Surpresa

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Passamos pela sala que estava meio alagada, seguimos para cozinha e 'tcharan' tinha uma copa, isso mesmo, uma copa de árvore ocupando metade da cozinha!

--Nina, e agora? O que nós vamos fazer? - Perguntei em pânico.

--Esperar que a chuva pare, rezar para ficarmos bem e que Yaya volte logo! --Falou aparentemente tranquila.

--Como tu consegue ficar tão calma? A Raíra sumiu, uma árvore caiu dentro da cozinha, está caindo uma tremenda tempestade, a casa está toda alagada, pode entrar algum bicho selvagem por esse buraco e pra piorar está tudo escuro!! - Comecei a chorar em total desespero.

--Se acalma, Mika! - Falou me abraçando pelo ombro. --Se desesperar não adianta. E como assim escuro? Temos três lampiões e uma lanterna. O único bicho selvagem que vai entrar por esse buraco será a Yaya. - Sorriu terna. Falou tudo com uma confiança e tranquilidade, incrível.

--Como sabe disso? - Perguntei um pouco mais calma.

--Sei porque Yaya é Guaraní e Guaraní é guerreiro. Se ela não chegar até o amanhecer eu mesma vou atrás dela. Agora vamos subir, você tem que dormir um pouco, já passa das duas horas.

--Eu não vou conseguir dormir, Nina.

--Vai sim, vou terminar de contar a história, vem. - Me pegou pela mão, me fez um cafuné e deu um beijo no alto da minha cabeça como se eu fosse uma criança.. Adiantou. Nina até parecia minha Mãe quando eu era criança e ficava assustada. Acredito que foi isso que me acalmou.

* * * *

Nina deitou na rede ao lado da cama e eu deitei ao lado de Mari.

--Ela não vai acordar mais não?

--Estava cansada demais, acordou muito cedo ontem. - Fez uma pausa e prosseguiu. --Continuando a história: uns dias antes do níver de 14 anos da Yaya, fomos até Manaus. Enquanto fui ao banco, ela não quis entrar e ficou na praça em frente com minhas coisas, pedi que atendesse meu celular caso tocasse. E ela atendeu, era Alonzo. Quando sai, ela me disse que tinham conversado, perguntei sobre o quê e Yaya só me disse que logo eu saberia.

--E o que era? Qual foi a surpresa? --Curiosa.

--Bom, no dia do aniversário dela, Raoní chegou aqui com Alonzo que me pediu em casamento (novamente) e aceitei, é claro.

--Aiii, que lindo, Nina! O que ela fez mesmo sendo tão guria ainda.. um coração grande, uma maturidade.. incrível! - Devo ter falado tudo isso com uma cara de boba, porque Nina fez uma expressão debochada.

--Pois é, Mika! Você terá uma grande mulher como companheira. Tem muito bom gosto, viu. --Debochou sorrindo.

--Hum.. Tu casou quando?.. Ela foi? - Disfarcei.

--Casei no dia do meu aniversário de 28 anos. Ela foi sim e estava mais linda que a noiva. Foi tão difícil convencer ela a se "arrumar" - Contou rindo fiquei curiosa para ver Raíra com roupa. (Frase estranha de se dizer, né. Geralmente queremos ver sem... Enfim.)

--Tu tem algumas fotos aqui?

--Aqui não, Yaya só aceitou tirar uma foto comigo. Eu revelei, fiz uma cópia pra ela e a outra está na sala de casa.. em Ilha Bela.

--E onde ela guarda? Eu queria muito, muito, muuuito ver.

--Imaginei que sim, mas lembra quando a Mari perguntou se poderia brincar aqui e falei que ela só poderia se nã..

--Não mexesse em algo. Ela disse que não mexeria, pois não queria ver a Raíra triste. Lembro bem.

--Isso mesmo. É em uma caixa que fica guardada naquele baú. - Apontou para um canto escuro do quarto. Levantei rápido, fui em disparada na direção do baú.

--Micaella, Raíra nunca mostrou o que tem nessa caixa para ninguém. Mas quando a pego olhando, ela sempre fica bem tristinha. Um dia vi uma lágrima solitária escorrendo por seu rosto, ela disfarçou como sempre. Uma vez a Mari mexeu, me disse que tinha fotos e papéis. A Raíra ficou bem amuada aquele dia, pensativa e distante. Me pediu para não perguntar o porquê. - A chuva tinha cessado e nem percebemos. (Se fiquei querendo saber o motivo? Magina.)

--Nina, o que será que tem aqui? Fiquei muito curiosa ag..

--Curiosidade mata..

Demos um pulo de susto, eu logo sai de perto do baú. Raíra adentrava no quarto com um homem apoiado (carregado) nos braços, o colocou deitado na rede. Ao se virar nossos olhos se encontraram, ficamos nos olhando em uma espécie de conexão, até Nina pigarrear e "quebrar o encanto".

