor fala?
--Daquele tal Henryk, o ruivo.
--Como assim? Henry? - Perguntei confusa.
--Sim. Vou contar toda história para senhorita, se me permitir.
--Sim, por favor!
--Bom, esse tal Henryk nos contratou para levar vocês até a floresta amazônica, disse que tinha que resolver algumas coisas por lá.
--Coisas na floresta? Que coisas?
--Ouvi quando Henry começou a falar que ele e Frank já não te aguentavam mais, que estava fazendo eles perder muito dinheiro - Fez uma pausa e pedi para ele continuar. --Bom, ele disse algo sobre você trazer vergonha para o nome dele, além de ter acabado com negócios que custaram muito dinheiro para conseguir. Parece que eles já tinham planejado tudo pra você tpagar sua dívida sumindo do caminho deles. --Arregalei os olhos, Nina apertou minha mão. --Passaram o vôo todos discutindo, Henry estava ficando agressivo. Eu e o piloto ficamos nos olhando pra eu entrar no meio se passasse do ponto. Não lembro o que foi falado, Senhorita Micaella, quando ele foi pra cima de você e bateu sua cabeça no vidro lateral do helicóptero, duas vezes. Imediatamente fui pra cima dele na parte de trás, mas ele sacou um revólver e me acertou uma coronhada na cabeça, fiquei meio sem rumo. Não lembro bem o que aconteceu a seguir, só tenho flashes dá senhorita ainda desacordada e dele com paraquedas, atirarando no painel de controle, juntei minhas forças para tentar desarmar ele, graças a Deus consegui pegar a arma. Pensei que tudo terminaria bem, mesmo quando Henry tirou uma faca e te ameaçou para não nos aproximar dele.. pensei que terminaria tudo bem.. A arma estava na mira dele.. -- Se emocionou respirando fundo para continuar. -- Foi tudo muito rápido.. Jaime/Piloto olhou pra mim, apertei o gatilho... a arma falhou, Henry sorriu e o piloto avançou sobre o maldito, mal deu tempo de eu reagir.. Vi a lâmina sendo cravada no peito de Jaime. Eu e Henry começamos a trocar socos. O bimotor foi perdendo altura. O Jaime mesmo com a faca no peito ainda tentou chamar ajuda e controlar o bimotor, mas o rádio e outros comandos ficaram danificados devido aos tiros, tentou então controlar o bimotor. Dei uma de direita que fez Henry desmaiar, pensei pelo menos e fui ajudar o Piloto. Henry saltou. --Relatou Sr. Jair emocionado.
--Meu Deus, eu não me lembro de nada. Como Henry foi capaz de fazer tudo isso? -Parei para enxugar as lágrimas. Não dava para acreditar que chegaram a tal ponto. --O que houve depois?
--Jaime viu que iamos bater de qualquer jeito, então "manobrou" para que o maior impacto fosse do lado dele. Tentei impedir, sem sucesso. As árvores deram uma amortecida na queda, mas ainda colidimos e um dos galhos.. o atravessou.. --Falou com pesar. Ficamos em silêncio por um momento até as lágrimas cessarem. --..Depois de um tempo que caímos, Henry apareceu para certificar que havíamos morrido mesmo. Ficou furioso ao nos ver vivos. Eu tinha acabado de tirar sua perna que estava meio presa entre ferragens e galhos. O maldito tentou achar a arma, sem sucesso. Me olhou enfurecido e veio pra cima, começou a me bater sem para, mas para minha sorte consegui alcançar um pedaço de galho e com toda força desferi um golpe bem forte na cabeça dele que caiu em seguida. Peguei a senhorita e fui o mais longe que pude. Estava exausto. Ouvi um barulho de água, tentei chegar até lá para renovar as energias, mas aquele desgraçado nos encontrou para me bater mais. Como sempre falava muito, entre um soco e outro disse que ia me deixar para morrer aos poucos ou pra que algum bicho comesse. Pegou a senhorita no colo, falou que iria.. --Baixou o olhar. --.. ia se satisfazer.. --Disse com raiva. --Que a senhora iria aprender.. ter um "homem de verdade" nos seus últimos momentos e só depois iria matá-la. Eu realmente nunca imaginei que fosse rever a senhora viva. --Falou limpando o rosto.
--.Mika.. Como assim se satisfazer com você, Mika? Vocês não são casados há um tempo? Mesmo a contra gosto, mas..- Perguntou Nina abraçada a mim.
--Sim, somos ou éramos. Nunca deixei ele me tocar. E acredito que aquele dia ele não teve forças para isso. Não pelo que lembro nem pelo que sinto.
--.. pelo estado em que ele estava quando Yaya trouxe vocês, tenho certeza que não.
--Ele tem que pagar pelo que fez. Meu irmão agora está morto no meio dessa mata todo esse tempo.. sozinho.
--Como assim? - Perguntei confusa.
--O piloto do bimotor é meu irmão mais novo. Jaime. O primeiro voô oficial que faziamos juntos . Ensinei tudo a ele.
--Oh, eu sinto muito, Senhor Jair. - Falei segurando a mão dele, ainda mais chorosa.
--Por que vocês não vão tomar uma ducha no riacho e mandar aquelas duas sair da água? Quando voltarem iremos embora. - Falou Nina depois de um tempo para nos tirar daquele clima triste. Concordamos.
* * * *
Seguimos conversando até próximo o riacho, onde tive mais uma linda visão. Raíra estava a beira do riacho com um 'tapa sex*' enfeitado com penas azuis e vermelhas, parte do cabelo caindo pelas costas até o bumbum, tornozeleiras com penas e pedrinhas, corpo com algumas gotinhas d'agua. Quando ela se virou estava só com parte do cabelo cobrindo os seios, aquele colar com uma presa no meio e sorria abertamente para Mari que estava dentro d'água. Que sorriso perfeito (pra mim.. e para as marcas de creme dental): formava uma covinha na bochecha esquerda e no queixo. (Foi a primeira vez que a vi sorrindo. Bah! Já falei que ela é tri linda?).
--Que índia linda, que olhos, que boca, que cor..
--Não se empolga, Senhor Jair. - Esbravejei o interrompendo.
--Desculpe, Dona Micaella, mas ela é marav..
--Esse tipo de beleza admiramos sem dizer nada Sr. Jair, pois não há palavras que a descreva, entende? Enfim, guarde para o senhor. Ela é maravilhosa? É. Parece uma pintura? Sim. Mas não precisa admirar assim babando, entende?- O interrompi novamente, irritada nem pensei sobre o que ele acharia disso. Não importava.
--Entendo sim.. - Falou sorrindo. Acho que ele entendeu bem até demais.
Assim que ela nos viu parou de sorrir, voltou a ficar com o semblante sério. Nos aproximamos.
--Raíra e Mari, a Nina disse..
--Pra sairmos da água.. Pela milésima vez - Falaram juntas, trocaram um leve sorriso e acabei sorrindo(babando) também. Senhor Jair tirou a camisa, gritou "Bola de canhão" e se jogou na água, arrancando risos da Mari.
. . .
Fim do capítulo
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