--Dexei' cêis' sozinha um tempinho e já destruiram minha cozinha, alagaram minha sala e querem mexer onde não devem, é isso? - Disse séria.

Eu não conseguia falar nada, fiquei imóvel olhando para uma gota d'água (que inveja daquela gota) que escorria pelo colo da Yaya, indo até o decote da blusinha bege que estava toda ensopada, suja e meio rasgada, dava para ver bem os biquinhos de seus seios bem eriçados pelo frio. Minha libído foi a mil (Desejo), quase a agarrei.

--Minha menina, o que houve? - Disse Nina a abraçando e cortando meu contato visual. --Está nos culpando mesmo? Sério? --Falou olhando em seus olhos, Raíra abaixou a cabeça. --E quem é esse homem? - Não esperou respostas e já foi até a rede, parecia que o examinava.

--Tu está bem? - Perguntei meio sem jeito. Evitando olhar muito para ela. Queria muito abraçá-la bem forte e não soltar mais.

--Tô cansada, com frio e um poco' de dor, mas bem sim.. Sei que não tiveram culpa. - Disse Raíra indo até Nina e a abraçando. Como eu queria um abraço dela (e algo mais). --Depois mostro o que tem na caixa, certo?

--Sério mesmo? Promete? - Perguntou Nina desconfiada.

--Prometo! --Disse firme, ambas assentiram. -- Esse é co-piloto do helicóptero onde tava Avatí. Demorei pra acha'. Não explodiu, só tava muito quebrado e com cheiro muito forte. Quando cheguei perto vi o corpo do piloto, tava todo machucado com um galho travessado' na barriga e um corte profundo no peito. Coisa feia de vê'. - Raíra parecia meio abalada ao lembrar.

--O co-piloto ainda estava no helicóptero? - Perguntou Nina pegando uma toalha e envolvendo Raíra.

Eu, como podem perceber não conseguia dizer nada, só olhava para os movimentos que Raíra fazia. Secou os longos cabelos, limpou o rosto e colocou a toalha na rede. Ela estava com calça jeans masculina bem larga, a regata que me parecia famíliar.. (Ah, era minha mesmo.) Bom, ficou ótima nela! Mesmo molhada, rasgada.. enfim.

--Não. Depois que olhei o que resto' do helicóptero, voltei seguindo uma trilha de mato batido e sangue que pensei ser da Avatí, mas era do Sr. Jair que tava escondido numa pequena caverna, todo machucado. Parece mais que ele apanhou do que sofreu acidente. Por todo esses dia só comeu folhas, barro e insetos. Água só da chuvinha que deu outro dia. Até que tava consciente para me contar o que houve, mas a caminhada até aqui foi difícil. Acabou com as energia.

--Nos conta essa história depois, ok? Agora tira essa roupa molhada e vai dormir. Depois do café da manhã vamos embora daqui. - Disse Nina decidida!

--Mas Ni..

--Sem ''mas'', Raíra! --Disse firme como nunca havia visto Nina falar. --Agora tira essa roupa molhada e vai descansar, eu cuido dele.

Raíra assentiu com a cabeça. Começou tirar a roupa assim sem nem se importar que eu estava ali superexcitada, doida para tê-la nos meus braços e.. e.. que corpo é esse (Aí, Deusa dai-me forças para não agarrá-la!). Ela estava arrepiada com os seios desnudos, bico durinho, além de úmidos e bem na minha frente. Perdi o controle quando começou tirar a calça. Minha respiração já não era a mesma, fui me aproximando dela sem nem perceber. Mas antes de tirar tudo, mostrar a "preciosidade" e eu assediá-la ali mesmo. Nina acho que percebeu, me deu um abraço e cochichou.

--Se controla, Onça! --Riu. --Você está com uma cara de "fome". Acho melhor apagar o fogo dessa perereca já!

--Não dá. Não com ela seminua, molhada e na minha frente. Como ela me provoca desse jeito? - Perguntei tentando voltar a ter controle.

--Micaella, a Yaya é bem ingênua para certas coisas, se é que você me entende. Não liga de ficar nua na frente dos outros, nossa tribo tem costume de ficar nu ou seminu), ela não foi criada lá, mas Tia Araci a ensinou com os costumes da tribo. Além do mais, Yaya nem imagina que você gosta de ch*par ostras, que sua rasterinha é 44, curte um Danone sem colher..

--Chega, Nina! Entendi.. - Falei rindo e ela me soltou.

--Que cêis tanto cochicha? Segredos já? - Interrompeu Raíra, deitada e coberta. (InFelizmente)

--Quando você contar seus segredinhos, contaremos também, ok? Ok - Nina debochou e voltou a cuidar do co-piloto.

. . .

Fim do capítulo